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da escola Porto: Porto Editora (151-165).

No documento Sentido(s) de ser professor em meio rural (páginas 171-200)

V i n h a i s , 10 de M a i o 2 0 0 1 L o c a l - S e d e da A s s o c i a ç ã o de P r o f e s s o r e s e E d u c a d o r e s de I n f â n c i a de V i n h a i s 1 5 : 0 0 H E s t a r e u n i ã o r e a l i z o u - s e c o m o o b j e c t i v o de r e f l e c t i r e a v a l i a r as a c ç õ e s e d u c a t i v a s d e s e n v o l v i d a s n o s d i a s 19 e 2 0 de A b r i l de 2 0 0 1 , em V i l a r de O s s o s e M o i m e n t a , no â m b i t o do P r o j e c t o de E s c o l a s R u r a i s . E x p l i c i t a n d o o q u e se p r e t e n d i a c o m e s t a r e u n i ã o , p r o c e d e u - s e à s u a g r a v a ç ã o , c o m o c o n h e c i m e n t o e a p r o v a ç ã o de t o d o s os p a r t i c i p a n t e s , no s e n t i d o de n ã o p e r d e r n e n h u m d o s d e p o i m e n t o s q u e f o s s e m s u r g i n d o . F o r a m l a n ç a d a s a l g u m a s p i s t a s p a r a d i s c u s s ã o , n o s e n t i d o de c o l o c a r a l g u m a o r d e m n o d e s e n r o l a r da d i s c u s s ã o . As p e s s o a s p r e s e n t e s f o r a m f a z e n d o , c o m e n t u s i a s m o , u m a r e t r o s p e c t i v a d o q u e se p a s s o u , a b o r d a n d o p o n t o s t a i s c o m o : De q u e f a l a r a m m a i s os a l u n o s d e p o i s do E n c o n t r o ; O q u e se r e v e l o u m a i s i m p o r t a n t e p a r a e l e s ; E n q u a n t o p r o f e s s o r a s n e s t a s a l d e i a s , o q u e foi m a i s s i g n i f i c a t i v o d u r a n t e e s t e s d o i s d i a s ; C o m o foi o r e l a c i o n a m e n t o c o m a p o p u l a ç ã o m a i s d i r e c t a m e n t e e n v o l v i d a ; A l t e r a ç õ e s n e s s e r e l a c i o n a m e n t o ( c a s o e x i s t a m ) a p ó s o E n c o n t r o O q u e r e p e t i a m ; O q u e c o r r i g i a m ; Q u e a c ç õ e s foi p o s s í v e l c o n t i n u a r a t r a b a l h a r n a e s c o l a ; I n t e r a c ç õ e s com o u t r o s a l u n o s e o u t r o s p r o f e s s o r e s . J C , C L , C, M, H, X , W, TR - P r o f e s s o r a s p a r t i c i p a n t e s n e s t a r e u n i ã o TRANSCRIÇÃO J C : C o m o s a b e m os m e u s m e n i n o s s ã o o s m e n o s , t u d o q u e s e j a s a i r p a r a e l e s é ó p t i m o , f i c a r a m m u i t o c a n s a d i n h o s m a s a t é o m e u p r ó p r i o B e t o c o i t a d i n h o , a i n d a c o n t i n u a a f a l a r e só t e m p e n a n ã o p e r t e n c e r a u m a t u r m a c o m o a de A m a r a n t e p a r a f a z e r t r a b a l h o s de g r u p o , os m e u s f i z e r a m um d e s e n h o s o b r e o a s s u n t o f i z e r a m u m a p e q u e n i n a c o m p o s i ç ã o e m a i s n a d a p o r q u e s ó s ã o d o i s . A m ã e d i z q u e f o r a m c a n s a d o s m a s m u i t o f e l i z e s p a r a c a s a . P e n s o q u e d o i s d i a s s e g u i d o s p a r a os m i ú d o s é m u i t o c a n s a t i v o m a s , a t e n d e n d o a q u e a l g u é m v e i o de f o r a e r a o p o s s í v e l . P o r t a n t o a c h o q u e h á m a i s a p o n t a r a s p e c t o s p o s i t i v o s do q u e n e g a t i v o s . A p a r t e do l i n h o g o s t a r a m t o d o s m u i t o t a m b é m foi n o v i d a d e p a r a os m e u s . F o i p e n a os m e n i n o s n ã o v e r e m a o r d e n h a m e c â n i c a . P e n s o q u e e s t e v e t u d o b e m o r g a n i z a d o . T R : Eu g r a n d e s , g r a n d e s c r í t i c a s n ã o t e n h o , a n ã o s e r e s s a q u e e l a j á f a l o u a da o r d e n h a m e c â n i c a . A m i s s a a c h o q u e e s t e v e m u i t í s s i m o b e m , as m i n h a s c r i a n ç a s n u n c a t i n h a m a s s i s t i d o a s s i m a u m a m i s s a . O I v a n , n u n c a t i n h a v i s t o o m o m e n t o do b e i j o d a p a z , q u a n d o foi do m o m e n t o d a p a z f i c o u . . . " a p a l e r m a d o " , e f i c o u de t a l m a n e i r a e x t a s i a d o com o b e i j o d a p a z , e l e n ã o b e i j o u n i n g u é m e l e n ã o b e i j o u n i n g u é m , p o r i s s o eu d i g o q u e p r i n c i p a l m e n t e i s s o v a l e u a p e n a e, e s t e v e m u i t í s s i m o b e m , o do l i n h o e s t e v e um e s p e c t á c u l o , e l e s f i z e r a m u m a c o m p o s i ç ã o c o l e c t i v a , f i z e r a m t a m b é m um

