• Nenhum resultado encontrado

Da contextualização do campo empírico à seleção das instituições participantes

Capítulo I – Das Opções Metodológicas ao Tratamento dos Dados Empíricos

1.4. Da contextualização do campo empírico à seleção das instituições participantes

1.4.1. Breve contextualização do campo empírico

Antes de explicitarmos a opção pelas instituições participantes e o modo como foram selecionadas, daremos a conhecer, nesta subsecção, o estado em que se encontra o concelho da Covilhã, no que à doença de Alzheimer diz respeito. Não pretendemos contextualizar exaustivamente este concelho, pois alguns traços caracterizadores já foram discutidos no enquadramento teórico.

O concelho da Covilhã é um dos onze municípios do distrito de Castelo Branco27 (Associação

Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), s.d.). Situa-se na região das Beiras e Serra da Estrela, sendo o concelho com mais habitantes desta região, segundo as estatísticas mais recentes28 do PORDATA (FFMS, 2017b). Este concelho é composto por 21 freguesias (Câmara

Municipal da Covilhã, s.d), possuindo uma população total residente de 48 463 indivíduos, em 2016, dos quais 12 591 são idosos e apenas 5 549 são jovens com idades até aos 14 anos, inclusive (FFMS, 2017b). Isto demonstra que a população idosa possui um peso considerável de entre a população total do concelho, representando sensivelmente um quarto da mesma, verificando-se também aqui o fenómeno do envelhecimento demográfico.

No sentido do que já foi salientado no enquadramento teórico, sabemos que as demências tendem a ser mais incidentes à medida que se avança na idade. De acordo com os dados providenciados pelo ACeS Cova da Beira29, cerca de 3 757 idosos possuíam alguma forma de

demência. Tendo por base o que é mencionado no estudo de Santana et al. (2015) e pela Alzheimer Portugal (2016a), em que a doença de Alzheimer representa cerca de 50% a 70% dos casos de demência, podemos estimar que cerca de 2 254 idosos do concelho possuam doença de Alzheimer. Isto traduz a importância e a premência de haver instituições que atendam às necessidades específicas destes idosos.

No que respeita ao âmbito da saúde, e mais especificamente em termos de CSP, o concelho da Covilhã dispõe de 25 extensões de saúde, que se encontram abrangidas pelo ACeS Cova da

27 “Belmonte; Castelo Branco; Covilhã; Fundão; Idanha-a-Nova; Oleiros; Penamacor; Proença-a-Nova;

Sertã; Vila de Rei; e Vila Velha de Ródão” (ANMP, s.d., s.p.).

28 Referentes ao ano de 2016.

Beira (FFMS, 2017e). Relativamente aos CSH, este concelho dispõe apenas de um hospital, que pertence ao SNS e que se denomina por Hospital Pêro da Covilhã (FFMS, 2016).

Relativamente às respostas sociais, nomeadamente as ERPI, devido aos motivos abordados no enquadramento teórico, mais especificamente na secção 2.2. e na subsecção 2.3.1., temos que no concelho da Covilhã existem no total 23 instituições com este tipo de valência. Destas 23, 4 são instituições lucrativas e 19 são instituições sem fins lucrativos (GEP/MTSSS, 2016). No seu conjunto, possuem 92730 indivíduos, dos quais 9230 idosos, possuem diagnóstico clínico

de Alzheimer. É de salientar que uma das ERPI sem fins lucrativos, o CCMP, dispõe de uma resposta vocacionada para indivíduos com esta doença ou com outras formas de demência. Por fim, no que respeita a instituições de apoio para idosos com doença de Alzheimer e seus cuidadores, existe apenas uma instituição, que é a Mutualista Covilhanense, que através do projeto “No Horizonte das Demências”, procura dar apoio tanto a indivíduos com esta doença, mas também com outras formas de demência, assim como aos seus cuidadores (Mutualista Covilhanense, 2017).

