CULTURA NAS EMPRESAS
4.2 O que é Cultura?
A palavra vem do Latim “colere”, significando cultivar, como no termo agricultura, significando a transformação da natureza, com a semeadura da lavoura. Transforma-se a natureza da semente na natureza de uma planta.
O sentido da palavra também indica um aprimoramento do espírito humano, tanto individualmente como coletivamente. Com relação ao indivíduo, possibilitando o cultivo de bons valores. Enquanto o erudito tem o conhecimento, o culto tem o pensamento, a criação que anima esse conhecimento. Na acepção coletiva, Aurélio Buarque de Holanda 26 define a cultura como o desenvolvimento de um grupo social, que é fruto de um esforço coletivo, pelo aprimoramento de seus valores.
Para os filósofos, cultura é tudo que o homem modifica na natureza, agregando-lhe um sentido. Em outras palavras, é a transformação do mundo da natureza em um mundo construído. Pode ser um simples desenho que alguém faça, como uma obra de um grande pintor. Foi agregado um sentido, pode ser o mais simples.
É essa acepção da palavra cultura que interessa ao presente estudo. Entretanto, deve-se analisar a cultura cujo sentido Aurélio27 também define como o “complexo de padrão de comportamento, das crenças das instituições e doutros valores materiais e espirituais, transmitidos coletivamente, característicos de uma sociedade”.
Nesse sentido, Miguel Reale28 define cultura como o “conjunto de tudo aquilo que, nos planos material e espiritual, o homem constrói sobre a base da natureza, quer para modificá-la, quer para modificar-se a si mesmo”.
Bethlem destaca “dois enfoques genéricos: Um é o conceito integrativo de” costume “, central tanto para antropólogos como sociólogos, entendido como formas tradicionais e reguladas de fazer as coisas. Outro é a distinção entre cultura objetiva ou material – artefatos e produtos materiais – e cultura intelectual – norma, papéis, valores”29.
O primeiro conceito que abordou a relação entre o homem e sociedade é do antropólogo Edward B. Tylor, citado por Maria Tereza L. Fleury e Jader dos R. Sampaio30, qual seja, “complexo total de conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes e quaisquer outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
Como todo conceito das ciências sociais, não há um consenso. A conceituação ocorre a partir do tema que se pretende abordar. Assim, os sociólogos usam cultura para descrever aspectos intelectuais da vida social, ressaltam o processo pelo qual o comportamento é apreendido e vêem cultura como um conjunto de regras que comandam o comportamento. Os antropólogos consideram a cultura o tema de seus estudos e vêem a cultura como a construção das realizações de um grupo, inclusive a transformação da natureza em coisa. A psicologia se preocupa com a cultura do indivíduo e sua integração à sociedade, a perspectiva do eu.
Esse conceito teve sua evolução ao longo do tempo. Na Europa da idade média havia a preocupação com a cultura nacional, buscando estabelecer uma identidade entre as cidades-estado que permitisse sua unificação.
Em uma visão mais internacionalista, advinda com o mercantilismo, o termo cultura foi empregado no sentido de conjunto dos costumes, línguas, crenças, mitos, usos e costumes de povos diferentes. Esse conceito de diversidade foi
28 Op. cit. pág. 25
29 BETHLEM, A. de Sousa, Estratégia empresarial: conceitos, processos e administração estratégica, 4. ed., São
Paulo: Atlas, 2002.
30 FLEURY, Maria Tereza L. e SAMPAIO, Jader dos R.. Uma discussão sobre cultura. In: FLEURY, Maria
aprofundado até meados do séc. XIX e deu origem a visões deturpadas e preconceituosas que classificavam as culturas em superiores e inferiores.
As visões de nacionalidade versus diversidade perpassam a história. Afinal, ao longo desta, as culturas foram misturando-se, tornando a cultura nacional um poço de diversidade cultural, em decorrência do processo civilizatório de expansão territorial dos estados e colonização dos povos, até a atual globalização, quando, sob determinados aspectos, as diversas culturas pasteurizam-se e importantes aspectos da cultura nacional e regional são perdidos em nome de uma “cultura global”.
Ressalte-se que essa cultura global não significa cultura universal, aquela fundada em valores e princípios universais adotados ao longo de sua existência, pela humanidade, como o valor à vida. A cultura universal não está sendo tratada como espécie devido fazer parte da nacional.
Na esfera do direito brasileiro, a cultura é tratada como direito ou princípio fundamental, não como espécie de direito social, mas tratada expressamente em artigo da Constituição Federal, garantindo-se o acesso a todos do pleno exercício dos direitos culturais, do acesso à cultura nacional e o incentivo e valorização das manifestações culturais.
José Afonso da Silva tece considerações acerca da importância dada pelo congressista constituinte à questão cultural:
“O constituinte deu grande importância à cultura, tomando esse termo em sentido abrangente da formação educacional do povo, expressões criadoras da pessoa e das projeções do espirito humano materializadas em suportes expressivos, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. 31
A Constituição Federal define o patrimônio cultural brasileiro como constituído de bens de naturezas materiais e imateriais, tomados individualmente ou em conjunto, desde que portadores de referência à identidade, à ação, à memória
31
dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. Depreende-se da leitura da Lei magna a preocupação do legislador com a diversidade cultural do País.
O Ordenamento jurídico de um país surge e se desenvolve de acordo com suas condições econômicas, sociais e culturais. Assim, por exemplo, o que é crime em um país cuja cultura seja mulçumana, pode não ser crime em um país de cultura cristã. Destarte, a cultura nacional indica as condutas que devem ser normalizadas, inclusive quanto à sua tipificação criminal.
Mas, ainda hoje, o conceito de cultura nacional é considerado importante por diversos autores. Betania Tanure de Barros32 define como “valores, crenças e premissas aprendidas desde a infância que diferenciam um grupo de pessoas de um país ou região”.
Os conceitos de cultura nacional e diversidade cultural foram internalizados pelos estudiosos da administração e abordados no contexto da empresa, a partir da discussão dos sociólogos acerca da correspondência entre os significados atribuídos ao objeto pelo indivíduo e dos atribuídos pelos outros, compartilhados na formação de um senso comum da realidade. Esse conjunto de significados compartilhados pelo grupo é sua cultura.
Esse processo não é estático. O grupo social tem a necessidade de transmitir sua cultura a uma nova geração, pois necessita dar validade aos seus símbolos. Nesse processo, uma nova cultura sempre surge. Mas o grupo social também absorve a cultura do que chega ao grupo.
Registre-se que uma cultura não se altera ou se transmite de forma mecanicista sem que se tenha o claro significado dos símbolos daquele grupamento. Cada instituição ou organização, conforme a abordagem do mundo empresarial, respectivamente, pela ótica do administrador ou do jurista, terá sua cultura peculiar àquele grupamento, cujo comportamento sofre forte influência da cultura nacional e da história da própria instituição, a partir dos fundadores e líderes da empresa.
32 BARROS, Betania T de. Gestão à brasileira: somos ou não diferentes?: uma comparação com América Latina