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CAPÍTULO 3: A PERSONALIZAÇÃO ATRAVÉS DA FLEXIBILIDADE

3.1 DA CONSTRUÇÃO MASSIFICADA À DEMANDA POR PERSONALIZAÇÃO

Em sua evolução, os sistemas industrializados de construção passaram por fases em que os resultados estéticos e compositivos não foram satisfatórios. Os primeiros sistemas pré-fabricados tinham como premissa de projeto a funcionalidade técnica, na qual prevalecia a rigidez das máquinas e processos de fabricação dos componentes, originando uma arquitetura pobre e repetitiva (SZÜCS, 2004).

Sendo assim, as virtudes da construção pré-fabricada ainda não são universalmente apreciadas. De acordo com Sydner e Catanese (1984), muitos veem o processo como levando a uma eventual desumanização da construção, quando reduz a escolha a um mínimo de componentes-padrão de tamanho e caráter limitados.

A Revolução Industrial influenciou todos os aspectos da vida humana. Passou-se a produzir milhões de produtos idênticos, ressaltando-se os seguintes conceitos: padronização, especialização, sincronização, concentração, maximização e centralização (CAMPANHOLO, 1999, apud BRANDÃO; HEINECK, 2007). Estas características tipificam e proporcionam a produção em massa. Os consumidores, por sua vez, aceitaram produtos padronizados, facilitando a redução de custos e a extensão do mercado, além de encorajar a demanda por produtos homogêneos.

Na era industrial, a tecnologia exerceu forte pressão para a padronização e a massificação, não apenas dos produtos, que não eram tão diversificados como atualmente, mas também do trabalho e serviços. Consumidores aceitaram produtos padronizados, encorajando a demanda de produtos homogêneos (FRUTOS; BORENSTEIN, 2001)

Nos anos 1970, ocorreram, no Brasil, as primeiras experiências de produção de habitações em escala, decorrentes do estímulo do Estado à introdução de inovações tecnológicas na atividade da construção civil. Paralelamente, no mesmo período, na Europa, a crise atingia o setor da construção civil, o que fez com que os sistemas industriais fechados começassem a dar lugar a sistemas abertos e mais flexíveis, capazes de atender melhor às novas características do mercado (BRANDÃO; HEINECK, 2007).

A França pode ser destacada como o país de maior pioneirismo na redefinição da industrialização para sistemas abertos, a partir da necessidade da garantir flexibilidade ao processo produtivo, para atender às novas exigências de diversificação do produto e de agilidade no atendimento a demandas heterogêneas (FARAH, 1990 apud BRANDÃO; HEINECK, 2007).

No Brasil, a construção de habitações passou a refletir certo esgotamento das alternativas de construções baseadas em grandes conjuntos habitacionais massificados. De acordo com Brandão e Heineck (2007), na indústria da construção, os métodos tradicionais de desenvolvimento e a produção de moradias, a partir do conceito de família média, vem desaparecendo. Cada vez mais as moradias são construídas para satisfazer famílias com estilos de vida particulares e necessidades específicas de equipamentos no lar. Os estilos de vida e os esquemas de trabalho tornaram-se cada vez mais individualizados e, por essa razão, um número cada vez maior de clientes deseja ver seus projetos desenvolvidos sobre bases individuais (BRANDÃO; HEINECK, 2007).

No início dos anos de 1980, o setor da construção civil passou a buscar responder às novas demandas de projetos flexíveis. Inicialmente respondendo aos segmentos mais altos da sociedade, neutralizava a falta de financiamento através do foco em clientes com maior poder aquisitivo, porém, mais exigentes. Este objetivo, especialmente em edifícios residenciais, levou as empresas do setor a se preocuparem com a qualidade e a flexibilidade, oferecendo alternativas de personalização nos projetos (BRANDÃO, 1997, 2002 apud BRANDÃO; HEINECK, 2007).

Atualmente, a sociedade é muito mais heterogênea que um século atrás e, consequentemente, com diferentes necessidades e desejos. A demanda por personalização é uma realidade comportamental que atinge diretamente o mercado como um todo, refletindo na indústria da construção civil e na prática da arquitetura (FRUTOS; BORENSTEIN, 2001).

Um número cada vez maior de consumidores deseja produtos personalizados que satisfaçam melhor suas preferências pessoais em vez de produtos projetados para um usuário médio anônimo. De acordo com Frutos e Borenstein (2001), esta tendência deve conduzir a uma participação crescente do cliente durante as etapas de projeto.

Várias forças convergiram para a personalização, tais como o elevado padrão socioeconômico de parte da população, que assim se tornou capaz de satisfazer anseios relativamente individualizados. Durante toda a era industrial, a tecnologia exerceu forte pressão para a padronização, não apenas dos produtos como do trabalho. Atualmente emerge uma nova tendência, que tem justamente o efeito oposto: “despadronizar” (CAMPANHOLO, 1999, apud BRANDÃO; HEINECK, 2007).

Caracterizada pela integração entre cliente e empresa – no projeto, produção, estratégia e serviços –, a customização de produtos e serviços representa hoje uma importante estratégia de negócios. Customizar – ou personalizar – um produto produzido em série, isto é, em massa, refere-se à habilidade de fornecer produtos e serviços projetados individualmente para cada usuário através de processo de grande flexibilidade e integração.

Davis (1989, apud FRUTOS; BORENSTEIN, 2001) define o conceito como a habilidade de fornecer produtos projetados individualmente para cada consumidor através de processos de grande agilidade, flexibilidade e integração.

Mesmo tendo origem em conceitos de administração de operações voltadas para produtos e serviços, a customização em massa vem sendo utilizada cada vez mais por empresas do setor da construção civil, especialmente em apartamentos e casas pré- fabricadas, já que se trata, também, de uma produção seriada. Segundo Frutos e Borenstein (2001), a customização do produto é de vital importância para a satisfação do usuário, cada vez mais desejoso de um espaço que ofereça exclusividade.

Customizar uma produção em massa está diretamente ligado às casas pré-fabricadas e à flexibilidade de projetos. Trata-se de um conceito sistêmico que envolve todos os aspectos de desenvolvimento, produção, distribuição do produto e venda. Ou seja, o ciclo completo entre a escolha de opções do cliente e a entrega do produto acabado.

Sendo a tendência da pré-fabricação da habitação uma realidade, o conceito de customização de massa emerge como uma alternativa importante para que as empresas do setor supram a demanda crescente por personalização, variedade e exclusividade. A customização surge não só como uma alternativa de diferenciação no sentido de mercado, mas também como uma forma de aproximação do

usuário, sendo uma maneira de oferecer liberdade de escolha para se chegar à solução mais próxima do ideal.

Neste sentido, torna-se essencial explorar as características existentes na relação entre o usuário e o ambiente construído, assim como os níveis de flexibilidade possíveis de serem incorporados a um projeto de uma casa pré-fabricada. O conceito de flexibilidade incorporado ao projeto será revisado a seguir.