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Da competência das Polícias Judiciária e do Ministério Público na Constituição

3 DA PEC 7/2011 E AS DISCUSSÕES NAS TRAMITAÇÕES NA CÂMARA

3.2 Da competência das Polícias Judiciária e do Ministério Público na Constituição

Quanto á competência das Polícias Judiciárias, esta definição torna-se de extrema relevância para deslinde do caso. Precipuamente, vê-torna-se concentrado nos Órgão Policiais o Poder de Polícia, tendo em vista a previsão constitucional positivada no artigo 144 da Carta Magna, que arrola as instituições policiais da seguinte maneira:

Art. 144 - A segurança pública, dever do Estado, direito e

responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares”.34

E, em seus parágrafos 1º e 4º, estabelece as competências das Polícias Judiciárias – Polícia Federal e Civil dos Estados – quais sejam:

33

Proposta da PEC 37-A com substitutivo, de do deputado relator, Fábio Trad. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1044684&filename=PRR+ 1+PEC03711+%3D%3E+PEC+37/2011> Consultado em: 11 mar. 2013

34

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: < http://www.dji.com.br/constituicao_federal/cf144.htm>. Acesso em: 23 out 2012.

§ - A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a

I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;

II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;

III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras

IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

§ 4º - Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. 35

Para que seja exercida tal atribuição, utiliza-se do instrumento Inquérito Policial, cuja competência é exclusiva da autoridade policial – do delegado

de polícia - para ser instaurado. Sabiamente, Denílson Feitoza (2008)36, sobre o

Inquérito Policial, defende:

“O inquérito policial é “mera peça informativa”, podendo o titular da ação penal ter elementos suficientes ao oferecimento da denúncia por outros meios, motivo pelo qual se diz que ele pode ser dispensado. (...) O inquérito policial, do ponto de vista prático, todavia, é de suma importância numa variedade enorme de casos, sem o qual nunca se conseguiria propor a ação penal. Ser uma “peça informativa”, quando comparado ao processo penal, em nada diminui o valor das autoridades policiais e de seus agentes, que é medido pela capacidade de realizar uma boa investigação, tampouco o valor do inquérito policial, que é medido pelo efetivo cumprimento das suas finalidades próprias”.

O objetivo é reunir elementos capazes de dar ensejo probatório de materialidade e autoria para a instrução de futuro processo penal, de forma a garantir a tangibilidade da verdade real – almejada no Processo Penal. Maria Sylvia Zanella di Pietro, inspirada em Álvaro Lazzarini, define esta competência á polícia judiciária de forma expressa, quando escreve:

“a linha de diferenciação está na ocorrência ou não de ilícito penal. Com efeito, quando atua na área do ilícito puramente administrativo

35

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: < http://www.dji.com.br/constituicao_federal/cf144.htm>. Acesso em: 23 out 2012.

36

FEITOZA, Denilson. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis: suplemento eletrônico da 5ª.edição. Niterói: Impetus, 2008

(preventiva ou repressivamente), a polícia é administrativa. Quando o ilícito penal é praticado, é a polícia judiciária que age.”

Por este motivo, a investigação deve ser feita por órgão imparcial ao processo penal, não integrante da lide, com vistas a garantir a integridade do órgão acusador e, principalmente, do julgador, atendendo aos princípios constitucionais e direitos fundamentais do cidadão. Basilares estes do Estado Democrático de Direito.

De outro lado, tão importante quanto analisar a competência das Polícias Judiciárias, é analisar a competência do Ministério Público, consolidada na

Constituição Federal do Brasil de 1988, no artigo 129, in verbis:

“Art. 129 - São funções institucionais do Ministério Público:

I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;

III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição;

V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;

VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;

VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior;

VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;

IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedadas a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.”37

