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5.1. Como a tributação pode levar à sustentabilidade

O Direito estabelece um arcabouço de regras que impõe determinados

comportamentos. Nesse sentido:

[p]ara entender a dinâmica no direito, deve-se primeiramente

perceber que ele não é simplesmente um conjunto de normas. Estas

são uma manifestação do direito, positivação de normas de conduta,

que porém não o exaure. O direito não é uma parte, um estamento

da sociedade, é uma prática social.

78

Dessa forma, observa-se que o Direito cria, através de normas, certo tipo de

sociedade. A Constituição de 1988, por exemplo, delineia a estrutura do Estado

brasileiro, estabelecendo as suas diretrizes. Nesse sentido, a Carta Magna

preceitua, pela primeira vez, a preservação ao meio ambiente como direito e dever

de todos, inclusive para as futuras gerações.

Observa-se, portanto, que o constituinte ao positivar o art. 225 na

Constituição Federal de 1988 elevou o direito ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado a um patamar que a sociedade deve se dirigir para alcançá-lo. Ou seja, a

busca pela sustentabilidade

79

deve estar em constantemente presente no cotidiano

da sociedade brasileira.

A tributação, em seu turno, age dentro

80

da Ordem criada pela Constituição

de 1988 e também deve respeitar e auxiliar na busca pela concretização de seus

preceitos. Para tanto, além de sua função arrecadatória, a tributação também visa

moldar comportamentos. Esta função extrafiscal – para além da arrecadação aos

cofres públicos – é crucial para a geração de incentivos às condutas não prejudiciais

ao meio ambiente e, principalmente, para as ambientalmente favoráveis.

78

DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Saraiva, 2008,p.2-3.

79

Sustentabilidade aqui utilizada como princípio sistêmico que perpassa por todo o ordenamento

jurídico e serve de norte no processo decisório dos indivíduos, Estado e empresas.

80

“O princípio da legalidade estabelece que os tributos só podem ser instituídos ou aumentados por

lei, entendida esta como ato próprio do Poder Legislativo.” In: AMARAL, Paulo Henrique do. Direito

Tributário Ambiental. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,2007.p.71. O referido princípio se

encontra esculpido no art. 150, I, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Cabe ressaltar que parte da doutrina

81

faz distinção entre tributos com efeitos

extrafiscais e com fins extrafiscais. A discussão, conforme se percebe é apenas

teórica, porém interessante para demonstrar que independente da função primordial

do tributo, ele sempre induzirá um determinado comportamento, seja para inibir ou

para incentivar uma conduta.

De fato, conforme mencionado acima, além da faculdade de criação

de tributos especificamente para a finalidade extra-arrecadatória,

ainda se destaca no ordenamento jurídico a possibilidade de

existirem normas tributárias de caráter indutivo que, embora

apresentem o precípuo objetivo arrecadatório, carregam em seu

bojo elementos propiciadores de efeitos extrafiscais, ou terão o

resultado da arrecadação voltado a um fim específico.

82

(Grifei)

Desse modo, observa-se que mesmo os tributos com fins arrecadatórios

podem influenciar no comportamento dos contribuintes. Sendo assim, tendo em vista

o objetivo de se garantir um meio ambiente equilibrado, prega-se que os tributos –

mesmo que não estritamente ambientais – busquem incentivar um uso racional dos

recursos naturais. Explica TUPIASSU:

Assim, mister admitir que tributos eminentemente arrecadatórios sem

afetação ecológica específica podem redundar em efeitos

extrafiscais, podendo ser utilizados como instrumentos de política

ambiental através da inserção de elementos indutivos em seu bojo.

83

De acordo com a Professora Melina Rocha

84

, a tributação possuía três

funções básicas, quais eram: (i) alocativa, relacionada ao fornecimento de bens

públicos, (ii) distributiva, associada a distribuição de renda através da tributação e,

(iii) estabilização, “cujo objetivo é influenciar a política econômica para atingir certo

nível de emprego, estabilidade nos preços e taxa de crescimento econômico”

85

.

81

Ver a respeito MOLINA, Pedro M.Herrera. Derecho Tributario Ambiental. p.56 es.s; HERNANDES,

Jorge Jimenez. El Tributo como Instrumento de Protección Ambiental,p.85;BORRERO MORO, C.

La Tributación Ambiental en España,p.51. In: TUPIASSU (2006), op. Cit.

82

TUPIASSU (2006), Op. Cit.

83

Idem. p. 126.

84

LUKIC, Melina Rocha. Tributação e Desenvolvimento Sustentável no Brasil: Possibilidades,

Instrumentos e Limites. Instrumentos Jurídicos para Implementação do Desenvolvimento

Sustentável. Rio de Janeiro: FGV, 2012.

85

Atualmente, porém, deve-se acrescentar “a função de proteção do meio ambiente,

no sentido de induzir comportamentos ambientalmente positivos”

86

.

Nota-se, portanto, que a tributação, como uma das responsáveis pelo

incentivo de condutas, tem papel importante em se tratando de proteção ao meio

ambiente. Ao conceder benefícios fiscais para atividades que visam proteger ou

diminuir o impacto ao meio ambiente e à saúde humana, o Poder Público promove o

preceito expresso no art. 225, caput, da Constituição de 1988

87

.

O art. 225 da Constituição Federal de 1988, ao estabelecer que

“todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (...),

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo

e preservá-lo para presentes e futuras gerações”, determina que

todos os instrumentos possíveis ao Estado, dentre os quais se

incluem os tributos, devam ser utilizados para a preservação do

meio ambiente.

Dessa forma, ainda pode-se dizer que o referido dispositivo constitucional traz

uma limitação ao poder de tributar e não tributar do Estado:

Os princípios do meio ambiente ecologicamente equilibrado para as

presentes e futuras gerações e da sustentabilidade ambiental na

produção econômica de bens e serviços também conformam o poder

de tributar e não tributar, apesar dessa associação não estar

expressamente consagrada no Título VI da CR-88 como mais uma

das limitações de tributar do Estado (...)

88

Nesse sentido, percebe-se que ao incorporar a sustentabilidade como um

princípio que perpassa por toda a Constituição de 1988 – assim como o princípio da

dignidade da pessoa humana -, toda a hermenêutica constitucional é alterada,

inclusive no que tange à tributação. Sendo uma limitação ao poder de tributar e não

tributar, o impacto ao meio ambiente deveria influenciar na definição do fato gerador

de um tributo, bem como na sua alíquota e base de cálculo.

Ademais, cabe ainda repisar na ideia defendida por Pigou

89

, na qual o Estado

deve taxar condutas ambientalmente negativas, fazendo com que os poluidores

86

Idem. Ibidem.

87

LUKIC (2012).Op.Cit.

88

COSTA, Leonardo de Andrade. A Tríplice projeção dos Princípios da Sustentabilidade

Ambiental na Produção Econômica de Bens e Serviços e do Meio Ambiente Ecologicamente

Equilibrado sobre a Tributação do Século XXI (no prelo).

89

incorporem a externalidade negativa por eles geradas e, incentivar as condutas que

geram efeitos sociais positivos, o que também pode ser realizado por meio da não

tributação.

Considerando, assim, a proteção ao meio ambiente como uma limitação

implícita ao poder de tributar e não tributar do Estado, além de considerar a

sustentabilidade como um princípio sistêmico, fica claro que tributação tem o condão

de incentivar o comportamento ambientalmente sustentável dos indivíduos e das

empresas.

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