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DÉFICIT HABITACIONAL

No documento JÚLIO RICARDO DE FARIA FIESS (páginas 67-72)

VULNERABILIDADE AMBIENTAL E AS FORMAS DE PRODUÇÃO DA MORADIA NO MUNICÍPIO DE

4. CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

5.2 DÉFICIT HABITACIONAL

A partir da criação da Diretoria de Habitação - DIHAB realizaram-se dois levan- tamentos do déficit habitacional no município de Paranavaí. No primeiro levantamento, em 2006, foram contabilizadas aproximadamente 4.500 famílias com necessidade de moradia

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própria, das quais aproximadamente 15% (675 famílias), tinham renda superior a 3 SM e o restante, 3.825 famílias, possuíam renda inferior a 3 SM, já no segundo levantamento, em 2009, destinado a fornecer subsídios para o PMCMV e outros programas municipais para famílias com renda inferior a 3 SM, contabilizou-se 4.705 famílias com necessidade de moradia própria, evidenciando que o déficit habitacional para esta faixa de renda aumentou quando comparado ao primeiro levantamento realizado três anos antes.

Para fazer frente à necessidade de produção de novas moradias, no período compreendido entre 2005 e 2010, inúmeras parcelas de solo urbano foram adquiridas. Nes- se sentido, a produção habitacional decorrente dos programas habitacionais empreendidos no município gerou 15 novos empreendimentos (1.054 unidades habitacionais). A execução das moradias coube ao município e a iniciativa privada, sendo a maioria por meio de recur- sos provenientes do PMCMV (Cf. tabela 1).

Tabela 1 – Principais características dos programas habitacionais, (2005-2010).

Fonte: Prefeitura do Município de Paranavaí e Companhia de Habitação do Paraná – COHAPAR.

De acordo com o número total de unidades habitacionais produzidas, pode-se observar que houve considerável incremento na quantidade de recursos, por parte do go- verno federal, no setor habitacional. Ainda, por meio dos dados obtidos, foi possível com- parar à produção de moradias ao longo dos últimos 40 anos e verificar que o número de moradias produzidas no período compreendido entre 2005 e 2010 foi superior à somatória do que se produziu nos 35 anos anteriores. Também houve considerável incremento na produção de moradias destinadas a famílias com renda inferior a 3 SM, que é sem dúvida a maior parcela do déficit habitacional.

Figura 2 – Localização dos programas habitacionais, período compreendido entre 2005-2010.

A despeito da localização geográfica dos projetos habitacionais (2005-2010) é evidente a tendência da população de menor renda estar distribuída em áreas periféricas ao quadro urbano central (Cf. figura 2), normalmente associado à local com condições urbanísticas e sanitárias precárias (declividade acima de 30%; próximo a cursos d’água, nascentes ou áreas de lançamento de resíduos domésticos clandestinos; ocorrência de processo de erosão do solo, entre outros). O município de Paranavaí tem uma herança “maldita” deste crescimento desordenado, provocado pela ineficiência de políticas públicas municipais de planejamento urbano. Até 2003, os loteamentos populares, não incluíam toda a infraestrutura necessária a um empreendimento habitacional. Como consequência, a maioria não possuía vias pavimentadas, drenagem de águas pluviais e esgotamento sanitário. E ainda, por estarem localizados em áreas periféricas, criaram grandes vazios ur- banos entre os loteamentos populares e as áreas consolidadas da malha urbana e área ru- ral, onerando consideravelmente os serviços públicos prestados pelo município tais como: coleta de resíduos domésticos, limpeza de vias urbanas, transporte público, iluminação pública. Cabe destacar que, associado à infraestrutura urbana precária, os locais definidos para a instalação dos projetos habitacionais sofrem com a ausência de espaços públicos e equipamentos urbanos de uso coletivo (praças, quadras de esporte, unidade de saúde, escolas, centro de educação infantil, entre outros).

ENGENHARIA CIVIL: INOVAÇÃO, TECNOLOGIA E MEIO AMBIENTE CAPÍTULO 6 68 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se que, desde a criação de Lei de Terras, a localização dos programas habitacionais está diretamente relacionada ao custo da terra, evidenciando a tendência de segregação socioespacial que ocorre na maioria das cidades. Assim, os locais periféricos a malha urbana consolidada, com pouco ou nenhum investimento público, concentram a maior parcela de população em situação pobreza e geralmente são as áreas com maior degradação ambiental. Não obstante, os locais de moradia passam a exercer um papel central sobre as condições de vida e sobre o grau de vulnerabilidade socioambiental.

