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Fonte: Acervo - arquivo privado pessoal/institucional (CLEUZA, 2018).

A Foto 12 mostra as participantes em um momento de celebração pela conclusão da etapa de aprendizagem certamente muito significativa. Os cursos e essas cerimônias, além de terem sido espaços de relação social e de troca de experiências profissionais específicas, também constituíram vivências de interação como uma das “[...] condições fundamentais da existência humana [...] a presença simultânea de diversas pessoas inter-relacionadas” (ELIAS, 1994, p. 23) com objetivos e proposições comuns.

Para Elias (1993), todo ser humano passa por um processo de civilizar-se à medida que age, se comunica e se aproxima ou se liga ao outro no convívio social, pois ambos frequentam figurações especificas permeadas por inúmeras relações interdependentes, nas

119 quais “[...] todas as relações, tal como os jogos humanos, são processos” (ELIAS, 2005, p. 102). Neste sentido, a humanização e a solidariedade entre as pessoas constituía uma das finalidades do Clube de Mães.

Ainda observamos na Foto 12 que, sobre a mesa há algumas peças de roupas confeccionadas pelas cursistas organizadas em exposição das produções. Era um grupo grande de formandas, todas com certificados nas mãos, bem como a presença de crianças de idades distintas ao lado de algumas senhoras, provavelmente a mãe ou avó.

Segundo já mencionado pela Sra. Cleuza (2018) na entrevista, as crianças representavam um problema para as mães, pois elas tinham dificuldade de se desenvolverem nos cursos porque as crianças tiravam sua atenção. Por isso o Clube de Mães precisou criar uma estratégia para solucionar o problema e assim surgiu o Projeto Casulo, voltado para o atendimento destinado às crianças. Assim, em 1979, em Naviraí, o Clube de Mães começou a iniciativa de preparar um espaço a ser ocupado pelas crianças enquanto as suas mães estivessem nos cursos.

A respeito dessas mães/crianças, a Sra. Cleuza (2018) se expressou com termos ou frases como: “pobres”, “povo muito carente” e “precisava se profissionalizar para ajudar na renda familiar”. Entendemos, a partir da análise das fontes, que havia uma organização estatutária e regimental das ações realizadas pelas gestoras e sócias do Clube de Mães, que organizavam e planejavam as suas metas e ações de acordo com esses estatutos. Percebemos, no entanto, que existia uma prática seletiva da instituição, que classificava as pessoas, procurando atender as mais pobres, mas não bastava ser pobre, teriam que ser as mais carentes. As ações do Clube, em especial mediante os cursos, formavam uma mão de obra barata, pois os cursos eram de preparação inicial somente para ajudar as mães e as famílias a terem uma renda melhor, mas não as retirava da realidade na qual viviam.

De acordo com a Sra. Cleuza (2018), algumas mulheres que participaram das atividades do Clube foram embora, mas “[...] há no município muitas delas que fizeram cursos na instituição e que seguiram carreiras a partir da formação inicial realizada no Clube hoje têm seu próprio negócio, estão trabalhando e ganhando o seu dinheiro”. Ou seja, ainda que criado para dar assistência à pobreza, o Clube de Mães foi uma entidade que teve um papel significativo na formação das mulheres para o trabalho e também a primeira ação de apoio e atenção às crianças pequenas em Naviraí.

120 O desenvolvimento do Projeto Casulo no Clube de Mães seguiu os padrões e princípios nacionais exigidos no programa. A mesma metodologia deveria ser aplicada às crianças pobres, com apoio da comunidade e voluntários criando parcerias, uma vez que os recursos eram escassos para esse atendimento. Diante disso, com base em Freitas e Biccas (2009), podemos dizer que foi uma prática pobre direcionada para filhos de pobres, pois se constituía em um atendimento com escassez de materiais para atender as crianças em suas demandas de desenvolvimento. De acordo com o Relatório de Resumo do Livro de Atas, as crianças chegavam à instituição, colocavam uniformes, mas na saída os desvestiam, deixando-os na instituição e voltavam a vestir as suas roupas novamente (CAMPOS, 2018).

