• Nenhum resultado encontrado

OS DADOS SE REFEREM À OCUPAÇÃO ÚNICA OU PRINCIPAL DA PESSOA SÃO CONSIDERADOS TODOS OS INDIVÍDUOS

OCUPADOS COM INFORMAÇÃO DE VALOR POSITIVO PARA O RENDIMENTO DE TODOS OS TRABALHOS NA PNAD, EXCLUINDO

AQUELES SEM INFORMAÇÃO DE IDADE, ESCOLARIDADE, POSIÇÃO NA OCUPAÇÃO, COR E TEMPO DE TRABALHO. NAS

ESTIMATIVAS, FOI UTILIZADO O FATOR DE EXPANSÃO ASSOCIADO A CADA PESSOA DA AMOSTRA.

2 SEM AS RESTRIÇÕES RELATIVAS À ÁREA DO EMPREENDIMENTO DE EMPREGADORES E CONTA PRÓPRIA.

Observa-se que a situação educacional no setor agrícola é muito ruim, o que dificulta a obtenção de emprego nos setores urbanos pelos agricul- tores em caso de abandono da atividade. A pior situação é a do Nordeste,

onde pouco mais da metade das pessoas ocupadas no setor agrícola não completou o primeiro ano de estudo e quase 90% deles não começaram o ginásio (ver gráfico 3). As regiões onde os agricultores freqüentaram por mais tempo o banco escolar são o Sul e o estado de São Paulo. Mesmo assim, o nível de escolaridade é bem inferior ao das pessoas ocupadas nos setores secundário e terciário em todo o país.

A demanda por mão-de-obra qualificada tende a aumentar quando passamos de economias tradicionais para economias modernas. Mas boa parte da diferença de escolaridade entre os ocupados no setor primário e os ocupados nos setores secundário e terciário resulta das dificuldades de as pessoas residentes no campo continuarem estudando, seja por causa do acesso ruim à escola, seja pela entrada precoce no mercado de trabalho. Tais motivos também explicam parte das diferenças regionais em relação ao desempenho educacional dos agricultores. O acesso à educação no meio rural nordestino, via de regra, é pior do que em São Paulo e no Sul.

Gráfico 3 – Composição da população ocupada na agricultura em seis regiões brasileiras, conforme a categoria educacional. Brasil, 20011

FONTE: ELABORAÇÃO DOS AUTORES.

1 SEM AS RESTRIÇÕES RELATIVAS À ÁREA DO EMPREENDIMENTO DE EMPREGADORES E CONTA PRÓPRIA.

A área dos empreendimentos é uma medida mais precisa do capital físico dos agricultores por conta própria e empregadores do que uma variável binária para distinguir as duas posições na ocupação. Isso pode ser demonstrado ajustando-se equações de rendimentos em que são ex- cluídos os empregados. Ney e Hoffmann (2002) analisaram os coeficientes e as contribuições marginais de duas regressões de renda as quais con- sideram apenas os agricultores por conta própria e empregadores, uma incluindo o logaritmo neperiano da área, a outra não. A inclusão aumentou o coeficiente de determinação de 42,2% para 46,5%; e a contribuição marginal do fator área para a soma dos quadrados da regressão (9,2%) é superior à da posição na ocupação.

A importância das diferenças na área dos empreendimentos na par- cela explicada da renda, nas regressões para todas as pessoas ocupadas na agricultura, é de 10%, o maior índice entre todos os fatores analisa- dos (ver tabela 9). A contribuição marginal do capital físico controlado pela pessoa, medido pela área e pela posição na ocupação, é de 22,5% (modelo 3). O coeficiente da área do empreendimento representa a elasticidade do rendimento em relação à quantidade de terra. Ele indica que 1% a mais na área do empreendimento eleva a renda esperada em 0,18%, em média. De acordo com esse valor e o coeficiente dos conta própria (no modelo 3), para a renda esperada de um produtor autôno- mo ser igual ao ganho esperado dos empregados, a área de seu empreen- dimento teria de ter 7,7 ha, valor superior à posse de terra de mais de 55% dos conta própria. A renda dos autônomos, porém, deve estar muito subestimada por causa da produção para o autoconsumo, cujo valor não é informado na PNAD.

