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Da culpabilidade considerada nas penas de ROBERTO TEIXEIRA, FERNANDO

No documento Ministério Público Federal (páginas 93-95)

III.10 Contra a dosimetria da pena fixada na sentença recorrida

III.10.1 Oposição à análise do Juízo quanto às circunstancias judicais enumeradas no artigo

III.10.1.1 Da culpabilidade considerada nas penas de ROBERTO TEIXEIRA, FERNANDO

Na sentença combatida, a culpabilidade dos apelados ROBERTO TEIXEIRA, FERNANDO

BITTAR e PAULO GORDILHO, em relação aos delitos que lhes restaram imputados, foi considerada

neutra. No entanto, essa conclusão merece reparos.

Inicialmente, aponte-se que a “culpabilidade” ora em questão não se confunde com a elementar do crime de mesmo nome. De fato, a “culpabilidade”, enquanto desdobramento do princípio da culpabilidade, apresenta-se como princípio medidor de pena (objeto deste tópico), como princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva, e como elemento integrante do conceito analítico de crime.

No momento da aplicação da pena já não mais se investiga se o réu é ou não culpado (o que remontaria à culpabilidade dentro do conceito analítico de crime), pois isso já restou definido em momento anterior do julgado, mais precisamente na fundamentação da sentença.

Assim, a circunstância judicial atinente à culpabilidade se relaciona à censurabilidade da conduta, medindo o seu grau de reprovabilidade diante dos elementos concretos disponíveis no caso em julgamento. Deve-se, portanto, ser entendida como a reprovação social que o crime e o autor do fato merecem. Trata-se de um plus na reprovação da conduta do agente.

A culpabilidade, enquanto circunstância judicial, merece ser valorada de forma

exacerbada pelo nível de consciência da ilicitude, pelo alto grau de escolaridade, ou pela condição social do agente, ou quando esse, por suas condições pessoais, tem alto domínio sobre as implicações decorrentes do crime. Sob todos esses prismas, os apelados têm alta culpabilidade.

A consciência da ilicitude é irrefragável, já que se valeram de mecanismos financeiros para ocultar a corrupção e para praticar o crime de lavagem de capitais. Os apelados possuem excelente formação acadêmica e qualificação, com discernimento acima do homem médio. Ademais, o alto grau de escolaridade é patente, em face das posições profissionais que ocupavam. Decorrência desse lugar no campo de trabalho, as altas remunerações percebidas alçaram todos os apelados a uma condição social muito privilegiada dentro da sociedade brasileira.

Portanto, a culpabilidade de ROBERTO TEIXEIRA, FERNANDO BITTAR e PAULO

GORDILHO, além de ROGÉRIO AURÉLIO PIMENTEL, AGENOR MEDEIROS e LULA deve ser valorada

de modo fortemente negativo, tendo em vista o dolo e intenso dos agentes, dirigindo suas condutas à prática de diversos crimes, dentre eles, corrupção e lavagem de dinheiro, de forma reiterada.

Ainda no vetor culpabilidade, no aspecto reprovabilidade, os criminosos agiram com amplo espectro de livre-arbítrio. Não se trata de criminalidade de rua, influenciada pelo abuso de drogas ou pela falta de condições de emprego, ou famélica, decorrente da miséria econômica. São

pessoas abastadas, que ultrapassaram linhas morais sem qualquer tipo de adulteração de estado psíquico ou pressão, de caráter corporal, social ou psicológico.

Dessa forma, é idôneo o aumento da pena em virtude da ação delitiva ter criado entre os apelados um status de superioridade perante a lei, a coletividade e o patrimônio público.

Em face de um grupo de indivíduos que loteou os mais diversos setores da Administração Pública, a aplicação da lei não pode ser branda e neutra. Faz-se por necessário uma reprimenda em caráter específico a este sentimento de superioridade, como corolário inafastável do princípio da igualdade de todos perante a lei.

Destaque-se, finalmente, que esse e. Tribunal ao analisar as circunstâncias judiciais em face de LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, no julgamento da Apelação Criminal no bojo dos autos 5046512- 94.2016.4.04.7000, considerou que a pena do ex-presidente deveria ser majorada no tocante à vetorial da “culpabilidade”, em razão de LULA ter recebido valores ilícitos em razão da função no topo máximo da administração pública, pactuando com a concretização de graves crimes, o que indicaria a necessidade de uma censura acima da pena média prevista nos delitos.

No caso em exame, trata-se de ex-Presidente da República que recebeu valores em decorrência da função que exercia e do esquema de corrupção que se instaurou durante o exercício do mandato, com o qual se tornara tolerante e beneficiário. É de lembrar que a

eleição de um mandatário, em particular o Presidente da República, traz consigo a esperança de uma população em um melhor projeto de vida. Críticas merecem, portanto, todos aqueles que praticam atos destinados a trair os ideais republicanos, sem descuidar, por óbvio, que a corrupção aqui tratada está inserida em um contexto muito mais amplo e, assim, de efeitos perversos e difusos.

A culpabilidade, de fato, é elevada. (...)

Infelizmente, e reafirme-se, infelizmente, está sendo condenado um ex-Presidente da República, mas que praticou crime e pactuou, direta ou indiretamente, com a concretização de tantos outros, o que indica a necessidade de uma censura acima daquela que ordinariamente se firmaria na dosagem da reprimenda.

Se, at é o presente julgamento, para praticamente nenhum dos condenados a pena foi fixada sequer em seu grau médio (no caso, 7 anos), tenho que no presente caso esse limite deve ser no mínimo atingido (o que, aliás, ainda é uma aplicação bastante tímida das vetoriais do art. 59 do CP). Certamente a maior reprovabilidade da conduta sobressai da alta posição que o réu ocupava no sistema republicano.

Ademais, a sofisticação do esquema criminoso, o longo e articulado iter criminis, os diversos

mecanismos utilizados para alcance dos seus desideratos, o engenhoso procedimento para que os recursos fossem desviados rumo aos cofres de partidos políticos e de diversos agentes que davam sustentação ao esquema, estão a justificar um incremento na pena-base. A consciência da

ilicitude de sua conduta, sua condição pessoal de, então, Presidente da República, afora o elevado domínio sobre toda a cadeia delitiva, optando em dela fazer parte no lugar de atuar para debelá-la, como lhe exigia o cargo, são condições que importam em especial e elevadíssima reprovabilidade.

(Apelação criminal autos 5046512-94.2016.4.04.7000 – TRF4 – Relator JOÃO PEDRO GEBRAN NETO – destaque nosso)

Por tudo isso, a consideração da vetorial “culpabilidade” como negativa em relação aos apelados ROBERTO TEIXEIRA, FERNANDO BITTAR e PAULO GORDILHO, além de ROGÉRIO

AURÉLIO PIMENTEL e AGENOR MEDEIROS (conforme itens “III.1”,“III.2” e “III.4 e III.5”) das presentes

razões), é a medida que se impõe.

Além disso, requer-se seja majorado o quantum de pena aplicado em relação à vetorial “culpabidade” em face de LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA.

No documento Ministério Público Federal (páginas 93-95)