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DA REABILITAÇÃO RESPIRATÓRIA À REABILITAÇÃO FUNCIONAL RESPIRATÓRIA

CAPITULO II REABILITAÇÃO FUNCIONAL RESPIRATÓRIA E A SUA IMPORTÂNCIA NA CAPACITAÇÃO

1. DA REABILITAÇÃO RESPIRATÓRIA À REABILITAÇÃO FUNCIONAL RESPIRATÓRIA

A Reabilitação Respiratória é uma intervenção fundamental a par dos fármacos inalados, da vacinação, e da cessação tabágica no tratamento dos doentes respiratórios. Já num contexto multidisciplinar é necessário continuar a sensibilizar e envolver toda a equipa. A circular informativa nº 40A /DSPCD (2009) da DGS define RR como:

“…uma intervenção global e multidisciplinar, baseada na evidência, dirigida a doentes com doença respiratória crónica, sintomáticos e, frequentemente, com redução das suas atividades de vida diária. Integrada no tratamento individualizado do doente, a RR é desenhada para reduzir os sintomas, otimizar a funcionalidade, aumentar a participação social e reduzir custos de saúde, através da estabilização ou regressão das manifestações sistémicas da doença." (p.2)

A RR destina-se a doentes com sintomas incapacitantes, motivados e potencialmente aderentes ao programa. Os objetivos primordiais passam por habilitar o doente a lidar com o tratamento e prevenção das complicações da doença, promover uma modificação do comportamento e estilo de vida, tornar o doente o mais possível autónomo no autocontrolo da doença e no recurso aos serviços de saúde (DGS, Circular Informativa nº 40A /DSPCD, 2009).

A reabilitação respiratória de acordo com a American Thoracic Society e a European

Respiratory Society Statement on Pulmonary Rehabilitation (2006) e na mesma linha do

que se observa na orientação da DGS, é definida como uma intervenção multidisciplinar, baseada na evidência. Trata-se de uma intervenção voltada para doentes respiratórios crónicos em crise e que têm por vezes alterações nas atividades de vida diárias. Deve preconizar o tratamento individual de cada doente, com vista a reduzir sintomas, a otimizar a função respiratória, a melhorar a qualidade de vida, a aumentar a participação social e a diminuir os custos de saúde associados aos eventos de exacerbação das doenças. A enfermagem de reabilitação, enquanto especialidade multidisciplinar, intervém em situação de doença aguda ou crónica maximizando o potencial funcional e a independência da pessoa, cumprindo os objetivos gerais de melhorar a função, promover a independência e a máxima satisfação do utente e, por este meio, preservar a sua autoestima (Regulamento n.º 392/2019).

Para Liebano [et al.] (2009), a RR tem contributos na prevenção e tratamento de várias desordens respiratórias, como a obstrução do fluxo aéreo, a alteração da função ventilatória, a dispneia e retenção de secreções e a melhoraria da capacidade para atividade física.

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Os programas de reabilitação respiratória devem ser adaptados individualmente ao contexto de cada doente, e deverão ter em consideração a patologia em questão, a fase evolutiva e a presença de exacerbações versus estabilização da mesma. Para além dos pressupostos, anteriormente enumerados, deverão ter ao mesmo tempo em consideração a capacidade de aprendizagem face ao grau de instrução, e os contextos sociofamiliar e profissional. No que concerne ao local de aplicação deve ser direcionado para os diferentes contextos tal como o internamento, o ambulatório e o domicílio, mediante os meios disponíveis (Cordeiro e Menoita, 2012).

A RR comporta a reeducação funcional respiratória (RFR) que se traduzindo numa terapêutica do movimento vai ser baseada nos mecanismos da respiração, com vista a atuar e melhorar a ventilação através de vários exercícios respiratórios. Estes exercícios consistem em diversas técnicas manuais, posturais e cinéticas, dos componentes toraco- abdominais que poderão ser aplicados isolada ou conjuntamente com outras técnicas (Cordeiro e Menoita, 2012).

Os objetivos gerais da RFR, traduzem-se em mobilizar e eliminar secreções brônquicas, otimizar a ventilação pulmonar, promover a reexpansão pulmonar, melhorar as trocas gasosas e a oxigenação, reduzir o trabalho respiratório, diminuir o consumo de oxigénio, aumentar a mobilidade torácica, aumentar a força dos grupos musculares intervenientes na respiração, aumentar a endurance, reeducar a musculatura respiratória, promover a independência respiratória funcional, prevenir complicações e acelerar a recuperação da pessoa (Azeredo, 1993; Costa, 1999).

Posteriormente, outros autores descreveram que estes objetivos passavam por prevenir e corrigir as alterações do esqueleto e músculos, reduzir a tensão psíquica e muscular, assegurar a permeabilidade das vias aéreas, prevenir e corrigir os defeitos ventilatórios com vista a melhorar a distribuição e ventilação alveolar, melhorar a performance dos músculos respiratórios e reeducar no esforço (Costa e Coimbra, 2007; Testas e Testas, 2008).

Na atualidade, sugerem como principais indicações da RFR as alterações da caixa torácica, a patologia neuromuscular com repercussão na dinâmica torácica, a patologia da pleura, broncopulmonar e cardíaca, onde se verifiquem a estase de secreções e a insuficiência respiratória (Cordeiro e Menoita, 2012).

Como limitação e contraindicação para a realização da RFR, embora sempre com a devida ponderação para a possibilidade de realização de algumas das técnicas, encontramos a hemoptise e a hemorragia digestiva alta, a febre, o edema agudo do pulmão, o choque, a

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síndrome de dificuldade respiratória, a tuberculose pulmonar ativa, a neoplasia pulmonar e da pleura (Costa e Coimbra, 2007; Testas, 2008).

Os programas de RFR devem ser desenvolvidos num ambiente calmo, todos os procedimentos a executar e a importância dos mesmos devem ser devidamente explicados com o intuito do doente entender o seu fundamento e permitir que este participe ativamente nos mesmos (Costa e Coimbra, 2007).

Constatamos que as técnicas a adotar descritas na bibliografia em geral ao abrigo do estudo do “estado da arte”, podem surgir em sequências diferentes, não sendo consensual a ordem pela qual são introduzidas, no entanto todas elas estão presentes nos programas desenvolvidos. E, assim sendo podem ser abordadas as mesmas técnicas, mas numa lógica sequencial diferente dependendo dos autores (Cordeiro e Menoita, 2012).

Em suma podemos afirmar que para os diversos autores e como sintetiza Rodrigues (2014), a RR sendo uma intervenção multidisciplinar, abrangente, baseada na evidência, dirigida aos doentes com patologia respiratória crónica sintomáticos e com limitação nas atividades da vida diária, tem por objetivos a redução dos sintomas, a melhoria da capacidade funcional e da participação nas atividades de vida diárias, a redução dos custos em recursos de saúde e ainda estabilizar ou reverter as manifestações sistémicas da doença.

2. REABILITAÇÃO FUNCIONAL RESPIRATÓRIA E AS TÉCNICAS USADAS -