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O cuidar dos enfermeiros à pessoa em agonia papel do enfermeiro especialista em

CAPITULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

4. OS CUIDADOS DE SAÚDE À PESSOA EM AGONIA NAS UNIDADES DE

4.2. O cuidar dos enfermeiros à pessoa em agonia papel do enfermeiro especialista em

Quando se cuida da pessoa em agonia o enfermeiro deve pautar-se essencialmente pelo acompanhamento e promoção do seu conforto, no alívio do sofrimento, e manutenção da sua dignidade até ao fim. Assim, “torna-se necessária uma mudança de mentalidades dos profissionais de saúde, nomeadamente, dos enfermeiros, de forma a reconhecerem que o objetivo dos cuidados nem sempre pode ser o de curar como o caso do doente que se encontra em agonia, em que já não tem qualquer sentido (Pacheco, 2014).

Para Watson (2002) a função do enfermeiro é cuidar a totalidade da pessoa, sendo o ato de cuidar um processo humanitário. Na fase agónica a promoção do conforto, acaba por ser uma das finalidades mais importantes do cuidar em Enfermagem. O conforto é multidimensional, devendo ser avaliado de doente para doente, pois o conforto não é simplesmente a ausência de dor (Tomey e Alligood, 2002).

O artigo 108º do Código Deontológico do Enfermeiro relativo ao respeito pelo doente terminal, o enfermeiro perante um doente na fase agónica, assume o dever de: “a) defender e promover o direito do doente à escolha do local e das pessoas que deseja que o acompanhem em situação de fim de vida; b) Respeitar e fazer respeitar as manifestações de perda expressas pela pessoa em situação de fim de vida, pela família ou pessoas que lhe sejam próximas; c) Respeitar e fazer respeitar o corpo após a morte” ( DL Nº156, 2015, p. 8080).

Retomando, o termo conforto, é fundamental que este seja assegurado à pessoa que se encontra em agonia. Kolcaba (2003), salientava que quando a pessoa vê garantida as suas necessidades de conforto não solicita a eutanásia.

Os cuidados de conforto possibilitam que a pessoa doente morra com dignidade, dando um sentido à vida que ainda lhe resta viver (Matos, 2012).

Na teoria de Kolcaba (2003), o conforto é interpretado como uma experiência imediata e holística, atingido pela satisfação das necessidades relativas ao alívio, tranquilidade e transcendência, desenvolvido nos contextos físico, psicoespiritual, sociocultural e ambiental.

42 Neste sentido, e tal como salienta Queirós (1999, p. 29), o enfermeiro para ser capaz de cuidar na verdadeira essência do outro “(…) necessita de desenvolver as suas capacidades intelectuais, afetivas, físicas, sociais e espirituais”

Neste contexto, o enfermeiro especialista em enfermagem médico-cirúrgica será aquele que possui um conhecimento aprofundado num domínio específico de enfermagem, tendo em conta as respostas humanas aos processos de vida e aos problemas de saúde, que demonstram níveis elevados de julgamento clínico e tomada de decisão, traduzidos num conjunto de competências especializadas relativas a um campo de intervenção. (…) o conjunto de competências clínicas especializadas, decorre do aprofundamento dos domínios de competências do enfermeiro de cuidados gerais (Ordem dos Enfermeiros, 2011, p. 2). O Regulamento n.º 140/2019 elenca as competências comuns dos enfermeiros especialistas, como se pode ser na seguinte tabela:

Tabela 1: Os Domínios das Competências Comuns do Enfermeiro Especialista

Competência Unidades de Competência

Responsabilidade profissional, ética e

legal

Desenvolve uma prática profissional, ética e legal, na área de especialidade, agindo de acordo com as normas legais, os princípios éticos e a deontologia profissional

Garante práticas de cuidados que respeitem os direitos humanos e as responsabilidades profissionais

Melhoria contínua da qualidade

Garante um papel dinamizador no desenvolvimento e suporte das iniciativas estratégicas institucionais na área da governação clínica

