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D O TRABALHO AO DESEMPREGO E OS SEUS SIGNIFICADOS

A comunidade tem as seguintes funções:

3.2 D O TRABALHO AO DESEMPREGO E OS SEUS SIGNIFICADOS

Dada a importância do trabalho para um indíviduo, na nossa sociedade, é fundamental compreendermos quais são os seus contornos, na vida de um indivíduo, numa família e quais as consequências que a falta deste pode trazer. O trabalho é definido como “… um esforço da mente e do corpo, realizado parcial ou totalmente com o propósito de obter algum benefício diferente da satisfação que deriva directamente do trabalho” ( Jahoda, 1987, citado por Pardilhó, 2013, p. 29).

Assim, é também considerado “ um local de reencontros e cooperação, “uma actividade onde se criam laços e marcado por uma forte convivialidade” (Loisin, 2006, citado por, Pardilhó, 2013, p.33). O trabalho é ainda apresentado como uma instituição de socialização, sendo que, para além da função económica, permite a construção de identidade, contribuindo para a construção de uma imagem de si próprio, assim como, contribui para a reconhecimento de um determinado etatuto social (Estramiana,1992, citado por Pardilhó, 2013, p.28).

Assim, a importância do trabalho é salientada por Blustein, 2013, (citado por Costa, 2003), na medida, em que, existem três conjuntos de necessidades a que o trabalho pode satisfazer: a necessidade de sobrevivência e de poder, na medida em que permite aos indivíduos a aquisição de bens materiais, de estatuto e de prestígio; a necessidade de ligação social, pois o trabalho possibilita a interação com os outros; e, por fim, a necessidade de auto-determinação, na medida, em que permite o envolvimento em atividades do seu interesse contribuindo para que o indivíduo encontre um significado para as suas vidas. Ainda neste sentido, Hall & Mirvis, 2013, (citado por Costa, 2013) salientam as recompensas extrínsecas do trabalho, como o acesso a recursos financeiros e sociais e o desenvolvimento de carreira e prestígio, e as recompensas intrínsecas do trabalho, mais concrectamente a motivação e a autonomia. O trabalho possibilita o acesso a um rendimento económico, ao estabelecimento de relações sociais com pessoas fora da família, a

criação de uma rotina e de um horário e o desenvolvimento pessoal e social (Jahoda, 1982, citado por Ventura, 2013), ou seja, o trabalho é uma “fonte de satisfação de necessidades psicológicas, sociais e económicas” (Herr, Cramer & Niles, 2004 citado por Ventura, 2013, p.6 ).

A importância do trabalho e das suas funções na vida dos indivíduos é realçada, também, por Hanisch, (1999, citado por Sampaio, 2013, p.3), através do Modelo Funcional de Jahoda. Esta autora considera que uma situação de desemprego “afecta o bem-estar pessoal, uma vez que retira o sujeito das funções latentes que o trabalho proporciona”, pois impossibilita o acesso a determinadas regalias, nomeadamente a estruturação do tempo, a participação, ao contacto e a partilha de experiências com outras pessoas (Hanisch, 1999, Sampaio, 2013). O emprego

“condiciona a relação alternante entre tempo de trabalho e tempo de não trabalho”, a sua ausência, na vida dos indivíduos, provoca uma ruptura entre o tempo de trabalho, que possibilita o acesso a um rendimento mensal e ao tempo livre, destinado para a satisfação de necessidades como a de lazer. A privação de um emprego, e as diversas mudanças que esta situação traz para a vida dos sujeitos, impossibilita-os de participarem em ritmos coletivos, tais como as férias e os fins-de semana, sendo que a vida de um desempregado é marcada pela desestruturação do tempo e ainda pela desestruturação do espaço, na medida, em que, estar empregado permite ao indivíduo possuir determinadas referências, como o local de trabalho e o percurso até o trabalho e o desemprego implica o afastamento dessa referências ao nível do espaço (Caleiras, 2011, p. 72).