p r o n ú n c i a d e l e s , p r i n c i p a l m e n t e isso. Na Moimenta a ordenha das vacas é coisa que eles estão a c o s t u m a d o s a ver, lembro-me de um miúdo de Vilar de Ossos que estava sentado no muro e diz assim: "Oh! olha que esta, parece que nunca viram ordenhar uma vaca ." O folar estava uma d e l í c i a .

CL: Eu não esperava assim um lanche da escola do P e n s o . . .

C: As c r i a n ç a s conviveram com outras crianças de um meio d i f e r e n t e , s o b r e t u d o isso, e elas também se aperceberam disso, que eram crianças do meio urbano e que elas eram c r i a n ç a s do meio rural isso deu bem para ver essa diferença e g o s t a r a m .

EM: Eu acho que tanto um dia como o outro esteve óptimo nem pensamos que as mães p a r t i c i p a s s e m t a n t o , porque havia aquela i n d e c i s ã o , mas elas c o l a b o r a r a m , t r a b a l h a r a m e acho que não podiam fazer mais! Estiveram sempre d i s p o n í v e i s . Foi pena o e s p e c t á c u l o da noite não ter sido durante o dia para estar todos p r e s e n t e s , estiveram muito bem os meninos da Moimenta! ,a Paula a D. Judite e a freirinha que os ensaiou muito bem.

EM: Ainda hoje a minha Magda a minha pequena começou a cantar a canção que cantaram lá à n o i t e , ela e a D. Graça.

H: Tudo bem não a l t e r a v a nada.

C: Na escola até leram um artigo que foi p u b l i c a d o no j o r n a l "Voz do N o r d e s t e " tivemos acesso a esse j o r n a l e foi lido em voz alta para todas as c r i a n ç a s saiu uma reportagem que e x p l i c a v a em pormenor o t r a b a l h o r e a l i z a d o no 19 e 20, ficaram muito contentes em ver que vinham no j o r n a l , nunca tinham visto o nome deles no j o r n a l abriam os olhos para ver se, se viam na fotografia.

