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4. INTERPRETAÇÃO E SÍNTESE DOS INQUÉRITOS E ENTREVISTAS

4.1. Dados do Inquérito por Questionário

Ao discutir os resultados por nós obtidos, verificámos que a maioria das mulheres que inquirimos, são agentes principais, cujo tempo médio de serviço se situa entre os 10 e os 20 anos. Traçando uma caracterização genérica da nossa amostra, estas são, maioritariamente, adultas com idades entre 36 e 45 anos, detentoras de níveis médios de escolaridade, 11º e 12º ano. Uma elevada percentagem 62,8% é casada e 79,5% tem um ou dois filhos.

O presente estudo teve como questão nuclear conhecer o modo como são estruturadas as carreiras profissionais das mulheres que ingressam na Polícia de Segurança Pública. Neste sentido o questionário aplicado a 180 agentes do sexo feminino da PSP foi estruturado em torno de um conjunto de questões ligadas a saber: quais as razões que as levaram a enveredar pela profissão de polícia; que tipo de serviço policial começaram por executar e que motivos as levaram a mudar ou não de tipo de serviço; que razões as levaram ou não a concorrerem aos cursos de promoção a subchefes; qual o nível de dificuldades que têm para conciliar a sua vida familiar/pessoal com a vida profissional; quais os aspectos que modificariam quer na vida familiar/pessoal quer na vida profissional para conseguirem conciliarem ambas.

Assim verificamos que as agentes da PSP enveredaram por esta profissão por três razões principais: a possibilidade de ter um emprego seguro, a possibilidade de fazerem algo até então vedado às mulheres e por influência de familiares e amigos. No estudo efectuado por Marinho (2001:61) sobre a adaptação e integração das mulheres na PSP, constatamos que os resultados são muito idênticos já que a possibilidade de ter um emprego seguro foi a motivação a que as inquiridas deram mais importância para concorrer à PSP (86,8%) tendo a possibilidade de fazer algo diferente anteriormente vedado às mulheres sido escolhido, como muito importante ou com alguma importância, por 70,3% das inquiridas. No caso das mulheres da

Guarda Nacional Republicana, no estudo levado a efeito por Faria o mesmo constatou que as mulheres por si inquiridas, apresentavam “ (…) como razões com maior peso para a sua decisão de querer entrar para a GNR, o ser útil à sociedade, poder realizar uma actividade que lhe dá prazer e para a qual têm vocação, (…) e a possibilidade de ter um emprego seguro.” (Faria, 2000:108)

Observámos também que o serviço administrativo, típica função feminina, para a qual eram inicialmente recrutadas as mulheres, bem como a patrulha são as funções em que se encontram a maioria das nossas inquiridas. Apercebemo-nos, no entanto, que as mulheres dentro da PSP, actualmente, já executam quase todas as funções policiais, embora o seu número em cargos e categorias (Oficial) de chefia seja, ainda, diminuto.

Iniciaram a sua vida profissional a exercer funções de patrulha e a maioria mudou de funções por escolha própria ou aceitando convites para o fazerem. Os principais motivos que as levaram a mudar de serviço prendem-se com a possibilidade de terem um melhor horário de trabalho para poderem conciliar com os horários dos restantes membros do agregado familiar. As que não mudaram de serviço ao longo da sua vida profissional fizeram-no por gostarem do trabalho que executam e por gostarem do serviço por turnos. A maioria exerce este tipo de serviço à mais de cinco anos. Consideram que o serviço que executam não é desvalorizado. Consideram que o serviço que executam mesmo sendo na maioria administrativo, não as afasta da realidade policial nem as limita no tempo para adquirirem conhecimentos para concorrerem a cursos de promoção.

A grande maioria, 62,2%, nunca concorreu a cursos de promoção porque as promoções implicariam uma deslocalização para outro comando diferente daquele onde prestavam serviço e tinham residência e porque a vida familiar não se coadunava com a preparação para os concursos e com frequência de cursos.

De destacar as 88,3% inquiridas que afirmam existir espírito de camaradagem e entreajuda entre homens e mulheres na PSP assim como as 85% que dizem que os homens na PSP aceitam bem a presença de mulheres na instituição. O estudo efectuado por Marinho (2001:56) corrobora estes valores (82,2% e 68,1%

respectivamente). Observámos, todavia, que na questão da boa aceitação por parte dos homens da PSP em relação às mulheres em cargos de chefia que, embora não sendo um valor estatisticamente significativo, 30,0% das inquiridas respondem sempre com muita ou alguma dificuldade e 38,3% com dificuldade apenas no início, vindo ao encontro de certos estudos (Cf. Delhomez, sd:22) que referem que a mulher é mal aceite em funções de chefia.

Reflectindo sobre outro tipo de limitações que poderiam existir por parte das mulheres da PSP quando em igualdade de condições físicas e de conhecimentos a nível profissional, a maioria (85%) refere não ter nenhum outro tipo de limitações.

A conciliação da vida familiar com a vida profissional é uma dificuldade que afecta a vida de qualquer mulher trabalhadora (Cf. Stratton, 1986:326-318; Vicente, 1998:78). Contudo, a maioria das nossas inquiridas consegue conciliar positivamente ambas as funções. A grande maioria (53,9%) não tem dificuldade na conciliação da vida familiar com a profissional e apenas 6,7% tem muita dificuldade. Comparativamente com as respostas dadas pelas mulheres polícias no estudo efectuado por Marinho (2001:66), verificamos que também naquele se verificou que somente 5,4% dizem conciliar mal ou muito mal a sua vida pessoal com a profissional, 53,8% conciliam razoavelmente e 40,8% conciliam bem ou muito bem.

A maior flexibilidade de horário, o horário menos preenchido e a inexistência de creches e infantários da instituição são três dos factores que as que têm dificuldades na conciliação modificariam na vida profissional para haver conciliação. Neste sentido, tivemos agentes que nas observações expressaram a dificuldade sentida aquando dos turnos nocturnos em não terem a quem deixar os filhos, situação que se complica no caso das divorciadas/separadas, como as inquiridas referiram. A título de exemplo neste âmbito, a TAP possui um jardim-de-infância a funcionar 24 horas por dia, permitindo ao seu pessoal navegante e de terra, que trabalha por turnos, deixar os filhos no infantário no período de trabalho nocturno (Cf. Guerreiro e Lourenço, 2000:8). Os aspectos mais escolhidos, que modificariam na vida familiar, são o maior apoio familiar, a flexibilidade de horário das escolas e apoio nas tarefas domésticas.

Na verdade, através do inquérito por questionário realizado apercebemo-nos que muitas das dificuldades que a literatura atribui às mulheres polícias, consagradas num dos subcapítulos a elas dedicado, não são significativamente sentidas pelas agentes inquiridas.

Em suma, apercebemo-nos que o sentimento das inquiridas face aos problemas levantados é maioritariamente positivo.

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