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3. DA VEDAÇÃO DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NOS JUIZADOS

3.1. Da vedação à assistência

Conforme exposto em tópico anterior, a assistência possui duas modalidades, quais sejam, a assistência simples e a litisconsorcial. Tendo em vista distinguirem-se quanto à relação que mantém o terceiro assistente com o objeto de discussão no processo, tais modalidades merecem tratamento diferenciado e específico.

A assistência simples se caracteriza por ser aquela em que o terceiro não possui relação direta com o que se discute no processo. Desta feita, o efeito da sentença somente atinge o assistente de forma reflexa.

Nesse caso, não nos parece haver qualquer prejuízo para as partes, ou mesmo para o processo, que sua intervenção seja vedada. Explique-se.

Não podendo o assistente ser equiparado a litisconsorte, nem tampouco podendo ser considerado parte da demanda, caso intervenha no processo e, ao final, a parte a quem presta assistência não se sagre vencedora, nada obsta que, posteriormente, ingresse em juízo para defender seu interesse atingido ou para pleitear ressarcimento de eventuais prejuízos suportados.

O aspecto de maior relevância, nesse caso, é a existência de duas relações jurídicas que, apesar de interligadas, são distintas. A relação estabelecida entre autor e réu difere daquela estabelecida entre eles e seus eventuais assistentes.

Assim sendo, decidida a controvérsia entre as partes originais da demanda resta ainda ao assistente a possibilidade de discussão acerca de sua relação com seu assistido, o que afasta a alegação de que a vedação, nesse caso, poderia ocasionar prejuízo injustificado para o terceiro.

Tomando por base o exemplo do sublocatário utilizado em tópico anterior, uma vez forçado o locatário a desocupar o imóvel em virtude de condenação na ação de despejo, o que implicará o desalojamento do próprio sublocatário, nada impede que este recorra ao Judiciário para ver-se ressarcido por aquele que sublocou o imóvel.

Assim, analisando todo o panorama a respeito da vedação da assistência simples vislumbramos que esta proporciona maior celeridade ao processo, uma vez que impossibilita o incremento em qualquer dos pólos da demanda; propicia a satisfação definitiva do direito do autor, que terá solucionada, favoravelmente ou não, a controvérsia proposta em juízo; e, por fim, garante a possibilidade do terceiro

prejudicado, que se enquadraria no perfil do assistente, recorrer ao Judiciário em busca de ressarcimento por eventuais prejuízos experimentados.

Diferente solução, entretanto, ocorre na assistência litisconsorcial.

Reavivando as explicações sobre o instituto, a assistência litisconsorcial se caracteriza por ser aquela em que o assistente também é titular da relação jurídica debatida em juízo.

Assim, a relação estabelecida entre autor, réu e o terceiro interveniente resulta numa só. Como a própria nomenclatura denuncia, o assistente, nessa espécie, encontra-se equiparado ao litisconsorte, possuindo autonomia em relação ao assistido. O CPC, inclusive, é explícito nesse ponto ao prever em seu art. 54 a equiparação do assistente qualificado ao litisconsorte.

A exemplo do que acontece no litisconsórcio, não é lícito ao assistente qualificado discutir posteriormente o mérito da decisão judicial que lhe foi desfavorável, tendo em vista que a relação jurídica que este mantém com o autor é da mesma natureza do réu. Há quem vislumbre, inclusive, a possibilidade de equiparação dos efeitos da coisa julgada para o terceiro nesse caso.

Nesse sentido, Nelson Nery Júnior29:

“(...) embora a norma fale em influência da sentença na relação jurídica do assistente litisconsorcial, na prática isto equivale a verdadeira eficácia da coisa julgada contra terceiro (exceção ao CPC 472): ainda que intervenha no processo, a esfera jurídica daquele que poderia ter sido assistente litisconsorcial, será inexoravelmente atingida pela sentença produzida entre as partes. Isto porque as hipóteses de assistência litisconsorcial são aquelas de litisconsórcio facultativo-unitário. O regime da unitariedade faz com que o potencial assistente litisconsorcial tenha seu direito atingido pela sentença proferida inter alios”.

Tome-se como exemplo o caso dos devedores solidários enunciado em tópico anterior. Uma vez prolatada sentença condenando um dos devedores solidários, tal sentença possuirá eficácia contra todos os demais, não mais havendo possibilidade de questionamento judicial acerca da legitimidade da dívida.

Assim, sendo solidários os devedores “A”, “B” e “C”, em virtude de crédito concedido por “D”, eventual sentença que condene “A” ao pagamento total da dívida implica o reconhecimento de que todos os demais também estão vinculados à dívida

29 Apud, LOURENÇO, Luiza Andréa Gaspar, Juizados Especiais Cíveis: Legislação, Doutrina, Jurisprudência e Prática, 1. ed. São Paulo: Iglu, 1998, p. 69 e 70.

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apresentada por “D”. Dessa forma, não há mais possibilidade de discussão da legitimidade da dívida por parte de “B” ou “C”.

Participando ou não o possível assistente do processo em que se discute a dívida, a sentença de mérito prolatada atingirá sua esfera jurídica, sendo-lhe impossível nova discussão acerca do mérito.

Dessa forma, o panorama geral encontrado na assistência litisconsorcial muda substancialmente em relação ao da assistência simples. Também aqui a vedação à intervenção de terceiros acarretará maior celeridade processual, uma vez que não permite o alargamento de qualquer dos pólos da demanda.

Não há também qualquer prejuízo há efetividade da decisão judicial, tendo em vista a completa satisfação do pleito do autor, uma vez que sua resolução não permite rediscussão do mérito por qualquer dos possíveis assistentes.

Ocorre que, diferentemente do que acontece na assistência simples, a vedação à assistência litisconsorcial não permite ao terceiro interessado ver-se amparado pelo Judiciário em caso de entender-se prejudicado. Isso porque, conforme dito anteriormente, a sentença de mérito prolatada não poderá ser rediscutida pelo eventual assistente. Seu ingresso em juízo para contestar a dívida já reconhecida em sentença, por exemplo, será infrutífero

Vedar a participação do assistente litisconsorcial, portanto, pode acarretar-lhe prejuízo, uma vez que priva o terceiro de defender direito que também é seu, o que atenta contra os fundamentos do Estado Democrático de Direito.

A nosso ver tal atitude implica em supressão de liberdade possibilitando, em último caso, condenação do réu ou extinção do direito do autor sem que o terceiro, sujeito da mesma relação jurídica discutida no processo e titular do mesmo direito, tenha sequer a possibilidade de se manifestar sobre o assunto.

Desta feita, diante de todo o quadro acima exposto, não parece correta a posição do legislador de, a pretexto de conferir celeridade aos processos que tramitam nos Juizados Especiais, não permitir o ingresso do assistente litisconsorcial na demanda.

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