X: Em r e l a ç ã o às a c t i v i d a d e s do 19 e 20, eu falo por mim e pelos meus a l u n o s . Eu também a d o r e i , não c o n h e c i a a Moimenta, só conhecia a e n t r a d a , t i n h a estado lá uma vez mas não c o n h e c i a a q u e l a s coisa t o d a s , adorei conhecer as casas do Parque nem sabia que existiam e são e s p e c t a c u l a r e s , adorei aquela o p o r t u n i d a d e que tive de ir com vocês, por exemplo os moinhos eu adorei ir aos moinhos, foi muito p o s i t i v o não só para eles mas também para mim, eles ficaram e u f ó r i c o s , não são c r i a n ç a s que se manifestem muito, até são muito c a l a d a s e muito q u i e t a s , mas adoraram embora chegassem c a n s a d a s , porque foram dois d i a s , mas fora isso, gostaram m u i t o . As coisas que foram só para a l g u n s , entre a s p a s , n a q u e l a parte da noite devia ser para t o d o s , essa parte que vocês tiveram o p r i v i l e g i o essa parte da noite devia ser p r o g r a m a d a para toda a gente ver porque se os alunos se vêem pouco, se são muito q u i e t o s , ao ver outras c r i a n ç a s , a actuar e a fazer d e t e r m i n a d a s coisa, se calhar é uma forma de eles se motivarem a fazer e a c o n v i v e r . . . são pontos n e g a t i v o s na p o s i t i v a . . .não é uma c r i t i c a d e s t r u t i v a de futuro todos participam apesar de nós professores termos ainda mais t r a b a l h o , porque vamos ter as crianças j u n t o de nós , mas se calhar quando se p r e p a r a uma v i s i t a , uma saída, à p a r t i d a se entramos é para ter t r a b a l h o . Quando chegamos à escola e conversamos sobre isto e eu lhes contei que houve mais a c t i v i d a d e s eu notei que eles p r ó p r i o s apesar de se manifestarem p o u c o , ficaram com pena de não ter v i s t o . Quanto ao lanche no Penso, acho que correu bem, eu fiquei e s p a n t a d a com a p a r t i c i p a ç ã o dos pais ... disseram que tiveram pena que não t i v e s s e sido aberto a toda a a l d e i a ... ai a culpa também foi minha, eu não sabia à p a r t i d a como é que as coisas iriam c o r r e r , à p a r t i d a estava com o pé a t r á s , com medo, também não falei, eles também não, ninguém falou e no fundo... foi uma coisa que eles m a n i f e s t a r a m c o m i g o .

JC: Quem conheça as pessoas do Penso, elas mudaram o seu comportamento .. para c o n v i v e r com outras pessoas é-lhes d i f í c i l . Foi uma das coisas que a mim me i m p r e s s i o n o u porque à partida vocês falavam (...) e depois foi e x t r a o r d i n á r i o .

X: Ficaram muitíssimo contentes assim como o Presidente da Junta ficou f e l i c í s s i m o , a aldeia fica lá no fundo, só se vai lá de p r o p ó s i t o , não é uma aldeia que fique de p a s s a g e m , como eles naquele dia viram o largo da aldeia cheio, o que disse o P r e s i d e n t e da Junta foi que ficou emocionado de ver tanta criança porque numa a l d e i a que tem tão poucas e ver ali tanta criança a correr para a frente e para trás mexeu um pouco com a s e n s i b i l i d a d e dele.

TR: Não vês que havia ali o tronco da v a q u i n h a estava lá um miúdo e diz o D u l c í n i o : "Queres ver que eles não sabem para que serve a q u i l o ? " E diz-lhe o D u l c í n i o : " E n t ã o meninos para que serve i s s o ? " E ele respondeu "A mim também me queria p a r e c e r que isto servia para alguma c o i s a . "

X: Quanto às a c t i v i d a d e s p r o l o n g a d a s na escola fizemos uma composição c o l e c t i v a e uma carta cheia de boa d i s p o s i ç ã o e agora ficamos à espera da r e s p o s t a .

W: Isto tem muitos pontos p o s i t i v o s deu muito t r a b a l h o envolveu muita g e n t e , não foi difícil motivar as pessoas de Vilar de Ossos e quando se empenham, empenham- se e f e c t i v a m e n t e ! Houve uma falha em relação ao espaço para o almoço, j á reuni com as mães e já falamos nisso. Em relação às pessoas que t r a b a l h a r a m imenso em Vilar de O s s o s , antes pouco ou nada as conhecia e agora digamos que as fiquei a conhecer melhor. Elas agora tratam-me de maneira diferente e isso é bom! Nunca me trataram mal, mas agora digamos que estou mais próxima d e l a s , j á não sou só a senhora p r o f e s s o r a , já estou ali de igual para i g u a l . Para o ano vou embora isto é uma chatice

os meus g a r o t o s , para eles foi o melhor do mundo adoraram tudo que fizeram em Vilar de Ossos as a c t i v i d a d e s na Moimenta, e m b o r a . . . olha agora mugir uma vaca! até parece que nunca vimos. Foi o teu Fábio? p e r g u n t a a J a c i n t a . Eu também nunca t i n h a v i s t a diz a Teresa, eu já tinha visto mugir ovelhas vacas não.

W: O local escolhido para eles dançarem foi e s p e c t a c u l a r , aquele j a r d i m é uma pena estar como está, devo a c r e s c e n t a r que ali a menina Fátima rebentou com a t o r n e i r a .

