• Nenhum resultado encontrado

5 DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E O DIREITO À EDUCAÇÃO

Artigo 2.º Cumprimento da escolaridade obrigatória

1 - A frequência do ensino básico, com a duração de nove anos, é obrigatória para todas as crianças em idade escolar, nos termos do disposto

no artigo 6.º da Lei 46/86, de 14 de Outubro (Lei de Bases do Sistema Educativo).

2 - Os alunos com necessidades educativas específicas, resultantes de deficiências físicas ou mentais, estão sujeitos ao cumprimento da escolaridade obrigatória, não podendo ser isentos da sua frequência.

3 - A frequência a que se refere o número anterior processa-se em estabelecimentos regulares de ensino ou em instituições específicas de educação especial, quando comprovadamente o exijam o tipo e o grau de deficiência do aluno. (PORTUGAL, 1990).

Em 1991, foi promulgado o Decreto Lei n.º 319/91, de 23 de agosto, o qual foi também um importante documento legislativo, que estabeleceu o regime educativo especial aplicável aos alunos com deficiência. Este decreto surge como corolário de inúmeras experiências e práticas pedagógicas bem sucedidas nesta área, sob a sequência de linhas orientadoras de resoluções de inúmeros organismos internacionais nos quais Portugal está filiado, como as Nações Unidas, Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e a Cultura-UNESCO e Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económicos – OCDE, bem como diplomas legais que foram mencionados anteriormente como a Lei de Bases do Sistema Educativo e Decreto Lei n.º 35/90. (RIBEIRO, 2008, p. 40).

No que se refere a este importante Decreto Lei n.º 319/91, cumpre mencionar que ele aponta de forma evidente para uma política de integração ao prevê serviços da educação especial em classe regular, salvo os casos em que as medidas se demonstrem insuficientes em razão do tipo e grau de deficiência dos alunos. Contudo, não obstante o avanço que Portugal obteve com esta lei, no que se refere ao avanço do sistema inclusivo para as pessoas com deficiência, insta destacar que nela é possível verificar ainda aspectos segregadores, como é o caso do art. 14.º, n.º 1, o qual estabelece que os professores do ensino regular e da Educação Especial poderão elaborar propostas menos informais nas situações menos complexas cuja avaliação não exija especialização de métodos e instrumentos ou cuja solução ―não implique segregação significativa‖ (RIBEIRO, 2008, p. 41), como se observa:

Artigo 14.º Propostas

1- As situações menos complexas cuja avaliação não exija especialização de métodos e instrumentos ou cuja solução não implique segregação significativa dos alunos podem dar lugar a propostas subscritas pelos professores do ensino regular e de educação especial, de carácter não formal mas devidamente fundamentadas. (PORTUGAL, 1991).

Mas, em que pese haja manifestações de segregação para a Educação Especial nos ensinos educativos regulares, como foi possível depreender no exemplo acima mencionado, não há dúvidas do progresso que ocorreu por meio deste decreto para garantir o direito à educação às pessoas com deficiência sob a perspectiva inclusiva, tendo sido promulgado durante o período de governo de Cavaco Silva, proporcionando muitos avanços legais para a conquista da educação inclusiva no território português.

Em 1997, sob o governo de António Guterres (1995-1999), a Lei n.º 115/97, de 19 de setembro, estabeleceu alterações à Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46/86) e, no que se refere à Educação Especial, abordou a qualificação adequada aos professores para assumirem a docência em Educação Especial. Nesse mesmo ano, foi publicada a Portaria n.º1103/97, que veio a garantir as condições de educação especial em estabelecimentos de ensino particulares. (RIBEIRO, 2008, p. 46-48).

Já no ano de 2006, no governo de José Sócrates, foi promulgada a Lei n.º 46/2006, de 28 de agosto, que veio a proibir e punir a discriminação, em razão da deficiência e da existência de risco agravado de saúde (RIBEIRO, 2008, p. 56), como se extrai:

Artigo 1.º Objecto

1 - A presente lei tem por objecto prevenir e proibir a discriminação,

directa ou indirecta, em razão da deficiência, sob todas as suas formas, e sancionar a prática de actos que se traduzam na violação de quaisquer direitos fundamentais, ou na recusa ou condicionamento do exercício de quaisquer direitos económicos, sociais, culturais ou outros, por quaisquer pessoas, em razão de uma qualquer deficiência.

