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Da responsabilização civil dos pais e responsáveis

CAPÍTULO III DA PROTEÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA VÍTIMA

3.2 Da tutela da vítima criança e adolescente a luz do Estatuto da Criança e do

3.2.2 Da responsabilização civil dos pais e responsáveis

Cabe aos pais, responsáveis, tutores ou curadores, o dever de assistência, educação, representação, auxílio e respeito mútuo às crianças e adolescentes, até que aqueles sob sua guarda e custódia, em regra, atinjam a maioridade civil.

Os menores de dezesseis anos, tecnicamente conhecido como menores impúberes, por sua incapacidade absoluta serão sempre representados na pratica dos atos da vida civil, isto é, no exercício do seu direito, dever e responsabilidade, enquanto os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos, qualificados como menores púberes diante da incapacidade relativa serão assistidos pelos seus respectivos pais, tutores ou curadores.

Significa dizer que as crianças e adolescentes impúberes, têm sua vida civil gerida com amplitude pelo representante, podendo este exercer a manifestação de vontade em Juízo, celebrar negócios jurídicos, dentre outros atos.

Por sua vez, os adolescentes, menores púberes, tem liberdade e escolha para o exercício de sua manifestação de vontade e atos da vida civil de um modo geral, de modo que a figura do assistente tem o objetivo principal de assegurar a regularidade e licitude dos atos praticados, assim como os negócios jurídicos por esses celebrados.

Segundo Nelson Nery Júnior:

São dos os institutos auxiliares do sistema de igualdade e liberdade negocial da pessoa natural, absoluta ou relativamente incapaz: a representação e a assistência. O primeiro é mais amplo e permite que a vontade do representado seja manifestada pelo representante, nos limites de sua capacidade legal. À vontade expressada pelo representante é a sua própria, mas os efeitos jurídicos do negócio do representante recaem sobre os ombros do representado. O segundo, específico, se presta a funcionar como esteio da segurança de manifestação de vontade dos relativamente incapazes, que tem liberdade de querer ainda não plenamente estruturada (2011, p. 215).

Deverá sempre ser respeitado os interesses do menor, sob pena de eventual prejuízo em ato executado pelo representante ou assistente atrair a nulidade absoluta do ato.

Ao passo que cabe aos pais e responsáveis a representação e assistência dos atos da vida civil praticado pela criança ou adolescente sob sua custódia, a legislação civil, de

20 Isso não fica apenas no campo teórico. Em setembro de 2.017, a 1ª Vara da Infância e Juventude da Comarca

forma expressa e objetiva, impõe a aqueles o dever de reparar civilmente os danos sofridos por terceiro em decorrência de ato ilícito praticado pelos menores.

Conforme destaca Caio Mario da Silva Pereira:

Os pais respondem pelo procedimento dos filhos menores que se acham em seu poder e companhia. Complemento do dever de dirigir-lhes a educação e velar pelos seus atos é a responsabilidade civil pelos danos que ocasionem. Na pendência da menoridade, tem o dever de impedir que ofendam os bens jurídicos alheios, e de indenizar a vítima (2017, p. 407).

Assim, a responsabilidade civil dos pais ou responsáveis não será por ato próprio e direto, mas por conduta dos menores sob sua custódia, cujo ônus reparatório é fundamentado no dever em vedar que aqueles sob sua guarda ofendam direitos de terceiros.

Nos termos da legislação civil, que fala em responsabilização nos casos de "autoridade e companhia", em se tratando de pais ou responsáveis separados, em tese, apenas responderia pelos danos causados a terceiro aquele cuja guarda se encontra o menor, nada impedindo, porém, a condenação do outro responsável.

Porém, a dicção da lei que atribui a responsabilidade civil dos filhos apenas a aquele com a guarda, deve ser analisada no caso concreto, sob pena de imputar o dever apenas a um responsável, excluindo injustificadamente a responsabilidade do co-obrigado.

Como afirma Maria Berenice Dias:

Nada justifica atribuir exclusiva responsabilidade ao genitor guardião pelos atos praticados pelo filho, pelo simples fato de ele não estar na companhia do outro. Ambos persistem no exercício do poder familiar, e entre os deveres dele decorrente está o de responder pelos atos praticados pelo filho. Assim o patrimônio de ambos os genitores, e não só o do guardião, deve responder pelos danos causados pelos filhos (2010, p. 420).

Além disto, os pais ou responsáveis apenas serão responsabilizados se o menor sob sua custódia não dispuser de meios suficientes para suportar a condenação.

Como, em tese, muitos menores, principalmente os impúberes, não exercem atividade remunerada, seria injusto o sistema jurídico permitir que a incapacidade financeira do ofensor afrontasse a esfera de direitos de terceiro, sem que a vítima pudesse ver reparados os danos sofridos.

Tal situação, por um lado, seria capaz o suficiente de premiar o ato ilícito praticado pelo ofensor e, de outro, privar a vítima quanto à reparação a ofensa de seus direitos, situação incompatível com o ordenamento jurídico brasileiro.

No caso dos indivíduos emancipados por força do casamento, existência de emprego público, colação de grau em curso de ensino superior ou por meio de emprego que

possibilite economia própria, os pais estarão desonerados da obrigação, eis que tal situação ocasionará a cessação da menoridade para os efeitos civis.

Porém, o mesmo não ocorre se a emancipação partiu por voluntariedade exclusiva dos pais ou responsáveis, eis que neste particular "a emancipação produz todos os efeitos naturais do ato, menos o de isentar os primeiros da responsabilidade pelos atos ilícitos praticados pelo segundo, como proclama a jurisprudência" (GONÇALVES, 2012, p. 40).

Desta forma, para que exista a responsabilidade civil dos pais ou responsáveis por danos causados pelos menores sob sua guarda, necessário a presença de ato ilícito por ação ou omissão, que cause danos à esfera de direitos de terceiro em decorrência de relação causal direta entre os prejuízos suscitados pela vítima e a conduta da criança ou adolescente.

Em se tratando de pornografia da vingança, caso o ofensor seja criança ou adolescente, situação capaz de causar abalos aos direitos de personalidade da vítima, atraindo a responsabilidade por dano moral, bem como, em situações específicas, danos de ordem material, a exemplo de gastos com tratamento psicológico ou psiquiátrico e medicamentos, será devido o ajuizamento de ação reparatória em face dos pais ou responsáveis do menor.

A demanda reparatória deve ser ajuizada diretamente pela vítima, em se tratando de pessoa capaz, ou por intermédio do seu representante legal, quando tratar-se de menor (impúbere ou púbere).