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Da Teoria das Alternativas Relevantes ao Contextualismo

Como argumentado, adotamos uma posição falibilista em epistemologia. A fim de salvar o conhecimento do ceticismo negamos o princípio que afirma que um sujeito, S, sabe uma proposição qualquer sobre o mundo exterior, P, com base em evidência, R, somente se R implicar P. Mas, ao negá-lo adotamos um princípio mais fraco, a saber, S sabe que P com base

43 ―Se S possui evidência suficiente para saber que P e S sabe que P implica ~HC, então S possui evidência

37 em R, mesmo que R apenas torne suficientemente provável que P. Mas o cético não é facilmente abatido e continua a causar problemas mesmo para teorias falibilistas.

O princípio assumido pelo falibilista é também, ao seu modo, problemático. Pois ele concede que as evidências em favor de uma crença numa determinada proposição apenas probabilizem sua verdade e, assim, concede que essa mesma evidência seja compatível com outras proposições (que se configuram como alternativas à crença original). O desafio que se apresenta para essa posição é mostrar em que situações uma alternativa, que é evidencialmente compatível com a proposição sustentada por S, deve ou não ser considerada como relevante para que S não tenha seu conhecimento obstaculizado.

A teoria das alternativas relevantes pretendeu oferecer uma resposta satisfatória para esse problema. Contudo, embora suas propostas fossem promissoras elas se mostraram problemáticas. Tanto Dretske como Stine parecem ter falhado, cada um ao seu modo, em suas definições de relevância, pois ambos acabaram por negar um princípio que parece ser de suma importância para o debate:44

(PFE): Se S possui evidência suficiente para saber que P e S sabe que P implica ~HC, então S possui evidência suficiente para saber ~HC.

Assim, um paradoxo semelhante ao do conhecimento poderia ser construído para a evidência.45 Mas se uma resposta ao cético é pretendida através de TAR, essa resposta deve ser capaz de responder a ambos os paradoxos (sobre a evidência e sobre o conhecimento), uma vez que possuem a mesma estrutura. Essa resposta continua sendo mostrar qual das premissas do argumento deveria ser rejeitada, para que pudéssemos negar sua conclusão. Uma vez que ambos, Dretske e Stine, parecem ter encontrado dificuldades em lidar com o problema da evidência adequadamente, mais precisamente, com um princípio de fechamento para a evidência, a resposta ao paradoxo cético através de TAR não deveria conter na sua formulação nenhuma afirmação ou negação do PF.

44 Esse ponto foi feito por Cohen, 1988.

45 Cf. Cohen, para gerar um paradoxo semelhante ao do conhecimento bastaria acrescentar a premissa PFE, que seria

a premissa 1: (2) S não possui evidência suficiente para saber ~HC. (3) logo, S não possui evidência suficiente para saber P.

38 De acordo com Cohen, uma definição de alternativas relevantes poderia ser dada da seguinte maneira: (i) uma alternativa (à P) HC é relevante quando a posição epistêmica de S com relação a HC impede S de saber que P. Com essa definição Cohen oferece uma definição de alternativas relevantes sem endossar ou mencionar PF, contudo, é deixada em aberto a questão de qual deve ser a posição epistêmica de S em relação às alternativas não relevantes. Dessa maneira, mais precisa ser dito por ele para a determinação de um critério de relevância adequado. Como vimos, para saber que P dependerá de quando qualquer alternativa a P será relevante, isto é, sob quais condições a posição epistêmica de S, com relação a qualquer alternativa, impede S de saber P. Cohen pretende que o critério de relevância seja guiado pelas nossas intuições com relação a sob quais circunstâncias S sabe que P.

Para explicar como esse critério reflete nossas intuições Cohen oferece uma distinção entre condições externas e internas da evidência de S.46 As condições externas são, na maior parte das vezes, refletidas em condições probabilísticas para relevância. Considere a seguinte condição: uma alternativa relevante (à P) HC é relevante, se a probabilidade de HC – condicionada a razão R e outras características circunstanciais – é suficientemente alta (onde o nível de probabilidade suficiente é determinado contextualmente). Aplicando esse critério ao conhecido exemplo dos falsos celeiros, o simples fato de que essas falsas fachadas de celeiros existem é suficiente para fazer com que a alternativa ‗S vê um falso celeiro‘ seja relevante, independentemente de qualquer evidência que S possa ter sobre a existência de falsos celeiros (em contextos ordinários).