1.4.2. Instituições participantes

Sabendo que optámos pela metodologia qualitativa, a amostra, ao invés de ter sido definida previamente, ou seja, antes de irmos para o terreno, tal como ocorre nas investigações que privilegiam a metodologia quantitativa, foi sendo definida e construída gradualmente ao longo do processo de investigação social. Isto leva-nos a considerar que a “amostragem teórica”, ao nos permitir reajustar a amostra, conduz a que quaisquer alterações que possam ocorrer à medida que vamos penetrando no campo empírico, e que sejam significativas para o objeto de estudo, possam ser tidas em conta. Algo que sustenta o que foi mencionado anteriormente, está relacionado com o facto de termos tido conhecimento de um projeto denominado “No Horizonte das Demências”, tanto a partir do jornal online universitário da Beira Interior, URBI et ORBI, como da entrevista exploratória, tendo a instituição responsável pelo projeto sido contactada e entrevistada posteriormente. De modo a obtermos a maior variabilidade possível, no que respeita às instituições participantes, optámos pelo subtipo de “amostragem teórica”, denominado por “variação máxima” (Flick, 2009, pp. 117-122). Dando agora ênfase às instituições participantes e aos motivos que nos levaram a optar pelas mesmas, e não por outras, podemos salientar que no âmbito das respostas públicas, pretendemos compreender o modo como os CSP respondem ao fenómeno em questão, devido a atuarem numa lógica de proximidade. Para tal, destacamos o ACeS Cova da Beira, dado que congrega os CSP desta região, onde se inclui o concelho da Covilhã. Ainda no âmbito das

30 Estes dados provieram das 23 instituições existentes no concelho, aquando do contacto com as

respostas públicas, destacamos o Hospital Pêro da Covilhã, devido a congregar a resposta especializada e por ser o único existente, no concelho da Covilhã, em termos de CSH.

No que concerne às respostas sociais, optámos pelas ERPI, dados os motivos já salientados. Para além disto, optámos por instituições com e sem fins lucrativos, pois tal opção permite- nos confrontar o modo como cada instituição responde a estes idosos, consoante a sua natureza jurídica. O critério de seleção das ERPI, consoante a natureza jurídica, está diretamente relacionado com o maior número de idosos com diagnóstico de Alzheimer, pois partimos do pressuposto que são aquelas que nos podem providenciar informações mais detalhadas acerca dos propósitos da investigação. Importa referir, ainda, que aquando do pedido do número de idosos com doença de Alzheimer, a todas as ERPI do concelho da Covilhã, foi notória a incapacidade de uma resposta orientada para esses casos, por parte de algumas instituições. No total, foram entrevistadas cinco IPSS e duas instituições privadas, com valência de ERPI.

A Aldeia de São Francisco de Assis dispõe de uma resposta social que se insere no âmbito de atuação da Santa Casa da Misericórdia do Fundão (SCMF), cujas alterações recentes no equipamento social, visaram vocacionar a mesma para idosos com doença de Alzheimer ou com outras formas de demência. Assim sendo, pretendemos perceber as especificidades desta mesma resposta, assim como as necessidades que levaram a que a SCMF atuasse sobre esta freguesia, visto que se situa no concelho da Covilhã.

Considerámos ainda relevante obter a perspetiva da Mutualista Covilhanense, pois ao pretender implementar um projeto pioneiro, no concelho da Covilhã, denominado “No Horizonte das Demências”, cujo intuito é melhorar a qualidade de vida de pessoas com doença de Alzheimer ou com outras formas de demência, assim como dos seus cuidadores, reúne condições para nos providenciar informações específicas sobre este fenómeno.

Com o intuito de percebermos o modo como a única associação existente em Portugal, que foi especificamente concebida para melhorar a qualidade de vida de indivíduos com doença de Alzheimer ou com outras formas de demência, bem como para os seus cuidadores, responde a estes indivíduos, optámos pela delegação que abrange a região Centro. Considerámos ainda a possibilidade de fazer uma entrevista ao CAAV (Viseu), pois ao ser o gabinete de apoio da Alzheimer Portugal mais próximo do concelho da Covilhã, poderia eventualmente prestar algum tipo de apoio a idosos com doença de Alzheimer e/ou cuidadores. Contudo, foi-nos indicado que, segundo a sua base de dados, não foram contactados por ninguém do concelho da Covilhã, considerando-se por isso que não haveria informações complementares ou adicionais àquilo que nos foi dito pela Delegação Centro da Alzheimer Portugal.

Tendo em conta o que foi referido anteriormente, foram realizadas no total treze entrevistas, incluindo-se aqui a entrevista exploratória, sendo de salientar que em todas as instituições participantes foram recolhidas informações provenientes de apenas um representante das

mesmas. É perante a recolha destas informações, que se assume fundamental ter em consideração questões éticas, sendo que Gray (2009) e Bell (2010) declaram que estas também devem ser tidas em conta, tanto na fase que antecede a recolha de dados, ou seja, de planeamento, como na fase de análise e tratamento dos dados. O termo ética, segundo Boris Blumberg, Donald Cooper & Pamela Schindler (2005, p. 92), diz respeito a “princípios ou normas morais (…), que orientam escolhas morais acerca do nosso comportamento e da nossa relação com os outros”. Atualmente, estes mesmos princípios colocam-se de uma forma mais ampla e mais profunda na investigação em ciências sociais, pelo que ao se assumir como um processo complexo, exige determinados cuidados por parte do investigador (Albarello et al., 1997; Gray, 2009; Bell, 2010). As questões éticas, apesar de serem transversais a qualquer investigação, assumem uma tónica maior nas investigações qualitativas, sendo este o caso da presente investigação. Esta tónica deve-se ao facto de existir uma interação muito maior entre investigador e respondente, o que possibilita o acesso a informações muito mais pormenorizadas, de cada uma das instituições já referidas (Warren, 2002; Flick, 2009; Gray, 2009).

