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Cultura organizacional nas instituições federais de ensino superior públicas

2. COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL

2.1. CULTURA ORGANIZACIONAL

2.1.1. Cultura organizacional nas instituições federais de ensino superior públicas

O ambiente a qual a comunicação está inserida dentro das Instituições federais de ensino superior (IFES) é muito complexo e desafiador, da mesma forma que para conseguir ter um melhor entendimento acerca das culturas organizacionais existentes nelas, tanto as

referentes ao seu contexto político-social como a que caracteriza suas ações simbólicas, deve- se, primeiramente, fazer um recorte teórico do contexto histórico pertencentes às IFES do Brasil. As instituições de ensino superior no cenário Brasileiro podem ser consideradas bastante recentes, levando-se em consideração outros países da América. Segundo Stallivieri (2007) aqui, as primeiras Universidades começam a surgir somente a partir do século XIX e era, prioritariamente, um conjunto de outras Instituições existentes da época como faculdades especificas ou outros tipos de institutos educacionais isolados o que, como a autora cita, ―deu uma característica bastante fragmentada e frágil‖ (STALLIVIERI, 2017, p. 3) a elas.

Ainda segundo Stallivieri (2007) o principal intuito para a criação dessas Universidades foi a grande demanda que o mercado começava a exigir por profissionais capazes de suprir as novas necessidades que a sociedade trazia. Historicamente, a educação superior brasileira passou por diversas mudanças avançando ao que conhecemos hoje. Devido a isso, as IFES podem ser consideradas como um ―sistema complexo, diversificado, em constante mudança e expansão‖ (STALLIVIERI, 2017, p. 5). Um fator decisivo no processo de expansão ao quais as IFES passaram e continuam passando atualmente, se dá principalmente devido a encargos do cenário político brasileiro.

No contexto político- social, por estarem inseridas nessa conjuntura, as Instituições de ensino de cunho federal, municipal ou estadual acabam por sofrer as demandas que os governos em exercício aplicam. Podemos citar uma característica do governo brasileiro que exerceu de 2003 a 201116 como um dos que investiu constantemente no crescimento da educação superior no Brasil, principalmente com investimentos de expansão das Universidades Federais, propondo e criando programas que dessem subsídio para esse processo, como foi o caso do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI.

O REUNI, segundo descrito no documento de diretrizes gerais do programa17, tem ―como um dos seus objetivos dotar as universidades federais das condições necessárias para ampliação do acesso e permanência na educação superior‖. Dessa forma, a partir da implementação de um programa que teve como objetivo melhorar a educação superior e, por consequência, investir em mais Universidades Federais foi possível notar o citado grande crescimento das IFES no cenário Brasileiro. Muito embora, o ambiente da educação superior já estivesse em constante crescimento, devido aos grandes polos de educação privada

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Governo Federal de Luiz Inácio Lula da Silva - 1º.01.2003 a 1º.01.2011. Disponível em: <planalto.gov.br>. Acesso em: 04 de junho de 2016.

17 Fonte: Documento de Diretrizes Geral do REUNI. Disponível em <portal.mec.gov.br/>. Acesso em: 4 de

inseridos no país, o que acabou por muito tempo sendo local de referência para quem desejava obter um curso superior, já que as Universidades federais possuíam poucas vagas e estrutura para tanta demanda.

As Instituições federais de ensino superior públicas, assim como qualquer outro departamento público brasileiro, são constituídas por alguns modelos bem singulares, como o modo de se arquitetar por meio de setores administrativos bem divididos. De acordo com Monica Biazzi esse modo característico das instituições públicas:

tem origem histórica e está profundamente arraigada no setor. A estrutura apresenta hierarquias rígidas, com sistema de carreira baseado no mérito (concursos públicos), com ascensão na carreira a longo prazo. Os funcionários possuem estabilidade empregatícia, sendo que a remuneração é baseada em tabela fixa de cargos e salários. (BIAZZI, 2007, p.51)

Biazzi (2007, p. 52) segue descrevendo em sua tese alguns fatores que influenciam os processos dentro das Instituições públicas, fatores esses essenciais para o entendimento de alguns pontos dessa presente pesquisa. São eles: as ―mudanças de direção política periódica, podendo ser drásticas; interesses políticos, muitas vezes enfatizando mudanças de curto prazo; Sobreposição de iniciativas, muitas vezes criadas em períodos políticos diferentes‖. Tais fatores são imprescindíveis no momento em que se pressupõe a criação de qualquer projeto ou programa dentro de uma instituição de viés público.

As IFES tradicionalmente também seguem um padrão setorizado, formal e burocrático sendo estruturadas a partir de setores responsáveis pela gestão das demandas institucionais, como o caso das Pró- Reitorias. Além disso, Biazzi (2007) acrescenta que esse modelo de administração que compõe as IFES baseada em uma hierarquia linear, processos de admissão por concurso e igualdade salarial podem exercer uma forte influência negativa no modo como os indivíduos trabalham e exercem suas funções nas Instituições. Como citado anteriormente, os encargos políticos que as Instituições de ensino estão expostas influenciam no modo como elas são administradas. Além de serem influencias pelas diretrizes do governo federal em exercício elas também são atravessadas pelos processos políticos internos, como quando ocorrem eleições para a escolha dos Reitores, esses que possuem suas próprias propostas de execução e administração da gestão interna.

