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1 INTRODUÇÃO

2.1.5 Capital Cultural

2.1.5.1 Cultura das mídias

Segundo Santaella (2003), um dos aspectos que a adoração pela mídia destrói está no fato de que quaisquer mídias, em decorrência dos meios de comunicação que as permitem, são indissociáveis das formas de socialização e cultura que são capazes de criar. “Considerando-se que as mídias são conformadoras de novos ambientes sociais, podem-se estudar sociedades cuja cultura se molda pela oralidade, então pela escrita, mais tarde pela explosão das imagens na revolução industrial eletrônica” (SANTAELLA, 2003, p. 25).

Cultura de massas, cultura de mídias e cultura digital apresentam, cada uma delas, certas especificidades. De acordo com Santaella (2003), por meio da cultura digital, estamos vivenciando a convergência das mídias, um processo diferenciado da convivência das mídias:

Hoje vivemos uma verdadeira confraternização geral de todas as formas de comunicação e de cultura, em um cadeamento denso e híbrido: a comunicação oral que ainda persiste com força, a escrita, no design, por exemplo, a cultura de massas que também tem seus pontos positivos, a cultura das mídias, que é uma cultura do disponível, e a cibercultura, a cultura do acesso. Mas é a convergência das mídias, na coexistência com a cultura de massas e a cultura das mídias, estas últimas em plena atividade, que tem sido responsável pelo nível de exacerbação que a produção e circulação da informação atingiu nos nossos dias e que é uma das marcas registradas da cultura digital (SANTAELLA, 2003, p. 28).

Para Castells (1999), essa é a cultura da virtualidade real, cultura formada por meios de comunicação digital, em que o conhecimento e o domínio estão na diversidade, na construção de um novo ambiente simbólico onde todas as expressões culturais, da pior à

melhor, da mais elitista à mais popular, vêm unidas nesse mundo digital, criando um elo entre um supertexto histórico gigantesco, as manifestações passadas, presentes e futuras da mente comunicativa.

Nesse contexto, os processos de interações sociais são virtualizados (LEVY, 1996). Castells (1999) corrobora essa visão quando define os termos “virtual” e “real”: virtual é o que existe na prática, embora não estrita ou nominalmente, e real é o que existe de fato.

Imersa nesse cenário está a educação que, juntamente com os âmbitos social e cultural, encontra-se envolvida na luta ideológica da globalização. O uso das novas tecnologias na modalidade Educação a Distância e a adoção de um modelo educacional diferenciado parecem ser boas alternativas para reverter o quadro educativo do país (LEVY, 1999).

Os avanços tecnológicos dos últimos anos têm transformado o que conhecemos como educação presencial, em que professores e alunos encontram-se em horários e locais pré- determinados para que ocorra a transmissão de conteúdos por parte do professor e recepção/ assimilação deles por parte do aluno. Nesse cenário de transição, emerge a Educação a Distância, uma modalidade de ensino e aprendizagem caracterizada pela especificidade da separação física entre professor e aluno, sendo que a comunicação entre eles ocorre por meio da utilização de diferentes mídias que podem ser classificadas como tradicionais e digitalizadas (MOREIRA, 2003).

“O rádio, material impresso, televisão, fitas de vídeo, filmes são exemplos de mídias tradicionais. Já as mídias digitalizadas são aquelas informatizadas como a internet, multimídias interativas, sistemas inteligentes entre outros” (CAVALCANTI, 2007, p. 5).

O processo de integralização de mídias digitalizadas no processo de aprendizagem concorre para a transmissão de conteúdos por meio de interações assíncronas (interações que não ocorrem em tempo real) e síncronas (interações que ocorrem em tempo real), contribuindo para que o processo de construção do conhecimento por parte do aluno ocorra de forma significativa (CASTELLS, 1999). A Educação a Distância, educação mediada por novas tecnologias de comunicação e interação, rompe as barreiras do tempo e do espaço, além de permitir que um grande contingente de alunos em todo o mundo tenha acesso a novos conhecimentos (ROMINOSZOWSKY, 1993). “Tal fato faz com que essa modalidade de ensino seja vista com grande otimismo por educadores, pois as tecnologias educacionais parecem ser a resposta a países que enfrentam a falta de equidade educacional” (CAVALCANTI, 2007, p. 5).

