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Da partilha da previdência privada com entidade aberta em fase de

No documento MESTRADO EM DIREITO CIVIL SÃO PAULO 2010 (páginas 161-166)

Capítulo 4. Partilha da previdência privada na dissolução do casamento ou da união

4.2. Da partilha do capital da previdência privada com entidade aberta

4.2.2. Da partilha da previdência privada com entidade aberta em fase de

Caso o contrato de benefícios previdenciários já se encontre totalmente formado ao tempo da separação, os valores deverão ser partilhados igualmente, salvo se, não forem constituídos em todo o período por ambos ou ainda haja prova de sub-rogação de bens particulares356, pois neste caso o benefício deverá ser proporcional aos valores pagos onerosamente durante a união. Encontrando-se a porcentagem devida ao cônjuge não titular,

contraprestação, caráter alimentar. Assim, ainda que fosse possível interpretação extensiva, não estaria a verba abrangida pela impenhorabilidade prevista no art. 649, IV, do Código de Processo Civil”.

354 Art. 475-B parágrafo 2º do Código de Processo Civil (Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973). 355 Artigo 130 do Código de Processo Civil.

356 A prova é necessária, ante a presunção que os bens adquiridos durante a união são advindos de esforço

deverá ser oficiado para que a entidade aberta realize os pagamentos mensais de forma proporcional ao cálculo encontrado, por se tratar de renda comum, advindo de investimento comum.

Alternativamente, poderá o titular do plano preferir compensar o cônjuge não titular com bens suficientes para igualar a partilha, evitando a comunicação do benefício, mas neste caso deverá o magistrado, ouvindo a parte interessada, decidir de forma a preservar o cônjuge credor, verificando se os bens oferecidos poderão substituir a renda, se são suficientes para assegurar o cônjuge naquele caso específico, sob pena de indeferimento pela natureza do instituto357.

As mesmas observações deverão ser realizadas caso os cônjuges possuam cada um plano de benefício previdenciário próprio, ambos em fase de recebimentos dos benefícios, em que a renda de um deles é superior ao do outro, porque deverão somar as quantias e dividi-las igualmente, caso tenham sido integralmente constituídas de forma onerosa durante a união.

Caso o valor das contribuições, ou de ao menos uma delas, tenham sido parcialmente realizadas com patrimônio próprio, a avaliação deverá ser realizada no intuito de encontrar o valor partilhável, para que possam as rendas corresponder à efetiva meação do patrimônio comum. Constatado que os benefícios mensais se equivalem, cada um permanecerá com contrato sob a sua titularidade.

357 A previsão legal contida no parágrafo único do artigo 1.574 do Código Civil da autonomia para o

magistrado não homologar acordo, quando se tratar de “proteger” um dos cônjuges. A renda previdenciária é securitária e deve ser mantida quando imprescindível para o desenvolvimento digno da pessoa. O juiz deverá examinar o caso concreto para verificar a viabilidade do pedido. Caso não tenha prejuízo ao cônjuge credor, o juiz homologará a substituição de bens pelo crédito.

4.2.2.1 Da morte do titular do plano em fase de recebimento das verbas

Necessária reflexão se dá quanto à morte do titular do plano, na hipótese que o ex-cônjuge recebe parte da renda, pois os benefícios poderão cessar caso o plano previdenciário não preveja a continuidade da obrigação após o falecimento358.

Ainda que haja no plano de previdência expressa previsão de pagamento de renda após a morte do participante, não há garantia de recebimento pelo ex-cônjuge, visto que o beneficiário contido na apólice é designado previamente e, dependendo do contrato, poderá ser alterado a qualquer momento. Neste caso, o cônjuge titular fica impedido de desvirtuar a condenação, modificando a porcentagem recebida pelo cônjuge não titular, advindo de divisão de patrimônio conforme determinada a partilha, sob pena de, com o falecimento do titular, frustrar a finalidade do investimento. Para tanto deverá restar consignada na apólice restrição exclusiva de alteração de beneficiário.

Frise-se que em qualquer caso deverá ser respeitado o plano aderido pelo titular, por se tratar de um contrato de risco, em que o cálculo da renda está englobado no sistema financeiro dos planos359.

358 O participante pode optar por planos que com a sua morte a renda se extingue que consistem na “RENDA MENSAL VITALÍCIA: renda paga vitaliciamente ao Participante a partir da data de concessão do

benefício RENDA MENSAL TEMPORÁRIA: consiste na renda paga temporária e exclusivamente ao participante. O benefício cessa com o seu falecimento ou o fim da temporariedade contratada, o que ocorrer primeiro” in <http://www.susep.gov.br/menuatendimento/previdencia_aberta_consumidor.asp#planopgbl>.