FA: Eu vi aquela t o r n e i r a j á tão a n t i g a tão velha que disse, deixa ver se isto ainda f u n c i o n a . . .

W: Antes da festa eu pedi e n c a r e c i d a m e n t e limparem o j a r d i m ! E de facto l i m p a r a m - n o para aquele dia... o que para mim foi uma v i t ó r i a . Em relação à Moimenta eu adorei os m o i n h o s . Os meus miúdos c o n t i n u a m a falar com muito empenho querem saber quando lhes levo o filme e as fotografias , viram-se na TV e todos gravaram. Eles queriam repetir querem voltar a fazer, os de 4° ano dizem que têm pena no próximo ano j á não andam a e s t u d a r . . .

M: Faço minhas as palavras de t o d a s .

FA: Os meus alunos adoraram os dois dias gostaram dos buxos de Vilar de Ossos e do ciclo do linho, na Moimenta gostaram muito daquela casa t í p i c a em granito em frente ao r e s t a u r a n t e , gostaram muito de ver a flor do linho que não conheciam só dizem que também gostavam de conhecer A m a r a n t e .

também estou um bocado d e p e n d e n t e dele, de qualquer forma, eu meto-me de cabeça e procuro que as coisas saiam o melhor p o s s í v e l . Em relação à Quinta da e d u c a ç ã o , se é que isto tem pernas para andar, e nós já vimos que tem, eu prevejo a Quinta da E d u c a ç ã o nuns moldes l i g e i r a m e n t e d i f e r e n t e s , a Quinta da Educação não pode ser apenas dois dias tem que ser no mínimo uma semana, e esta semana tem que englobar não só a componente lúdica, ou c u l t u r a l , ou enfim... mas também a componente do c o n h e c i m e n t o ... c o g n i t i v o e e n t ã o , eu vejo a Quinta da Educação assim.

TR: O ano p a s s a d o , d e s c u l p a lá i n t e r r o m p e r - t e , o ano passado falou-se nesse s e n t i d o , até se falou nessa semana os miúdos que viriam de fora, iriam à escola ... nós seríamos professoras dos nossos meninos mas também dos o u t r o s .

W: É essa a minha ideia, essa é a minha ideia.

M: Mas depois lá está a d e s t a b i l i z a ç ã o da c l a s s e , é p r e c i s o contar com isso.-.é que a gente recebe ... eu lá nisso não estou bem, bem de acordo, eu agora nem queria falar porque estou na a p o s e n t a ç ã o eu deveria estar calada , mas já viu o que é nós r e c e b e r m o s um aluno duma colega que naquele dia faltou, ou dois alunos ou três a l u n o s , realmente aquele aluno depois vai ser o centro das atenções dos o u t r o s , acaba por aquele não ter p r o v e i t o porque realmente está d e s l o c a d o , e os outros também não têm proveito porque está ali um aluno que não pertence à mesma turma, porque é verdade olhe que aqui fala uma e x p e r i ê n c i a já de há longos anos e olhe que realmente isso não dá grandes r e s u l t a d o s e se nós vamos muito nestas coisa acabamos por ter alunos que entram nas u n i v e r s i d a d e s e dão erros como p o r t a s , querem fazer problemas e não sabem, querem fazer equações e não sabem r e s o l v ê - l a s , olhe que é muito difícil isso, eu parece-me eu p a r e c e - m e . . .

TR: A D. Maria José fala j á com uma e x p e r i ê n c i a , eu estou a começar mas acho pelo menos e x p e r i m e n t a r , fazer a e x p e r i ê n c i a , ver porque as coisas às vezes podemos pensar que são de d e t e r m i n a d o modo e depois até acabam por ser d i f e r e n t e .

M: Nem oito nem o i t e n t a .

W: Olhe, D. Maria José, eu j á vivi essa e x p e r i ê n c i a , p o r t a n t o , nós vivemos essa e x p e r i ê n c i a com meninos do d e s p o r t o escolar , então durante uma semana uma turma veio do Algarve e foi uma turma da Serra da estrela para o Algarve e d u r a n t e a manhã ou durante a tarde depende da turma em que foram i n t e g r a d o s tinham aulas c u r r i c u l a r e s normais e durante a tarde ou manhã faziam a c t i v i d a d e s de âmbito d e s p o r t i v o e cultural e g a r a n t o - l h e que nunca mais eles vão esquecer isso e não deixaram de ter as aulas e deram o programa que tinham que dar durante aquela semana.

