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da pressão da norma antipreconceito

O modelo da discriminação justificada também contribui para a in- vestigação sobre a influência normativa no preconceito e nas relações in- tergrupais. O modelo prevê que a relação entre o preconceito e a discri- minação contra os grupos minoritários persiste mesmo sob a pressão de um padrão normativo que condena o preconceito porque os factores jus- tificadores são usados pelos actores sociais para conferir legitimidade ao acto discriminatório. O modelo também propõe que, em contextos nos quais a expressão de crenças e atitudes preconceituosas são toleradas, a relação entre e o preconceito e a discriminação não necessita de ser jus- tificada.

Este raciocínio recebe apoio nos estudos conduzidos por Terry e Hogg (1996), os quais apresentam evidência empírica consistente com a hipótese de que a motivação das pessoas para agirem de forma coerente com as suas atitudes depende do contexto normativo onde as relações estão a de- correr, isto é, as pessoas apresentam comportamentos coerentes com suas atitudes quando a expressão destas recebe suporte normativo. Resultados similares, mas analisados noutra perspectiva, foram apresentados por Wal- lace, Paulson, Lord e Bond (2005) numa meta-análise. Estes autores mos- traram que a relação atitude-comportamento é mais fraca quando existem fortes pressões sociais contrárias à execução do comportamento. Portanto, quer numa situação, quer noutra, os factores contextuais e normativos são fundamentais para compreendermos as condições sociais que favore- cem a correspondência, ou a ausência desta, na relação atitude-compor- tamento. Também podemos encontrar fundamento teórico para esta pro- posta no modelo MODE das atitudes. Este modelo especifica que «normative guidelines may affect individual’s definition of the situation [...]. In situations where norms do not dictate the definition of event, ho- wever, the definition will be attitudinally congruent if attitude activation and selective perception have occurred» (Fazio 1990, 84). Esta proposta é particularmente importante para as nossas hipóteses porque indica a pos- sibilidade de os processos perceptivos actuarem na relação atitude-com- portamento quando o contexto normativo não favorece esta relação. Nesse sentido, quando as normas contextuais prescreverem que uma ati- tude (e. g., o preconceito) não pode ser expressa em comportamento (e. g., a discriminação), os factores perceptivos (e. g., a percepção de ameaça) serão preditores mais próximos do comportamento do que a atitude.

Desenvolvendo este raciocínio para a análise da relação preconceito- -discriminação, propomos que o recurso à percepção de ameaça para jus- tificar a discriminação será necessário apenas num contexto em que a dis- criminação com base no preconceito seja antinormativa. Ainda que indi- rectamente, esta proposta também recebe apoio no âmbito da teoria do racismo aversivo. Esta teoria foi elaborada para explicar os comportamen- tos discriminatórios de indivíduos que se auto-representam como não- -preconceituosos e que pensam comportar-se de acordo com ideais de igualdade e de justiça social. A teoria especifica que é por causa da norma antipreconceito que os racistas aversivos precisam de alguma justificação para discriminar. Estes indivíduos sentem tensão, desconforto e ansiedade em situações inter-raciais (Gaertner e Dovidio 1986), as quais são evitadas, principalmente por aqueles que mais aderem aos valores igualitários, como os membros do Partido Democrata, mas não pelos membros do Partido Republicano (Gaertner 1973). Comportamentos discriminatórios ocorrem quando o contexto normativo não condena claramente estes comportamentos, como tem sido verificado nas situações de contratação para o trabalho (e. g., Dovidio e Gaertner 2000), de admissão para a uni- versidade (Hodson et al. 2002) e em simulações de julgamentos em tribu- nais (Sommers e Ellsworth 2000). Em síntese, estas investigações mostram que a norma antipreconceito influencia a necessidade dos indivíduos de recorrerem às justificações para a discriminação. Mas quais são os valores que caracterizam a norma antipreconceito e quais aqueles que fundamen- tam as normas que facilitam o preconceito?

