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Década de 90 e anos 2000: A articulação dos intelectuais orgânicos da área para o

2.3 A formação de professores de Educação Física no Brasil: processos atuais e seus

2.3.1 Década de 90 e anos 2000: A articulação dos intelectuais orgânicos da área para o

Assim, setores da área começaram a se articular para fortalecer seus interesses

coorporativos. Os setores que defendem a fragmentação da formação e controle do mercado

da área da Educação Física, principalmente no setor não escolar, começam uma ofensiva para

se regulamentar a profissão da Educação Física.

A partir dos anos de 1990, a burguesia do setor do fitness começa a se organizar enquanto classe. Essa organização culminou na criação dos organismos que convencionamos chamar de organismos representantes da burguesia do âmbito do

fitness, os quais intensificam a apropriação da cultura corporal, por parte da classe

dominante e defendem os interesses de classe dessa parcela da sociedade. Na contemporaneidade, a burguesia se apropria da cultura corporal e a ―devolve‖, a uma pequena parcela da classe trabalhadora e a outros representantes da própria burguesia, entretanto, transformada em mercadoria (COIMBRA, 2009, p.112).

E após um processo de tentativas desse setor e um forte discurso de que a Educação

Física é uma terra de ninguém e que só o diploma não bastava, em 1998 é aprovada a lei

n°9696/98 que regulamenta a profissão de Educação Física e cria os Conselhos Federal e

Regional de Educação Física

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. Coimbra, 2009, afirma que esta regulamentação cria mais uma

instituição para administrar a crise do capital e "significa uma saída corporativista para a crise

do trabalho abstrato e uma consequente reserva de vagas para os trabalhadores da Educação

Física". (p.114) Além disso, desregulamenta o trabalho e contribui para a precarização do

trabalho na área, adentrando na lógica do trabalho informal do neoliberalismo. E com isso, o

setor representante da burguesia na área ganha um forte aparato para legitimar seus discursos

e agir diretamente em todos os âmbitos possíveis da Educação Física. E é na formação que

eles conseguem seu grande trunfo.

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No ano de 1995, com a lei Nº 9.131 tivemos a abertura de um processo de formulações das Diretrizes Curriculares para cada área específica de ensino, ao mesmo tempo em que a Portaria Ministerial Nº 972/97 determinou que as comissões de Especialistas, vinculadas à Secretaria do Ensino Superior do Ministério da Educação (SESu/MEC), seriam as responsáveis para preparar as Diretrizes Curriculares de suas respectivas áreas: sistematizar, debater e definir as propostas de Diretrizes Curriculares e encaminhá-las para análise de mérito e decisões cabíveis. (DUTRA, 2010, p.7)

Nesta lógica, para dar conta das novas demandas neoliberais e produtivas do capital

para a área da Educação, se aprovam diretrizes curriculares para os cursos de licenciaturas, As

resoluções CNE/CP 01/02

54

e CNE/CP 02/02

55

. Estas, estão baseadas em uma pedagogia das

competências, visando formar trabalhadores polivalentes, acríticos, voltados ao mercado.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professores da Educação Básica, em Nível Superior, Curso de Licenciatura e de Graduação Plena (Resolução CNE/CP nº 01/02 e 02/02) são atualmente a expressão mais visível da consolidação dos ajustes educacionais capitalistas em busca de adequar o ensino superior e a formação de professores às demandas oriundas do processo de reestruturação produtiva. (DIAS, 2011, p.103)

Na Educação Física houve este processo de formação de Comissão de Especialistas.

Porém, teve um processo ímpar pelos setores de oposição as proposições hegemônicas para as

diretrizes curriculares dos cursos. A ExNEEF

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, o MNCR

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e a LEPEL

58

travaram uma forte

luta para que houvesse um processo mais democrático e não ocorresse um jogo de cartas

marcadas para construção de interesses corporativos nessas diretrizes. Este foi um processo

longo, que não cabe aqui aprofundar esta análise pois já foram feitos outros estudos que

relatam melhor este processo

59

. Porém, o que culminou foi uma Diretriz que representava um

"falso" consenso

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, pois possibilita criar qualquer tipo de curso relacionado a Educação Física,

mascarando de fato que no fim deste caminho ocorreria uma fragmentação gigantesca na

54 Diretrizes para os cursos de licenciatura.

55Diretrizes referentes às cargas horárias dos cursos de licenciatura. 56

Executiva Nacional de Estudantes de Educação Física.

57 Movimento Nacional Contra a Regulamentação do Profissional de Educação Física criado em 1999 para lutar

em específico nesta pauta contrária a regulamentação.

58 Linha de Estudo e Pesquisa em Educação Física & Esporte e Lazer. 59

Vide: Dutra, 2010; Portela, 2011; Dias, 2011; Morschbacher, 2012; Fuchs, 2013. Dentre outros inúmeros estudos.

60 Falso, pois não há como algo tomar uma posição neutra dentro da luta de classes, estas diretrizes fortalecem os

interesses dos setores representantes da burguesia na área e por consequência fortalecem a manutenção do status

formação inicial de professores em Educação Física e potencializaria os interesses de mercado

dos setores burgueses do fitness, ou o sistema CONFEF/CREF's.

Frente às manifestações contrárias a proposta de diretrizes, apresentadas pela segunda COESP-EF, o MEC e o CNE articularam um grupo de assessoria para construir o ―consenso‖. Constituído pelo Sesu, pelo CONFEF, pelo CONDIESEF, pelo Ministério do Esporte e pelo CBCE, este grupo, em desconsideração as contribuições apresentadas pelo MEEF, aprovou uma proposta - Resolução CNE/CES nº 07/04 - bastante similar a indicada pela segunda COESP-EF e que manteve os mesmos problemas já apontados na proposta anterior. (DIAS, 2011, p.117)

Estas novas diretrizes estão representadas pelas resoluções CNE/CES n°07/04, que dá

diretrizes para os cursos de Graduação

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em Educação Física, ou seja, esta diretriz dá bases

específicas para abrir cursos de Educação Física Licenciatura de Graduação Plena, Educação

Física Bacharelado e cursos Tecnológicos a área, bem como qualquer curso que tenha haver

com a área, como tecnólogo em futebol. Bacharelado em Lazer, etc. E mais tarde cria-se a

resolução CNE/CES n°04/09, que dá diretrizes para as cargas horárias dos cursos de bacharel

em saúde, adentrando o bacharelado em Educação Física como uma delas, colocando mais

uma vez uma visão reducionista do que é a área especificando apenas na área da saúde.

2.3.2 As consequências das diretrizes curriculares e a proposição dos movimentos de