TR: Com estes encontros as pessoas aprenderam a v a l o r i z a r mais a própria escola.

X: A própria professora que j á não tem o valor que t i n h a a t r a d i ç ã o j á não é o que era.

TR: Aquela professora que entra e sai para ir à aldeia dar a u l a s , j á não pode ser só isso !

JC: Lá está o que dizia a Mara que as pessoas da aldeia estão a vê-la de outra maneira.

X: Nós temos de nos c o n v e n c e r , hoje em dia, cada vez mais a escola é diferente... mais aberta... com mais a c t i v i d a d e s extra e s c o l a r e s , fora das paredes da

W: Nós somos obrigados a ser muito mais que a professora lá da terra, cada vez mais a escola está aberta à comunidade e... é à comunidade que nós vamos buscar as a p r e n d i z a g e n s que os miúdos vão desenvolver e ampliar.

M: Mas nunca deixemos de ser a professora de lá da terra!

W: Nunca, eu vou ser professora sempre em toda a minha vida , mesmo reformada.

FA: Estes encontros são muito bons é tudo muito bonito só que os programas são extensos demais nós chegamos a meio do ano e o programa ainda ... onde é que ele anda.

TR: Muitas vezes nós podemos estar dentro de uma sala de aula, as crianças estarem ali as cinco horas d i r e i t i n h a s e sem fazer nada! Assim como muitas vezes podemos vir cá para fora com elas e, podem aprender muito! É preciso nós a r t i c u l a r m o s estas c o i s a s .

Entrevista realizada em Vilar de Ossos, concelho de Vinhais, às 19:00h do dia 30 de Julho de 2 0 0 1 .

(W) - e n t r e v i s t a d a (M) - e n t r e v i s t a d o r

TRANSCRIÇÃO

M: Quantos anos do teu percurso profissional foram vividos em meio rural?

W: Eu comecei a trabalhar em 82/83 e até 89/90 trabalhei no meio rural com excepção de três anos em que estive na cidade, portanto em Bragança, depois estive nove anos no Desporto Escolar e agora regressei à base, portanto e por opção eu escolhi uma escola do meio rural para recomeçar a minha actividade docente, eu podia ter ido para Macedo, que eu apanhava em Macedo na cidade, e não quis, fiz o meu concurso de maneira a que ficasse em Vinhais, concelho de Vinhais no meio rural.

M: E porquê no meio rural?

W: É mais aliciante trabalhar em meio rural, as pessoas são muito mais puras, mais genuinas, ainda não aprenderam a disfarçar as emoções... enquanto que na cidade, mesmo sendo uma cidade pequena, as pessoas são muito mais reservadas muito, mais camufladas, usam mais máscaras de acordo com as situações e esse foi um dos motivos que me levou a escolher o meio rural.

M: Porque é que tu dizes que as pessoas nas aldeias são mais autenticas, não aprenderam ainda a usar máscara, que atitudes por parte delas te levam a verificar isso?

W: Digamos que se dão, as pessoas em meio rural de maneira geral, dão-se quando falas com elas, elas têm um sorriso um... acolhimento diferente, convidam-te logo para ir a casa, não é!... e dizem: - O senhora professora quando quiser quando precisar de alguma coisa é só... é só entrar, nem sequer precisa fazer mais nada: - Olhe quer que lhe leve um cafezinho, olhe diga lá então... veja lá se precisa de alguma coisa. Interessam-se por nós, interessam-se pelo nosso bem estar e... não são metediças, não é... mas se por ventura lhes chega aos ouvidos que na nossa vida... portanto há algum problema de saúde interessam-se verdadeiramente, genuinamente por ele e perguntam sempre que nos encontram: .- Olhe então como vai o seu marido? E a sua sogra está melhor? Portanto e... na cidade já não é... sei lá... claro há excepções obviamente, também não posso dizer que as pessoas da cidade são... máscaras autenticas, que não são, mas... mas já são mais metidas consigo mesmas, portanto tentam viver a sua vida de maneira a tirar dela, das atitudes que tomam, consequências benéficas para a resolução dos seus problemas.

M: Das tuas palavras depreendo que de facto aqui há uma cultura que é diferente. Identificas-te com esta cultura rural?