Desenvolve práticas de qualidade, gerindo e colaborando em programas de melhoria contínua

Garante um ambiente terapêutico e seguro

Gestão dos cuidados Gere os cuidados de enfermagem, otimizando a resposta da sua equipa e a articulação na equipa de saúde

43 Adapta a liderança e a gestão dos recursos às situações e ao contexto, visando a garantia da qualidade dos cuidados

Desenvolvimento das aprendizagens

profissionais

Desenvolve o autoconhecimento e a assertividade

Baseia a sua praxis clínica especializada em evidência científica

De facto, cuidar da pessoa em agonia exige cuidados especializados, com o “objetivo principal de proporcionar o máximo de conforto ao paciente, promovendo a máxima dignidade de vida, (…) devem ser tomadas as medidas adequadas, evitando o encarniçamento terapêutico” (Barbosa e Neto, 2010). Assim de seguida e de acordo com o Regulamento n.º 429/2018, apresenta-se as competências especificas do enfermeiro especialista em enfermagem médico-cirúrgica

Tabela 2: Competências e Unidades de Competência do Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica na Área de Enfermagem à Pessoa em Situação

Crítica

Competência Unidades de Competência

Cuida da pessoa, família/cuidador a vivenciar processos complexos de doença crítica e/ou falência orgânica

Presta cuidados à pessoa em situação emergente e na antecipação da instabilidade e risco de falência orgânica. Garante a administração de protocolos terapêuticos complexos.

Faz a gestão diferenciada da dor e do bem-estar da pessoa em situação crítica e/ou falência orgânica, otimizando as respostas.

Gere a comunicação interpessoal que fundamenta a relação terapêutica com a pessoa, família/cuidador face à situação de alta complexidade do seu estado de saúde.

Gere o estabelecimento da relação terapêutica perante a pessoa, família/cuidador em situação crítica e/ou falência orgânica.

44 Assiste a pessoa, família/cuidador nas perturbações emocionais decorrentes da situação crítica de saúde/doença e/ou falência orgânica.

Dinamiza a resposta em situações de emergência, exceção e catástrofe, da conceção à ação

Cuida da pessoa em situações de emergência, exceção e catástrofe.

Concebe, em articulação com o nível estratégico, os planos de emergência e catástrofe.

Planeia resposta à situação de catástrofe.

Gere os cuidados em situações de emergência, exceção e catástrofe.

Assegura a eficiência dos cuidados de enfermagem preservando os vestígios de indícios de prática de crime. Maximiza a prevenção,

intervenção e controlo da infeção e de resistência a Antimicrobianos perante a pessoa em situação crítica e/ou falência orgânica, face à complexidade da situação e à necessidade de respostas em tempo útil e adequadas

Concebe plano de prevenção e controlo da infeção e de resistência a antimicrobianos para resposta às necessidades do contexto de cuidados à pessoa em situação crítica e/ou falência orgânica.

Lidera o desenvolvimento de procedimentos de controlo de infeção, de acordo com as normas de prevenção, designadamente das Infeções Associadas à Prestação de Cuidados de Saúde e de resistência a Antimicrobianos perante a pessoa em situação crítica e/ou falência orgânica.

Assim conforme podemos verificar acima, e tal como referia Gibbins (2009) os doentes apenas podem beneficiar dos cuidados a que têm direito nesta fase da vida se os profissionais que cuidam dos mesmos conseguirem identificar que estes estão nos últimos momentos da sua vida, devendo-se sentir seguros ao faze-lo. No seu estudo evidência que “87% dos doentes foram identificados como estando a morrer menos de 72 horas antes da sua morte” De facto, prestar cuidados de saúde eficazes e seguros à pessoa em agonia e família exige competências para identificar os fatores físicos, psicológicos e sociais inerentes ao estado de agonia.

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4.3. Necessidades e dificuldades dos profissionais de saúde para a promoção da