O enfoque na discussão da PEC é dados aos incisos VI e VII, que, conforme votos dos parlamentares contrários á admissão da Proposta e dos pareceres de membros do MP, daria o poder investigatório. No entanto, é necessário que se atenha aos termos positivados na norma maior, quais sejam, “requisitar informações” e “requisitar diligências investigatórias e a instauração do inquérito policial” e não “coletar informações”, nem “instaurar inquérito”, nem mesmo “presidir investigações”, ou qualquer outra interpretação que faça tortuosos os efeitos da

37

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.dji.com.br/constituicao_federal/cf127a130.htm>. Acesso em: 23 out 2012

norma. Tal posicionamento encontra-se firmado nas palavras do Deputado Relator da PEC 37,:

“Da mesma maneira, afigura-se contrassenso reconhecer o MP como “efetivo gestor das diligências”, se a própria Constituição Federal apenas atribui ao MP o poder de “requisitar” as que entender necessárias, devendo, a tanto, indicar os fundamentos jurídicos da medida, portanto, suscetíveis até ao crivo de legalidade. Dessarte, muito menos se lhe pode admitir a palavra final, tanto na execução das diligências apuradoras quanto a respeito da necessidade do relatório conclusivo de investigação promovida pela autoridade policial, sob pena de substituir-se à polícia judiciária ou descaracterizar o trabalho desta.”

Compartilhando os argumentos de Cézar Bitencourt38:

“Alguns aspectos, nesse contexto, afastam interpretação que leve à admissão da possibilidade de o MP investigar diretamente: primeiramente, o fato de o CPP ter surgido em época em que se desconhecia a importância que o Ministério Público adquiriria no final do século XX; a dispensa do inquérito somente é autorizada se, ‘com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal’, significando dizer que a falta de tais elementos não autoriza a proposição da ação penal. E mais: nesses casos, não autoriza nem mesmo que o Ministério Público realize diretamente diligências complementares, além determinar que se abstenha de investigar ele próprio. Aliás, se o desejasse, seria a grande oportunidade para o legislador ter atribuído ao Parquet os discutidos ‘poderes investigatórios’, bastando ter consignado no texto legal o seguinte: ‘se com a representação não forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, o Ministério Público poderá diligenciar para obtê-los’.”

E também de Luis Roberto Barroso39:

“Parece fora de dúvida que o modelo instituído pela Constituição de 1988 não reservou ao Ministério Público o papel de protagonista da investigação penal. De fato, tal competência não decorre de nenhuma norma expressa, sendo certo que a função de polícia judiciária foi atribuída às Polícias Federal e Civil, com explícita referência, quanto a esta última, da incumbência de apuração de infrações penais, exceto as militares (art. 144, IV e § 4º)”.

Nesse contexto, não parece adequado reconhecer como natural o desempenho dessa atribuição específica pelo Ministério Público, com fundamento em normas constitucionais que dela não tratam (como é o caso do art. 129, I, VI, VII e VIII), especialmente quando o constituinte cuidou do tema de forma expressa em outro dispositivo (o art. 144). Pela mesma razão, não parece próprio extrair tal conclusão de

38

BITENCOURT, Cézar Roberto. A inconstitucionalidade da resolução n. 13 do Conselho Nacional do Ministério Público. São Paulo, 2007.

39

BARROSO, Luís Roberto. Investigação pelo Ministério Público: argumentos contrários e a favor: a síntese possível e necessária. Disponível em: <http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/7/docs/ parecer_barroso_-_investigacao_pelo_mp.pdf> Acesso em: 11 out 2012.

cláusulas gerais, como as que impõem ao Parquet a defesa da ordem jurídica e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, caput) ou ainda das que tratam da segurança pública como dever do Estado (art. 144, caput) e da dignidade humana (art. 1º, III).”

Observando esses entendimentos doutrinários citados, nota-se coerência entre o defendido pelos autores e a proposta do Relator da PEC, que, apesar de reservar os casos passíveis de investigações por órgãos administrativos, concentra a competência de investigação criminal não Polícias Judiciárias, dando ao Parquet aquilo que prevê a Constituição, a titularidade da ação penal pública – como autor/acusação –, a prerrogativa de ser custos legis e, ainda, o titular do controle externo das Polícias.

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