W: Vamos ver... eu sou... eu nasci numa aldeia, não vivi lá muito tempo... a minha vivência é citadina, numa das maiores cidades do mundo, que é S. Paulo onde estudei e vivi acho que os anos mais importantes da minha vida, porque foi aquela fase portanto... da infância e a adolescência, portanto até, até uma pessoa se tornar adulta,

e s t a r e s com os a m i g o s . . . e só ao fim-de-semana aliviares um b o c a d i n h o e e n c o n t r a r e s - te com e l e s , e... quando cheguei cá, quando r e g r e s s e i , isto para mim foi o... o p a r a í s o , p o r t a n t o f o i . . . o e n c o n t r a - m e , primeiro com esta beleza que eu acho que é l i n d i s s i m a a p a i s a g e m é e s p l e n d o r o s a , e depois com a abertura das p e s s o a s , com o a c o l h i m e n t o das p e s s o a s , com elas meterem-te no c o r a ç ã o , não é, e... e n t r e g a r e m - s e algumas sem r e s e r v a s .

M: Esse a c o l h i m e n t o , estás a r e f e r i - t e , c o n c r e t a m e n t e , às aldeias por onde tens p a s s a d o ?

W: Sim porque eu quando c h e g u e i . . . em Bragança e mesmo em V i n h a i s . . . p r o n t o ! isto é a minha vida p a r t i c u l a r eu não sei se aqui tem algum fundamento estar a referi- la, m a s . . . senti algumas d i f i c u l d a d e s de a d a p t a ç ã o porque sentia-me i n c o m p r e e n d i d a , e... como eu falava com s o t a q u e , não é, e l e s . . . talvez tivessem uma ideia muito n e g a t i v a das mulheres b r a s i l e i r a s e eu vim sozinha p o r t a n t o , sem pai nem mãe, claro e... senti b a s t a n t e , chorei muitas lágrimas nos primeiros tempos porque foi muito difícil a d a p t a r - m e . . . e na aldeia quando eu comecei a t r a b a l h a r senti-me a b s o l u t a m e n t e a p o i a d a , p o r t a n t o as pessoas achavam graça, achavam muito engraçado o meu sotaque e, e ficavam e m b e b i d a s a olhar para mim, p o r t a n t o e a ouvir-me falar, e diz que gostavam de muito de me ouvir falar... e eu fui c o l o c a d a numa a l d e i a z i n h a p o r t a n t o na Lomba, em V i n h a i s , que é Vale de F r a d e s . R e c e b e r a m - m e , fiquei lá em casa de uns s e n h o r e s , r e c e b e r a m - m e como filha, fiquei lá a viver durante o período todo em que estive lá, p o r t a n t o eu estive lá no primeiro ano e no segundo ano, o meu segundo ano de t r a b a l h o foi todo em F r a d e s , p o r t a n t o . . . eu voltei porque adorei estar lá e... e pronto a c o l h e r a m - me de tal forma que de certa forma compensaram a saudade que eu tinha da minha mãe do meu pai dos meus irmãos e o meu i s o l a m e n t o porque r e a l m e n t e uma rapariga novita a i n d a , m e t e r - s e numa a l d e i a z i n h a pequenina... sair de uma cidade que tem neste momento 17 milhões de p e s s o a s , e r e a l m e n t e eu s e n t i - m e . . . claro não vou dizer que e s q u e c i t u d o , mas senti-me a p o i a d a , b a s t a n t e a p o i a d a .

M: Olha e então, r e p o r t a n d o - n o s a esses anos e até mesmo a este ano que e s t i v e s t e em Vilar de O s s o s , alguma vez te s e n t i s t e só na tua escola?

W: Vamos lá ver... a h . . . eu gosto imenso das c r i a n ç a s , não 6?... p o r t a n t o só não me s e n t i , senti que tinha poucos r e c u r s o s , ah... senti é... que talvez se tivesse uma escola maior com colegas e com mais alunos p o d e r í a m o s desenvolver um tipo de t r a b a l h o que só com 7 alunos e um professor é mais difícil de r e a l i z a r , não é, mas s o z i n h a , s o z i n h a não sozinha nunca me s e n t i , a g o r a . . . gostei b a s t a n t e sempre das a c t i v i d a d e s que desenvolvemos ao longo, ao longo do ano e em conjunto com os outros colegas e com os alunos deles.

M: Mesmo não te s e n t i n d o só, s e n t i s t e alguma vez n e c e s s i d a d e de sair para fora da escola?

W: Ah!... saía muitas vezes com os m e n i n o s .

M: Para a aldeia, dentro da aldeia ou para fora da aldeia?