O trabalho oferece assim ao indivíduo um sentimento de pertença “… aos ritmos espácio-temporais que é importante para o bem-estar dos indivíduos” (Loisin,2006, citado por Pardilhó, 2013, 2012, p.30), e a perda de um emprego bloqueia a sua participação na sociedade, através da perda do estatuto social e da identidade dos indivíduos que se sentem desvalorizados, humilhados, sendo que, estar desempregado, é sinónimo de estatuto inferior e de identidade desvalorizada e negativa” (Schnapper, 1981; Schnapper, 1998, citado por, Caleiras, 2011).

O desemprego é definido como “uma situacão que envolve uma ausência de carga de trabalho, normalmente involuntária constitui-se como uma condicão potencialmente adversa de trabalho, com implicacões ao nivel pessoal e relacional da vida dos indivíduos” (Vaz Serra, 2007, citado por, Canavarro, Dimas & Pereira, 2013 p. 4 ). Esta é uma fase na vida de um indivíduo que implica uma capacidade de adaptação, é ainda entendida como uma fase de transição, devido à mudança e à incerteza que traz para as suas vidas (Francisco, 2004, citado por, Canavarro, et al., 2013). Os efeitos de uma situação de desemprego no bem-estar dos indivíduos dependem de um conjunto de fatores, um deles incide no acesso à proteção do Estado (Samuelson e Nordhaus, 1988, citado em Alves, 2008), nomeadamente através do apoio dado pela Segurança Social ou,

ainda, pelo apoio da família ou da comunidade que minimizam os efeitos da perda de um rendimento mensal (Alves, 2008). O papel da família numa situação de desemprego surge, assim, como fundamental, tal como destacado por Loison (2003, citado por, Alves, 2008) quando refere que o desemprego, leva ao aumento dos contactos entre os elementos da família e com os amigos. Desta forma, Bjarnason & Sigurdardottir, (2003, citado por, Ventura, 2013, p.7) salientam a importância do apoio quer da família, quer dos amigos, pois, “ a rede social do indivíduo quando percebida como intensa e sólida permite uma maior redução do sofrimento psicológico e dificuldades dos desempregados”.

Quanto à fase em que o indivíduo se encontra desempregado, Loureiro, (2006, Sampaio, 2013, p. 2) apresenta o modelo de Kaufman, que se centra na situação de desemprego, que define quatro estádios perante uma situação de desemprego. Num primeiro estádio, salienta-se o choque, o alívio e o relaxamento, na medida em que, primeiramente, os indivíduo sofrem um choque devido à perda do emprego, porém, após o primeiro impacto, surge o relaxamento devido à redução dos níveis de ansiedade, variando esta redução tendo em conta factores como a segurança económica e o suporte social. No segundo estádio (três meses após a perda do emprego), surge o esforço, pois o indivíduo empenha-se na procura de emprego, podendo surgir sentimentos de frustração. No terceiro estádio (após cinco a seis meses da perda do emprego) surgem as vacilações, a dúvida e a raiva, em que os indivíduos duvidam das suas competências, neste estádio, problemas de ordem psicológica. No quarto estádio, surgem a resignação e o afastamento, nesta fase os indivíduos conformam-se com a sua situação, podendo surgir uma redução da capacidade de iniciativa, pode ainda surgir baixa auto-estima, desespero e, ainda, uma deterioração da saúde mental do indivíduo. Assim sendo, “se o período inicial de desemprego pode ser vivido como um período de algum modo “libertador” das responsabilidades e das tarefas inerentes ao emprego, o prolongado da condição acaba por trazer consigo implicações ao nível da desestruturação do tempo e do espaço”. Existem alguns factores que condicionam a forma como o indivíduo poderá lidar com uma situação de desemprego, neste sentido, Wanberg (2012, citado por Ventura, 2013, p.7), assim os indivíduos que mais facilmente lidam com uma situação de desemprego são “aqueles que têm um maior sentido de valor pessoal, (...) menos restrições financeiras, uma visão menos negativa do desemprego, que não se identifiquem fortemente com o emprego desempenhado e que não tenham familiares ou companheiros dependentes de si”.

3.3

O

DESEMPREGO ENQUANTO FATOR DERISCO SOCIAL

:

OS EFEITOS SOCIAIS

,

PSICÓLOGICOS