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A avaliação das aprendizagens em Portugal: a emergência dos “testes intermédios”

3.2. Currículo e avaliação no 1.º ciclo do EB

Muitas vezes o conceito de currículo está associado ao conceito de programa. Assim como o conceito de avaliação, o conceito de currículo é polissémico. Ora, o currículo ultrapassa a mera noção de plano de estudos ou o elenco das matérias a trabalhar ao longo de um ano letivo numa determinada disciplina. Os currículos de hoje em dia lançam-nos “desafios que vão muito para além da memorização de conhecimentos e de procedimentos rotineiros” (Fernandes, 2005, p. 28).

A avaliação no 1ºciclo do ensino básico tem carácter diagnóstico, formativo e sumativo. São alvo de avaliação todas as aprendizagens realizadas no âmbito dos programas e conteúdos, definidos através das metas estabelecidas pelo Programa Nacional adaptadas pelos conselhos de docentes.

De acordo com o Programa Nacional do 1ºCiclo do Ensino Básico, apresentam- se os seguintes domínios: Comunicação Oral, Comunicação Escrita e Funcionamento da Língua, sendo estes definidos numa prática integrada.

No que diz respeito ao Português, surgiu em Portugal o Programa Nacional de Ensino de Português (PNEP), no ano letivo 2006/2007, sugerindo novos desafios às práticas docentes, inovando-a e renovando-as no sentido de as contextualizar na atualidade. Assim, “a necessidade de melhorar o ensino do Português na educação básica está solidamente fundamentada nos resultados de todos os projetos internacionais em que Portugal participou (Reading Literacy - IEA, 1992, Pisa 2000 e 2003), nos estudos nacionais (A Literacia em Portugal, 1995), nas provas nacionais de aferição (2000 a 2005) ” (Despacho nº 546/2007). No programa são atualizados os conhecimentos metodológicos, fundamentados em investigação recente sobre o desenvolvimento aprendizagem da língua das crianças nomeadamente no 1ºCiclo. Os princípios orientadores da formação têm subjacente o Currículo Nacional do Ensino Básico, particularmente o desenvolvimento das competências nele enunciadas.

O PNEP destina-se ao 1ºciclo do ensino básico e ao pré-escolar. O projeto desenvolve-se em colaboração entre os agrupamentos de escolas e instituições de ensino superior ligadas à formação de professores. O PNEP tem como objetivo “melhorar os níveis de compreensão de leitura e de expressão oral e escrita em todas as escolas do 1º

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ciclo, num período entre quatro a oito anos, através da modificação das práticas docentes do ensino da língua.” (Despacho nº 546/2007).

A formação de PNEP é desenvolvida ao longo do ano letivo. São distribuídas brochuras aos professores em formação que organizam a formação e dão aos docentes exemplos de atividades e estratégias a adotar nas mais diversas áreas de atuação. São construídos e divulgados diversos materiais com o objetivo de serem partilhados com outros docentes. Esses materiais fazem parte das sessões tutoriais. Estas sessões correspondem a uma parte prática, ou seja, aulas em cooperação com o formador com vista não só à avaliação do docente em formação mas também ao acompanhamento do mesmo, com vista a melhorar as suas práticas.

Os materiais, nomeadamente as brochuras referidas atrás, estão disponíveis

online no site da Direcção Geral de Educação e em formato de papel. São chamados de

materiais didáticos.

Como referimos, através da formação de professores, pretende-se que inovem as suas práticas com o objetivo de melhorar os níveis de compreensão de leitura e de expressão oral e escrita.

As áreas abrangidas da formação são as seguintes: ü As Implicações das TIC no Ensino da Língua

ü O Conhecimento da Língua: Desenvolver a Consciência Lexical ü O Conhecimento da Língua: Percursos de Desenvolvimento ü O Ensino da Escrita: Dimensões Gráfica e Ortográfica ü O Ensino da Escrita: A Dimensão Textual

ü O Ensino da Leitura: A Compreensão de Textos

ü O Conhecimento da Língua: Desenvolver a Consciência Fonológica ü O Conhecimento da Língua: Desenvolver a Consciência Linguística ü O Ensino da Leitura: A Decifração

ü O Ensino da Leitura: A Avaliação

Relativamente a “As Implicações das TIC no Ensino da Língua”, apresentam-se propostas que contribuam para a “integração das tecnologias na aula, procurando, dessa forma, responder à pergunta: “Como utilizar as tecnologias para desenvolver competências em Língua Portuguesa?” (Tavares & Barbeiro, 2011, p. 8). O objetivo não

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é, de acordo com a brochura, desenvolver competências ligadas à utilização das TIC. Trata-se, sim, de dotar os docentes de estratégias que “acedam a novos meios, através de dos recursos digitais, e integrem as tecnologias no seu espaço de aula, recriando, deste modo, o espaço de aprendizagem” (Tavares & Barbeiro, 2011, p. 8).

No que diz respeito a “O Conhecimento da Língua: Desenvolver a Consciência Lexical”, aborda-se a importância e a estrutura do conhecimento lexical assim como apresenta alguns obstáculos ao capital e consciência lexical. Sugerem-se atividades e exemplos para trabalhar com esta área no que diz respeito à estrutura interna das palavras, seu significado, aspetos sintáticos de frases simples e coesão entre frases. Culmina com atividades de compreensão de leitura e preparação da escrita.

