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O CURSO FORMADOR DO DIRETOR ESCOLAR EM NÍVEL SUPERIOR: PEDAGOGIA

A história da existência do curso de Pedagogia é repleta de ambigüidades. Implantado pela primeira vez em 1939, numa época propícia à manifestação de fatos educacionais, tinha como fim a formação de profissionais da educação em nível superior. Seu aparecimento ocorreu pela convergência do curso de formação do professor secundário com disciplinas que desenvolviam o conteúdo do Curso Normal, prolongando-as.

Sua expansão foi crescente, visto que não necessitava de dispendiosas instalações e sua manutenção era fácil.

Após 15 anos de gestação, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi promulgada em 1961. No ano seguinte, seguiu-se a regulamentação do novo curso de Pedagogia que não conseguiu evitar o "generalista".

Enquanto o decreto-lei Nº 53/66 já aludia ao preparo de especialistas em educação (art. 3º, parágrafo único), o art, 30 da Lei Nº 5540/68 os definia como aqueles destinados aos trabalhos de planejamento administrativo, inspeção, supervisão e orientação no âmbito das escolas e dos sistemas escolares, provocando mudanças profundas nos cursos de formação de professores. Contudo, foi o parecer Nº 252/69 de autoria de Valnir Chagas, que organizou os cursos de Pedagogia baseado nas habilitações, em cumprimento ao que determinava a Lei nº 5540/68.

O curso de Pedagogia era ministrado em curta ou plena duração e seu currículo abrangia uma parte comum e outra diversificada, em função das habilitações escolhidas.

Nos últimos anos, em nome do desenvolvimento econômico, desencadeou-se uma política educacional, procurando criar bases legais para a formação de especialistas em educação, segundo as exigências da diversificação de habilitações do profissional da educação que o mercado de trabalho solicitava e de acordo com as exigências de especialização na formação de cada habilitação, segundo um princípio comum e próprio da mentalidade empresarial então vigente. Daí o parecer Nº 252/69 ter orientado o curso de Pedagogia para a formação de profissionais técnico-administrativos da educação, oferecendo as conhecidas habilitações: supervisão, inspeção, administração, orientação e magistério. A formação do pedagogo, incipiente, deixou de ser a tomada de consciência dos problemas educacionais para ser treinamento e domesticação. O pedagogo tornou-se mais um policial da educação do que um professor para criar a educação.

A forma como estava composto o curso de Pedagogia não atendia às necessidades da escola, apesar da diversificação proposta em Lei. O perfil do profissional em educação não estava bem configurado, nem do lado das agências formadoras, nem do mercado de trabalho. Essa divergência existente entre o mercado de trabalho e as agências formadoras têm dificultado a implantação de reformas educacionais que realmente atendam à demanda de solução de problemas das escolas.

O pedagogo, ao ingressar na escola, acaba esvaziando seu papel por não ter o conhecimento global de sua atuação, limitando-se a aspectos secundários no processo educacional, conseqüência de sua formação cada vez mais especializada e diversificada por causa de sua habilitação. Em virtude disso, temos o esvaziamento do trabalho pedagógico, cada qual prendendo-se em sua área de atuação, às vezes mesmo, desconhecendo-a.

A divisão do curso de pedagogia em habilitações está intimamente ligada à forma de organização do trabalho na sociedade capitalista. A dicotomia entre pensar e fazer presente em todos os ambientes de trabalho desde a fábrica até a empresa é decorrente do capitalismo. O trabalhador perde o controle sobre o seu processo de trabalho e do produto resultante deste. A analogia pode ser feita criteriosamente no âmbito escolar. Os especialistas da educação concebem

a educação e os professores a executam em sua prática cotidiana. Portanto, o caráter histórico e intencional prevalece na composição do curso em habilitações.

A realidade e experiência vivenciada nas escolas apontam para a maioria de especialistas desinteressada pela totalidade do fazer pedagógico, pelo todo do processo educacional, revelando dois aspectos incompatíveis com a dinâmica escolar: a burocratização e o controle dos aspectos pedagógicos.

Na década de 80, começa a se projetar, em termos nacionais, o redirecionamento do curso de Pedagogia; o movimento surge entre os educadores, em virtude da reorganização da sociedade civil.

A tese central de base comum nacional na reformulação dos cursos de Pedagogia foi o mote das discussões no I Encontro Nacional da ANFOPE7, ocorrido em Belo Horizonte em 1983. Esse pressuposto contrapunha-se à formação do pedagogo apenas como especialista, o que deixava à margem a docência.

A discussão referente à base comum nacional delongou-se aos encontros posteriores da ANFOPE. À medida que as discussões desenvolviam-se, o conceito sobre a base comum nacional foi explicitando-se; "passando a ser entendida como referência para o processo de elaboração e desenvolvimento dos currículos, ou seja, como sustentação epistemológica de cada instituição." (ANFOPE, 1996, p. 16). Esse conceito propiciou uma concepção de currículo além do elenco das disciplinas, uma certa adaptação às necessidades reais de cada Estado e suas instituições.

De acordo com a decisão do V Encontro Nacional da ANFOPE, ocorrido em 1990, a base comum nacional deveria ser entendida como " núcleo essencial da formação do profissional da educação" ( CONARCFE8, 1990, p. 6). Assim, seria garantida a flexibilidade na organização curricular, sem minimizar os conteúdos essenciais na formação do profissional da educação. A linha mestra das novas configurações curriculares seria a unidade entre a teoria e prática, esvaziada na antiga formação do pedagogo, por causa das habilitações.

7 Associação Nacional pela Formação dos Profissionais em Educação. 8 Comissão Nacional pela Formação dos Educadores.

Segundo a ANFOPE, a formação inicial do educador deve contemplar:

- a qualificação para a docência: condição para o desenvolvimento do trabalho pedagógico, a partir da relação teoria-prática na aquisição, produção e socialização do conhecimento; - qualificação político-pedagógica: condição para a prática pedagógica que inclui as relações de poder no interior da escola e na relação escola-comunidade;

- qualificação político-social: condição para a compreensão crítica e questionadora de projetos políticos para a educação e para o compromisso com a construção de um projeto político-social, comprometido com os interesses populares.

( ANFOPE,1996, p. 22)

Com este aporte norteador, os cursos de Pedagogia deveriam reformular sua organização curricular, tendo em vista a docência como núcleo central de formação e o trabalho do pedagogo na organização da escola em sua totalidade.

A seguir tecemos a analogia existente entre a Administração e a Administração Escolar, compreendendo que a primeira influenciou a prática da segunda nas escolas.