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3. RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO EXTRAPATRIMONIAL NA

3.3. Da Aplicação Subsidiária do Direito Comum ao Direito do Trabalho:

A priori, é válido observar o dispositivo da Consolidação das Leis do Trabalho que prevê a possibilidade de se aplicar, subsidiariamente, o Direito Comum ao Direito do Trabalho, a saber:

Art. 8º. As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.

Parágrafo único. O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios fundamentais deste.44

Da análise do excerto, percebe-se que o direito comum poderá ser utilizado como fonte subsidiária do Direito do Trabalho, desde que sejam preenchidos dois requisitos, quais sejam, a omissão legislativa e a compatibilidade com os princípios e com os institutos trabalhistas. Exemplifica-se. Não há, na CLT, regramento acerca do prazo em dobro para litisconsortes com procuradores diferentes, de escritórios de advocacia diferentes, previsto no artigo 229 do Código de Processo Civil45, de modo que tal dispositivo atende o primeiro requisito (omissão legislativa), para fins de ser aplicado na seara trabalhista. Contudo, tal previsão, por não se compatibilizar com os princípios inerentes ao processo do trabalho, vez que prejudica a celeridade processual, não pode ser utilizada no processo do trabalho.

Comentando o referido artigo 8º da CLT, “caput” e § único, da CLT, destaca-se, por sua sensatez, a consideração realizada por Mozart Victor Russomano:

44 BRASIL. Decreto-lei nº 5452, de 01 de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 30 out. 2017.

45 Art. 229, CPC/2015: “Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento.”

Se o direito não tem lacunas, a lei as possui, porque é o produto da inteligência do homem, logo, falível e incompleta. Sendo ela uma norma abstrata para aplicação a fatos concretos, não é possível que o legislador tenha o dom de prever, sem falhas, todas as formas que os fatos assumem.46

Nessa feita, sendo a legislação produto do homem, é correto entender que essa não será absolutamente completa, infalível, de modo que o aplicador do direito pode (e deve) se utilizar de outros mecanismos, tais como a analogia, a jurisprudência e a aplicação subsidiária do direito comum, para alcançar, da melhor e mais razoável maneira possível, a resolução do caso concreto.

Cumpre ressaltar que, com as alterações introduzidas pela Lei nº. 13.467/2017, o referido artigo passará a ter a seguinte redação:

Art. 8º. As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.

§ 1º O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho.

§ 2º Súmulas e outros enunciados de jurisprudência editados pelo Tribunal Superior do Trabalho e pelos Tribunais Regionais do Trabalho não poderão restringir direitos legalmente previstos nem criar obrigações que não estejam previstas em lei. § 3ºNo exame de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho analisará exclusivamente a conformidade dos elementos essenciais do negócio jurídico, respeitado o disposto no art. 104 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), e balizará sua atuação pelo princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva.” (NR)47

Nota-se, portanto, que não houve uma mudança substancial de conteúdo, mas sim, predominantemente, de escrita. Desse modo, afirma-se que a supressão da parte final do §1º do antigo artigo 8º, qual seja, “naquilo em que não for incompatível com os princípios fundamentais deste”, não ocasiona a extinção do requisito da compatibilidade entre o Direito Comum e os princípios e normas do Direito do Trabalho, vez que, realizando uma interpretação sistemática, é possível perceber que tal exigência ainda se encontra prevista no artigo 769 da CLT, o qual permaneceu sem alterações.

Corroborando com o que foi exposto, ressalta-se o disposto no artigo aludido (art. 769, da CLT), segundo o qual: “Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte

46 RUSSOMANO, Mozart Victor. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 8ª ed. vol. 1. Rio de Janeiro: J. KONFINO, 1973. p. 55.

47 BRASIL. Lei nº 13.467/2017, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13467.htm>. Acesso em: 30 out. 2017.

subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título.”48

Em síntese, é possível afirmar que o direito comum poderá ser utilizado como fonte subsidiária do direito processual do trabalho, o que, de fato, acontece em diversos momentos, desde que haja, cumulativamente, a omissão legislativa, bem como a compatibilidade com as normas e os princípios trabalhistas.

Realizada essa contextualização acerca da inserção do julgamento das ações de indenização por danos morais e materiais, decorrentes das relações de trabalho, na competência da Justiça do Trabalho, bem como analisada a possibilidade de se utilizar o direito comum como fonte subsidiária do direito do trabalho, desde que atendidos certos requisitos, passar-se-á ao estudo dos critérios que devem ser utilizados pelo julgador, a fim de se orientar no que diz respeito à fixação do valor indenizatório, quando do julgamento de ações de indenização por dano extrapatrimonial decorrentes da relação de trabalho, temática cerne do presente trabalho.

3.4Dos Critérios (Subjetivos) para a Fixação de Indenização por Dano