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CAPÍTULO 3 – PANORAMA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO CONTEXTO

3.2 Configuração Histórica do Sistema de Ensino Brasileiro e as Políticas Públicas

3.2.1. d Décadas de 1980 e 1990

No panorama internacional, em 1990, houve a primeira mobilização mundial em Jomiten, no qual diversos governos assinaram a Declaração Mundial de Educação para Todos, no qual comprometeram-se em garantir uma educação básica para crianças, jovens e adultos, independentemente de sexo, etnia, classe social, religião e ideologia. Dez anos mais tarde, em Dacar, foi realizado um balanço das metas estabelecidas em Jomtien que revelou que a maioria dos países em desenvolvimento, deram pouca atenção para a educação e aprendizagem de adultos. Com vias a pensar nesse problema, em 1997, aconteceu a Conferência Internacional de Educação de Adultos que previu em seu item 9 que a educação básica para todos, significa dar às pessoas, independentemente da idade, a oportunidade de desenvolver seu potencial coletiva ou individualmente (UNESCO, 2004).

Já no Brasil, no período de 1985 a 1990 o MOBRAL, a partir do extinto Decreto nº 92.544, de 15 de Abril de 1986, passou a ser reconhecido como Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos – EDUCAR, que foi extinta logo após a posse do primeiro presidente eleito do Brasil depois do regime militar: Fernando Collor de Melo.

46 No governo de Collor, o Ministério da Educação e Cultura - MEC desencadeou o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania - PNAC com o objetivo de mobilizar a sociedade para a alfabetização de crianças, jovens e adultos por meio de comissões envolvendo órgãos governamentais e não-governamentais mas, como essas não puderam exercer nenhum controle sobre a destinação de recursos e o programa foi encerrado depois de um ano. A partir daí iniciou-se a omissão dos governos nas esferas federais que perdurou e consolidou-se inclusive no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso com a Lei n. 9.394 de dezembro de 1996, conhecida como a Lei de Diretrizes e Bases - LDB que previu iniciativas que reforçavam a educação de base e desaceleravam iniciativas de alfabetização para jovens e adultos.

A educação, como direito social de todos passou a ser assegurada pela Constituição Federal em 1988. Guiar os caminhos do ensino no país tornou-se competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios que estabelecem uma legislação para garantir que ela cumpra sua função social de formar cidadãos.

A Seção I do Capítulo III da Constituição de 1988, intitulada “Da Educação”, exibe pontos importantes em relação ao sistema de ensino em geral, bem como os recursos destinados e os deveres do Estado em sua promoção, oferecendo “pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988).

A LDB, nº 9.394/96 teve como objetivo normatizar a educação e ofertá-la de forma igualitária. De maneira prática, a ela elencou os órgãos administrativos responsáveis pela educação, os níveis e modalidades de ensino sempre visando atender os princípios da Constituição. Com a aprovação da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9.394/96), organização do sistema escolar foi alterada, bem como a sua denominação (Quadro 5).

Quadro 5 – Constituição dos níveis de ensino 1996 - LDB 9.394/96

Niveis e Subdivisões Duração Faixa Etária

Educação Básica Educação Infantil

Creche 4 anos 0 a 3 anos

Pré-escola 3 anos 4 a 6 anos

Ensino Fundamental 8 anos 7 a 14 anos

Ensino Médio 3 anos 15 a 17 anos

Educação Superior

Cursos por área Variável Acima de 17 anos FONTE: Autoria própria com dados da Lei 9.394/96

47 Com o novo arranjo, o atendimento de crianças de 0 a 6 anos passou a ser denominado Educação Infantil. Os antigos 1º e 2º graus passaram à denominação de Ensino Fundamental e Ensino Médio, respectivamente. A LDB reduziu a dois os níveis de educação escolar: o da educação básica, composta por educação infantil, ensino fundamental e médio, e a educação superior. A educação profissional, passou a ser considerada como modalidade de ensino articulada com esses níveis, embora seja aceita, como habilitação profissional, nos próprios estabelecimentos de ensino médio ou em cooperação com instituições especializadas em educação profissional. Foi a partir da LDB de 1996, também, que outras modalidades de ensino como a educação especial e a educação indígena, ganharam especificidades dentro da nova forma de organização.

No que diz respeito aos tipos de categoria administrativa, observa-se na LDB, no Título IV, “Da Organização da Educação Nacional”:

I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas, mantidas e administradas pelo Poder Público;

II - privadas, assim entendidas as mantidas e administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado. (BRASIL, 1996)

Ainda segundo o Título IV, artigos 8º até o 20º da LDB 9.394/96, as instituições públicas e privadas estão ao cargo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Cabe à União, “a coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais” (BRASIL, 1996). Entre suas principais atribuições está a elaboração do Plano Nacional de Educação - PNE, prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, assegurando formação básica comum, garantindo o processo de avaliação nacional da educação superior, bem como regular esse nível de ensino.

Aos Estados cabem, primar pelas instituições estaduais de níveis fundamental e médio, de órgãos públicos ou privados. Nesse sentido, o Estado deve incentivar um regime de colaboração com os Municípios dividindo as responsabilidades da educação fundamental, trabalhando planos educacionais em consonância com o PNE e assumindo o transporte escolar da rede estadual.

48 Aos Municípios ficou estabelecido o compromisso pelas instituições de ensino infantil e fundamental, podendo cuidar de instituições de ensino médio. Também devem assumir o transporte dos alunos para as escolas do município. Têm a opção de se integrarem ao sistema Estadual de ensino e compor um sistema único de educação básica. Ao Distrito federal, se aplicam as competências do Estado e do Município.

De acordo com a autora Di Pierro (2005) quando a LDB focalizou a escolaridade não realizada no passado, firmou um paradigma compensatório que acabou por direcionar a escola para jovens e adultos com rígidas referências curriculares, metodológicas, impedindo a flexibilização da organização escolar necessária para atender das especificidades desse grupo.