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1. O PROFESSOR DE LÍNGUA INGLESA: ASPECTOS DE SUA FORMAÇÃO

1.7 Os cursos de licenciatura em Letras

As lacunas existentes na formação do professor de LI se devem, em parte, às diretrizes que tem regido esse currículo desde sua criação. Paiva (2005) expõe que a primeira proposta de currículo mínimo para o curso de Letras data de 19 de outubro de 1962, essa previa a aprendizagem de cinco línguas e respectivas literaturas, esse conjunto de línguas foi posteriormente substituído por uma única língua para licenciatura dupla. Esse currículo vigorou por 34 anos e ainda hoje exerce grande influência nos currículos de licenciatura em Letras. O texto legal determinava o seguinte:

Art. 1º - O currículo mínimo dos cursos que habilitam à licenciatura em Letras compreende 8 (oito) matérias escolhidas na forma abaixo indicada, além das matérias pedagógicas fixadas em resolução Especial:

1. Língua Portuguesa 2. Literatura Portuguesa 3. Literatura Brasileira 4. Língua Latina 5. Linguística

6. Três matérias escolhidas dentre as seguintes a) Cultura Brasileira

b) Teoria da literatura

c) Uma Língua estrangeira moderna

d) Literatura correspondente à língua escolhida na forma da letra anterior

e) Literatura Latina f) Filologia Românica g) Língua Grega h) Literatura Grega

Somente sete anos mais tarde, foi considerada a formação pedagógica, em 1969, como se observa no texto legal abaixo, citado por Paiva (2005)4:

Art. 1º - Os currículos mínimos dos cursos que habilitem ao exercício do magistério, em escolas de 2º grau, abrangerão as matérias de conteúdo fixadas em cada caso e as seguintes matérias pedagógicas:

a) Psicologia da educação (focalizando pelo menos os aspectos da adolescência e aprendizagem);

b) Didática;

c) Estrutura e Funcionamento do Ensino de 2º grau.

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PAIVA, V.L.M. O Novo Perfil dos Cursos de Licenciatura em Letras. Disponível em: http://www.veramenezes.com/perfil.htm. Acesso em 30/05/2010.

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Art. 2º- Será obrigatória a Prática de Ensino das matérias que sejam objeto de habilitação profissional, sob forma de estágio supervisionado e desenvolver-se em situação real, de preferência em escola da comunidade. Art. 3º - A formação pedagógica prescrita nos artigos anteriores será ministrada em, pelo menos, um oitavo (1/8) das horas de trabalho fixadas, como duração mínima, para cada curso de licenciatura.

Art. 4º - As disposições dessa resolução terão vigência a partir do ano letivo de 1970, revogadas as disposições em contrário.

A parte pedagógica ficava a cargo de pedagogos que não conheciam a língua, não incluindo, portanto as reflexões teóricas acerca das atividades práticas, no concernente ao ensino da LE.

A LDB de 1996, pela lei 9.394, de dezembro de 1996, eliminou a obrigatoriedade dos currículos mínimos. Esses eram, até então, atribuição do extinto Conselho Federal, passando, dessa forma, a responsabilidade de elaborar as Diretrizes Curriculares para a Câmara de Educação Superior do conselho Nacional de Educação.

Segundo o Parecer 776 do CNE, as Diretrizes Curriculares devem se organizar em torno dos princípios gerais citados abaixo:

Assegurar às instituições de ensino superior ampla liberdade na

composição da carga horária a ser cumprida para a integralização dos

currículos, assim como na especificação das unidades de estudos a

serem ministradas;

 Indicar os tópicos ou campos de estudo e demais experiências de ensino-aprendizagem que comporão os currículos, evitando ao máximo a fixação de conteúdos específicos com cargas horárias pré-determinadas, as quais não poderão exceder 50% da carga horária dos cursos.