Para as condições internas serem capturadas pela teoria das alternativas relevantes é necessário que se tenha um critério interno para explicar a relevância de certas alternativas, ou seja, um critério que trate apenas das condições evidenciais de S. Dretske e Stine, de acordo com Cohen, não valorizaram adequadamente o fato de que a evidência de S contra HC é importante para que S saiba que P, pois para eles a evidência não é suficiente para saber ~HC. No entanto, ainda que essa evidência não seja suficiente para S saber que não vê uma mula pintada, a evidência é crucial para determinar que a alternativa (HC) não é relevante. Todavia, mesmo que Dretske e Stine pudessem estar corretos em alegar que a evidência de S com relação ao

46 Cohen pretende com esta distinção dar uma resposta ao externalismo sobre o conhecimento, salientando que fatos

39 comportamento dos gerentes de zoológico não é suficiente para S saber que não vê uma mula pintada (~HC), certamente continuaria sendo correto afirmar que essa evidência que S possui contra essa alternativa é decisiva para a alternativa (HC) não ser relevante. Ainda que a evidência de S não permita que ele saiba a negação da hipótese cética, essa mesma evidência permite que tal alternativa não seja relevante. Caso S não possuísse nenhuma evidência, sua posição epistêmica com relação à (HC) iria impedir S de saber que P, com base na sua evidência perceptual. As condições que fazem uma alternativa ser relevante, nesse caso, parecem ser de uma natureza distinta das condições que governam critérios externos. Poderia ser o caso que, relativo aos fatos que estão para além da evidência de S, fosse muito improvável que S tivesse conhecimento de que vê uma zebra. Porém, se considerarmos somente a evidência de S – em que é tão provável que S veja uma mula pintada quanto que ele veja uma zebra – S não sabe que vê uma zebra. Pois se S não tivesse nenhuma evidência que pudesse ser tomada contra a alternativa (HC), então sua crença de que vê uma zebra não seria um caso de conhecimento – pois a probabilidade seria igual para ambas as alternativas, P e HC.47

O ponto que Cohen pretende salientar é que os fatores que pertencem exclusivamente às evidências do sujeito determinam quando alternativas se tornam relevantes, pois elas se caracterizam como um componente essencial da evidência total de S que o possibilitam saber que P. O critério interno, nesse sentido, determina os padrões que governam o quão forte deve ser a evidência total de S com relação a P para que ele saiba que P.

Com base nisso, Cohen aumenta sua definição de alternativas relevantes incluindo a seguinte condição: (ii) uma alternativa (à P) HC é relevante se S carece de evidência (razão) suficiente para negar HC, isto é, para crer P. Com isso, Cohen parece estar determinando duas

47 Cohen oferece outro exemplo para mostrar a importância dos fatores pertencentes à evidência possuída por S e

como esses fatores afetam quando uma alternativa será considerada relevante. EX:

Imagine que S sabe que há uma zebra no zôo com base (somente) no testemunho de Jones. É a alternativa que Jones o está enganando relevante? Um fator que iria afetar a relevância aqui é a freqüência atual com que Jones (ou pessoas em geral) fornece testemunho enganoso. Esse fator é governado pelo critério externo. Mas, claramente, se até onde as evidências de S são entendidas, é tão provável quanto improvável que Jones o engane – se S não tem nenhuma evidência a respeito da confiabilidade de Jones (ou pessoas em geral) – então S não sabe que há uma zebra no zôo com base no testemunho de Jones. (COHEN, 1988, p. 103)

40 situações diferentes em que o sujeito poderia se encontrar. Cohen mantém a idéia sugerida por Stine de que os padrões deveriam ser mantidos fixos, ou seja, o contexto aplicado ao antecedente deveria ser mantido para o conseqüente do condicional, no caso de aplicação do princípio de fechamento. Para Cohen, uma explicação adequada da força apelativa possuída pelo argumento cético está baseada na admissão de que aquilo que ele determinou como critério externo de relevância seja sensível ao contexto. Isso também se aplica ao critério interno de relevância. Uma vez que não há nenhuma especificação geral sobre o que constitui uma evidência suficiente para recusar uma alternativa para que ela não seja relevante e, igualmente, também não determina nenhuma especificação sobre o que se constitui como evidência suficiente para que S saiba que P, a relevância de uma determinada proposição será sensível ao contexto na qual ela está sendo considerada.

