• Nenhum resultado encontrado

Durante as entrevistas e a análise das revistas percebeu-se que havia alguns conceitos gerais sobre o que é um produto da Editora TRIP, especialmente as revistas TRIP e TPM. Esses elementos eram recorrentes nas falas dos entrevistados. São concepções que, partilhadas, tornam-se essenciais para a fabricação das revistas. Os significados elaborados pelos sujeitos em suas falas sobre as revistas misturam uma série de elementos, que são separados neste momento como uma forma de análise. Conceitos a respeito das publicações foram ouvidos de Paulo Lima, que possui o maior poder decisório, e também de alguns dos repórteres. O discurso muito próximo sobre alguns temas demonstra uma incorporação dos conceitos sobre o que é uma TRIP e uma TPM, refletindo na ótica do que deve ser a revista e como fazê-la. Para Lima, uma de suas principais funções é justamente delimitar os valores mais importantes para as revistas e explicá-los aos funcionários:

Grahal: E o que você faz exatamente aqui no processo da revista, de formação da TRIP, da TPM? Lima: Cara, eu sou, o que eu acho que eu faço, posso te contar mil atividades. O que eu acho que eu faço de importante, cara, é que eu sou disseminador da cultura da marca. Eu carrego o DNA da marca. Eu fico explicando para as pessoas e passando para elas. O que eu estava fazendo antes de você entrar era isto, dando o DNA da marca, decodificado. Aqui estava uma reunião dos diretores de redação e dos diretores comerciais. E o que eles querem saber é isto. Balizamento para saber o DNA da marca. Isto é o que eu faço hoje de mais importante. E mais mil atividades. Eu cuido um pouco do marketing, eu cuido um pouco do editorial, eu vejo o comercial. É o que eles chamam lá fora de publisher e que aqui não tem uma tradução boa para a palavra então eu chamo de editor mesmo. Mas é isto. Olhar tudo. Mas fundamentalmente é carregar o DNA e entregar para as pessoas e contaminar elas com esta identidade. É isto aí.

Esses componentes são direcionamentos que orientam a produção da revista e as relações dentro da redação. A seguir, comento os principais componentes que identifiquei nas entrevistas como incorporações de uma “cultura” própria da Editora TRIP:

• Abertura de opinião a todos jornalistas e hierarquia matizada.

O conceito de liberdade de opinião interna está initmamente relacionado à importância que se dá a experimentação e a criatividade. Um jornalista pode discutir com o responsável pela produção e mesmo com os diretores.

O processo de formação da TRIP foi importante para a constituição deste conceito. Em uma editora pequena, formada por pessoas com pouca experiência no campo jornalístico que criavam uma nova revista sem utilizar modelos já estabelecidos, a TRIP, a participação dos produtores em todo processo de formatação da revista trazia novas idéias e poderia diminuir as possibiliadades de erros.

Desta forma, os produtores percebem uma menor influência da hierarquia nos processos decisórios quando se compara com outras redações. Isto não significa que não exista hierarquia, apenas que há uma possibilidade de abertura para a discussão das matérias na revista. Também não implica em consenso constante, e em que a discussão não seja resolvida hierarquicamente.

• “Furo”: dar antes ou diferente.

O “furo” é um dos objetivos de veículos jornalísticos. A TRIP e TPM orgulham-se de “dar antes”, que é explicitado na revista através de fotos da capa da TRIP/TPM e da outra publicação. Um exemplo é quando uma pessoa, pouco conhecida, é entrevistada (ou é feito um ensaio sensual) pela TRIP ou TPM e após algum tempo aparece em outras revistas.

Para tanto, procuram-se pessoas que, acredita-se, irão fazer sucesso ou estarão em evidência em um momento posterior. Enquanto que nos jornais o “furo” é imaginado como uma notícia “desvelada”, que outros jornais ainda não publicaram ou descobriram, na TRIP e na TPM o conceito de furo está intimamente ligado a pessoas.

Outro modo de “dar furo” na TRIP/TPM é fazer algo já feito de modo “diferente”. Para os entrevistados, nem todo “furo” é algo nunca dantes visto, podendo também ser algo já visto mas tratado de uma forma diferenciada, do jeito da editora TRIP. Desta forma, uma entrevista com uma pessoa que já tenha aparecido em outra revista, feita de forma diferente, explorando outros aspectos, pode ser considerada um furo. Do mesmo modo, um assunto que já tenha sido pauta em outra publicação, pode ser considerado um furo desde que seja feito do jeito TRIP/TPM.

• Escola de revista: erro, acerto e inovação.

A Editora é vista como uma escola, onde pode-se aprender o processo de criação de revistas. Tal como Paulo Lima aprendeu a fazer a TRIP pelo improviso, as pessoas envolvidas na produção podem aprender pelos seus erros e acertos.

Para protagonistas, a criatividade aqui é importante e é justamente ela que pode conduzir a erros. O erro é visto como parte integrante deste processo de aprendizagem, apesar de sempre se ter o objetivo do acerto.

A possibilidade de erro, acerto e inovação revestem, desta forma, a TRIP e a TPM de uma imagem diferenciada no mercado de revistas (ao menos para as pessoas que trabalham nas duas revistas). Os produtores negam que haja uma fórmula copiada de publicações nacionais e estrangeiras. Para eles, o público leitor é inteligente, tem acesso a outras publicações, inclusive estrangeiras, e perceberia qualquer tipo de cópia que fosse feita.

• Diversidade.

A diversidade é um valor na Editora TRIP. Em diversos momentos explicita-se que a Editora não quer se fechar em um só grupo, que não devem haver preconceitos.Desta forma, este pensamento espalha-se como um valor intrínseco do trabalho.

A redação deve ter uma certa diversidade de pessoas90. Como acima exposto, Paiva procura pessoas com diversas habilidades para compor a redação da TPM. A alteridade na matérias da TRIP também é uma exposição deste valor através da elaboração dos conteúdos da revista. O público, por fim, é visto como diverso e como alguém que também tem a diversidade como um valor. É percebido como um grupo de indivíduos que partilha desse ideal com a Editora TRIP.

90 Ainda que a identificação com as revistas seja visto como algo positivo, o que remete também à uma certa