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Capítulo II Desenvolvimento da Prática Supervisionada

Esquema 1 Transversalidade da Língua Materna (Neves, 2004, p.65)

6. Apresentação e análise dos dados

6.3. Dados das notas de campo

De forma a conhecermos e a analisarmos a diversidade do corpus textual utilizado no processo de ensino e aprendizagem do grupo de alunos em que incide a investigação, recorremos à observação, mais propriamente à observação- participante, na medida em que, segundo Raposo (1983), o observador é considerado membro do grupo, participando nas suas atividades, interesses e afetos.

A sala de aula, enquanto contexto de ensino, pode configurar-se como um local apropriado para a observação das relações professor-aluno, bem como das demais variáveis que interferem no processo de ensino e aprendizagem, constituindo não só uma melhoria da qualidade de todo este processo, como também uma fonte de inspiração e motivação.

Durante as semanas de Prática Supervisionada observámos que alguns alunos tinham dificuldades, no que respeita à compreensão de determinados textos. O conhecimento prévio que o aluno tem sobre o tema e o desconhecimento de vocábulos utilizados no texto constituíram dois factores determinantes na compreensão dos textos lidos.

Por outro lado, a maior parte dos alunos apresentava um bom nível de compreensão da leitura de textos. A eficácia na rapidez e na precisão da identificação de palavras que estes alunos têm quando lêem um texto comprova o bom nível de fluência de leitura. Um leitor fluente reconhece as palavras automaticamente e sem esforço, agrupa-as, acedendo rapidamente ao significado de frases e de expressões do texto.

Estes alunos, todos os dias, tinham contacto com textos variados, realidade muito apreciada por todos eles. Considero que os alunos põem em prática processos de compreensão diferentes quando lêem distintos tipos de texto. De todos os tipos de texto tratados ao longo da investigação, a preferência por dois deles, nomeadamente a poesia e o texto dramático, é bem notória. Embora também se interessassem por textos epistolares, textos instrucionais, textos informativos e textos de ficção narrativa, nomeadamente histórias e fábulas, estes alunos mostravam especial entusiasmo quando se tratavam de textos poéticos e de textos dramáticos. Como tal, considero importante reflectir acerca do quão relevante é perceber o porquê destes alunos preferirem estes dois tipos de texto. Assim, ao longo da investigação, fui registando algumas das suas impressões. Acerca da poesia, este grupo de alunos afirmava que ler poesia os fazia sentir mais calmos. Por outro lado, a rima, o ritmo e a sonoridade possibilitava-lhes, não só conhecer novos sons, como também brincar com os mesmos. Além de apreciarem muito ler poesia, também gostavam muito de escrever poemas. Concebiam poemas instantaneamente, por exemplo, sobre uma actividade desenvolvida, um evento em que participavam ou uma canção que inventavam. No meu ponto de vista, a poesia é, sem dúvida, um meio privilegiado para despertar o amor pela língua materna.

Outra tipologia muito acarinhada por estes alunos é a ficção narrativa, nomeadamente o texto dramático. O facto de poderem representar aquilo que liam,

fazia-os ficar mais atentos ao sentido global do texto e mais concentrados na sua leitura e na leitura dos seus colegas. Trabalhar com este género textual, em contexto sala de aula, traz uma série de vantagens para os alunos, na medida em que aprendem a improvisar, desenvolvem a oralidade, a expressão corporal, a colocação de voz. Também a interiorização dos diálogos, numa actividade verbal colectiva como é a dramatização, favorece o desenvolvimento de processos auto-reguladores do discurso interior da criança (Vygotsky, 1962).

Ao longo da investigação, fomo-nos apercebendo que este grupo de alunos gosta de quebrar a rotina com a realização de concursos de leitura e com estratégias motivadoras de compreensão da leitura. Foram utilizadas estratégias antes, durante e depois da leitura. Procurei também desenvolver, ao longo do período de Prática Supervisionada, percursos de ensino e aprendizagem promotores de boas experiências e aprendizagens. Todos os dias os alunos liam textos de variadas tipologias.

Ao longo destes meses de observação detetámos que os alunos frequentam a biblioteca da escola para requisitar livros do seu interesse.

A professora titular de turma tem a preocupação de orientar os alunos a recorrer à biblioteca, permitindo que os mesmos escolham livros do seu interesse para ler, interpretar, compreender e apreciar. Depois de alguns dias, os alunos têm a oportunidade de falar um pouco sobre o livro que escolheram, no sentido de estimular, nos seus colegas, a curiosidade e a vontade de requisitar o livro em questão. É uma iniciativa que dá bons resultados, pois o aluno descobre o desejo de ler a obra por si mesmo e tem a possibilidade de cativar os colegas para a leitura.

A sala de aula deste grupo de alunos possui computador com acesso à Internet. Neste espaço, os alunos têm oportunidade de realizar pesquisas, escrever e ler textos diversos através, por exemplo, do Plano Nacional de Leitura. Este é um projeto pioneiro na Internet que pretende ajudar a promover hábitos de leitura em Portugal.

Tal como os meios de comunicação, o material didático existente na sala de aula e na escola onde a investigação foi desenvolvida também facilitou a aquisição de diversos conteúdos expressos nalgumas leituras. Portanto, os materiais didáticos são de importância fundamental para uma aprendizagem significativa, desde que sejam utilizados por professores que conheçam, de facto, a realidade em que estão a atuar, propiciando, ao aluno, autonomia e aulas dinâmicas.

Concluo as minhas observações afirmando que a eficácia da aprendizagem da leitura depende do ensino eficiente da decifração e das estratégias utilizadas para a compreensão de textos.