O antipreconceito é uma norma prescritiva (v. o capítulo 1 sobre a natureza das normas prescritivas) fundamentada no valor da igualdade que especifica desaprovação social para comportamentos discriminató- rios quando estes têm por base o preconceito. A sua formalização deu- -se sobretudo a partir de reacções de intelectuais, políticos e cientistas pa- trocinados pela Organização das Nações Unidas, contrárias à ideia de «raça» como conceito «cientificamente válido» para a classificação das pessoas em «grupos raciais», a qual tinha sido usada como fonte de legi- timação do imperialismo colonial europeu, da segregação das pessoas de cor negra pelo regime de Jim Crow no Sul dos EUA entre 1890 e 1950, do apartheid na África do Sul de 1948 a 1990 e, principalmente, do ho- locausto na Alemanha nazi antes e durante a Segunda Guerra Mundial (Fredrickson 2002).9 A institucionalização do antipreconceito como 9Tal como ocorre no senso comum, a crença na existência de «raças» continua a in- fluenciar a teorização sobre a natureza da humanidade produzida nas Ciências Sociais contemporâneas, ainda que essa teorização tente suavizar a força da ideologia racialista

norma prescritiva foi amplamente difundida nas declarações dos direitos humanos e na publicação dos resultados de um estudo realizado pela UNESCO sobre a natureza do que se julgava ser «raça», «grupos raciais» e «diferença racial» apresentado em Florença numa reunião realizada em 1950. Nessa reunião foi elaborada uma declaração proclamando a igual- dade «racial», passo importante para a formalização da norma antipre- conceito (UNESCO 1950/1951). Os princípios de igualdade que sus- tentam a norma foram posteriormente reforçados na declaração de 1978 (UNESCO 1978).

A operacionalização e aplicação desses princípios em forma de leis na maioria dos países ocidentais conferiu um padrão legal a esses princí- pios, como, por exemplo, o artigo 13.º da Constituição da República Portuguesa, que apresenta o valor da igualdade como um dos seus prin- cípios gerais e orientadores, especificando que «ninguém pode ser privi- legiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, ‘raça’, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situa- ção económica, condição social ou orientação sexual». Ainda que o âm- bito da aplicação do princípio da igualdade não seja universal, como es- pecifica o artigo 15.º da mesma Constituição,10 este princípio tem

orientado leis mais específicas que prescrevem penas relativamente seve- ras para a prática de actos discriminatórios, como é exemplo o artigo 240.º do Código Penal Português que prevê pena de prisão de um a oito anos para quem desenvolva «actividades de propaganda organizada que incitem à discriminação, ao ódio ou à violência ‘raciais’ ou religiosas» e pena de prisão de seis meses a cinco anos para quem «provocar actos de

empregando o conceito de «raça» num sentido metafórico para categorizar e descrever pessoas percepcionadas como grupos raciais. A influência dessa crença emerge sobretudo na teorização que considera a «raça» um conceito analítico importante para a compreen- são das relações sociais, designadas «relações raciais» (Banton, 2000). De facto, de acordo com Miles (1993), as críticas científicas e políticas às ideologias racistas dos regimes nazi- -fascistas não foram acompanhadas por uma completa rejeição da ideia de «raça» nem da crença de que a espécie humana está dividida em «raças» distintas (Solomos e Back 1994-2001). V. especialmente Moscovici (1976) para uma análise da relação entre o co- nhecimento de senso comum e teorias científicas.

10 De facto, o princípio constitucional de igualdade não é universalmente aplicável no território nacional na medida em que o artigo 15.º limita o seu âmbito de aplicação ao definir que «os estrangeiros e os apátridas que se encontrem ou residam em Portugal gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres do cidadão português», mas «exceptuam- -se [...] os direitos políticos, o exercício das funções públicas que não tenham carácter predominantemente técnico e os direitos e deveres reservados pela Constituição e pela lei exclusivamente aos cidadãos portugueses».

violência» ou «difamar ou injuriar pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua ‘raça’, cor, origem ‘étnica’ ou nacional ou religião». Portanto, ob- jectivamente, discriminar é um acto criminoso. Isto significa que a discri- minação é regulada por uma norma formal (v. novamente o capítulo 1 deste volume) que tem como base o valor da igualdade.