Tendo em conta as técnicas de recolha de informação utilizadas, para acedermos a estas mesmas informações, um dos primeiros princípios que tivemos em consideração, está relacionado com a importância de informar cada um dos entrevistados, nomeadamente: acerca dos objetivos do estudo; qual o seu contributo para o mesmo; qual a duração da entrevista; que a participação no estudo é totalmente voluntária, podendo colocar todas as questões relacionadas com o mesmo; que tem o direito de desistir da entrevista a qualquer momento; e que os dados recolhidos serão para uso exclusivo da dissertação (Gray, 2009; Bell, 2010). Foi tido igualmente em conta o cuidado de solicitar aos entrevistados a possibilidade de se usar um gravador, a fim de garantir que a informação a ser posteriormente transcrita correspondesse exatamente ao que foi proferido ao longo da entrevista (Ghiglione & Matalon, 1992; Albarello et al., 1997; Flick, 2009; Gray, 2009; Bell, 2010). Para além disto, considerámos desde a fase inicial da investigação, assegurar o anonimato de todos os entrevistados e, no caso das ERPI, assegurar consequentemente o anonimato da instituição. No entanto, no caso específico de uma das ERPI, o CCMP, concedemos à entrevistada a opção de dispensar o anonimato (que ela aceitou), pois a instituição em questão encontra-se a implementar uma resposta vocacionada para idosos com doença de Alzheimer ou com outras formas de demência. Ao assegurarmos, desde logo, o anonimato da mesma, ter-se-ia de ocultar diversas informações que são úteis para a interpretação do fenómeno em estudo. Resultante da entrevista com o CCMP, denotámos que alguns aspetos, referidos pela entrevistada, estavam relacionados com o provedor da SCMF. É de salientar que tais aspetos foram registados no diário de investigação. Embora o contacto com o provedor tivesse sido efetuado num momento anterior a esta entrevista, considerámos que assegurar, desde logo, o anonimato do mesmo, exigiria também a ocultação de algumas informações pertinentes, que podem ser interligadas com o conteúdo que foi mencionado

pela diretora técnica da instituição em questão. Deste modo, concedemos igualmente a opção de o mesmo dispensar o anonimato, o que foi feito pelo entrevistado. Relativamente à representante do serviço de neurologia do Hospital Pêro da Covilhã, considerámos que seria relevante conceder a opção de a mesma dispensar o anonimato (que ela aceitou), de modo a conseguirmos apresentar as especificidades da forma como este serviço responde a idosos com doença de Alzheimer e aos seus cuidadores, uma vez que percebemos, ao longo de várias entrevistas efetuadas, que este serviço era aquele que mais se destacava na prestação de cuidados de saúde especializados a estes idosos. Estes foram os pontos que tivemos em conta, aquando da elaboração dos consentimentos informados, tendo sido posteriormente assinados pelos entrevistados, a fim de garantirmos que as informações recolhidas fossem informações consentidas e informadas, por parte dos mesmos (Warren, 2002; Gray, 2009). É de salientar ainda, que nos casos em que não foi dispensado o anonimato, o consentimento informado continha a indicação de que seria garantido o anonimato (Anexo IV). No caso dos três entrevistados que dispensaram o anonimato, o consentimento informado possuía essa mesma indicação.

No caso específico da entrevista exploratória, esta ocorreu no mês de março e teve uma duração de trinta e seis minutos, sendo que relativamente à localização da entrevista, tivemos em conta o local mais conveniente para o(a) informante privilegiado(a).

As restantes entrevistas ocorreram entre os meses de maio e junho, do presente ano. A duração das mesmas variou entre trinta e três minutos e duas horas e três minutos, sendo que a duração média foi de uma hora e cinco minutos, aproximadamente. Relativamente ao local onde decorreram as entrevistas, tivemos igualmente em consideração o local mais conveniente a cada um dos entrevistados. Na sua grande maioria, as entrevistas ocorreram nas respetivas instituições, à exceção de uma das ERPI, da SCMF, e do Hospital Pêro da Covilhã. Neste último caso, a entrevista foi realizada por email, devido à indisponibilidade temporal por parte da representante do mesmo, para a realização de uma entrevista presencial.