Para Cohen, a adoção desse critério interno de relevância permite que se acesse PFE adequadamente, o que, como vimos, não foi apropriadamente discutido por Dretske e Stine. Segundo a análise proposta por Cohen, esse critério interno de relevância é sensível ao contexto e nos chama atenção para o fato de que a rejeição de PFE baseia-se na mesma equivocação a que Gail Stine se referia, em conexão com o critério externo de relevância e PF. Vejamos a explicação fornecida por Cohen:

Suponha que S creia que P com base em sua evidência, onde HC é uma alternativa à P. Se S não possui evidência suficiente para rejeitar HC, para impedir HC de ser relevante no contexto c, então (dado o modo como defini relevância) S falha em saber P com base na sua evidência, em c. Isso quer dizer que a evidência total de S não é suficiente para S saber que P em c. Assim, se a evidência total de S é suficiente para S saber que P em c, então algum subconjunto de evidência, e, é evidência suficiente para negar HC, para impedir HC de ser uma alternativa relevante em c. O que precisamos saber é quando e é evidência suficiente para S saber ~HC.48

No caso das zebras, proposto por Dretske, ele alegava que a evidência com relação ao comportamento dos gerentes de zôos não é suficiente para S saber que ele não vê uma mula disfarçada. Para Cohen, mesmo que essa evidência não seja suficiente para S saber que não vê uma mula disfarçada, ela desempenha um papel fundamental para que ele saiba que vê uma zebra, pois ela impede que a alternativa de que ele vê uma mula disfarçada seja relevante. No

41 entanto permanece a questão de se essa evidência é suficiente para S saber que ele não vê uma mula disfarçada.

Vejamos como essa análise proposta por Cohen responde ao problema encontrado por Dretske e Stine com relação ao PFE. A argumentação que Cohen oferece será, contrariamente aos autores mencionados, no sentido de que (e) é suficiente para S saber que ~HC, em c.

Suponha que S possui evidência suficiente para saber que P, em c, onde HC é uma alternativa à P. Como argumentado previamente, algum subconjunto da evidência, (e), é suficiente para negar HC, para impedir HC de ser uma alternativa relevante em c. Assim, no contexto c, HC não é uma alternativa relevante para ~HC. Isso quer dizer (conforme minha definição de relevância) que, em c, (e) é evidência suficiente para negar HC, para evitar que o conhecimento de ~HC seja impossibilitado. Mas a evidência para negar HC é a evidência para crer ~HC. Assim, (e) é evidência suficiente para crer ~HC, para evitar o conhecimento de ~HC de ser impossibilitado. Segue-se que (e) é evidência suficiente para saber ~HC (uma vez que, se (e) não fosse evidência suficiente para crer em ~HC, o conhecimento de ~HC seria impossibilitado).49

Dessa maneira, Cohen acredita ter superado a dificuldade colocada por PFE. Enquanto que para Dretske PF e PFE eram negados, Stine – embora ela tivesse respondido à negação de Dretske alegando que ele cometera uma equivocação lógica com relação a PF – parecia estar baseada no mesmo tipo de equivocação com relação a PFE. A razão, descrita por Cohen, pela qual tendemos a dizer que S possui evidência suficiente para saber que P, enquanto carece de evidência suficiente para saber ~HC, é o fato que, negligentemente, trocamos os padrões de relevância na medida em que nos movemos da atribuição do antecedente para a do conseqüente. Isto é, mudamos os padrões de relevância, negligentemente, na medida em que nos movemos de um contexto para o outro.

Essa proposta, sugerida por Cohen, mostra que o status do princípio de fechamento encontrado em PF é dependente do status de PFE e, desse modo, uma vez que é possível manter PFE também é possível manter PF. Se S sabe que P e sabe que P implica ~HC, então, diferentemente de Dretske, S sabe que ~HC e, diferentemente de Stine, S sabe ~HC com base na

42 sua evidência.50 O paradoxo cético para o conhecimento e o paradoxo cético para evidência pode ser lidado e respondido do mesmo modo, pois possuem a mesma forma estrutural.