Relativamente a “O Conhecimento da Língua: Percursos de Desenvolvimento”, aborda-se o desenvolvimento linguístico e sua relação com as aprendizagens no 1ºciclo do ensino básico. Apresentam-se propostas de atividades ligadas à “compreensão e produção linguísticas orais e escritas” (Gonçalves, Guerreiro & Freitas, 2011, p.7)

Na brochura, “O Ensino da Escrita: Dimensões Gráfica e Ortográfica” é dada uma panorâmica sobre a importância da escrita e da contínua motivação para a sua aprendizagem. Neste caso, aborda-se especificamente o grafismo e a ortografia. É feita uma introdução que dá conta sobre aquilo que os professores precisam efetivamente de saber sobre a escrita. Refere-se que a escrita não é a transcrição literal da oralidade e que a caligrafia e a ortografia são de extrema importância. Assim, é dito que “a aprendizagem das regras ortográficas tem um caráter refletido e consciente” (Baptista, Viana & Cardeiro, 2011, p. 10). Assim, o aluno tem que refletir sobre o seu erro com ajuda do professor para que possa ele próprio, numa fase posterior, ser capaz de “se dar conta que escreveu de forma incorreta” (Baptista, Viana & Cardeiro, 2011, p. 10). Para além disso, o aluno deve escrever com caligrafia que cumpra o objetivo “primordial da escrita: ser lida” (Baptista, Viana & Cardeiro, 2011, p. 10).

Relativamente a “O Ensino da Escrita: A Dimensão Textual”, sublinha-se a importância dos alunos adquirirem uma competência não só gráfica e ortográfica mas também compositiva. Abordam-se as componentes da produção textual sugerindo atividades de planificação, textualização e revisão de textos escritos. Planificação do texto significa definir os objetivos do texto, textualizando no que diz respeito ao elaborar as etapas para a construção do texto, e a revisão significa refletir sobre o que

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está escrito. São sugeridas algumas estratégias para o desenvolvimento desta competência.

Na brochura referente a “O Ensino da Leitura: A Compreensão de Textos”, é reconhecido que o “saber ler é uma condição indispensável para o sucesso individual, quer na vida escolar, quer na vida profissional” (Sim-Sim, 2011, p. 7).

À escola, como meio privilegiado no ensino da escrita, é exigido “o ensino explícito e sistematizado de quem ensina” (Sim-Sim, 2011, p. 7). No entanto, refere-se que, “ensinar a ler é, acima de tudo, ensinar explicitamente a extrair informação contida num texto escrito” (Sim-Sim, 2011, p. 7). Ler é, portanto, mais do que descodificar grafemas que se sucedem. Ler é perceber o que se leu. Assim, as atividades sugeridas na brochura visam o desenvolvimento de competências que levem ao objetivo principal.

No que diz respeito “O Conhecimento da Língua: Desenvolver a Consciência Fonológica”, é dito que a leitura só é possível a partir do momento que a oralidade está bem desenvolvida, ou seja, que se conhece e domina a língua oral. Para aprender a ler é necessário conhecer as letras. Daí que, “a primeira tarefa da escola deve ser a de promover […] o desenvolvimento da sensibilidade aos aspectos fónicos da língua, com o objectivo da promoção da consciência fonológica, entendida como a capacidade de identificar e de manipular as unidades do oral” (Freitas, Alves & Costa, 2007. p. 7 e 8). Daí que seja necessário delinear estratégias de treino e atividades que proporcionem essa mesma consciência fonológica.

Na brochura “O Conhecimento da Língua: Desenvolver a Consciência Linguística”, referem-se a importância do conhecimento explícito da língua e do ensino da gramática, assim como se sugerem atividades para trabalhar estas áreas.

No que diz respeito a “O Ensino da Leitura: A Decifração”, refere-se a importância da decifração no processo de aquisição plena da leitura. Assume-se a aprendizagem da decifração como “determinante no sucesso pessoal como leitor” (sim- Sim, 2009, p. 7). Refere igualmente que este processo não é um “passo de magia” (Sim- Sim, 2009, p. 8) mas um processo que exige esforço e trabalho de ambas as partes: a que ensina e a que aprende. A decifração é a “automatização do reconhecimento de palavras” (Sim-Sim, 2009, p. 14). Assim se encurta o esforço e o tempo dispendidos na leitura e a frequência de leitura ajuda à mais rápida aquisição deste mecanismo. Esta brochura apresenta aos docentes sugestões de trabalho para esta competência.

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De acordo com a brochura “O Ensino da Leitura: A Avaliação”, “só podemos avaliar o que tiver sido ensinado” (Viana, 2009, p. 7). Por isso, “muitas das propostas de trabalho para o desenvolvimento de competências envolvidas no acto de ler, e apresentadas noutras brochuras, podem também constituir-se como actividades de avaliação do funcionamento dessas mesmas competências” (Viana, 2009, p. 7). A brochura propõe algumas atividades de avaliação da leitura realçando o caráter formativo da avaliação que “deve ser desenhada de modo a constituir-se como ponto de partida para a intervenção pedagógica, permitindo que o aluno se apoie nos pontos fortes para progredir nos pontos fracos, e assumindo-se também como factor de motivação” (Viana, 2009, p. 9). De referir que também esta brochura salienta que todos os alunos devem atingir os objetivos propostos nos âmbitos da leitura e da escrita e que devem ser introduzidas “mudanças nas práticas em função desta avaliação” (Viana, 2009, p. 10).

Atualmente, se analisarmos quer as provas de aferição para o 4ºano de escolaridade, recentemente convertidas em exames nacionais, quer os testes intermédios, aplicados ao 2ºano de escolaridade, ao nível de língua portuguesa, verificamos que são elaborados com base nas aprendizagens dos alunos produzidas com base nos novos desafios do ensino do português levados a cabo pelo PNEP.

Será por esse motivo que muitos professores relacionam o aparecimento dos Testes Intermédios de Português no 2ºano do 1ºciclo do ensino básico com o PNEP?

3.3. Os “testes intermédios” no 1.º ciclo do ensino básico: emergência,