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3. Resultados

3.2.1. Cultura como bem básico

Vemos ainda nos dias de hoje que as políticas públicas que contemplam a cultura como bem básico, são bastante reduzidas e limitadas à projetos de lei de incentivo, programas de órgãos particulares e às vezes governamentais, pesquisas de universidades, sendo esta uma questão pouco valorizada dentro do território nacional. Investimentos maiores nesses setores, relacionados à cultura e educação, poderiam cobrir uma demanda que existe, mas que não é levada em consideração pelos atuais planos de governo e da economia do nosso país.

A justiça social é uma questão de vida ou morte. Afeta a maneira como as pessoas vivem, sua consequente chance de adoecer e o risco de morte prematura. Observamos com admiração, enquanto a expectativa de vida e a boa saúde continuam a aumentar em algumas partes do mundo e ficamos alarmados quando não melhoram em outras. ... Diferenças desta magnitude, dentro e entre países, simplesmente nunca deveriam acontecer. Essas iniquidades em saúde, as desigualdades evitáveis de saúde, surgem por causa das circunstâncias em que as pessoas crescem, vivem, trabalham e envelhecem, e os sistemas colocados em prática para lidar com a doença. (CSDH 2008, p. 1). [...] está claro que alcançar a equidade na saúde está intimamente ligado à promoção de determinantes sociais positivos da saúde para todas as pessoas [...] As atuais políticas e pesquisas internacionais mostram que as “causas das causas” mais graves da saúde e bem-estar são as mais associadas à desigualdade estrutural e à injustiça social, que por sua vez produz e reproduz a desigualdade generalizada na saúde (SUNDERLAND et. al., 2018, p.6, tradução nossa).

Clara Nunes (grifo nosso): Eu acho que o Brasil e desde então eu sinto que a gente não evoluiu muito, precisa de cultura, que a cultura seja vista mais como um investimento do que um dinheiro jogado fora. Porque uma

pessoa que tem acesso a cultura, ela tem um outro olhar sobre a vida né? Ela tem outras formas de dar vazão a energia que ela tem, ao potencial que ela tem. [...] Ah não ser essa convicção que eu já tinha, porque sempre trabalhei com essa coisa da cultura, da valorização da cultura, nos seus mais diversos aspectos e aquele momento ali, ele serviu só pra confirmar pra mim. Foi quase que uma confirmação pra mim, da diferença de universo que vive uma pessoa que tem acesso à um bem cultural, à um conhecimento e uma pessoa que muito provavelmente não teve isso. Então muitas vezes, o sentimento daquele choque ali, me serviu como referência para argumentação mesmo, e apresentação de alguns projetos, em debates pessoais, com pessoas diversas. [...] É isso mesmo, eu acho que já que este

trabalho está servindo como base pra questão das políticas públicas, eu acho que é de extrema importância que o governo perceba a cultura como um bem básico. Deveria ter na cesta básica. Um quite-cultura não pras

pessoas simplesmente consumirem a cultura, mas pra que as pessoas possam ter oficinas de música, de tocar algum instrumento, de canto, de dança, de desenho, de artes, porque é isso que faz a diferença entre uma população e um país evoluído e um outro que não. [...] Então é lamentável que às vezes as crianças precisem ficar dentro de casa ou na rua, na mão de traficantes, na mão de bandidos, quando elas poderiam ter esse tempo ocupado por um acesso à cultura ou ao esporte. É lamentável o Brasil ter esse tipo de mentalidade ainda. Eu acredito que é só através de um

investimento maior nessas áreas que a gente vai evoluir como nação, como povo. É isso, valorizar os artistas, os músicos. E também tem uma

questão da ampliação da oferta e da demanda, se você for olhar apenas pelo lado econômico, a demanda e a oferta de serviço. A partir do momento que você tem abertura pra várias oficinas de artes e diversas áreas, você vai ter uma oferta de emprego pra várias pessoas. A partir do momento que tem várias pessoas trabalhando e recebendo, elas estarão também consumindo mais. Isso vai movimentando a economia. A partir disso já vai ter mais pessoas também buscando. Assim, é muito positivo, não tem nenhum lado negativo nesse tipo de política né? Passou da hora dos economistas abrirem as suas mentes e verem que os números que eles estão praticando, estão completamente errados.

Paula Toller (grifo nosso): Acho que essas oficinas nunca devem acabar,

devem ser permanentes. De repente, convidar essas pessoas que já fizeram

um dia pra ter um encontro, pra socializar e colocar essa prática em prática mesmo assim. E eu acho que é isso. Nunca acabar e se pudesse ter

mais, melhor ainda!

Cazuza: eu acho que durante o projeto, os dias em que fiz o curso, as 10

horas, eu acho que foi tudo muito bom. Eu acho que só deveria ter mais cursos assim, porque eu acho que falta isso bastante.

Elis Regina (grifo nosso): Eu vejo que precisa chegar, é preciso fomentar isso, espaços de políticas públicas ou de projetos que dê acesso as pessoas, a terem isso. Tanto Itaúna precisa disso, acho que todo lugar, não tem

lugar que não precisa né? E o meu contato com o coral, me fez pensar, em quem não teve essa oportunidade e infelizmente seguiram outros caminhos.

O acesso à cultura como bem básico ainda não é visto pela maioria dos setores ligadas à política pública, à economia e, até mesmo, parte da população como algo que seja indispensável e imprescindível para a formação básica do "Ser". Mas este é um fato real, que é apontado pela população de baixa renda que apresenta certa dificuldade para usufruir deste tipo de educação voltada para as artes em geral e neste caso específico, para o Canto/Música.

No entanto, para os alunos que puderam participar desta oficina, isso parece ter sido evidenciado durante o processo, talvez devido ao fato do trabalho ser desenvolvido com uma população tão diversificada. A fala de alguns participantes deixa clara a existência da demanda para este tipo de trabalho e a falta de programas que amparem a esta demanda.

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