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4 CADERNO DE CULTURA: O ESPAÇO DA ARTE E DA MODA NOS

4.2 A CULTURA NO CORREIO DA MANHÃ

A produção de jornalismo cultural do Correio da Manhã também foi muito rica e extensa. Em agosto de 1959, todos os assuntos relacionados à cultura foram levados para o segundo caderno. Foi feito um agrupamento de conteúdos, uma vez que a temática cultural

vinha esparsa tanto no primeiro quanto no segundo cadernos até então. A partir daí, o segundo caderno passou a ser o espaço da cultura no jornal diário, como anunciado na capa da edição de 20 de agosto de 1959:

O Correio da Manhã se apresenta hoje com nova distribuição de matérias. As mesmas seções — hoje mais duas: "Hollywood Boulevard" e "Antenas em Revista". As seções de arte, cultura e diversão (sem esquecer o utilíssimo "Cartazes") vão para o 2º Caderno, reunidas como boas irmãs. [...] A primeira página do 2º Caderno será a dos nossos "Flagrantes" e algumas histórias. Jornal hoje é também cultura e entretenimento, como o rádio, a televisão. (AFINIDADES, 1959, p. 1).

Nele podiam ser encontradas colunas sociais, reportagens sobre personalidades da época, matérias sobre comportamento, notas sobre lançamentos de livros e atividades literárias, informações sobre exposições de arte e vernissages, música, teatro, cinema, rádio, televisão, moda, horóscopo, quadrinhos, decoração e agenda cultural. Algumas semanas depois da reestruturação, os assuntos de cultura passaram a abrir o caderno que dedicava as páginas finais a notas e matérias sobre educação, saúde, esporte amador e atividades das forças armadas. O segundo caderno terminava com os classificados, totalizando algo como 16 páginas em dias de domingo.

Diariamente, o segundo caderno do Correio da Manhã trazia a coluna Itinerário

das artes plásticas, assinada pelo crítico Jayme Maurício, que havia estudado no Liceu de

Artes e Ofícios de Porto Alegre, além de ter sido aluno de pintura de Alberto da Veiga Guignard, em Belo Horizonte. No Rio de Janeiro, Maurício iniciou sua carreira de jornalista no Correio da Manhã em 1950, escrevendo sobre cultura. Participou de diversas atividades do MAM do Rio de Janeiro, tendo promovido exposições de artistas importantes como Manabu Mabe, Djanira e Hélio Oiticica (INSTITUTO, 2016).

A coluna Itinerário das artes plásticas trazia crítica de arte aliada a informações de exposições em museus e galerias, atuação de artistas brasileiros no exterior, cursos, palestras, bienais nacionais e estrangeiras, com textos e imagens. Como o jornal era institucionalmente próximo ao MAM-RJ, muitos dos acontecimentos eram assunto para Jayme Maurício: de leilões beneficentes a questões burocráticas, como o ingresso de novos sócios. Eventualmente, Maurício reproduzia críticas de arte escritas por outros, como o fez com o texto de apresentação das esculturas de Zélia Salgado, feito pelo escritor Lúcio Cardoso, publicado em 12 de abril de 1960:

No Museu de Arte Moderna do Rio acha-se aberta ao público uma exposição de esculturas de Zélia Salgado, a qual deverá ser encerrada no próximo dia 13, terça- feira, com um jantar de adesão oferecido à artista, em véspera de viagem para a Europa. Nos últimos dias dessa mostra, tornamos hoje conhecido do público o texto em que o romancista Lúcio Cardoso apresenta os trabalhos da escultora. (MAURÍCIO, 1960, p. 2).

Em diversas ocasiões, a coluna de Maurício teve caráter exclusivamente informativo, com data, hora e local das exposições que estavam abertas ou a inaugurar. Ao longo dos anos, até 1967, a coluna foi ganhando mais caráter crítico. Nessa época, Maurício já tinha 17 anos de Correio da Manhã e grande experiência, ocupando cadeiras em júris de salões de arte moderna. A coluna Itinierário das artes plásticas foi encerrada em setembro de 1967. Em abril de 1969, Maurício voltou ao Correio da Manhã, assinando a coluna Artes plásticas e matérias no segundo caderno.