 Evitar o prolongamento desnecessário da duração dos cursos de graduação;

 Incentivar uma sólida formação geral, necessária para que o futuro graduado possa vir a superar os desafios de renovadas condições de exercício profissional e de produção do conhecimento, permitindo variados tipos de formação e habilitações diferenciadas em um mesmo programa;  Estimular práticas de estudo independente, visando a uma progressiva autonomia profissional e intelectual do aluno;

Encorajar o aproveitamento do conhecimento, habilidades e competências adquiridas fora do ambiente escolar, inclusive as que se referiram à experiência profissional julgada relevante para a área de formação considerada;

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Fortalecer a articulação da teoria com a prática, valorizando a pesquisa individual e coletiva, assim como os estágios e a participação em atividades de extensão, as quais poderão ser incluídas como parte da carga horária.

 Incluir orientações para a condução de avaliações periódicas que utilizem instrumentos variados e sirvam para informar a docentes e a discentes acerca do desenvolvimento das atividades didáticas.

A elaboração das Diretrizes Curriculares tem o intuito de outorgar mais flexibilidade à estrutura curricular, visto que o grande detalhamento do currículo mínimo vigente até então dificultava a implementação de projetos pedagógicos voltados às exigências sociais: ir ao encontro das tendências contemporâneas de perceber a graduação como a etapa inicial da formação, que deverá ser contínua e a crescente heterogeneidade não somente da formação prévia dos alunos como das expectativas e dos seus interesses.

As Diretrizes Curriculares servem, dessa forma, para dar mais flexibilidade aos currículos e constituir-se em roteiro metodológico, sistematizando as áreas de conhecimento e resguardando a congruência e os paradigmas estabelecidos. Os paradigmas das Diretrizes Curriculares Nacionais devem:

“1. Conferir maior autonomia às IES na definição dos currículos de seus cursos, a partir da explicitação das competências e as habilidades que se deseja desenvolver, através da organização de um modelo pedagógico capaz de adaptar-se à dinâmica das demandas da sociedade, em que a graduação passa a constituir-se numa etapa de formação inicial no processo contínuo de educação permanente.

“2. Propor uma carga horária mínima em horas que permita a flexibilização do tempo de duração do curso de acordo com a disponibilidade e esforço do aluno;

“3. Otimizar a estruturação modular dos cursos com vistas a permitir um melhor aproveitamento dos conteúdos ministrados, bem como, a ampliação da diversidade da organização de cursos, integrando a oferta de cursos sequenciais, previstos no inciso I do artigo 44 da LDB;

“4. Contemplar orientações para as atividades de estágio e demais atividades que integrem o saber acadêmico à prática profissional, incentivando o reconhecimento de habilidades e competências adquiridas fora do ambiente escolar;

“5. Contribuir para a inovação e a qualidade do projeto pedagógico do ensino de graduação norteando os instrumentos de avaliação.

Quanto à proposta das Diretrizes Curriculares para o Curso de Letras, o Parecer CNE/CES nº 492, de 3 de abril de 2001 (p.29), “leva em consideração os

42 desafios da educação superior diante das intensas transformações que tem ocorrido na sociedade contemporânea, no mercado de trabalho e nas condições de exercício profissional”.

Visando ao diálogo entre o pragmatismo da sociedade moderna e o cultivo dos valores humanistas, o documento estabelece que o Curso de Graduação em Letras deva ter estruturas flexíveis que:

 Facultem ao profissional a ser formado opções de conhecimentos e de atuação no mercado de trabalho;

 Criem oportunidade para o desenvolvimento de habilidades necessárias para se atingir a competência desejada no desempeno profissional;  Deem prioridade à abordagem pedagógica centrada no

desenvolvimento da autonomia do aluno;

 Promovam articulação constante entre ensino, pesquisa e extensão, além de articulação direta com a pós-graduação;

 Propiciem o exercício da autonomia universitária, ficando a cargo da Instituição de Ensino Superior definições como perfil profissional, carga horária, atividades curriculares básicas, complementares e de estágio (p.29).

Assim, o foco passa das disciplinas isoladas para um conjunto de atividades acadêmicas. Tem-se como conceito de atividade acadêmica curricular “aquela considerada relevante para que o estudante adquira competências e habilidades necessárias a sua formação e que possa ser avaliada interna e externamente como processo contínuo e transformador” (DCN, 2002, p.29).