359 As reservas técnicas, as provisões e os fundos de cada plano de benefícios, bem assim os exigíveis a

qualquer título, deverão atender permanentemente à cobertura integral dos compromissos assumidos pelo plano de benefícios. Por isso, exige a lei que, com base em critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, o cálculo das reservas técnicas atenda às peculiaridades de cada plano de benefícios, devendo constar de nota técnica que mencione as hipóteses atuariais utilizadas, as quais devem “guardar relação com

É certo que esta solução parece ter o mesmo resultado da pensão advinda de alimentos devidos pelos cônjuges, que via de regra são fixados em porcentagem dos proventos do alimentando e mantêm-se mesmo após a sua morte através da previdência pública, porém a natureza é diferente e as suas conseqüências também.

Na divisão de ativos advindos de plano previdenciário não há hipossuficiência do cônjuge inocente ou mesmo a perda da verba alimentar por contrair nova união, mas tão somente a divisão do patrimônio amealhado. Nada mais se discute, apenas realiza-se a prova documental do valor e tempo de contribuição para saber a porcentagem que caberia ao cônjuge não titular.

Com a morte do cônjuge credor, o direito ao recebimento da meação da renda transfere a seus herdeiros, que receberão o benefício até que o contrato de extinga, respeitando os limites da apólice firmada, por ser parte integrante do conteúdo da herança por ter caráter econômico.

as características da massa e da atividade desenvolvida pelo patrocinador ou instituidor, nos termos do art. 18 da LC 109/01: “Art.18. O plano de custeio, com periodicidade mínima anual, estabelecerá o nível de

contribuição necessário à constituição das reservas garantidoras de benefícios, fundos, provisões e à cobertura das demais despesas, em conformidade com os critérios fixados pelo órgão regulador e fiscalizador. § 1º O regime financeiro de capitalização é obrigatório para os benefícios de pagamento em prestações que sejam programadas e continuadas. § 2º Observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, o cálculo das reservas técnicas atenderá às peculiaridades de cada plano de benefícios e deverá estar expresso em nota técnica atuarial, de apresentação obrigatória, incluindo as hipóteses utilizadas, que deverão guardar relação com as características da massa e da atividade desenvolvida pelo patrocinador ou instituidor. § 3º As reservas técnicas, provisões e fundos da cada plano de benefícios e os exigíveis a qualquer título deverão atender permanentemente à cobertura integral dos compromissos assumidos pelo plano de benefícios, ressalvadas excepcionalidades definidas pelo órgão regulador e fiscalizador”

Oportuno transcrever Francisco Cahali: “o conteúdo da herança, objeto da sucessão, atualmente, tem caráter eminentemente patrimonial ou econômico, sendo a universalidade das relações jurídicas do finado, com esta natureza transmitindo aos seus herdeiros”360.

Como não se trata de pensão previdenciária pública, mas apenas sucessão de um direito advindo de partilha de bem adquirido pelo casal, que se extinguirá, dependendo do contrato realizado, podendo cessar com data certa ou com a própria morte do titular do plano.

Sendo assim, diferem os direitos advindos da previdência privada, das relações jurídicas não patrimoniais ou personalíssimas que são em regra excluídas da herança “mesmo com conteúdo econômico tituladas pelo falecido361”.

A cautela para garantir o direito do cônjuge meeiro e/ou de seus herdeiros se faz imperiosa pela, repita-se, possibilidade de mudança na apólice por mera vontade do titular do plano. Ademais, não permitir com que se altere o beneficiário na apólice da parte que cabe ao ex-cônjuge, em nada afeta as condições da apólice, e nem ao menos desconfigurará a natureza jurídica do contrato, apenas limitará o titular em não ceder direitos que não lhe pertencem pela partilha.

360 CAHALI, Francisco José; HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Curso avançado de direito civil. Direito das sucessões. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 30

361 Ibidem, p. 31. Na obra o Prof. Francisco Cahali cita acórdão do Superior Tribunal de Justiça, que negou

provimento ao recurso de descendente de servidor público que pleiteava o recebimento da pensão previdenciária deixada pelo seu falecimento, que estava sendo recebida pela viúva. O eminente rel. Min. Pedro Acioli, entre outros argumentos, ponderou: “Ora, de toda análise aqui efetuada, colhe-se que, na realidade, o que buscam as recorrentes é o ‘não perderem, com a morte da viúva, o direito à pensão, pela filha’. Quero crer que o direito de sucessão ora buscado, e nos termos do autos, não se constitui em parâmetros legais. A se conceder tal direito de suceder, seria criar uma infinita cadeia de descendentes do contribuinte com direito ad eternum de usufruir os benefícios previdenciários. Inexiste lógica jurídica a amparar o pleito” in Revista dos Tribunais, ano 83, outubro/1994, vol.708, p. 191.

4.2.3. Contratos de previdência privada com entidade aberta em fase de acumulação

No documento MESTRADO EM DIREITO CIVIL SÃO PAULO 2010 (páginas 161-166)

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