Apesar de as relações sociais serem reguladas por esta norma, a inves- tigação recente neste domínio indica que a população de pessoas perce- bidas como diferente em algum critério arbitrário (e. g., cor da pele, ori- gem nacional, modos e estilos de vida) tem sido vítima de actos de discriminação objectiva verificada na relação que mantêm com institui- ções privadas, como é exemplo a exigência de documentação adicional aos imigrantes para que lhes seja concedido crédito bancário (e. g., Dias, Silva, Kumar e Ralha 2009); com instituições do Estado quando os tri- bunais de justiça aplicam penas mais severas aos imigrantes do que aos cidadãos nacionais que cometeram o mesmo tipo de crime (e. g., Fonseca 2010); assim como nas suas relações interindividuais quando são alvo de actos de injúria na sua vida diária (FRA 2009) e quando jovens imigrantes se sentem vítimas de racismo e discriminação na relação que mantêm com a sociedade de acolhimento (e. g., Lopes e Vala 2003).

A função da norma antipreconceito na expressão de atitudes e com- portamentos discriminatórios tem merecido atenção especial no estudo sobre os processos de influência social. A investigação tem mostrado que a simples presença dessa norma reduz a expressão explícita do precon- ceito contra pessoas negras. De facto, Katz e Hass (1988) verificaram que a adesão das pessoas ao valor da igualdade, base do antipreconceito, es- tava associada à atitude pró-negro (Estudo 1) e mostraram experimental- mente que a mera activação contextual desse valor inibiu a atitude anti- negro e fortaleceu a atitude pró-negro. Estudos mais recentes mostram o efeito do igualitarismo na redução do favoritismo «endogrupal» (e. g., Gaertner e Insko 2001; Hertel e Kerr 2001) e na formação de impressões menos estereotípicas (e. g., Goodwin, Gubin, Fiske e Yzerbyt 2000). A nível implícito, Moskowitz, Gollwitzer, Wasel e Schaal (1999) consta- taram que indivíduos que são cronicamente motivados para cumprirem metas igualitárias controlam a aplicação dos estereótipos culturais asso- ciados a pessoas de cor negra e têm menor nível de preconceito contra essas pessoas.

Enquanto os valores igualitários estruturam a norma do antiprecon- ceito, os valores da ética protestante, como a meritocracia (e. g., esforço, competitividade, mérito e hierarquia), estão associados com a facilitação do preconceito e da discriminação. Katz e Hass (1988) constataram esta

associação e mostraram experimentalmente que a simples activação dos valores da ética protestante é suficiente para aumentar a atitude antinegro e para reduzir a atitude pró-negro. Posteriormente, Biernat, Vescio e Theno (1996) mostraram também que a activação contextual de valores meritocráticos levou os participantes a avaliarem um empregado de cor negra de forma mais negativa (i. e., menor percepção de competência e maior orientação para distância social) do que um empregado branco. No âmbito do paradigma do racismo simbólico, Sears e Henry (2003) concluíram que a percepção de que os negros violam os valores do indi- vidualismo meritocrático é a base da oposição de norte-americanos bran- cos a políticas raciais pró-negros. O papel da norma meritocrática no pre- conceito também foi verificado num estudo realizado por Vala, Lima e Lopes (2004) com base em dados de amostras representativas das popu- lações dos 15 países que formavam a União Europeia antes do alarga- mento.

Essas investigações mostram que os valores do igualitarismo funda- mentam a norma antipreconceito e os valores da meritocracia sustentam as normas que facilitam a expressão de atitudes preconceituosas. Embora o papel destas normas no preconceito e na discriminação esteja bem do- cumentado na literatura e ainda que Crandall, Eshleman e O’Brien (2002) tenham mostrado que a associação entre a aprovação do precon- ceito e a aprovação da discriminação envolve factores normativos, a in- vestigação não tinha analisado de forma sistemática o papel moderador das normas na relação entre o preconceito e a discriminação. Especifica- mente, a investigação ainda não tinha analisado as condições normativas nas quais a relação entre o preconceito e a discriminação necessita de ser justificada. Para preencher esta lacuna, e na sequência de nossos estu- dos no âmbito do MDJ, propomos a hipótese de que quando a norma antipreconceito (e. g., o igualitarismo) está saliente, a relação entre o pre- conceito e a discriminação deve ser mediada por uma justificação (e. g., percepção de ameaça) que não invoca argumentos explicitamente pre- conceituosos como base para a discriminação; quando a norma que fa- cilita o preconceito está saliente (e. g., meritocracia), a relação entre o preconceito e a discriminação poderá ocorrer de forma directa, não ha- vendo necessidade de justificação.

