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Cultura de integração – Cultura totalmente colaborativa

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

III. COLABORAÇÃO ENTRE OS PROFESSORES

2. Culturas escolares

2.2. Cultura de integração – Cultura totalmente colaborativa

provisoriedade do conhecimento, mudança sistemática e contínua são traços indissipáveis da contemporaneidade. A evolução da sociedade, particularmente nestas últimas décadas, trouxe mudanças relevantes em diferentes campos, entre eles o campo educacional. Qualquer processo de mudança traz consigo múltiplas exigências, novos desafios e dificuldades aos professores. A complexidade, a exigência e a responsabilidade do professor têm sido crescentes, o que leva a uma tomada de decisões cada vez mais difícil, “faliu a ideia de que uma formação inicial sólida (anterior ao exercício da profissão e durante a qual se adquirem novos conhecimentos que sustentam a prática) é suficiente para assegurar o bom desempenho durante todo o percurso profissional” Alarcão (2013:50).

Face à necessidade de uma mudança, muitos autores defendem a cultura colaborativa como forma privilegiada para essa mudança, como é referido por Jesus (2000) cit Jesus, Campos, Alaiz e Alves (2000)

“o trabalho em equipa entre professores, no sentido da resolução de problemas comuns e do fornecimento de apoio mútuo, pode ser a estratégia mais relevante para a superação do mal-estar docente, para o desenvolvimento e realização profissional dos professores e para a inovação e qualidade de ensino”(pág.4).

Jesus (2000:8) afirma que este trabalho em equipa entre professores também será facilitado se também ao nível das relações informais existir um bom clima relacional.

Segundo Hargreaves (1998:216) as relações de trabalho em colaboração dos professores com os colegas tendem a ser “espontâneas”, partem da iniciativa dos próprios professores e evoluem da própria comunidade docente; “voluntárias” pois resultam da consciência que os professores têm do seu valor, a qual deriva da experiência e através da qual os professores

55 acreditam que trabalhar em conjunto é agradável e produtivo; “orientadas para o desenvolvimento” nas quais os professores trabalham em conjunto para desenvolver as suas próprias iniciativas ou trabalhar em iniciativas que têm o apoio e são solicitadas externamente, mas nas quais os professores estão empenhados e “difundidas no tempo e espaço” nas quais o trabalho em conjunto nem sempre é uma atividade calendarizada, ou seja, as reuniões marcadas e as sessões de planificação podem fazer parte das culturas de colaboração, mas grande parte do trabalho em conjunto compreende encontros informais que são breves mas frequentes.

Roldão (2007) afirma que o trabalho colaborativo é um método de trabalho articulado pensado em conjunto que possibilita alcançar melhor os resultados visados, tendo como base o enriquecimento obtido através da interação dinâmica de diferentes saberes específicos e de diversos processos cognitivos em colaboração. Envolve conceber como estratégia a finalidade que conduz as tarefas de ensino e organizar todos os dispositivos dentro do grupo que possibilitem obter com mais sucesso as aprendizagens que se desejam, estimular as diferentes capacidades de todos os intervenientes e aumentar o conhecimento construído por cada um através da inclusão de elementos que resultaram da interação com todos os outros. Segundo o mesmo autor, e apoiando-se no campo da psicologia, podemos considerar que o trabalho colaborativo possui requisitos para ser mais produtivo “na medida em que as interacções sistemáticas e orientadas, descritas no plano das teorias da cognição, são essenciais à dinamização dos processos cognitivos e à sua progressão” Roldão (2007:26) e por outro lado, a partilha dos pensamentos, o debate de dados e ideias e a procura da unanimidade e superação dos conflitos tendem a aumentar o grau de motivação dos participantes, “incentivando maior envolvimento na apropriação de novo conhecimento, na resolução de problemas e na construção de estratégias” Roldão (2007:26).

Na mesma linha de pensamento Vygotsky (1989), Paulo Freire (1979), Lave & Wenger (1991) cit Alarcão (2013) referem que a aprendizagem abrange uma dimensão social na medida em que aprendemos na interação com os outros, no cruzamento e na combinação do nosso conhecimento e da nossa experiência pessoal com o conhecimento e a experiência com os outros. A

56 autora refere que é nestas circunstâncias que as práticas colaborativas apresentam grandes potencialidades, visto que surgem da interação entre pessoas, da partilha de conhecimento e de saber que surge da experiência, da igualdade na assunção de responsabilidades sobre os percursos da ação, proporcionando nesse processo a reconstrução do conhecimento, esperando- se a mudança de práticas e desenvolvimento.

Paolucci-Whicomb e Nevin cit Correia (2008) consideram que a colaboração é um processo interativo no qual através dos diferentes intervenientes com diferentes experiências encontram resoluções para os problemas recíprocos. O sistema de colaboração parece ser mais bem sucedido quando os intervenientes dividem a mesma agenda, as “pessoas- chave” estão presentes, os papéis de cada um estão bem definidos e é confirmada uma programação tendo por base uma planificação partilhada.

Cook e Friend (1993) citados por Friend e Bursuk (1996) e referidos em Correia (2008:26) partilham da opinião de que existe um conjunto de características que esclarecem os pressupostos da colaboração na escola que devem ser tidas em conta para que se produza um ambiente favorável ao processo de ensino-aprendizagem. Para os referidos autores “a colaboração é voluntária”, devendo ser uma escolha pessoal; “é baseada na igualdade relacional” em que os professores têm que acreditar que as suas contribuições têm valores idênticos; “requer partilha de objetivos comuns”; “implica partilha de responsabilidades”, pois mesmo havendo divisão de tarefas, para que um determinado objetivo seja atingido, as decisões fundamentais e decisivas devem ser partilhadas; “ requer partilha de responsabilidades nos resultados finais”, esta característica complementa a anterior, ou seja, independentemente dos resultados serem positivos ou negativos, os professores devem assumir, em conjunto, os resultados das suas decisões; “requer partilha de recursos”, os professores devem partilhar recursos (tempo, experiência, conhecimentos, espaços e equipamentos); “requer confiança e respeito mútuos”, esta apoia-se em valores de partilha, de confiança e respeito entre todos os intervenientes.

A formação de equipas de colaboração, a existência de tempo para trabalho em equipa, o reconhecimento de que os professores conseguem

57 resolver problemas e desenvolver investigações são aspetos fundamentais para que o processo de colaboração seja eficaz.

3. Colaboração entre o professor de ensino regular e o

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