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45curso não significa mais qualidade, porque para

No documento Impressos / Caderno temático (páginas 46-48)

os serviços de saúde funcionarem, precisamos ter uma política de saúde, que proponha de fato como é que esses serviços vão funcionar.

Tivemos abertura de mais dois CAPS infan-

tis nos últimos anos, hoje são quatro CAPS in-

fantis para cinco distritos de saúde; o ideal seria que nós tivéssemos pelo menos cinco, então a

gente precisa de mais um CAPS infantil, no dis-

trito saúde Norte. Fortalecimento do Sada, que agora é Sabiá, na verdade. O que que significa Sabiá? O sabiá sabia e não sabe mais. Eu sabia

que o sabiá sabia, mas... Acho que a garantia de educação permanente para os profissionais da rede SUS e investimento para fortalecer, ampliar a atuação do serviço da atenção básica frente à patologização da infância e adolescência.

Tudo isso porque esse é um trabalho que tem de ser constante, e a atenção básica é quem vai, de fato, como porta de entrada, olhar primeiro essa criança, é quem vai encaminhar essa criança para um outro serviço se for ne- cessário e que vai articular essa rede para po-

der fazer esses atendimentos. E, então, muitas vezes, num Centro de Saúde, as pessoas nem

sabem o que é o CAPSi, não sabe o que ele faz.

Por outro lado, o CAPSi também não vai na sua

unidade de saúde, não faz matriciamento, nun- ca aparece, nunca discute caso. Então, hoje, é assim que a gente está.

Eu trabalho num distrito de saúde, numa unidade de saúde que não tem contato com o CAPSi. Não pode ser desse jeito, isso está errado. Precisamos ter um contato próximo, precisamos conhecer e discutir os casos. E a outra questão é a articulação intersetorial, a formação de rede de cuidado a fim de garantir que a complexida- de dos casos seja tratada em todas as suas di- mensões, evitando as condutas medicalizantes e patologizantes. Precisamos desse olhar de que não é só um medicamento, não é só um serviço de saúde, não é só uma escola para resolver o problema da criança. Precisamos da articulação de muita coisa para poder ajudar essa criança e para cuidar dela, porque as vulnerabilidades são muito grandes. Muito obrigada.

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Debate

Rosangela: Eu trabalhei na rede de saúde du- rante 33 anos. Começo no Ambulatório de Saú- de Mental da Prefeitura, mas já trabalhando com criança e adolescente, com as queixas de aprendizagem, porque era assim que se falava naquela época sobre o tal do fracasso escolar. Depois, num dado momento, montamos o SADA, que era o serviço que lidava com as dificulda- des de aprendizagem. E nos incomodava muito a forma com que as crianças chegavam para nós. Não usávamos o termo “medicalização” na década de 80, mas nos incomodava receber crianças em tremendo sofrimento, porque não se viam capazes de aprender, capazes de ser, capazes de dar conta das coisas porque diziam para elas, e “diziam” eram muitas pessoas que diziam, a escola, a família, o mundo delas dizia que elas não davam conta. E essas crianças chegavam para nós que dizíamos “tá gente, tem

de desconstruir toda essa história”. Num dado

momento, além de elas chegarem assim, elas começam a chegar com medicação de vários tipos: imipramina, Metilfenidato, Risperidona, Sertralina. E o SADA fazia um trabalho de en- frentamento muito grande, porque o nosso ne- gócio é “não queremos crianças medicadas/medi-

calizadas; dentro do possível, nenhuma vai tomar remédio de forma indiscriminada”. Chegamos a

fazer o levantamento de crianças medicadas; de 280 que acompanhávamos, nós tínhamos 10 com alguma medicação desta natureza, porque ainda não tínhamos conseguido fazer o traba- lho de retirada. De verdade, todas aquelas com quem trabalhávamos, conseguíamos proces- sualmente retirar a medicação ofertada “para

aprender, focar e se comportar”. Desse trabalho

sempre fez parte a realização de denúncias so-

bre o uso abusivo de medicações dessa nature- za. As nossas denúncias eram para a Secretaria de Saúde; denúncias que a gente fazia nas es- colas porque havia uma cobrança muito gran- de feita da escola para que a criança tomasse alguma coisa, porque se ela tomasse alguma coisa, ela dava sossego e dava possibilidade de trabalho para a escola.

Num dado momento que juntaram nossas denúncias e inquietações, e de outros profis- sionais da Rede, com o excesso de compra da prefeitura, porque não podemos ser ingênuos, não é a troco de nada que a prefeitura resolve investir numa discussão sobre o Metilfenidato. É que a compra passa dos limites e o trabalho começa a ter de ser dobrado, triplicado, e aí isso incomoda. Eu sempre que encontrava as gestões, falava, “gente, tá difícil, a gente está

recebendo criança com muita medicação, X ser- viço encaminha 200 prescrições e rótulos. Então a criança tem dislexia, a criança tem TDAH’, nós precisamos trabalhar com isso”.

Então, quando vem essa junção dos pro- fissionais que começam a se incomodar mais o excesso de compra, criamos um grupo que vai discutir o Metilfenidato e a necessidade de um protocolo. Desse grupo fazíamos parte três pro- fissionais do Despatologiza: Tácito, que não era da rede, era só Despatologiza, e ia por conta do Despatologiza; Fernando Chacra, que foi o pe- diatra que escreveu os documentos que são a base do protocolo, e eu. Éramos três chatos bri- gando com essa coisa. Brigamos e brigamos, e essa coisa deu no volume que deu. Então assim, ficamos muito feliz de saber que conseguimos naquele momento incomodar efetivamente e

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