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Lista de Acrónimos

I. Justificativa da temática do estudo

2. Senhora dos Montes Ermos

2.3. Da humildade à precisão – Necessidades do presente

A ermida da Senhora dos Montes Ermos é desenhada sob uma lógica de geometria regular.

Configurações básicas, como a quadrangular, circular e triangular estão, notavelmente, presentes no delinear geral de todas as peças constituíntes do santuário.

Seguindo a lógica das escadarias15 presentes no Santuário do Bom Jesus em Braga, no Santuário de Nossa Senhora dos Remédios em Lamego ou no Santuário de Nossa Senhora da Assunção em Vilas Boas, Vila Flor, a capela da Senhora dos Montes Ermos está situada do cume de um monte, circundado por um recinto murado em pedra com configuração circular, que é acessível por uma rampa, antecedida por sete degraus, ocupado com elementos naturais, nomeadamente pinheiro manso e sobreiro. No seu interior, e em torno do muro, roseiras e aloe vera, plantadas numa floreira contínua. Ainda em torno do recinto, aparecem plantadas especies arbóreas como o plátano e o pinheiro manso.

Dentro do recinto, encontra-se mobiliário urbano como mesas e bancos, em xisto e betão, localizados aleatóriamente, que dão aos visitantes a possibilidade de uma refeição à sombra de sobreiros. Dois tocheiros, de construção popular, recentemente substituídos em 2018, que ladeam a capela, são apoiados pela estátua da Rainha da Paz, que invoca a personalidade que se adora no local, a Virgem Maria. Imagem em matéria de cor branca, implantada a uma cota acessível aos visitantes, interliga-se com a luminosidade transmitida pela capela.

A capela, de planta quadrângular, pintada a branco pelo exterior, é marcada pelo beiral em xisto que prolonga a cobertura do mesmo material, embora rebocada e pintada a branco, até à fachada,

15 As escadarias estão profundamente ligadas à intermediação entre o Céu e a Terra, à ascensão e à evolução de natureza espiritual, em que os seus degraus representam as várias etapas a ultrapassar para se atingir o divino (Editora, 2003-2020).

Figura 54 - Vista Interior do Santuário, 2019 Arquivo de autor

Figura 55 - Vista exterior da capela, 2019 Arquivo de autor

Figura 53 - Vista Exterior do Santuário, 2019 Arquivo de autor

Figura 56 - Vista interior da capela - cúpula, 2019 Arquivo de autor

evitando um envelhecimento acelarado das paredes por ação das águas pluviais. As paredes, pelo interior, apresentam-se revestidas a azulejos brancos pintados com temas a azul, que se ligam à cúpula pintada de azul ciano através de arcos em relevo que se unem nas interseções das paredes.

Interseções essas, que se revelam como elementos de destaque pelas suas pinturas em tons rosados. Cada parede alberga um nicho, fechado com portadas em madeira e vidro, e apoiado por um pedestal. O pedestal principal, dedicado a Nossa Senhora dos Montes Ermos, alberga a imagem da mesma e as imagens de Santa Teresinha, Senhora da Aparecida, S. Brás, S. Nuno e uma imagem de Cristo crucificado. No pedestal lateral Oeste estão as imagens de S. José, Santa.

Luzia, Senhora de Lourdes, Sagrado Coração de Jesus, Santa. Eufémia e Santo. Expedito, enquanto que o pedestal lateral Este acolhe as imagens de Santa. Rita, Santa Bárbara, Senhora do Rosário de Fátima, Rainha Santa Isabel e Santo Benedito. Todos os pedestais são em madeira pintada a branco e contam com apontamentos relacionados com figuras celestiais em talha dourada.

De modo geral, todas as imagens e pedestais apresentam-se num processo de degradação, pelo que carecem de restauro, para se evitarem perdas de partes da história, bem como das caracteristicas originais. Para além das imagens a que se prestam culto, existem alfaias religiosas que servem para adornar e embelezar os pedestais, bem como auxiliar nas celebrações religiosas.

Este expólio é constituído por quatro castiçais em prata, quatro em cobre e um em estanho, dois Quadro 2 - Organização interior da capela

Pedestal Principal

Nossa Senhora dos Montes Ermos

Santa Teresinha S. Brás

N.S. Aparecida S. Nuno

P. Lateral Oeste Cristo Crucificado P. Lateral Este

S. José Santa Rita

candeeiros a cera em prata, duas jarras em prata, duas em cobre e um quadro com a história da capela (Anexo I).