2 - O disposto na presente lei aplica-se igualmente à discriminação de pessoas com risco agravado de saúde. (PORTUGAL, 2006, grifo nosso).

Demais disso, em 2006 foi publicada a Resolução do Conselho de Ministros n.º120/2006, de 21 de setembro, que aprovou o ―I Plano de acção para a Integração das Pessoas com Deficiências ou Incapacidade para os alunos de 2006 a 2009‖, com o objetivo de adotar medidas necessárias para garantir às pessoas com deficiência o pleno reconhecimento e exercício de seus direitos de igualdade e oportunidade. (RIBEIRO, 2008, p. 56-57).

Em 2007, foi publicada também outra Resolução de Conselhos de Ministros n.º 9/2007, aprovando o Plano Nacional de Promoção da Acessibilidade

(PNPA), com vistas a promover a construção de uma rede global, coerente e homogênea em matéria de acessibilidade, visando proporcionar às pessoas com mobilidade condicionada ou dificuldades sensoriais, condições iguais às dos restantes cidadãos, objetivando um aumento em sua qualidade de vida e a prevenção e eliminação de diversas formas de discriminação ou exclusão. (RIBEIRO, 2008, p. 57).

Já no ano de 2008, foi publicado o Decreto Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro, que objetivou aplicar o sistema educacional inclusivo para as pessoas com deficiência em Portugal e promover a igualdade de oportunidades. A partir do seu art. 1º, definiu-se que o apoio especializado deveria ser prestado na educação pré- escolar e nos ensinos básicos e secundário, do setor público, particular e cooperativo, visando à criação de condições para a adequação do processo educativo às necessidades educativas dos alunos com deficiência, vejamos:

Artigo 1.º Objecto e âmbito

1 - O presente decreto-lei define os apoios especializados a prestar na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário dos sectores público, particular e cooperativo, visando a criação de condições para a adequação do processo educativo às necessidades educativas especiais dos alunos com limitações significativas ao nível da actividade e da participação num ou vários domínios de vida, decorrentes de alterações funcionais e estruturais, de carácter permanente, resultando em dificuldades continuadas ao nível da comunicação, da aprendizagem, da mobilidade, da autonomia, do relacionamento interpessoal e da participação social. (PORTUGAL, 2008).

Ademais, foram esclarecidos os objetivos da educação especial em seu dispositivo 2º (artigo 1º) a inclusão educativa e social, o acesso e o sucesso educativo, a autonomia, a estabilidade emocional e a promoção da igualdade de oportunidades a preparação para o prosseguimento dos estudos e profissional.

Artigo 1.º Objecto e âmbito [...]

2 - A educação especial tem por objectivos a inclusão educativa e social, o acesso e o sucesso educativo, a autonomia, a estabilidade emocional, bem como a promoção da igualdade de oportunidades, a preparação para o prosseguimento de estudos ou para uma adequada preparação para a vida profissional e para uma transição da escola para o emprego das crianças e dos jovens com necessidades educativas especiais nas condições acima descritas. (PORTUGAL, 2008).

No mesmo ano de 2008 foi publicada a Resolução do Conselho de Ministros n.º 51/2008, de 19 de março, que visou permitir que os alunos do 11º e 12º

ano do ensino secundário possam, durante o ano letivo, aderir ao programa ―e.escola” que foi criado para garantir aos educandos com deficiência o acesso a computadores adaptados, sem qualquer encargo adicional. (RIBEIRO, 2008, p. 58).

Em suma, verifica-se que o processo do tratamento legal na garantia do direito fundamental à educação das pessoas com deficiência, na perspectiva inclusiva em Portugal, deu-se em passos lentos, desde a promulgação da Constituição da República Portuguesa em 1976. Nota-se também que a constante alteração de governos (que ocorreu com frequência) até a publicação do Decreto Lei nº 3/2008, de 7 de janeiro, não colaborou com a evolução do sistema inclusivo na área da Educação, pois cada programa de governo exercia uma política diferente na área da educação, preocupando muitas vezes com os aspectos da educação para as pessoas com deficiência e em outras não.

Por todo o exposto, é possível concluir que o tratamento legal da educação inclusiva no ordenamento jurídico português avançou e hoje é possível contar com muitas legislações que visam garantir e proporcionar o direito à educação às pessoas com deficiência no território português, a fim de que essas pessoas tenham o direito à igualdade de oportunidade como qualquer outro cidadão português.