O professor deve ser responsável pelo curso, ser seu orientador visando à qualidade da formação do aluno, além de dominar a língua em todos os sentidos, sua estrutura, funcionamento e manifestações culturais, como também reconhecer outras variedades linguísticas e culturais. O documento traz ainda que o professor “deve ser capaz de refletir teoricamente sobre a linguagem, de fazer uso de novas tecnologias e de compreender sua formação inicial como processo contínuo, autônomo e permanente” (p.30) e ainda associado a isso deve estar a pesquisa e a extensão.

As habilidades e competências determinadas nas Diretrizes Curriculares para os cursos de Letras são:

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 Domínio do uso da língua portuguesa ou de uma língua estrangeira, nas suas manifestações oral e escrita, em termos de recepção e produção de textos;

 Reflexão analítica e crítica sobre a linguagem como fenômeno psicológico, educacional, social, histórico, cultural, político e ideológico;  Visão critica das perspectivas teóricas adotadas nas investigações

linguísticas e literárias, que fundamentem sua formação profissional;  Preparação profissional atualizada, de acordo com a dinâmica do

mercado de trabalho;

 Percepção de deferentes contextos interculturais;  Utilização dos recursos da informática;

 Domínio dos conteúdos básicos que são objetos dos processos de ensino e aprendizagem no ensino fundamental e médio;

 Domínio dos métodos e técnicas pedagógicas que permitam a transposição dos conhecimentos para os diferentes níveis de ensino (p. 30).

Com o desenvolvimento dessas habilidades, o sujeito deve ter capacidade de atuar na área profissional, resolver problemas, tomar decisões, trabalhar em equipe e comunicar-se dentro da multidisciplinaridade dos variados saberes que abrangem a formação em letras.

Com relação aos conteúdos, as diretrizes (p. 31) destacam que: “os estudos linguísticos e literários devem fundar-se na percepção da língua e da literatura como prática social e como forma mais elaborada das manifestações culturais”, acrescenta ainda que “no caso das licenciaturas deverão ser incluídos os conteúdos definidos para a educação básica, as didáticas próprias de cada conteúdo e as pesquisas que as embasam” (p. 31).

Fica estabelecido também que as Diretrizes para a formação Inicial de Professor da Educação Básica em curso superior devem orientar os cursos de licenciatura. Quanto à carga horária mínima, a qual é de 2800 horas, divididas em 400 horas de prática, 400 de estágio curricular supervisionado e 1800 horas em aulas para os conteúdos curriculares de natureza científico-cultural, e 200 horas para outras atividades acadêmico-científico-culturais.

Sem dúvida, a legislação mais flexível é um fator importante para a melhoria dos cursos de Letras, assim como todas as medidas estabelecidas nas Diretrizes

44 Curriculares certamente vieram impactar de maneira positiva a evolução dos Cursos de Letras. Porém, conforme Couto (2009 p.20), “muitos graduandos saem da universidade sem que sejam capazes de pensar de forma autônoma em sua própria carreira profissional, de expandir horizontes ou mesmo de refletir criticamente sobre os papeis que desempenham e como os desempenham”. No caso específico de Línguas Estrangeiras, ainda há muito a ser melhorado, a começar pelo pouco espaço na grade curricular, pelo menos metade das horas atribuídas a essas licenciaturas deveriam ser destinadas ao ensino da LE, a atividades que estimulem reflexões sobre aquisição, ensino e aprendizado da LE.

Outro ponto a ser considerado é o uso de novas tecnologias, o qual ainda é tímido, segundo Paiva (2005)5 “o tradicionalismo e o medo do novo embalado pelo preconceito impedem que alguns cursos mudem de perfil e proporcionem aos alunos ambientes de construção de conhecimentos adequados ao novo milênio”.

Também contribui para a melhoria dos cursos de licenciatura o conjunto de procedimentos de avaliação, o qual não deve ser entendido como forma de punir, mas como ferramenta para sua melhoria, no entanto, a LE e a formação do docente de língua estrangeira não são objetos de avaliação, atribuindo-se, assim, menos valor a essa área.

1.8 Análise de grades curriculares de Cursos de Licenciatura em Letras