Com a inclusão da área do empreendimento na regressão, há uma forte redução do valor do rendimento esperado dos agricultores residentes em cada região em relação ao Nordeste, o qual é tomado como base. A queda já era prevista, pois a área média dos empreendimentos das pessoas residentes no Nordeste é muito inferior à de todas as outras regiões (ver tabela 5). Mesmo assim, a região é um condicionante importante do rendimento agrícola por causa dos diferenciais de nível técnico, produ- tividade e padrões regionais de salário, entre outros aspectos ligados às disparidades regionais (Corrêa, 1998).

Mas vale ressaltar que a renda agrícola no Nordeste deve estar mais subestimada do que nas outras regiões. O gráfico 4 mostra a distribuição das pessoas ocupadas na agricultura em três categorias de posição na ocupação. Entre as pessoas residentes no Sul, no Nordeste e nas áreas ur- banas do Norte, a participação dos conta própria é muito elevada. No estado de São Paulo, no restante do Sudeste e no Centro-Oeste, a parti- cipação dos empregados é bem maior. Tais números refletem a presença de dois tipos básicos de agricultura: nas três primeiras regiões prevalece a produção familiar, enquanto que nas três últimas há uma presença marcante da grande empresa capitalista.

Gráfico 4 – Composição das pessoas ocupadas na agricultura, segundo a posição na ocupação, no Brasil e por região – Brasil, 20011

FONTE: ELABORAÇÃO DOS AUTORES.

1 SEM AS RESTRIÇÕES RELATIVAS À ÁREA DO EMPREENDIMENTO DE EMPREGADORES E CONTA PRÓPRIA.

Onde há uma presença marcante da grande empresa capitalista na agricultura, o grau de mercantilização da economia é mais elevado. O acesso aos bens de consumo depende basicamente do poder de compra e a renda

monetária reflete melhor a renda real da população. No Nordeste, onde há maior presença da pequena agricultura familiar, uma grande parte da demanda deve ser suprida pela produção para o autoconsumo, cujo valor não é informado na PNAD.

Podemos ainda observar, na tabela 8, uma considerável queda dos coeficientes relativos à cor preta e à parda e ao sexo feminino, com a in- clusão da área do empreendimento. Eles também estavam superestimados nos modelos 1 e 2, porque a regressão não considera o fato de as pessoas brancas e os homens possuírem mais terra. A área média dos empreen- dimentos dos homens é de 51 ha, das mulheres, 27,4 ha, dos brancos, 66 ha, dos negros, 15,2 ha, e dos pardos, 32,8 ha. Mesmo assim, os resultados do modelo 3 são coerentes com a existência de discriminações contra as mulheres e as pessoas de cor preta e parda.

5. Conclusão

Este trabalho analisou as principais características da distribuição da renda no setor primário e buscou conhecer os efeitos de alguns dos determinantes da renda agrícola, particularmente do capital humano e do capital físico. Também procuramos mostrar que a magnitude dos coeficientes da esco- laridade e o peso de sua contribuição marginal está, em geral, superesti- mada nas equações de rendimentos ajustadas, pela ausência de uma variável que meça de forma adequada a riqueza das pessoas.

Os resultados obtidos revelam uma grande desigualdade na distri- buição de renda na agricultura: os 10% dos agricultores mais ricos rece- biam, em 2001, 47,8% da renda total do setor primário e os 5% mais ricos recebiam 37,2% desse mesmo total, mais do que o dobro da parcela apropriada pelos 50% mais pobres (16,3%). O índice de Gini é de 0,561. A desigualdade na agricultura é particularmente grave. Além de ela ser alta, o ganho médio das pessoas ocupadas na atividade é muito baixo se comparado ao ganho médio das pessoas ocupadas nos demais setores de atividade. Uma maior concentração do rendimento está assim asso- ciada a um maior nível de pobreza de forma mais acentuada do que na indústria e nos serviços.

