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CAPÍTULO 2. POLÍTICAS CULTURAIS NO BRASIL: UM BREVE HISTÓRICO

2.2 Cultura e indústria cultural.

Após o final do governo Vargas, no período compreendido entre 1945 até os primeiros anos da década de 1960, ocorreu um acentuado desenvolvimento na área cultural a partir da iniciativa do setor privado. Ações como a criação do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) em 1948, do Teatro Brasileiro de Comédia e da Cinemateca Brasileira também do mesmo ano e da companhia cinematográfica Vera Cruz em 1949 pelos empresários de origem italiana Francisco Matarazzo Sobrinho e Francisco Zampari, além da criação da Fundação Bienal de São Paulo (1951) e do Museu de Arte Contemporânea (MAC) com a contribuição de Francisco Matarazzo, foram algumas das atividades desenvolvidas pelo mecenato privado brasileiro da época.

Também são desse período, a criação do Museu de Arte de São Paulo (MASP), o lançamento da primeira emissora de TV do país (a TV Tupi de São Paulo), inaugurada em 1950, ambas as realizações do jornalista e empresário Assis Chateaubriand e do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/ RJ), criado por Paulo Bittencourt e Niomar Muniz Sodré (MOISÉS, 1999, p. 425-426).

A presença do Estado na área da cultura se caracterizou nesse momento pela não promoção de políticas e ações articuladas no campo cultural, estando suas atividades voltadas a regulamentar e dar certa continuidade as instituições criadas nas décadas anteriores.

De acordo com Calabre (2009, p.50), a ausência de políticas minimamente articuladas aumentaram a necessidade de ações pontuais e emergenciais no setor.

Durante o processo de redemocratização que se instalou no país a partir da segunda metade da década de 1940, o texto constitucional de 1946 traz no seu artigo 174 o amparo à cultura enquanto dever do Estado7. No entanto, o que observou foi uma quase que completa ausência na esfera cultural e certo predomínio da indústria cultural que começava a prosperar nos anos 1940 e 1950 e a se consolidar no Brasil nas décadas a posteriori.

O crescimento da industrialização juntamente com o desenvolvimento urbano que acontecia de forma acelerada possibilitou a formação de um espaço fértil para a proliferação

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As propagandas do governo eram realizadas principalmente através da rádio, do cinema (Cines-Jornais oficiais) e da Revista Cultura e Política.

dos meios de comunicação de massa (a principio o rádio e nas décadas seguintes a televisão) no país.

Tal fato é atribuído por Calabre (2009) ao florescimento da classe média urbana8 e da classe operária, o que ocasionou transformações de consumo inclusive na área da cultura. Tais fatores elevaram a expectativa do crescimento do mercado de bens de consumo das produções culturais nas mais diversas áreas (Cinema, Teatro, Rádio, Televisão, entre outros) e a conseqüente possibilidade de avanço da indústria cultural brasileira.

O rádio passou por um grande crescimento, chegando aos lugares mais distantes desse país e a praticamente a todos os lares onde havia energia elétrica. No espaço de 1944 a 1950, num intervalo de apenas seis anos, o numero de emissoras passou de 144 para 300 (ORTIZ, 2006). Já em relação ao cinema, este se tornou nesse período, bem de consumo cultural, principalmente devido à presença dos filmes norte-americanos, que eram preponderantes nos lugares de exibições.

Ocorreu também de forma evidenciada, um aumento considerável no número de jornais, revistas e livros. No que se refere à televisão, esta ainda engatinhava e não tinha um alcance no território como um todo se concentrando basicamente no eixo Rio - São Paulo (ORTIZ, 2006, p.40-46).

As atividades culturais desse período estiveram diretamente ligadas aos investimentos privados realizados pela nascente indústria cultural, cabendo ao Estado o papel de regulamentador, a partir de uma atuação não muito marcante, para não dizer fraca, na área cultural nos anos 1940, 19 50 e início da década de 60. São desse período o desmembramento do MES e a criação do Ministério da Educação e Cultura (MEC) 9 assim como a criação do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB).10

Segundo Calabre (2009), o fim dos anos 50 foi marcado “por movimentos de

politização das artes e de renovação estética” (2009, p.56-57), o que carregava o início dos anos 60 “de promessas de mudança profundas nos campos das linguagens artísticas e das práticas culturais.” São frutos dessa efervescência, a bossa nova, o cinema novo, a poesia

concreta e os grupos de teatros Arena e Oficina. Para ela, havia de um lado:

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De acordo com Renato Ortiz (2006, p.38), é nos anos 40 que se consolida no Brasil uma sociedade urbana industrial.

9 Criado em 1953 a partir da lei: 1920, de 25 de julho do respectivo ano. Ver (MICELI, 1984, p.55) 10

De acordo com Calabre (2009: 53 e 54), o ISEB foi criado por meio do decreto Nº 37.607, em 14 de julho de 1955, como órgão vinculado ao MEC. Contudo, após tendo passado por diferentes faces, foi identificado pelo regime militar de 64 com a chamada esquerda subversiva.

A cultura de massa como o rádio e a televisão invadindo os lares e transformando hábitos cotidianos; o cinema hollywoodiano criando mitos e novas práticas de consumo, o rock and roll e a bossa nova alternando os gostos musicais, os restos, o cruzeiro e manchete criando uma nova estética editorial; os gibis encantando a garotada; e as fotonovelas alimentando sonhos com seus contos de amor – tudo isso dominava uma parcela significativa do consumo cultural. Por outro lado, havia um projeto estético e político implementado pelo Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), que lutava contra o subdesenvolvimento e o imperialismo norte-americano. O objetivo era alcançar uma revolução política e cultural, na qual a cultura popular deveria ser uma ferramenta de transformação radical da sociedade burguesa de consumo, ainda que o povo – um dos atores do processo – não se desse conta disso (CALABRE, 2009, p.57-58).

De fato, o panorama cultural brasileiro a partir dos primeiros anos da década de 60, sofreu alterações substanciais e extremamente significativas que serão expostas a seguir.

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