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4.2 CUIDADOS E ATENÇÕES ÀS NECESSIDADES DE DESENVOLVIMENTO DOS

4.2.4 Cuidados com os valores transmitidos aos filhos

Toda família têm seus códigos, regras, valores e moral. As crianças que cresçam em certo ambiente familiar acabam por receber esse conjunto de noções sociais de conduta por meio direto, onde os familiares explicitam verbalmente essas noções, ou por meio

indireto, onde o exemplo dos pais no lidar cotidiano com as situações igualmente explicita o modelo a ser seguido. Nesta categoria foram organizados os dados que apontem para essa transmissão de valores por meio direto, ou seja, onde ativamente os pais agem para cuidar dos valores a serem transmitidos ao filhos na busca pelo seu bem-estar geral no desenvolvimento pessoal e no convívio em sociedade. Esta categoria foi dividida em duas subcategorias, a saber: Desenvolvimento do caráter/moral e Bons modos.

Todos os pais entrevistados apresentaram essa responsabilidade como algo em que se envolvem sem intermediários, ainda que por vezes outros possam auxiliar nesses cuidados. Na subcategoria Desenvolvimento do caráter/moral se observa cada pai entrevistado afirmando quais valores morais consideram mais fundamentais a serem transmitidos aos filhos, assumindo para si a maior parte nessa função, em contraponto à mãe quem, segundo eles, se encarrega de outras responsabilidades. De modo geral, afirmam ser esta uma função do pai, mas também há casos onde se considera o papel complementar da mãe e da escola nesses cuidados. Há pais que consideram a importância dos avôs e do contato com “pessoas boas” para a transmissão desses valores aos filhos. Porém, há em pelo menos um caso a preocupação em se manter como a referência em termos de valores transmitidos ao filhos:

Tem os avós, que também sempre passam uma mensagem boa, mas o que eu acho certo é o que penso que vai ser melhor pra eles. (S4).

Os pais entrevistados consideram o desenvolvimento do caráter/moral como algo fundamental na atenção aos filhos, para protegê-los de seguirem caminhos que consideram equivocados e prejudiciais. Procuram ser rígidos e disciplinadores com os filhos, seguindo o modelo que receberam de seus pais e preocupados com as influências que consideram negativas do mundo atual. É observada, em pelo menos um dos casos, uma diferença de valores a serem transmitidos aos filhos de acordo com o gênero:

Essa é minha preocupação, drogas, álcool, sexo, sexo na parte masculina o filho pode conhecer com 14 anos, mas a filha só depois dos 20, né (risos). (S4).

De acordo com os dados levantados por Hennigen & Guareschi (2002), na década de 1960 prevalecia nos pais a percepção de sua função como provedor e modelo de moralidade. Identifica-se nos sujeitos da pesquisa a permanência da função de transmissão de valores morais como sendo de responsabilidade paterna, ainda que não exclusivamente, mas preferencialmente. Se os mesmos autores afirmam que a paternidade é uma construção

contínua, no aspecto de cuidados com os valores transmitidos aos filhos ela permanece análoga ao exercício paterno de gerações anteriores.

Na subcategoria Bons modos se encontram os pais entrevistados na busca de educar os filhos em certas regras de conduta em sociedade. Não são necessariamente (ainda que possam ser) questões de valores que consideram determinantes para que tenham condição de fazer escolhas adequadas na vida, mas percebem como importantes para que os filhos não causem estranhamento nos ambientes em que transitam, como pode ser visto no relato abaixo:

Eu tento dar aquela educação, assim tipo, respeitar os pais, respeitar os mais velhos, pra não criar aquele filho folgado, aquela criança mimada, que até ela no dia-a-dia ela [a mãe] deixa às vezes. Meus filhos não ficaram assim esse tipo de criança mimada, porque não deixo eles fazerem o que quiserem, na medida do possível quando chego em casa eu tento passar a educação que eu quero. Às vezes me acha um pouco severo, mas ensino eles a ser portar em mesa, se for em algum lugar pra comer, na casa de alguém não entrar quebrando tudo. (S4).

Recorrendo novamente às considerações de Schneider (2002), aqueles que são mais próximos às crianças as inserem socialmente de determinado modo, transmitindo-lhes certa herança de valores culturais e sociais e instruindo-as para que ajam de determinada maneira. A família é um espaço privilegiado de mediação das crianças com a sociedade, assim como também o é a escola. É o que se observa concretamente no discurso dos sujeitos entrevistados, diretamente envolvidos na transmissão de valores morais e de conduta. Aqui, como nas demais categorias, o modo como os pais lidam com os cuidados com a transmissão de valores às crianças das quais são responsáveis irá repercutir em certas ações sobre essas crianças, que se desenvolverão a partir desta condição.

O desenvolvimento do caráter/moral e da aprendizagem das regras de conduta em sociedade dos filhos é assumido como responsabilidade dos pais pesquisados. Consideram esse exercício dificultado pela diversidade de influências que percebem como negativas aos filhos, agindo muitas vezes como pais rígidos e disciplinadores, de forma semelhante à educação que receberam da geração anterior. Observa-se que na busca pelo bem-estar geral de seus filhos, que aqui se manifesta pela assunção dos cuidados com a transmissão dos valores sociais aos filhos, há enfrentamentos que se desdobram das possibilidades que percebem de transmissão dos valores de caráter e de conduta aos filhos.