A Sra. Cleuza (2018) disse que, “[...] se o uniforme fosse para casa, não voltava no outro dia”. Então era a prática usar e ser lavado na instituição. Com base nas fontes, o atendimento no princípio era integral e se desenvolvia com a seguinte rotina: café, banho, atividade em sala, almoço, higienização dos dentes, recreação e repouso. Posteriormente, com o aumento da demanda, o atendimento tornou-se parcial, alterando parte da rotina.

Segundo Barbosa (2000), as rotinas são parte do atendimento com as crianças desde o princípio e aquilo que é realizado cotidianamente acaba se tornando um hábito. Devemos, portanto, saber que:

[...] o uso de uma rotina é adquirido pela prática, pelos costumes, não sendo necessário nenhum tipo de justificativa, razão ou argumentação teórica para a sua efetivação. Ela está profundamente ligada aos rituais, aos hábitos e às tradições e nem sempre deixa espaço para a reflexão. Ainda pode ser apontado como característica das rotinas o fato de elas conterem a ideia de repetição, de algo que faz resistência ao novo, e que recua frente à ideia de transformar. E também que as rotinas são feitas a partir de uma sequência de atos ou conjunto de procedimentos associados que não devem sair da sua ordem; portanto, as rotinas têm um caráter normatizador. (BARBOSA, 2000, p. 52-53).

A dinâmica do dia a dia faz com que a criança aprenda a seguir o que é estipulado e aprenda a seguir as regras, no sentido de compreender que é preciso se situar na organização do tempo e há hora para tudo o que ela queira fazer. Assim, portanto, socialmente, o uso das rotinas tem um objetivo social explícito, pois “[...] desde a infância, o indivíduo é treinado para desenvolver um grau bastante elevado de autocontrole e independência pessoal” (ELIAS, 1994, p. 100). E, no cronograma da instituição, essa característica é perceptível, como aponta a Sra. Cleuza acerca das ações desenvolvidas no Projeto Casulo:

[...] tinha parte pedagógica. Até porque muitas das monitoras eram alunas do magistério. Então, muito do que elas aprendiam em como era trabalhar com a criança elas levavam. Tinha algumas atividades pinturas, história, contos, músicas, dobradura, elas trabalhavam com esses materiais. Tinha parque, brinquedo, hora do banho. (CLEUZA, 2018).

121 O relato nos remete à ideia de que havia um trabalho educativo composto por atividades variadas, com a utilização do material e dos recursos disponíveis no momento. Havia livros, tintas, papel e brinquedos, como destacou a Sra. Cleuza em sua fala, mas não era muita coisa, eram recursos básicos. Levando em conta a improvisação na educação de cunho assistencialista, ainda “[...] encontrava-se o acesso e a utilização de materiais pedagógicos, brinquedos, livros, papéis, 'massinhas', tintas que, de maneira geral, são essenciais em termos educativos, mas, mesmo assim, ausentes na maioria dos casos” (FREITAS; BICCAS, 2009, p. 300).

Dentre as fontes visuais, não tivemos acesso a fotos que retratassem o espaço de recreação, pois, segundo a Sra. Cleuza (2018), havia uma área de parque para as crianças e, no Relatório de Resumo do Livro de Atas também foi mencionado um pedido feito pelo Clube ao bispo de Dourados, como já citamos no capítulo II, para a ampliação do terreno destinado a esse fim. Entretanto, não sabemos como as brincadeiras ocorriam no Projeto Casulo, mas, por outro lado, localizamos diversas fotografias sobre cuidados, alimentação e festas comemorativas que registram as práticas comuns executadas com as crianças na instituição.

Destacamos que organizamos as fontes visuais a partir de temáticas em relação à estrutura física e às atividades trabalhadas com as crianças. Iniciamos com uma imagem que apresenta a parte externa da entidade e depois apontamos a parte interna. As temáticas seguiram a seguinte ordem: cuidados higiênicos, alimentares, atividade em sala de aula e datas comemorativas. Dessa maneira pudemos conhecer um pouco do que foi a primeira inciativa de trabalho com a infância no município por meio do Clube de Mães.