O acesso à capela é feito, única e exclusivamente, através de uma porta de ferro que, recentemente, foi alterada para uma melhor contemplação das imagens e reforçada com uma porta de vidro pelo interior. As imagens podem ser contempladas, ainda, através de dois pequenos vãos, gradeados, no mesmo plano que a porta. Esta fachada é, assim, desenhada pela composição dos vãos e um conjunto de ajulejos com uma oração a Nossa Senhora da autoria de António Ferreira (Anexo III).

Do mesmo género, outro painel de azulejos com um poema da autoria de Rosária de Jesus Morgado, entitulado de “Devoção a Nossa Senhora dos Montes-Ermos” (Anexo IV), faz parte da composição da entrada no recinto. Esta é composta por duas colunas de granito trabalhado, encerradas com um portão de ferro, e antecedidas pelos sete degraus, também em granito.

Perto do recinto, embora no seu exterior, encontra-se uma cruz, com aproximadamente seis metros de altura, em granito branco polido, que se acompanha por um letreiro em xisto onde anuncia o nome do espaço.

A circulação automóvel no espaço assume-se como um elemento bastante marcado uma vez que é permitido ao redor do recinto murado bem como a diferentes zonas do lugar, feita por caminhos mistos, destinados tanto aos peões como aos automóveis, em asfalto ladeado com guardas em esteios de madeira.

Para além da capela no centro do recinto murado e da cruz alta em granito, existe um edificio a localizado fora do recinto murado, a Este, destinado a arrumação de material de tratamento dos espaços exteriores do santuários, apresentando valor arquitetónico e patrimonial nulo.

Figura 59 – Nicho Lateral Este,

O Santuário de Nossa Senhora dos Montes Ermos é o lugar de encontro e reencontro entre Nossa Senhora e os seus devotos e de alguma forma, o centro dos encontros e reencontros de pessoas e dos freixenistas. Sendo assim considerado, faz com que ao longo dos anos tenha vindo a ser alvo de algumas alterações e melhoramentos por parte da Junta de Freguesia de Freixo de Espada à Cinta, entidade responsável pelo zelo e manutenção.

Quadro 3 - Cronograma das intervenções no local (Pintado F. A., Nossa Senhora dos Montes Ermos, 1998, p. 105)

Data Intervenção

1987 Melhoramentos da Capela e Recinto

8 de julho de 1992 Instalação de eletricidade no recinto e envolvente 19 de agosto de 1992 Instalação de água no recinto e envolvente

1993 Plantação de árvores no recinto e envolvente 1994 Alcatroamento da estrada que liga o Recinto a Freixo

1995 Aquisição de Pinhal

1997 Lajeamento da capela, reparação do muro do recinto e outros serviços

2018 Substituição dos tocheiros

2019 Substituição da porta da Capela e colocação da imagem de N. Sª da Paz no Recinto

No entanto, algumas destas intervenções têm, também, outras entidades associadas. É o caso da Comissão Fabriqueira de Freixo de Espada à Cinta que, a 14 de agosto de 1988, vê o seu presidente, o Padre João António de Barros, assinar a ‘Candidatura para Comparticipação na Instalação de Equipamentos de Utilização Colectiva’ (Anexo V) enviada à Secretaria de Estado de Figura 61 - Santuário de Nossa Senhora dos Montes Ermos, Vista

Administração Local e do Ordenamento do Território, no valor de 2.300.000 escudos (11500 euros, atualmente), para a reparação e ampliação da capela da Senhora dos Montes Ermos.

Também é o caso da Câmara Municipal de Freixo, que durante o mandato de Edgar Gata16, segundo o mesmo (2020), ajudou na instalação de um marco de água, em arranjos na envolvente da capela, na intervenção de alargamento do caminho, ao encaminhamento das águas pluviais, construção de muros e instalação de iluminação pública. Segundo Edgar (2020), a Câmara Municipal tentava ao máximo não interferir com as decisões e trabalhos da Junta de Freguesia, considerando as intervenções realizadas pelo senhor Ferreira, presidente da Junta de Freguesia durante o seu mandato, ações positivas para a organização e embelezamento da zona.