A Constituição Federal brasileira de 1988 prevê no seu artigo 205, “A educação, como direito de todos e dever do Estado e da família.” A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, no

Título I - Art. 1º, preconiza que “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.” Essa lei se encarrega de listar as normas que guiam as linhas institucionais de ensino. Portanto percebe-se uma lei igual para seres desiguais.

Dessa forma, pressupõe-se que ao universo acadêmico cabe nivelar as oportunidades, os caminhos, o futuro dos educandos. Primeiramente cabe reconhecer a igualdade de oportunidades versus igualdade de formação. Para Bourdieu (2007b), esse nivelamento de formação praticada pelas Instituições de Ensino tem a finalidade de conservação social.

Portanto depreende-se que, por meio do ato de conservação social, as Instituições de Ensino, não propiciando tratamento diferenciado aos alunos, por mais desiguais que sejam eles, de fato, e preconizando a igualdade entre eles no que se refere a direitos e deveres, são levadas a aprofundar as desigualdades iniciais diante da cultura (BOURDIEU, 2007b).

“A igualdade formal que pauta a prática pedagógica serve como máscara e justificação para a indiferença no que diz respeito às desigualdades reais diante do ensino e da cultura transmitida, ou, melhor dizendo, exigida” (BOURDIEU, 2007b, p. 53).

Dessa forma, a Instituição de Ensino, na convicção de Bourdieu (2007b), evidenciada como ideal de uma escola libertadora, erroneamente continua sendo tratada como um fator que proporciona mobilidade social. Segundo ele, a escola “é um dos fatores mais eficazes de conservação social, pois fornece a aparência de legitimidade às desigualdades sociais e sanciona a herança cultural e o dom social tratado como dom natural” (BOUDIEU, 2007b, p. 41).

Bourdieu (2007a) ressalta ainda que a transformação social é possível enquanto for uma ação coletiva reflexiva e conhecedora rigorosa das estruturas que doutrinam o universo educacional. Essa ação transformadora inclina-se a se tornar uma árdua luta a ser travada contra os agentes conservadores que se utilizarão possivelmente de todo o seu capital simbólico para manter a ordem que os favorece.

Sabe-se que o alto capital cultural que reside nas Instituições de Ensino Superior encontra-se fundado na educação presencial. Para que a Educação a Distância adquira o seu espaço, deverá haver uma quebra de paradigmas no sentido de que ambas as modalidades se complementem, visando à difusão do conhecimento (MOORE; KEARSLEY, 2007). Cavalcanti (2007) corrobora tal reflexão quando afirma:

Especialmente em países da América Latina, a EaD mediada pelas novas tecnologias ainda não está disponível para as massas, pois sua implantação esbarra em políticas educacionais burocratizadas, necessidade de investimentos pesados por parte das instituições e governo e, principalmente, na resistência cultural por parte de alunos e meio acadêmico ( CAVALCANTI, 2007, p. 10).

Nesse contexto, cabe a reflexão: Bourdieu (2007a) afirma que os agentes conservadores se utilizarão possivelmente de todo o seu capital simbólico para manter a ordem que os favorece; Setton (2005) defende a vertente de que a Educação a Distância traz um viés otimista para se enfrentar a falta de equidade educacional, além de romper as barreiras do tempo e do espaço, com uma “particularidade da realidade cultural/educacional que põe à disposição de todos um saber, embora não tendo todos as mesmas condições de apropriação” (SETTON, 2005, p. 5); Castells (1999) evidencia que a cultura da virtualidade real é formada por meios de comunicação digital nos quais o conhecimento e o domínio estão na diversidade, na construção de um novo ambiente simbólico, em que todas as expressões culturais, da pior à melhor, da mais elitista à mais popular, vêm unidas nesse mundo digital.

Isso posto, tais agentes conservadores citado por Bourdieu (2007a) poderiam ser considerados como os corpos dirigentes das Instituições de Ensino, os formadores de opinião, que se utilizam de seu capital simbólico para manter a cultura dominante da educação presencial.

Já a implementação da modalidade Educação a Distância nas Instituições de Ensino, poderia ser entendida como uma ação transformadora que poderia possibilitar a equidade educacional.