W: Dentro da aldeia e p o r t a n t o e campo, sim i s s o , mas isso faz p a r t e . . . eu gosto de t r a b a l h a r assim, acho que às vezes ensinamos mais saindo do que fechadas dentro de quatro p a r e d e s , não é?

M: E achas que a aldeia pode oferecer alguma coisa no aspecto e d u c a t i v o ? W: Eu acho que pode oferecer i m e n s o , sei lá... eu acho que pode oferecer t a n t o

a s p e c t o a h ! . . . bem isso para os miúdos não é n o v i d a d e , eles conhecem e sabem a vida que se faz aqui sabem a realidade que têm e que vivem no dia a dia, agora eu!... posso dizer que aprendi imenso, eu!, também o facto d e . . . como é que eu hei-de dizer, de a l e r t a r as c r i a n ç a s para determinados aspectos da vida da aldeia, que eles todos os dias passam e não reparam, tirar daí ilações que nos permitam fazer a i n t e r d i s c i p l i n a r i d a d e com todas as matérias acho que é fundamental, não é metido dentro de quatro paredes que um professor consegue os melhor r e s u l t a d o s !

M: Então qual achas que deve ser o papel do professor nestes c o n t e x t o s ? W: O professor deve ser um d i n a m i z a d o r , educador, um elo de ligação entre a e n t i d a d e educação e a realidade que nos e n v o l v e , devemos chamar sempre a comunidade para a e s c o l a , não pensarmos que somos a a u t o r i d a d e e lá na nossa escola mandamos nós, sem i n t e r f e r ê n c i a s . . . isso não! Isso não funciona.

M: O que é para ti chamar a comunidade para a escola?

W: Realizar a c t i v i d a d e s com a ajuda da comunidade onde a comunidade esteja e n v o l v i d a , que sejam as pessoas a i n t e r v i r j u n t a m e n t e connosco e não ficarmos no nosso p e d e s t a l , mas falar com as pessoas de igual para igual, e x p l i c a n d o sem s u b t e r f ú g i o s , aquilo que pretendemos fazer e a partir daí t r a b a l h a r em conjunto com c o m u n i d a d e : p a i s , a l u n o s . . . para mim a v e r d a d e i r a escola, funciona assim!

M: Eu sei que tiveste esta e x p e r i ê n c i a , este ano, envolveste m u i t í s s i m o as pessoas da aldeia e elas c o l a b o r a r a m de uma forma e x c e p c i o n a l como tu sabes e como foi visto por t o d o s . Diz-me, quando tu s o l i c i t a s t e , por exemplo ao Sr. Daniel para ele fazer a r e p r e s e n t a ç ã o do ciclo do l i n h o , como é que ele reagiu? W: Feliz, ficou feliz!

M: Ficou surpreso como é que ele se manifestou?

W: Primeiro ficou feliz porque era uma coisa que ele tinha efectivamente vontade de fazer, ele tem as coisas em casa e i n t e r e s s a - s e por essas coisas e ficou c o n t e n t e quando eu lhe falei, mas também depois referiu que: - Olhe Sr.* professora é pena que nem todos sejam como a Sr." p r o f e s s o r a e é pena que não volte para cá para o ano, se não voltar, p o r q u e . . . se voltasse nós até éramos capazes de r e v i t a l i z a r o rancho que cá t i v e m o s . . . e claro que isso deixou-me a mim m u i t o , muito feliz também, p o r t a n t o eles apanharam a ideia com mais força ainda do que eu!.

M: Alguma vez notaste algum r e c e i o da parte d e l e s , receio de falhar?

W: Há s e m p r e . . . - Ó Sr." p r o f e s s o r a , e se agora não sai bem? e eu... - Oh! Sr. Daniel sai, vai ver que sai tudo l i n d a m e n t e não se preocupe que vai correr tudo muito bem. Ah... p r o n t o , claro que há! há um certo r e c e i o porque eles querem dar o melhor.

M: E da parte dos m i ú d o s , o facto verem pessoas daqui da aldeia a c o n t r i b u i r com os seus saberes e a sua c u l t u r a , na escola ao lado da professora?

W: Os miúdos estavam e u f ó r i c o s , p o r t a n t o para eles isto foi ó p t i m o . . . eles estavam a ensaiar lá na garagem do Sr. D a n i e l . . . nem j a n t a v a m . . . queriam era ir para lá e n s a i a r , queriam aprender a dançar e ficavam lá até à meia n o i t e , eu vim várias vezes e ficava lá com eles.