Até o presente momento, percorremos o caminho que julgamos imprescindível para o adequado entendimento de como a intuição contida nas teses contextualistas – sobre os padrões envolvidos na determinação de conhecimento e o modo pelo qual eles são sensíveis ao contexto – foi desenvolvida. Agora, no decorrer do próximo capítulo, nosso objetivo passa a ser o de analisar as diferentes teses contextualistas e de que maneira cada uma delas pretende responder a certos problemas centrais da epistemologia, a saber, problemas como o paradoxo cético, o paradoxo da Loteria e até mesmo o problema de Gettier – indicando as vantagens e problemas apresentados por cada uma.

43 CAPÍTULO 2

CONTEXTUALISMO SEMÂNTICO

No capítulo anterior foi possível acompanhar boa parte do debate que deu origem à teoria contextualista. Foi na tentativa de preservar nossas alegações ordinárias de conhecimento contra o ataque cético que a tese contextualista ergueu-se. No entanto, mais do que simplesmente responder ao cético, a tese contextualista alega possuir importantes vantagens sobre as demais teorias: os contextualistas alegam que sua teoria é a que melhor explica a força dos argumentos céticos, preserva a verdade dos princípios de fechamento e defende nossas alegações ordinárias de conhecimento.

O contextualismo, de modo geral, pode ser entendido como a tese de que atribuições ou alegações de conhecimento de instâncias como ‗S sabe que P‘ e ‗S está justificado em crer que P‘ são de algum modo particular, sensíveis ao contexto. Predicados como ‗sabe que está na PUCRS no dia 19 de abril de 2011‘ e ‗está justificado em crer que Dilma foi eleita a nova presidenta do Brasil no final de 2010‘ possuem a característica de expressarem diferentes propriedades com relação a diferentes contextos. Assim, uma proposição será sensível ao contexto se e somente se ela expressar diferentes proposições relativas a diferentes contextos. Presumivelmente, acredita-se que esta sensibilidade contextual se deve ao fato de ‗saber‘ ser de algum modo sensível ao contexto.

O contexto fornece os padrões de avaliação utilizados para determinar o valor de verdade que essas sentenças terão. Tal contexto diz respeito ao contexto referente ao atribuidor, isto é, a pessoa que faz a alegação de conhecimento ou justificação. Isso permite que, se considerarmos um mesmo sujeito S e uma mesma sentença P, um atribuidor poderia afirmar ‗S sabe que P‘, enquanto outro atribuidor afirmar ‗S não sabe que P‘ e ambos estarem dizendo algo verdadeiro. Isso é possível porque cada atribuidor se encontra em um contexto diferente e, assim, os padrões utilizados por cada um são diferentes.

Esta tese geral sobre o contextualismo deixa em aberto diferentes formas para a implementação da sensibilidade contextual, o que possibilita diferentes abordagens para o

44 Contextualismo. Veremos a seguir três maneiras distintas de como esta implementação pode se dar.

2.1 Stewart Cohen:

O Contextualismo, conforme proposto por Stewart Cohen, é a visão de que atribuições de conhecimento são de algum modo, sensíveis ao contexto. Ele afirma que

O valor de verdade de sentenças contendo a palavra ―saber‖ e suas cognatas dependerá de padrões determinados contextualmente. Por causa disso, tal sentença pode ter diferentes valores de verdade em diferentes contextos. Agora, quando eu digo ―contextos‖, quero dizer ―contextos de atribuição‖. Assim, o valor de verdade de uma sentença contendo um predicado de conhecimento pode variar dependendo de coisas como os propósitos, as intenções, as pressuposições, etc., dos atribuidores que proferem essas sentenças.51

