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Da escola enquanto comunidade escolar à realidade da escola

CAPÍTULO II – O CONTEXTO DE ATUAÇÃO

2.1. Da escola enquanto comunidade escolar à realidade da escola

No momento de hierarquizar as opções relativas ao estabelecimento de ensino para realizar o EP, defini, imediatamente, como primeira opção, a escola onde realizei o EP. Para além da proximidade da minha residência, para onde me mudei com 16 anos, toda a minha formação até à faculdade foi feita no concelho de Espinho.

A cultura desportiva na minha localidade é muito rica. Os clubes da cidade estão integrados em várias competições de diferentes modalidades a nível nacional e a sua praia é frequentemente palco de torneios mundiais e europeus de futebol e voleibol. A cidade dispõe de imensos meios, muito abrangentes, para que toda a população tenha oportunidades desportivas de fácil acesso e que se revela muito importante para a lecionação de EF na escola.

A nível da educação, a cidade está dividida em dois agrupamentos. Ambos apresentam oferta escolar desde o nível de ensino pré-escolar até ao ensino secundário, sendo que um engloba as escolas das zonas Sul e Oeste e o outro das zonas Norte e Este. Enquanto aluno, ou professor, já estive ligado a praticamente todas as escolas do concelho, com exceção de uma.

Durante o primeiro ano do MEEFEBS, aprendemos acerca da transformação dos conceitos de educação e de escola, bem como acerca da importância da investigação em educação neste percurso. A investigação no nosso país levou a que rapidamente se percebesse que o modelo de administração excessivamente centralizado se revelava desajustado à realidade. O conceito de escola como instituição que providencia condições para a prescrição de conteúdos listados no currículo tornou-se insuficiente para dar resposta a uma sociedade em constante evolução. Esta constatação revelou uma necessidade de rever as funções sociais, modelos de organização e gestão escolar, acabando por perceber que a escola não pode ser concebida sem o seu significado social e cultural (Torres, 2008). Iniciou-se, na década de 90, um percurso em busca de um modelo de organização escolar que partisse de um conceito de escola autónoma em vez de dependente, com decisões político-

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educativas e serviços técnicos descentralizados, respondendo a um currículo aberto. Passou-se, assim, a conceber a Escola como uma realidade social, uma comunidade e organização, cuja cultura é historicamente construída como fruto de uma relação dialética entre a estrutura e as interações humanas1.

Numa análise geral, posso afirmar que a escola onde realizei o EP se enquadra no conceito de escola com um significado cultural, que foi objeto de estudo na faculdade. A sua identidade tem por base os princípios e valores enunciados no Projeto Educativo do Agrupamento (PEA). Este documento foi elaborado como um plano a cumprir entre 2017 e 2020 e enuncia, entre outros pontos, a visão, missão e valores do agrupamento, identificando como principais áreas de intervenção a promoção do sucesso através de Aprendizagens de

Qualidade, atitudes e valores com vista a uma Cidadania Ativa e interação com

o contexto envolvente, representando uma Escola Aberta ao Mundo.

Durante o EP tive oportunidade de avaliar a relação entre os princípios enunciados neste documento e a realidade, e pareceu-me bastante ajustado. O agrupamento demonstrou ser unido nas tomadas de decisão e de atuação, e a interação entre as diferentes escolas é notável. Todas as escolas do agrupamento seguiam as mesmas linhas orientadoras enunciadas no seu projeto educativo e curricular.

Esta reunião foi o primeiro contacto que tive com o agrupamento enquanto comunidade educativa. Não sei como funciona noutras escolas ou noutros agrupamentos, mas, no contexto em que estive inserido, senti uma ligação muito forte entre os professores das escolas do agrupamento, indiciando ligações representativas da sua cultura.

1 Apontamentos das aulas da unidade curricular de Gestão e Cultura Organizacional da Escola do ano

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O PEA e o Projeto Curricular foram apresentados como documentos produzidos pela escola que têm como finalidade servi-la. Na minha ótica, esta organização faz todo o sentido. Acho que existe um bom equilíbrio entre a uniformização de princípios e valores que regem a conduta das escolas e a particularidade de cada uma.

Tendo como pressupostos base estes desígnios, no decurso do ano letivo, para além das funções que desempenhei na escola cooperante, também participei em algumas atividades que foram organizadas em conjunto com outras escolas do agrupamento como o corta-mato, a celebração do Dia da EF, as aulas que lecionámos a turmas do primeiro ciclo do ensino básico e as reuniões de departamento e grupo curricular realizadas com todos os professores da área disciplinar pertencentes ao agrupamento.

Embora integrada num contexto mais amplo, a escola cooperante produz uma cultura interna que a distingue das restantes. Acima de tudo, considero que se prima por ser uma “escola inclusiva”, que Cruz (2009, p. 23) define como “(…) uma escola de excelência para todos que enfatiza um processo educativo adaptável de forma flexível e direcionado para o ensino de todos alunos.”

Esta noção de escola inclusiva foi algo que verifiquei durante o EP. A escola tem como missão providenciar a todos os alunos contextos de aprendizagem que os preparem para serem cidadãos ativos e plenos no exercício da sua cidadania quando findarem a escolaridade obrigatória. Este conceito está muito distante de transmitir meramente conhecimento teórico e até muito longe do cenário de contextos de aprendizagem que sejam iguais para todos os alunos e que sintam que são tratados da mesma forma. Certamente que todos temos os nossos direitos e deveres, mas também temos a nossa identidade e singularidade. Considero extremamente importante e aplaudo a escola cooperante na sua organização e pelo seu esforço de tentar promover uma educação que vise uma igualdade em oportunidades de aprendizagem. Isto nota-se a vários níveis. Em primeiro lugar, na sua estruturação, pois a escola prima por providenciar um leque de opções muito amplo para os seus alunos, permitindo que cada um siga o caminho mais adequado para si. Em segundo, na forma de atuar dos seus profissionais, docentes e não docentes, que zelam

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pelo funcionamento da escola segundo um conjunto de princípios orientadores inscritos no PEA. No mesmo documento podemos constatar que, nas disciplinas com maior número de alunos inscritos, os resultados obtidos na avaliação externa são superiores à média nacional, o que, por si só, é um indicador de qualidade da escola. Por último, na participação dos alunos que dão uma resposta muito positiva às atividades organizadas.

Devo admitir que a minha curiosidade acerca da organização das escolas e do nosso sistema educativo foi apenas despoletada no ano passado. Fiquei com o coração muito acalorado na segunda semana do estágio quando participei em várias reuniões de diferentes níveis da escola. Toda a preparação realizada para a prática de um ensino de qualidade para todos, com uma identidade firme e coerente foi algo que me deixou bastante seguro e confiante no futuro da nossa educação.

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2.2. O departamento, o grupo de Educação Física e o