M: O q u o t i d i a n o dos teus alunos alguma vez c o n d i c i o n o u ou orientou o tipo de prática pedagógica que tu fazes?

M: Se tens em conta as v i v ê n c i a s deles?

W: Claro! C l a r o . Se nós temos um meio tão rico e o d e s a p r o v e i t a m o s , eu acho que é ser pouco i n t e l i g e n t e ! Há que tirar partido das a c t i v i d a d e s que eles desenvolvem... das t r a d i ç õ e s . . . , t i r a r daí ilações para desenvolver o programa que temos que dar, eu procuro sempre que possível fazer isso e i n c e n t i v a r as pessoas a c o n t i n u a r d e t e r m i n a d a s p r á t i c a s . Tinha uma aluna que a mãe ao invés de matar o porco comprava a carne e fazia o fumeiro. Agora já diz: - não, nunca mais f a ç o . . . eu vou a partir de agora criar e matar.

M: Nessa p e r s p e c t i v a achas que é importante existir harmonia entre o saber da escola e a vida dos alunos?

W: Sem dúvida nenhuma, aliás a vida dos alunos ah... c o n d i c i o n a a sua a p r e n d i z a g e m , não é! nós sabemos que se um aluno tem uma vida muito difícil uma vida falha de c a r i n h o , uma vida cheia de t r a b a l h o , na escola não pode ter os mesmos r e s u l t a d o s que uma criança com as condições senão óptimas pelo menos boas não é! e nós não podemos nunca abdicar de conhecer a vida deles, sei l á . . . o a m b i e n t e familiar t u d o , t u d o , tudo, porque isso c o n d i c i o n a a aprendizagem de uma maneira q u e . . . que pode s e r . . . sei lá!... que é p r i m o r d i a l , digamos assim, se uma c r i a n ç a não tem em casa o apoio que deve ter, se tem um a m b i e n t e familiar d e g r a d a d o , a não ser que seja uma e x c e p ç ã o ! . . . não pode ser um bom aluno ou, ou tem mais d i f i c u l d a d e s que o u t r o .

M: Sei que este ano tiveste 7 c r i a n ç a s , como foi essa e x p e r i ê n c i a ?

W: Ora bem, eu considero que quantos mais alunos houver há uma maior r i q u e z a , não é! d e . . . v i v ê n c i a s eu, com 7 alunos p o r t a n t o não me posso q u e i x a r , a g o r a . . . não me posso queixar m u i t o , porque é mais t r a b a l h o s o para nós, porque nó temos que preparar ao invés de um programa, p o r t a n t o temos que p r e p a r a r quatro p r o g r a m a s , se temos alunos de Io, 2° 3o e 4o anos temos muito mais t r a b a l h o embora

sejam poucos a l u n o s , não é ! p o r t a n t o . . . eu achava que por um lado é muito bom que houvesse mais c r i a n ç a s com mais v i v ê n c i a s , que se pode e x p l o r a r melhor p o r t a n t o , a g o r a . . . por outro l a d o . . . eu acho que t i r á - l o s do seu meio, do seu meio a m b i e n t e , do que j á se falou não é! de c o n c e n t r a r c r i a n ç a s numa d e t e r m i n a d a l o c a l i d a d e , r e t i r á - l o s do seu meio ambiente é p r e j u d i c i a l para e l e s , porque s e n t e m - s e d e s e n r a i z a d o s eu sei bem o que isso é ! por i s s o . . . eu sei lá... é uma faca de dois gumes.

M: Mas c o n c r e t a m e n t e a a l d e i a pode oferecer coisa, neste a s p e c t o , tu já falaste de algumas, que e v e n t u a l m e n t e poderão fazer face ao facto de serem poucas c r i a n ç a s , sair da escola por exemplo?

W: Sim e nós t r a b a l h a m o s nesse â m b i t o . Este ano t i v e r a m muitas v i v ê n c i a s , não se limitaram a estar e n c e r r a d o s dentro da escola com a p r o f e s s o r a : tiveram muitos contactos com outras c r i a n ç a s , i n c l u s i v e na matança do porco tivemos a vinda daquela turma de Bragança e na outra a c t i v i d a d e que d e s e n v o l v e m o s , quando fizemos o folar, tivemos a vinda dos miúdos de A m a r a n t e que têm outra r e a l i d a d e muito diferente da

No documento Sentido(s) de ser professor em meio rural (páginas 171-200)

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