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5 O PROCESSO AVALIATIVO DA PARTICIPAÇÃO: ENTRE O

5.2 Da institucionalidade técnica

A composição do corpus da institucionalidade técnica se deu por meio de três interlocutores, um para cada gestão.

Figura 21 – Dendograma de Classificação Hierárquica Descendente das Classes: Técnicos

Fonte: Elaborada pela autora por meio do software Iramuteq.

O corpus geral foi constituído por três textos. O conteúdo analisado foi categorizado em quatro classes. A classe 1 (vermelho) com 30,8%; classe 2 (verde) com 31,1%; classe 3 (azul claro) com 22,3% e classe 4 (roxo) com 15,8%. Ficou constatado que existem duas ramificações, nas quais a classe 1 e 3 estão agrupadas e próximas da classe 2 e a classe 4 aparece isolada. Abaixo, segue outra estrutura gráfica para melhor compreensão do entendimento dos técnicos sobre a referida política.

Fonte: Elaborada pela autora por meio do software Iramuteq.

O corpus da institucionalidade técnica, quando visualizado através de um filograma de palavras, apresentou as principais palavras e os vocabulários semelhantes entre si e diferentes entre as demais classes, como foi possível verificar na Figura 22 logo acima.

A classe 1 (vermelho) apresentou uma construção de palavras associadas. Nessa composição estão as palavras “orçamento participativo”, “gestões” (Lins e Roberto Cláudio) e “participação”. Nesse conjunto de textos, um dos interlocutores, técnico D, pertencente à primeira gestão de Lins revelou que “No orçamento participativo tudo vem da comunidade. A demanda é apontada pela comunidade. Quem diz o que é preciso para a sua região, para a sua comunidade é o pessoal que está lá. Não era a prefeita [...]” (ENTREVISTA REALIZADA EM MARÇO DE 2018).

O técnico E, da segunda gestão Lins, indicou que a população tem que se empoderar, “Ela tem que tomar consciência que pode intervir na gestão do município e a forma dela intervir é ela participando da gestão. Aprender o que é um orçamento público, aprender o que é um plano plurianual”. Porém, para ele “É muito baixo o grau de participação” (ENTREVISTA REALIZADA EM ABRIL DE 2018).

Para o técnico F, da terceira gestão (Roberto Cláudio), o OP pode até ter sido uma política pública da gestão de Lins, no entanto, “Levavam-se várias pessoas das comunidades

para um determinado ginásio, determinado local, e lá eles aclamavam uma demanda. Essas demandas não saíram do papel. Não conheço, pelo menos no Grande Bom Jardim, que eu moro no Grande Bom Jardim há 49 anos" (ENTREVISTA REALIZADA EM MARÇO DE 2018).

Na classe 2 estão, entre as palavras mais fortes, “agente de cidadania”, “reunião” e “regional”. Nessa classe, percebeu-se como já foi internalizado o termo “agente de cidadania”, que pelo Regimento anterior chamava “delegado”. O técnico D, da primeira gestão, via o agente de cidadania como “Eu não sei se essa pessoa recebe, mas ela passa, ela era vereador do bairro, não tem outras palavras, então isso é cooptação [...]”.

A palavra regional surge porque em ambas as gestões existiam uma equipe do OP/participação social em cada uma das sete regionais, excetuando-se, na gestão de Roberto Cláudio, a regional do Centro. Tendo em vista que posto de saúde apareceu nessa classe, o mesmo interlocutor informou do problema acerca dessas demandas.

Era o maior problema da cidade, era saúde, o pessoal era super mal atendido, não tinha para onde ir, então assim foi uma chuva de pedido para o posto. O então secretário Odorico resolveu aprovar. Ah, a comunidade tal, é posto, a prioridade é posto. Resultado, gerou problema até o final do mandato da Luizianne Lins, a questão do posto de saúde (ENTREVISTA TÉCNICO D, 2018).