Testamos esta hipótese numa série de estudos sobre a influência do contexto normativo na necessidade de justificação da relação precon- ceito-discriminação. Em primeiro lugar, mostramos a evidência experi- mental para esta hipótese num estudo realizado no âmbito da literatura sobre o efeito da infra-humanização na discriminação contra grupos mi-

noritários (Pereira et al. 2009). A infra-humanização é a tendência das pes- soas para reservarem ao endogrupo as características tipicamente huma- nas, tais como os sentimentos (v. Leyens et al. 2000). Analisamos o papel da ameaça simbólica (i. e., a percepção de que a cultura do povo turco pode pôr em causa a matriz cultural europeia) como um factor justifica- dor da oposição de estudantes universitários portugueses à entrada da Turquia na União Europeia (UE), assim como o papel da norma anti- preconceito no recurso à ameaça para legitimar essa oposição. Os parti- cipantes foram convidados a colaborar num estudo sobre a qualidade da divulgação dos resultados de investigações em Ciências Sociais publica- dos em jornais de grande circulação.

O estudo foi realizado em três fases. Na primeira, os participantes rea- lizaram a leitura de um artigo fictício sobre as diferenças entre as pessoas turcas e os povos dos países-membros da UE. As diferenças incidiam no modo como pessoas turcas e europeias exprimem emoções e sentimen- tos. Para metade dos participantes elaborámos um texto com o objectivo de activarmos uma representação infra-humanizada (condição de infra- -humanização) sobre as pessoas turcas. A outra metade dos participantes leu um texto que tratava da forma como pessoas jovens e adultas apren- dem línguas estrangeiras e, portanto, não activava qualquer representação sobre turcos e europeus (condição de controlo). Na segunda fase do es- tudo, realocámos aleatoriamente os participantes em função de dois con- textos normativos. Num contexto, activámos a norma antipreconceito. No outro contexto activámos uma norma que tolera a expressão de ati- tudes preconceituosas. No contexto de saliência da norma antiprecon- ceito os participantes leram um texto sobre a importância do valor da igualdade, enquanto os participantes no contexto de saliência da noma que facilita o preconceito leram um texto sobre a importância do valor do mérito. Em seguida, os participantes responderam a um questionário que, dependendo do contexto normativo, apresentava apenas itens da escala de igualitarismo ou apenas itens da escala de individualismo me- ritocrático, ambas elaboradas por Katz e Hass (1988). Aos participantes era dito que se tratava de uma tarefa de compreensão de texto e o pro- pósito desta tarefa era reforçar a activação das normas sociais (v. Pereira

et al. 2009, para uma descrição detalhada destes procedimentos). Na ter-

ceira fase do estudo, pedimos aos participantes que respondessem a um conjunto de questões com base nas quais avaliámos a percepção de ameaça simbólica e a oposição à entrada da Turquia na UE.

Os resultados mostraram que os participantes da condição de infra- -humanização apresentaram maior oposição à adesão da Turquia à UE

do que os participantes da condição de controlo. Tal como previmos no MDJ, este efeito foi mediado pela ameaça simbólica. Também de acordo com o modelo, a percepção de ameaça actuou como mediadora do efeito da infra-humanização apenas no contexto igualitário. O uso da ameaça como justificação para essa oposição não foi necessário no contexto me- ritocrático (ver a figura 6.6). Este estudo mostrou a primeira evidência experimental para a hipótese de que o contexto normativo influencia o uso de factores justificadores, como a percepção de ameaça simbólica na relação entre a infra-humanização e as atitudes discriminatórias contra um grupo percebido como minoritário.