Nos dias de hoje, esta forma de trabalhar por parte do munícipio e da junta de freguesia ainda se mantém muito presente. No entanto, é a hierarquia da Igreja que tenta, de alguma forma, ajudar e influênciar no desenvolvimento e investimento no espaço. Desta forma, Francisco Pimparel17 (2020), salienta, segundo a sua perspetiva, que o espaço foi sendo mais ou menos cuidado ao longo dos tempos, contudo, pode ser feito muito mais, sobretudo na conjugação da arte e a liturgia e, desta forma, ajudar as pessoas nas suas caminhadas até à ermida. Reforça que o espaço se preparava para receber uma intervenção a esse nível, porém, com a sua mudança de paróquia, não sabe qual o desenvolvimento da situação.

Fazendo alusão aos Santuários da Diocese, Francisco (2020), faz referência ao Santuário de Nossa Senhora da Assunção em Vila Flor, uma das Sete Irmãs, como referência a nivel de intervenção no forúm litúrgico e artístico, com o qual salienta a necessidade de um espaço próprio onde possa ser celebrada a eucaristia. Evoca, ainda, a carência de símbolos e sinais que ajudem as pessoas a meditar e rezar, sobretudo ao longo do caminh,o desde a povoação até à ermida. Ainda em alusão ao Santuário da Senhora da Assunção, diz que espaços de acolhimento também fazem falta. O mesmo ponto de vista é tomado por Margarida Manta18 (2020), dizendo que a existência de espaços de convívio, onde se possa servir um almoço, possa ajudar a que o santuário fique na mira para encontros diocesanos, por exemplo. Exemplifica com o Santuário dos Cerejais, no concelho de Alfandêga da Fé, onde todos os anos se fazem peregrinações, encontros de formação litúrgica ou os encontros diocesanos. Para além desse espaço, sublinha que poderiam existir outros, como para formação, polivalentes, que se transformassem de acordo com a necessidade. Um espaço para a celebração da eucaristia também é visto em falta por esta senhora, que aponta ser imprescindível, sem esquecer o restauro da capelinha, nomeadamente os pedestais, as imagens dos santos e santas e, com a mesma importância, melhorar a aparência exterior, que se encontra

16 Edgar Gata, licenciado em Gestão, pós-graduado em Relações Interculturais, professor de matemática aposentado e, atualmente, presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros de Freixo de Espada à Cinta, foi presidente do executivo autárquico da Câmara Municipal de Freixo de Espada à Cinta durante os anos entre 1998 e 2006, completando dois mandatos.

17 Francisco Normando Lourenço Pimparel, ordenado a 10 de julho de 1999, atualmente Diretor Diocesano das Obras Missionárias Pontificas, Membro do Conselho Presbiteral e Pároco “in Solidum” das paróquias da Unidade Pastoral da Senhora da Assunção, arciprestado de Torre de Moncorvo, foi Pároco nas paróquias da Unidade Pastoral de Nossa Senhora dos Montes Ermos nos anos entre 2012 e 2019

18 Margarida Manta, funcionária da Santa Casa da Misericórdia de Freixo de Espada à Cinta, é a zeladora da capela de Nossa Senhora dos Montes Ermos desde 2009 até à atualidade.

muito degradada. Sublinha, também, a necessidade de uma solução que permita aos utilizadores do espaço uma melhor capacidade de adoração da imagem de Nossa Senhora uma vez que devido ao material da porta não ser o mais adequado e à orientação da capela – a Sul – a incidência da luz solar torna impossível a visualização.

Muitas são as necessidades e carências apresentadas por quem visita e utiliza o santuário. Com tantas necessidades apresentadas, poder-se-à acreditar que a população vê na ermida da Senhora dos Montes Ermos, a nova Fátima. Lugares de culto e oração, lugares de formação e pastoral, lugares de memória e cultura. Capelas, igrejas ou basílicas, museus, auditórios e centros pastorais.

Lares e abrigos para os peregrinos.

Será desta realidade que a ermida da Senhora dos Montes Ermos carece?

Será necessário transformar a ermida da Senhora dos Montes Ermos desta forma para que os peregrinos a vivenciem de forma mais adequada à sua função?

Será necessário retirar toda a humildade e simplicidade do espaço, para fazer com que a arquitetura ajude na integração da Virgem dos Montes Ermos na Irmandade das 7 Irmãs, 7 Senhoras?