As palavras associadas à classe 3 foram “pessoal”, “viabilidade” e “recurso”. Um grave problema encontrado a partir desse conjunto de palavras e, em especial, na palavra “pessoal”, é que os interlocutores que trabalhavam nessa política pública eram terceirizados ou comissionados, situação análoga à condição da categoria dos gestores. Estava associada à comunidade quando essa fazia suas reivindicações. “Viabilidade” e “recurso” estão diretamente associadas, sendo a possibilidade de execução das demandas.

Para a classe 4, as palavras que foram mais mencionadas estavam relacionadas aos bairros do território do Grande Bom Jardim e suas respectivas especificidades. Se o técnico F, da gestão Roberto Cláudio, informou que as demandas nunca foram atendidas, percebeu-se uma discrepância de entendimento quando observado o que relatou o técnico D, que afirmou sobre o OP que “A briga do Jerônimo e companhia lá no Jardim Jatobá fez com que eles transformassem a cidade. Bom Jardim, Jatobá foi eu acho que 90% ou mais, 90% asfaltado, mais pavimento com o orçamento participativo”. Declarou também que a “[...] Regional V, ela sempre foi a que teve menos recursos destinados no orçamento do município. É a mais pobre, é a mais carente de recursos [...]” (ENTREVISTA TÉCNICO D, 2018).

Fonte: Elaborada pela autora por meio do software Iramuteq.

As informações dos técnicos entrevistados – quando dimensionado no plano cartesiano, conforme Figura 23 – apresentam às quatro classificações para distância, proximidade e convergência entre as classes. Percebe-se um aglomerado entre três classes e o distanciamento de uma. A classe 1 (vermelho) possui relação com as classes 2 (verde), 3 (azul claro) e 4 (roxa). A classe 2 (verde) aproxima-se somente da classe 1 (vermelho). Já a classe 3 (azul claro) tem uma fraca associação com as classes 1 (vermelho) e 4 (roxo) e uma muito fraca associação com a classe 2 (verde). A classe 4 (roxo) possui ligação somente com a classe 2 (verde).

As palavras de maior destaque na classe 1 (vermelho), que nomeamos de “Gestões” foram: “orçamento participativo”, “gestão” (Lins e Roberto Cláudio) e “participação”. Já na classe 2 (verde) identificada de “Agente de cidadania” há “reunião”, “regional” e “saúde”. A classe 3 (azul claro) classificada de “Recursos humanos e financeiros” conta com “pessoal”, “viabilidade” e “recurso”. Na classe 4 (roxo) denominada de “GJB” estão “Grande Bom Jardim” e “Granja Portugal”.

Figura 24 - Análise de Similitude: Técnicos

Fonte: Elaborada pela autora por meio do software Iramuteq.

A árvore de semelhanças dos técnicos institucionais possui eixo central protagonizado pela palavra “orçamento”, onde existe quatro divisões: “gestão”, “participação”, “demanda”, “quer”. Pode-se deduzir pelo gráfico que o maior aglomerado está na ramificação de “demandas” e que o termo “orçamento” condiz com a prerrogativa do grupo analisado. Compreendemos, portanto, a problemática existente entre o curto orçamento e as demandas, inclusive já identificada no grupo de gestores analisado anteriormente.

Fonte: Elaborada pela autora por meio do software Iramuteq.

É possível por meio do desenho da nuvem de palavras dos técnicos, visualizar que as palavras “orçamento” e “demanda” são as principais indutoras dos discursos. Revelam ainda a discrepância entre um orçamento limitado para demandas infinitas. Isso demonstra a pouca atuação do poder público na comunidade do GBJ.

Pelo exposto, compreendemos que existe uma contradição nos argumentos dos técnicos quanto a feitura das obras, bem como em relação à participação. Essa participação foi entendida ora somente como aclamação de demandas, as quais não foram executadas, ora como participação efetiva que culminou no atendimento das respectivas demandas, embora tenha havido um baixo grau de participação.