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Da ausência de instrumento idôneo para investigação presidida pelo

6. Da Inconstitucionalidade da Investigação Criminal realizada pelo

6.4. Da ausência de instrumento idôneo para investigação presidida pelo

Por tudo o que foi exposto, está evidente de que uma investigação criminal imparcial e garantista, é mais que um simples procedimento administrativo, é um direito fundamental do investigado. E por isso mesmo, a investigação criminal deve respeitar todos os princípios constitucionais e infraconstitucionais que garantem uma persecução penal justa, dentre todos esses princípios o que é mais atingido pela investigação criminal ministerial é o princípio da legalidade.

Pela importância desse princípio ele está explícito tanto na Constituição Federal como também na Declaração dos Direitos do Homem de 1789, que diz: “Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescrita”. Este é sem dúvida um dos pilares básicos do Estado Democrático de Direito previsto no art. 5°, inciso II, da Constituição Federal que assegura a que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

No ordenamento jurídico em vigor, não existe nenhuma lei em sentido estrito que regule ou formalize a investigação criminal pelo Ministério Público. Ora! Não é admissível afirmar que é constitucional um procedimento que expande de forma ilimitada, já que não existe lei, o poder do Estado investigar criminalmente seus cidadãos, já que esses gozam da garantia de viver em um Estado que não é absoluto e ilimitado em seus poderes persecutórios.

O princípio da legalidade é aplicado de forma diferente, tendo como referencial distintos a aplicabilidade para o cidadão/particular e para a administração pública em

sentido amplo. Para o cidadão é aplicado o princípio na forma inscrita na Constituição Federal, ou seja, segundo no art. 5°, inciso II, deste diploma normativo, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Nesse sentido, ao particular é permitido fazer tudo aquilo o que a lei não proíbe. Já, segundo MATHEUS CARVALHO (2016):

“O administrador público somente pode atuar conforme determina a lei, amplamente considerada, abarcando todas as formas legislativas, desde o próprio texto constitucional, até as leis ordinárias, complementares e delegadas. É a garantia de que todos os conflitos sejam solucionados pela lei, não podendo o agente estatal praticar condutas que considere devidas, sem que haja embasamento legal específico (...) não havendo previsão legal, está proibida a atuação do ente público e qualquer conduta praticada ao alvedrio do texto legal será considerada ilegítima”.

Por ferir de morte um dos pilares do Estado Democrático de Direito, que é o princípio da legalidade, e entendendo que a Constituição Federal de 1988 assegura à investigação criminal princípios e garantias fundamentais umbilicalmente ligadas a dignidade da pessoa humana, não se deve permitir que o Ministério Público, sendo parte processual, investigue sem um controle legal específico, se transformando assim em um órgão com “superpoderes” para investigar e ao mesmo tempo acusar, no atual estado de garantias em que vivemos isto é inconcebível.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após tudo o que foi exposto, embasados nos princípios e garantias constitucionais, fazendo uma interpretação teleológica da Constituição Federal e do Código de Processo Penal, é por bem afirmar que o Ministério Público tem importância singular como protetor da ordem jurídica brasileira, e por isso mesmo, a este órgão não lhe é deferido o direito de investigar criminalmente, tendo por consequência a instabilidade persecutória e processual, pois sendo o Ministério Público parte processual, se acaso fosse lhe deferido poderes investigatórios, este órgão absorveria mais poderes do que lhe quis atribuir a Constituição Federal, ferindo dentre outros princípios o da paridade das armas.

Apesar de vozes em sentido contrário, é majoritária a doutrina que defende que o Brasil adotou o sistema acusatório como fundamento da persecução penal. Esse sistema se distingue essencialmente em ter partes com atribuições distintas entre si, sendo assim, pensamos que a Constituição Federal atribuiu com preponderância ao Ministério Público as atribuições de fiscal da lei e dentro do processo penal a atribuição de acusar. E também, como consequência desse sistema, a Constituição Federal outorgou a polícia judiciária a atribuição exclusiva de investigar infrações penais, excetuadas as infrações militares. A polícia judiciária como não é parte na relação processual, gozaria de uma imparcialidade que não se pode atribuir ao Ministério Público. Por isso a investigação ministerial destoa do sistema acusatório, fazendo que o ordenamento jurídico retroage para um sistema inquisitivo que não garante os direitos fundamentais do acusado e não separa as partes com atribuições distintas para resguardar a imparcialidade que é tão perseguida pela Constituição Federal de 1988.

Para nós, esse conflito de atribuição vai muito além de regras processuais, infelizmente o ego das duas instituições atrapalha e muito na solução desse conflito. Ao invés da união de todos os órgãos públicos, para o objetivo comum da prestação efetiva da segurança pública e da justiça, o que vemos é a disputa interna e externa, por mais atribuições sendo relativizado toda a gama de direitos processuais conquistados até hoje e isso é muitas vezes, simplesmente para ver quem pode mais.

Por conta dessa “briga” de instituições, RENATO BRASILEIRO (2016) afirma que:

“Infelizmente, o Brasil tem se tornado, nos últimos anos, refém de disputas institucionais e corporativas entre a Polícia e o Ministério Público. Por conta disso, duas instituições que, em tese, deveriam trabalhar em conjunto com o objetivo de buscar uma persecução penal mais eficiente são colocadas em lados opostos, o que, de certa forma, acaba contribuindo para o aumento da criminalidade no país”.

Por tudo isso, a solução do problema passa pela edição de uma lei específica, que deixe bastante claro e evidencie o caráter acusatório do sistema penal brasileiro, além do mais é preciso uma interpretação conforme a constituição pelos tribunais superiores. Além disso tudo é necessário superar esse problema de atrito entre as instituições, é preciso entender que cada órgão tem sua atribuição principal, e que o respeito pela Constituição Federal e os direitos nela previstos, passa pelo respeito a essas atribuições e aos seus limites, não se admitindo que uma instituição interfira de modo extralegal nas atribuições de outra.

REFERÊNCIAS

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