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PARTE III – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

7. INTERVENÇÕES E ANÁLISE DOS RESULTADOS

7.6 DA DITADURA À DEMOCRACIA: A GUERRA COLONIAL

Esta última experiência com fotografia surgiu como resultado de uma feliz coincidência. A colega de estágio Adriana Lopes ia trazer a realidade histórica para dentro da sala de aula através da história oral. Um ex-combatente da Guerra Colonial cedeu algumas imagens que foram passadas na aula e às quais os alunos fizeram questões, sem desconfiarem que o ex-combatente em causa estaria na sala para lhes responder a elas e lhes contar a sua experiência.

Assim sendo, a vinte e dois de abril, os alunos do 9º B, após um enquadramento contextual sobre o tema, observaram um conjunto de imagens de vários momentos de paz em tempo de guerra. Havia imagens de soldados portugueses em viagem para África, a prepararem refeições, em situações de reconhecimento e ação psicossocial com os nativos, a ensinarem a ler e escrever as populações, a darem medicamentos e em missões de reconhecimento de campo.

Cada um escreveu uma pergunta que gostaria de fazer ao ex-combatente que aparecia nas fotografias.

Da transcrição feita a todas as perguntas33, procedeu-se à análise de conteúdo, cujos resultados se podem observar na tabela que se segue:

33 v. Anexo E2, p. XLIX;

TABELA 10 – ANÁLISE DE CONTEÚDO DA QUESTÃO DA AULA DE HISTÓRIA O que gostarias de perguntar ao ex-combatente da fotografia se tivesses a oportunidade? CATEGORIAS SUBCATEGORIAS UNIDADES

DE REGISTO

FREQUÊNCIA

(número de itens presentes)

A. PRÉ-PARTICIPAÇÃO A-QH-1, 3, 11, 22 4 B. PARTICIPAÇÃO B1 VIDA QUOTIDIANA EM CONTEXTO DE GUERRA B1-QH-14, 19, 5 3 B2 RELAÇÕES DE AMIZADE B2-QHA-8, 21 2 B3 EXPERIÊNCIAS VIOLENTAS EM CONTEXTO DE GUERRA B3-QH-2 , 4, 6, 7, 9, 10, 12, 15, 17, 18, 20 11 C. PÓS PARTICIPAÇÃO C-QH-13, 16 2

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A maioria dos alunos estava curioso sobre a participação efetiva na guerra, apesar de terem surgido questões sobre o antes e o depois da guerra. Salienta-se que foram as perguntas ligadas às experiências violentas em contexto de guerra as que mais suscitavam interesse aos alunos (onze registos).

Os alunos gostam de entender o que as pessoas sentiram a vivenciar os acontecimentos, ou seja, aquilo que, normalmente, não aparece nos manuais ou é informação residual. Todas as questões tocaram nas sensações e emoções vividas. Como exemplo transcreve-se algumas perguntas: “Como se sentia enquanto estava a combater?” (QH-7), “Qual foi o seu maior medo ao ter de deixar Portugal?” (QH – 11); “Qual é a sensação de ter estado numa guerra sem sentido?” (QH - 16), “Qual foi a sensação de pegar numa arma de fogo? (QH – 17); “Do que mais sentia falta quando estava na guerra?” (QH – 19); “Na altura, os homens eram obrigados a ir para a Guerra Colonial, sem haver maneira de escapar. Qual era o seu sentimento? Sentia-se resignado por ter de partir para aquele conflito sem volta a dar, ou sentia-se revoltado?” (QH – 22).

As fotografias apelavam à curiosidade do que estava para além delas, do que escondiam os sorrisos dos combatentes e dos nativos. Uma realidade que felizmente não é a deles dançava perante os seus olhos. Não era um filme de guerra ou sobre a guerra, eram as memórias materiais de alguém que vivenciou o que eles desconhecem.

No momento em que a estagiária Adriana Lopes informou a turma de que poderiam fazer as perguntas diretamente ao ex-combatente das fotografias, a surpresa foi enorme. Ouviu-se alunos a exclamarem que não era possível e que não acreditavam. O convidado levantou-se e dirigiu-se para o quadro. Os alunos seguiram-no com os olhos, completamente atónitos e quando ele começou a contar a sua história, apoiando-se nas fotografias anteriormente visionadas, o silêncio imperava.

Foi muito interessante assistir a esse momento de partilha de histórias tão pessoais ligadas a um dos momentos mais tristes e marcantes do século XX português.

As fotografias ganharam vida através da voz de um dos protagonistas. A história oral tem um sabor especial para quem a ouve e foi isso que se sentiu na aula. O ex-combatente

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contou histórias caricatas e também revelou algumas mais tristes, próprias de um tempo de guerra.

Sem dúvida que a imagem parada integrada numa contextualização real passa a ganhar uma outra dimensão na aula. O fascínio que exerce a experiência relatada em aula enriquece o registo fotográfico e potencia uma relação diferente do aluno com as imagens.

Com esta aula foi possível fazer-se uma construção de pontes entre o passado estudado e o passado vivido, dando maior relevância e pertinência à disciplina de história, ao mesmo tempo possibilita o contacto com o passado, de forma direta, sem intermediários.

Desta forma, consegue-se fortalecer a conexão com a disciplina e o mundo real, trazendo as memórias das pessoas para dentro da sala de aula.

Na última questão do inquérito entregue a estes alunos, pedia-se para justificar o grau de concordância dado relativamente à afirmação: “Acredito que me vou recordar destas fotografias e dos assuntos que elas abordam”. O objectivo era perceber do ponto de vista deles, se consideravam que seria uma aula marcante. Dos vinte e dois alunos apenas um discordou da afirmação e um nem concordou nem discordou.