A relação entre as condições de moradia precárias, a dificuldade de acesso aos serviços públicos e as áreas com maior risco ambiental, caracterizam o encontro perverso de vulnerabilidades no meio urbano.

A partir dos dados obtidos, de alguns componentes da infraestrutura urbana, verificou-se que a sede do município de Paranavaí possui uma boa cobertura no sistema de esgotamento sanitário e água potável. Com relação à rede de esgoto, mais de 80% dos domicílios são atendidos e em relação à rede de água potável, 99% dos domicílios são atendidos. A coleta de resíduos domésticos também é realizada em quase a totalidade da área urbana e a disposição dos resíduos é realizada em aterro sanitário. Os percentuais apresentados são expressivos, principalmente quando comparados à média dos municí- pios localizados no noroeste paranaense. Segundo informações contidas no documento da Política de Desenvolvimento Urbano - PDU elaborado pelo Governo do Estado em 2003, o noroeste paranaense apresentou 42,89% de cobertura no sistema de esgotamento sanitá- rio, 85,63% em rede de água potável e 86,58% na coleta de resíduos domésticos.

A drenagem de águas pluviais e a pavimentação de vias urbanas são os com- ponentes da infraestrutura urbana com as piores taxas de cobertura no meio urbano da sede municipal. Inserido na região do Arenito Caiuá, o município de Paranavaí sofre as consequências do solo extremamente arenoso e convive com imensas voçorocas no meio urbano, que associadas à ausência de rede de águas pluviais e de pavimentação, compro- metem a qualidade de vida da população e implicam em inúmeros impactos negativos no ambiente “natural”.

Estes resultados evidenciam que o planejamento urbano municipal priorizou e vem priorizando, a aquisição de parcelas de solo localizadas em áreas de menor valor para instalação de projetos habitacionais de baixa renda, normalmente localizadas na borda da franja urbana e em áreas sujeita a maior vulnerabilidade socioambiental, frequentemente desconsiderando os componentes da infraestrutura urbana e as implicações sobre o meio “natural” na seleção da localização.

7. REFERÊNCIAS

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ALVES, H. P. F.; TORRES, H. G. Vulnerabilidade socioambiental na cidade de São Paulo: uma análise das famílias e domicílios em situação de pobreza e risco ambiental. In: São Paulo em Perspectiva. São Paulo: Fundação Seade, 2006.

ALVES, H. P. F. et al. Dinâmicas de urbanização na hiperperiferia da metrópole de São Pau- lo: análise dos processos de expansão urbana e das situações de vulnerabilidade socioam- biental em escala intraurbana. In: Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, nº 1, São Paulo, 2010.

FERREIRA, J. S. W. Planos Locais de Habitação de Interesse Social. Curso à distância: O processo de urbanização brasileira e a função social da propriedade urbana. Brasília: Ministério das Cidades, 2009.

PAZ, R. D. O.; TABOADA, K. J. Trabalho Social em Programas e Projetos de Habitação de Interesse Social. Curso à distância: Cidades, Desigualdades e Território. Brasília: Mi- nistério das Cidades, 2010.

PARANÁ. Companhia de Habitação do Paraná - COHAPAR. Déficit Habitacional no Pa- raná. Disponível em: <http://www.cohapar.pr.gov.br/modules/conteudo>. Acesso em 13 de set. 2010.

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PARANAVAÍ. Lei Municipal nº 2.596, de 11 de junho de 2005. Dispõe sobre a criação da Diretoria de Habitação (DIHAB). Procuradoria Jurídica, 2010.

_______. Lei Municipal nº 2.726, de 11 de junho de 2006. Dispõe sobre a criação do Con- selho Municipal de Habitação (COMHAB). Procuradoria Jurídica, 2010.

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_______. Lei Municipal nº 3.126, de 15 de abril de 2008. Dispõe sobre a criação do Fundo Municipal de Habitação de Interesse Social (FMHIS). Procuradoria Jurídica, 2010. _______. Decreto Municipal nº 10.224, de 17 de maio de 2008. Dispõe sobre a regulamen- tação do Conselho Gestor do Fundo Municipal de Habitação. Procuradoria Jurídica, 2010.

_______. Decreto Municipal nº 10.230, de 17 de maio de 2008. Dispõe sobre a nomeação do Conselho Municipal de Habitação (COMHAB). Procuradoria Jurídica, 2010.

_______. Decreto Municipal nº 11.386, de 07 de junho de 2009. Dispõe sobre a nomeação do Conselho Municipal de Habitação (COMHAB). Procuradoria Jurídica, 2010.

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TRANSFORMAÇÕES E DINAMISMO DA PAISAGEM NA

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