De acordo com as equações de rendimentos estimadas, os dois principais condicionantes da desigualdade de renda entre os agricultores são a posição na ocupação e a área do empreendimento agrícola, as duas variáveis utilizadas para medir a riqueza das pessoas. Em seguida vem o tempo semanal de trabalho, região e escolaridade. A contribuição das outras variáveis é muito menor. No modelo em que consideramos apenas a posição na ocupação como proxy para o capital físico, seu efeito é bem maior do que os efeitos das outras variáveis.

Nas regressões até então ajustadas para pessoas ocupadas na indústria, nos serviços e na economia brasileira como um todo, a importância da escolaridade na determinação da renda é muito maior do que a dos demais fatores, mesmo quando se considera o efeito da posição na ocupação. Uma possível explicação, ressaltada por Hoffmann (2000), é que a posição na ocupação pode refletir melhor a riqueza das pessoas ocupadas no setor primário do que nos demais setores de atividade, porque na agricultura o empregador é tipicamente o proprietário da terra. Mesmo havendo tal possibilidade, não podemos negar que o efeito da educação na renda agrícola deve ser realmente menor, pois sua mão-de-obra é bem menos qualificada e mais homogênea.

O capital físico é a variável mais importante para explicar a conformação da renda na agricultura. Isso mostra a importância de políticas a favor da redução da desigualdade na distribuição da posse da terra para diminuir a desigualdade de rendimentos dentro do setor, em combinação com uma regulamentação mais eficiente das relações de trabalho no setor. A distri- buição da área dos empreendimentos agrícolas, conforme pôde ser obser- vado, está muito concentrada. Os 1% e 5% maiores empreendimentos ficam, respectivamente, com 37,5% e 65,8% da área total ocupada pelos empreendimentos agrícolas, ao passo que os 50% menores ocupam apenas 2,4% da área total. O valor do índice de Gini é de 0,843.

Uma das principais novidades deste estudo foi a inclusão, nas equações de renda para pessoas ocupadas no setor primário, da variável área do empreendimento agrícola, que serve para medir melhor o capital físico dos agricultores por conta própria e empregadores. Embora a distribuição da posse da terra esteja associada à posição na ocupação, há uma enorme desigualdade na distribuição da área do empreendimento dentro das

categorias de conta própria e empregador, a qual deve explicar boa parte da grande desigualdade de renda dentro de cada uma dessas duas categorias. Os 50% menores empreendimentos dos autônomos, por exemplo, ficam com 3,9% do total da terra ocupada pela categoria e os 5% maiores ficam com 55,6%.

A inclusão da nova variável aumentou o coeficiente de determinação do modelo de 0,374 para 0,416. O efeito da escolaridade na renda, por sua vez, caiu consideravelmente, o que indica que havia superestimação do efeito da educação no modelo em que só a posição na ocupação é considerada como proxy para o capital físico. Não é demais afirmar que a queda sugere a superestimação do coeficiente e da contribuição marginal da escolaridade nas equações de rendimentos ajustadas para os outros setores de atividade, porque a desigualdade na posse do capital físico dentro de cada categoria da posição na ocupação também não é captada. Para captá-la, seria necessário utilizar informações mais precisas sobre a riqueza das pessoas ocupadas na indústria e nos serviços, as quais não estão disponíveis nas PNAD nem nos Censos Demográficos.

Se a posição na ocupação for uma medida mais adequada do capital físico na agricultura do que na indústria e nos serviços, tal como sugeriu Hoffmann (2000), a superestimação da influência da escolaridade na renda seria ainda maior em equações ajustadas para os dois últimos setores e para a economia brasileira como um todo. Entre os agricultores, a posição na ocupação está claramente associada à riqueza. A condição usual para ser empregador é possuir muita terra. Acreditamos que essa associação seja bem mais fraca nos outros setores de atividade. Fortes indícios em- píricos podem ser encontrados para a defesa desse argumento. Um exe- cutivo e acionista de uma grande empresa aparece nos dados da PNAD como empregado, enquanto um microempresário com um único em- pregado é considerado empregador.