A coluna Artes plásticas era noticiosa e de crítica. Tinha um caráter parecido com o do Itinerário, porém com menos ênfase nos serviços. De forma geral, Maurício teve mais oportunidade de aplicar sua opinião nesta etapa, escrevendo de forma mais livre, inclusive fazendo uso da primeira pessoa do singular. Aqui, um trecho a ser observado:

Ao contrário de muitos intolerantes, sinto uma grande empatia pela convivência dos parvos, que muitas vezes quase atingem a dimensão do simples. Há um adjetivo de mau gosto para eles — burros ou asnos — e embora não me agrade, é preciso empregá-lo, para entrar na onda do impacto da linguagem atual. Assim, o burro para mim é muito simpático — desde que seja um burro quieto, sossegado, o que já não será tanta burrice. Horrível é o burro ativo, o burro falador, o burro com iniciativa. Esse é preciso anular com firmeza — até que faleça. (MAURÍCIO, 1969b).

Além da cobertura da arte, o Correio da Manhã também dava grande destaque aos assuntos da imprensa feminina, incluindo a moda. O espaço dedicado a tais tópicos era o quinto caderno que saía aos domingos, quando o jornal chegou a ter mais de 90 páginas. Segundo Maria do Carmo Rainho (2014), o caderno começou a ser editado em setembro de 1958 e recebeu o nome de Feminino. Era precedido pelos cadernos principal, de cultura, de classificados, de automóveis e viagens e pelo quarto caderno A semana, fechando o jornal. Completamente dedicado ao público feminino, chegou a ter 14 páginas e era composto por perfis de mulheres influentes, educação infantil, contos, horóscopo, atuação feminina na sociedade, cultura, medicina, conselhos amorosos, culinária, decoração, beleza, arte, encarte de moldes supostamente vindos de Paris e muita moda.

Por ser um dos maiores e mais variados cadernos dedicados às mulheres na imprensa carioca nas décadas de 1950 e 1960, o Feminino atraía bastante atenção dos patrocinadores e

nele podem ser vistos anúncios de lojas de departamento, butiques e produtos de vestuário e beleza. Foi editado todos os domingos até 1974, quando o Correio da Manhã fechou (RAINHO, 2014). Do seu conteúdo, vamos focar a coluna Vamos falar de mulheres.

Vamos falar de mulheres era publicada aos domingos e trazia informações sobre a

atuação feminina na sociedade brasileira. Surgiu em maio de 1953, como uma pequena coluna escondida entre os demais assuntos na página de variedades do quarto caderno, publicada semanalmente. Inicialmente era assinada por José Álvaro, mas a partir do final dos anos 1950, passou a ser assinada por mulheres: Rosinha Serzedello Machado e Ylcléa.

Era composta por textos semelhantes aos elaborados pelo colunismo social, porém com carga informacional e de crítica. Os nomes das mulheres citadas na coluna — que chegou a ocupar uma página inteira por edição nas décadas de 1950 e 1960 — eram escritos em caixa alta ou em negrito, numa clara intenção de maximizar. Notas curtas ou matérias maiores tratavam da atuação das mulheres no ramo cultural — teatro, cinema, música, literatura e arte — e também nas áreas de moda, beleza, esportes, política e diplomacia. Dicas de comportamento também eram publicadas. "Com relação à moda, contemplava desfiles, visitas de manequins internacionais ao Rio de Janeiro e atividades de divulgação promovidas pelas indústrias têxteis, entre outros temas." (RAINHO, 2014, p. 96).

Todas os cadernos, colunas, críticos e jornalistas supracitados publicaram textos sobre a carreira da artista alemã radicada no Brasil Olly Reinheimer. Na seção seguinte iremos apresentar parte do trabalho desta artista e a visão dos jornais sobre sua carreira que transitou tanto no mundo da arte quanto no ramo da moda.

5 OLLY REINHEIMER: REGISTRO DE UM PERCURSO NAS PÁGINAS DOS