Portanto, conforme o contextualismo proposto por ele, o valor de verdade de sentenças que contenham certas expressões, tipicamente utilizadas pelo vocabulário epistêmico, tais como ‗x sabe que y‘ e ‗x está justificado ao crer que y‘, é determinado pelos padrões de um contexto específico. Deste modo, uma mesma sentença, quando expressada em diferentes contextos, pode assumir, em cada um desses contextos, valores de verdade distintos. Além disso, o contexto relevante para a fixação dos padrões que determinam o valor de verdade que cada uma dessas sentenças possuirá é aquele em que o atribuidor está localizado. Assim, ao considerarmos um mesmo sujeito S e uma mesma sentença P, duas pessoas podem, simultaneamente, dizer ‗S sabe que p‘ e apenas uma delas dizer algo verdadeiro. Da mesma maneira, uma pessoa poderia dizer ‗S sabe que p‘ e outra dizer ‗S não sabe que p‘ e ambas serem consideradas como dizendo algo verdadeiro.

Essa perspectiva, num primeiro momento, pode parecer estranha, pois como explicar o fato de que – sobre o mesmo sujeito S e sobre a mesma proposição P – dois atribuidores distintos possam afirmar aparentes contraditórios (‗S sabe que P‘ e ‗S não sabe que P‘) e ambos estarem corretos? A divergência com relação aos valores de verdade em cada atribuição é, como propõe

45 Cohen, apenas aparente. Para o contextualismo esta divergência nos valores de verdade pode ser explicada pela diferença dos padrões envolvidos em cada um dos contextos de atribuição do predicado epistêmico. Cohen aceita que, embora conhecimento seja um conceito absoluto, justificação é um conceito que admite graus, então, toda vez que buscamos determinar se S sabe ou não que P, os padrões que determinam se a sentença ‗S sabe que P‘ é verdadeira, no nosso contexto de atribuição, são os padrões que refletem o grau de justificação adequado para que S saiba que p. Dito de outro modo, os padrões que determinam os valores de verdade para sentenças da forma ‗S sabe que P‘ são fixados de acordo com a força da posição epistêmica desfrutada por quem faz a atribuição, ou seja, o seu grau de justificação.

Nossas práticas epistêmicas ordinárias são extremamente importantes para a teoria contextualista, pois elas originam e suportam as intuições defendidas pelos contextualistas. Um dos primeiros exemplos oferecidos por Cohen, na tentativa de capturar essa idéia de que os contextos e os padrões determinados por ele são decisivos na determinação do conhecimento, retoma o paradoxo da loteria. Imaginem que um sujeito S possui um bilhete de loteria com n bilhetes, onde a probabilidade n–1/n para que o bilhete de S seja o perdedor é massivamente alta. O que diríamos desse caso? Pode S saber que vai perder? Agora, imagine outro caso: suponha que S fica sabendo por Téo, a pessoa responsável pela loteria, que ele irá viciar o sorteio e que S irá perder. Ou ainda, imagine que S leu no jornal que outro bilhete foi o vencedor. O que diríamos agora? S sabe que vai perder? Ao analisar esse caso Cohen oferece uma explicação que se baseia na característica das evidências (razões). De modo geral, a análise que ele faz desse caso tem em vista o debate sobre a teoria das alternativas relevantes, mas de qualquer modo já estabelece de forma clara sua compreensão sobre os padrões contextuais.

No primeiro caso, parece que S não sabe que seu bilhete será o perdedor, pois sua razão para crer que seu bilhete é o perdedor está baseada somente na informação estatística sobre a quantidade de bilhetes vendidos, ainda que seja massivamente alta a probabilidade de que seu bilhete não será sorteado. Aqui, a razão probabilística n–1/n não implica a conclusão de que S irá perder. Pois, trivialmente, existe a alternativa de que o bilhete de S poderia ser o vencedor que é consistente com a probabilidade n–1/n em que outros bilhetes possuem igual chance de serem sorteados. Neste caso, ordinariamente negamos que S sabe que irá perder, pois a alternativa de que ele pode ganhar é relevante, nesses contextos. No segundo caso, em que a razão de S para

46 crer que seu bilhete será o perdedor consiste do testemunho de Téo ou da informação contida no jornal, parece que S sabe que irá perder a loteria. Mesmo neste caso, as razões não implicam na conclusão de que seu bilhete perderá, pois existem alternativas que são consistentes com as razões, por exemplo, o testemunho é falso, o repórter que escreveu a reportagem se enganou, etc. Contudo, nós ordinariamente atribuímos conhecimento a S, pois consideramos que essas

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