No segundo estudo analisámos em que medida o contexto normativo influencia a necessidade de legitimação da discriminação objectiva contra um grupo-alvo fortemente protegido pela norma antipreconceito (v. Pe- reira e Vala 2011). Nesse estudo testámos as hipóteses do MDJ no quadro da discriminação contra pessoas de cor negra quanto ao acesso ao em-

Figura 6.6 – Influência da infra-humanização na oposição à entrada da Turquia na União Europeia mediada pela percepção de ameaça simbólica

Nota: Os valores apresentados são coeficientes de regressão estandardizados. Os valores entre pa- rênteses representam o efeito total da infra-humanização na oposição à Turquia. *p < 0,05; **p < 0,01; ***p < 0,001. Ameaça simbólica Infra-humanização Oposição à Turquia 0,71*** 0,50* (0,33*) –0,02 Norma igualitária ZSobel = 1,97, p = 0,05 Ameaça simbólica Infra-humanização Oposição à Turquia 0,36* 0,14 (0,72***) 0,67*** Norma meritocrática ZSobel = 0,76, n. s.

prego. Para realizar este estudo, introduzimos algumas modificações nos procedimentos do paradigma experimental que desenvolvemos quando analisámos o uso da ideologia das «leis de mercado» como justificação para discriminação de uma candidata de cor negra ao emprego (v. Pereira

et al. 2003) de maneira que ficassem reunidas as condições necessárias para

verificarmos se o contexto normativo actua como um factor moderador do uso de justificações na relação entre o preconceito e a discriminação, isto é, a indicação da contratação de um candidato branco para um em- prego ao invés de um candidato negro, quando ambos tinham as mesmas habilitações e competências profissionais que o candidato branco. Anali- sámos a percepção de ameaça económica como justificação para a discri- minação. O estudo foi realizado em contextos sociais nos quais activámos o valor da igualdade e o valor do mérito.

Os participantes foram 80 estudantes universitários portugueses que definiram a cor da sua pele como branca e voluntariamente se dispuseram a participar no estudo. Este estudo também foi realizado em três fases. Quando chegavam ao laboratório, os sujeitos eram informados de que participariam em três estudos não relacionados e que estes seriam con- duzidos por dois experimentadores. Na primeira fase (a do suposto pri- meiro estudo), os participantes responderam a um questionário no qual medimos as suas crenças e atitudes face a pessoas negras. Usámos a escala de atitude antinegro desenvolvidas por Katz e Hass (1988). Essa escala é composta por oito itens que descrevem atitudes desfavoráveis aos negros (e. g., «A maior parte dos negros não se respeitam a si mesmos e nem res- peitam os outros»; «O maior problema dos negros em Portugal é que eles próprios não gostam de ser negros»; α = 0,78). De seguida, o experimen- tador agradeceu a colaboração e pediu que os participantes aguardassem na sala a chegada do outro experimentador para a realização dos outros estudos. O segundo experimentador informou os participantes que co- laborariam em dois estudos não-relacionados, sendo um sobre compreen- são de textos e o outro sobre tomada de decisões.

Na segunda fase, manipulámos a saliência da norma do igualitarismo e da meritocracia usando os mesmos procedimentos do estudo sobre a oposição à entrada da Turquia na UE. Na terceira fase, medimos a per- cepção de ameaça económica e a discriminação. Para o efeito, apresen- támos aos participantes um texto que descrevia uma situação no qual um gestor de recursos humanos de uma loja precisava de contratar cinco funcionários para uma rede de lojas instaladas em vários centros comer- ciais de Lisboa. Após lerem o texto, os participantes foram informados de que a sua tarefa era ajudar o gestor a tomar a decisão sobre a contra-

tação dos empregados. Receberam um envelope contendo a ficha de ins- crição e os resultados de testes descrevendo graficamente o perfil psico- lógico de cada um dos 10 candidatos, claramente identificáveis como tendo cor de pele branca ou negra. A ficha de inscrição continha uma fotografia, informações pessoais (idade, morada, etc.), interesses e expe- riência profissional do candidato. Estas informações foram mantidas constantes e as descrições dos perfis psicológicos foram controladas. Para prevenirmos a suspeição sobre a verdadeira natureza do estudo, metade dos participantes recebeu os perfis de seis candidatos brancos e de quatro negros. A outra metade recebeu os perfis de seis candidatos negros e de quatro brancos.

Para medirmos a percepção de ameaça, pedimos aos participantes que avaliassem cada candidato indicando em que medida a sua contratação representaria uma ameaça económica para as lojas.11De seguida, pedimos

aos participantes que indicassem cinco candidatos para a contratação.

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