Tal contexto político social a respeito das Instituições federais de ensino superior influencia consideravelmente o modo como a cultura organizacional é construída nesses ambientes. A cultura organizacional das IFES assemelha-se ao mesmo aspecto de outras Instituições públicas e acaba absorvendo esse perfil hierárquico, burocrático e formal, o que

caracteriza muitas vezes a execução dos processos comunicacionais nessas instituições. O meio político ao quais as IFES estão inseridas acaba influenciando no modo como suas diretrizes institucionais são constituídas.

Nesse ambiente institucional são elaborados documentos que regem os planejamentos, desenvolvimento e execução de programas e projetos das Universidades Federais, são os chamados Planos de Desenvolvimentos Institucionais. O PDI é um documento obrigatório exigido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) para toda instituição de ensino federal, ele identifica a Instituição de Ensino, no que diz respeito à sua filosofia de trabalho, a missão a que se propõe, as diretrizes pedagógicas que orientam suas ações, a sua estrutura organizacional e as atividades acadêmicas que desenvolve e/ou que pretende desenvolver e serve como marco para a instituição, que estabelece diretriz e direções para a elaboração de projetos e ações, transmitindo o entendimento do plano estratégico para os níveis táticos e operacionais18.

Nesse contexto, a cultura organizacional das Instituições federais de ensino, no que diz respeito a sua filosofia de crenças como missão, visão e valores acabam, muitas vezes, não sendo absorvidas pelos membros da Instituição, visto que a cada novo PDI e dependendo do contexto político vigente essas crenças são revistas e reconstruídas a partir da identificação e propostas da gestão administrativa em exercício. No caso da Universidade Federal de Santa Maria, o PDI19 vigente consta a seguinte filosofia institucional:

Missão: Construir e difundir conhecimento, comprometida com a formação de pessoas

capazes de inovar e contribuir com o desenvolvimento da sociedade, de modo sustentável.

Visão: Ser reconhecida como uma instituição de excelência na construção e difusão do

conhecimento, comprometida com o desenvolvimento da sociedade, de modo inovador e sustentável.

Valores: Comprometer-se com a educação e o conhecimento, pautada nos seguintes valores:

Liberdade; Democracia; Ética; Justiça; Respeito à identidade e à diversidade; Compromisso social; Inovação e Responsabilidade.

Na Universidade Federal do Rio Grade do Sul, inserido em seu estatuto e regimento geral20 a missão e princípios institucionais segue os seguintes princípios:

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Fonte: Portal UFSM. Disponível em < coral.ufsm.br/pdi/index.php/o-pdi>. Acesso em: 5 de junho de 2016

19 Fonte: Universidade Federal de Santa Maria (2016). Disponível em

<site.ufsm.br/arquivos/uploaded/arquivos/32dbca01-f6d3-44ab-8519-d9316773f882.pdf>. Acesso: 26 de junho de 2016.

20 Fonte: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2016). Disponível em

Missão: A Universidade Federal do Rio Grande do Sul tem por finalidade precípua a

educação superior e a produção de conhecimento filosófico, científico, artístico e tecnológico integradas no ensino, na pesquisa e na extensão.

Princípios: I- promover, por meio do ensino, da pesquisa e da extensão, todas as formas de

conhecimento; II - ministrar o ensino superior visando à formação de pessoas capacitadas ao exercício da profissão nos diferentes campos de trabalho, da investigação, do magistério e das atividades culturais, políticas e sociais; III - manter ampla e diversificada interação com a comunidade, traduzindo uma relação orgânica entre Universidade e sociedade, pela articulação entre as diversas Unidades da Universidade e as entidades públicas e privadas de âmbito regional, nacional e internacional; IV - estudar os problemas socioeconômicos da comunidade, com o propósito de contribuir para o desenvolvimento regional e nacional, bem como para a qualidade da vida humana; V - valer-se dos recursos humanos e materiais da comunidade, para integração dos diferentes grupos sociais e étnicos à Universidade; VI - constituir-se em fator de integração da cultura nacional e da formação de cidadãos, estimulando o desenvolvimento de uma consciência ética na comunidade universitária; VII - cooperar com os poderes públicos, universidades e outras instituições científicas, culturais e educacionais brasileiras, estrangeiras e internacionais; VIII - desempenhar outras atividades na área de sua competência.

Por fim, no Instituto Federal Farroupilha consta em seu PDI21 vigente os seguintes pontos em sua filosofia institucional:

Missão: Promover a educação profissional, científica e tecnológica, pública, por meio do

ensino, pesquisa e extensão, com foco na formação integral do cidadão e no desenvolvimento sustentável.

Visão: Ser excelência na formação de técnicos de nível médio e professores para a educação

básica e em inovação e extensão tecnológica.

Valores: Ética; Solidariedade; Responsabilidade Social e Ambiental; Comprometimento;

Transparência; Respeito e Gestão Democrática.

Diante do fato de serem Universidades federais de ensino superior públicas, alguns pontos que compões a filosofia institucional dessas instituições percorrem um caminho em comum, como priorizar em suas missões a construção e difusão do conhecimento através de seus ensinamentos. Isso demonstra que apesar das universidades serem constantemente

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Fonte:Instituto Federal De Educação, Ciência E Tecnologia Farroupilha. Disponível em

<w2.iffarroupilha.edu.br/site/midias/arquivos/20148309056884pdi_14_18pdf.pdf >. Acesso em 26 de junho de 2016.

atravessadas por demandas políticas que podem ou não influenciar suas ações, alguns quesitos institucionais percorrem o interior dessas instituições sendo dificilmente alteradas. Pode-se então, considerar tal contexto como uma cultura organizacional arraigada profundamente nos discursos perpassados na produção e difusão do conhecimento.