A partir das respostas dadas34 de concordância positiva em relação à afirmação, construiu-se a seguinte tabela:

TABELA 11 - ANÁLISE DE CONTEÚDO DA QUESTÃO 3.1 DO INQUÉRITO AO 9º B (referente às respostas de concordância positiva em relação à afirmação).

CATEGORIAS UNIDADES DE REGISTO FREQUÊNCIA (número de itens presentes) MEMÓRIA A-IH-1, 3, 4, 5, 8, 9, 10, 11, 12, 14, 15 11 COMPREENSÃO B-IH-1, 4, 5, 7, 16 5 ATENÇÃO C-IH-6 1 INTERESSE D-IH-6, 8, 13 3 34 v. Anexo D3, p. XLIII;

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A maioria dos inquiridos colocou a tónica na “Memória”, indicando que as fotografias ajudavam a lembrar assuntos. Um aluno escreveu que “uma fotografia fica mais gravada na memória do que palavras. Aliás, uma imagem vale mais do que mil palavras” (IH-3). Outro aluno refere que as fotografias podem ajudar na altura em que estão a realizar testes “Fotografias icónicas das várias épocas ajudam não só a memorizar, mas também a trazer memórias (evita as brancas durante os testes) ” (IH – 10). Um dos alunos particularizou o facto de ter visto “as fotografias e a pessoa que estava nelas a contar as suas histórias” e que, por isso, “ acho que me vou recordar durante muito tempo” (IH – 15).

Cinco alunos referiram que as fotografias ajudam na compreensão das matérias abordadas nas aulas, três alunos indicaram que as fotografias são interessantes e, por isso, é fácil recordar mais tarde. Um aluno esclareceu que se irá lembrar do que foi lecionado nas aulas, porque as fotografias chamam à atenção dos alunos.

Antes de se analisar a última experiência, que é sobre o uso da animação numa aula de Geografia, convém fazer um ponto da situação referente aos inquéritos sobre fotografia.

Já foram mencionadas referências várias, em resultado da análise estatística e de conteúdo dos inquéritos, relativamente a alguns pontos gerais sobre o uso da fotografia pelos alunos no seu dia-a-dia ou sobre aspetos específicos em cada intervenção.

Será este o momento de voltar aos inquéritos sobre fotografia, mais propriamente, às afirmações comuns nos inquéritos dados ao 9º ano35. Reconhecendo-se que cada experiência ofereceu diferentes níveis de aprendizagem, deseja-se perceber como foram acolhidas estas abordagens pelos alunos.

Convêm mencionar que os resultados gerais coincidiram com o resultados parciais de cada experiência, pelo que não se entendeu ser necessário individualizar cada uma.

Verificou-se que a maior parte dos alunos concordou ou concordou totalmente com as afirmações apresentadas, o que se revela bastante positivo, pois vai ao encontro do que se pretendia demonstrar sobre a importância que a fotografia pode ter na sala de aula.

De seguida, apresentam-se gráficos dos dados recolhidos e tratados estatisticamente:

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Gráfico 17

Fonte: Elaboração própria

Gráfico 18

Fonte: Elaboração própria

Gráfico 19

Fonte: Elaboração própria

Gráfico 20

Fonte: Elaboração própria

Gráfico 21

Fonte: Elaboração própria

Gráfico 22

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Como se pode concluir, na sua maioria os alunos entenderam que estiveram mais atentos por causa das fotografias apresentadas e que as aulas se tornaram mais interessantes por terem descoberto as histórias por detrás destas (gráficos 17 e 18).

Sublinhe-se que quando se afirma que a maioria concorda, tem de se apontar que nem todos concordam totalmente, ou seja, nem todos sentirem que a afirmação encerra uma verdade absoluta e haverá, provavelmente, nuances nas suas apreciações, que não os deixam à vontade para concordarem plenamente. Existe 5% de alunos que discordaram que a fotografia os tenha levado a estarem mais atentos, mas há a hipótese destes alunos pensarem que estariam atentos mesmo sem fotografias, o que é perfeitamente aceitável.

De acordo com os resultados representados nos gráficos 19 e 20, a esmagadora maioria dos estudantes concordou que as fotografias ajudam a compreender melhor os temas (94%). Igualmente, a maior parte dos alunos considera que se irá lembras das fotografias e dos temas abordados (91%).

Relativamente ao aspeto de terem vontade de falar sobre a aula no círculo de amigos e familiares, a situação altera-se ligeiramente, como se pode verificar observando o gráfico 21. A maioria (61%) concordou ou concordou totalmente com a afirmação 3 f), contudo 33% não sabe como se posicionar e 6% discorda mesmo. Nesta questão há uma componente que tem de se considerar: o diálogo entre pais e filhos. A possibilidade de não existirem hábitos de partilha pode ter influenciado esta resposta. Igualmente o facto de se colocar no mesmo “saco” familiares e amigos, numa altura em que os amigos têm uma importância tão grande para eles e boa parte poder já estar ali na sala de aula, a analisarem as fotografias, também pode ajudar a explicar estes resultados.

Por último, uma das alíneas das tabelas dos inquéritos era comum tanto aos inquéritos do 11º ano36 como os do 9º ano (gráfico 22 – alínea 3c). Uma vez que as turmas já tinham tido contacto com imagens fotográficas, esta afirmação serviu para entender como se posicionam em relação a elas e à aprendizagem. Os resultados foram positivos, mas 14% dos inquiridos ficou numa posição neutral, nem concordando que se aprende mais facilmente, nem discordando.

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