A superestimação do efeito da escolaridade nas equações de rendi- mentos pode levar a um exagero na avaliação da eficácia de uma política de democratização do acesso ao ensino na redução da desigualdade na distribuição da renda. De qualquer maneira, a educação, seja na agricultura, seja nos outros setores de atividade, é, sem dúvida, um dos principais determinantes da renda. A expansão do sistema de ensino, aliada a uma

redução da heterogeneidade educacional, representa um instrumento bastante eficaz no combate à desigualdade e pobreza no Brasil. A educação, por sua condição de ativo “não-transferível”, é um ativo de distribuição mais fácil do que a maioria dos ativos físicos (Barros et al, 2002).21 Ela ainda aumenta a produtividade do trabalho, contribuindo para o cresci- mento econômico e para o aumento de salários.

Referências bibliográficas

21 A educação é um bem que “pode ser reproduzido e geralmente é ofertado à população pobre por meio da esfera pública” (Barros et al., 2002).

BARROS, R. P.; HENRIQUES, R.; MEN- DONÇA, R. A estabilidade inaceitável: de- sigualdade e pobreza no Brasil. Texto para

Discussão, no 800. Rio de Janeiro, Ipea, 2001.

________. Pelo fim das décadas perdidas: educação e desenvolvimento sustentado no Brasil. Texto para discussão no 857. Rio de Janeiro, Ipea, 2002.

BONELLI, R.; RAMOS, L. “Distribuição de Renda no Brasil: avaliação das tendên- cias de longo prazo e mudanças na desi- gualdade desde meados dos anos 70”.

Revista de Economia Política. São Paulo, 13

(2): 76-97, abr./jun., 1993.

CORRÊA, A. J. Distribuição de renda e po- breza na agricultura brasileira. Piracicaba,

Editora Unimep, 1998.

FERREIRA, F. H. G. “Os determinantes da desigualdade de renda no Brasil: luta de classes ou heterogeneidade educacio- nal?” In: R. Henriques (org.), Desigualdade

e pobreza no Brasil. Rio de Janeiro, Ipea,

2000.

FISHLOW, A. “Brazilian Size Distri- bution of Income”. The American Economic Review, V. LXVII (2): 391-402, may/

1972.

________. “Distribuição de renda no Brasil: um novo exame”. Dados. Rio de

Janeiro, n. 11, 1973.

HOFFMANN, R. “Equações de rendi- mento para pessoas ocupadas no Brasil: contrastes regionais e setoriais”. Anais do XXXVI Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural. Poços de Caldas, 1998.

________. “Mensuração da desigualdade e da pobreza no Brasil“. In: R. Henriques (org.), Desigualdade e pobreza no Brasil. Rio

de Janeiro, Ipea, 2000.

________. “A distribuição da posse da ter- ra no Brasil de acordo com as PNAD de 1992 a 1999“. In: J. C. Conceição e J. G.

Gasques, Transformações da agricultura e políticas públicas. Brasília, 2001.

HOFFMANN, R; DUARTE, J. C. “A distri- buição da renda no Brasil”. Revista de Administração de Empresa. Rio de Janeiro,

abr./jun. 1972.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRA- FIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Manual de entrevista da pesquisa básica. PNAD – 1995.

KAGEYAMA, A.; GRAZIANO DA SILVA, J. “A propósito da expansão da agricultura paulista”. Boletim Paulista de Geografia.

Associação de Geógrafos Brasileiros – Regional de SP, n. 56, 1979.

LANGONI, C. G. Distribuição da renda e desenvolvimento econômico do Brasil. Rio de

Janeiro, Expressão e Cultura, 1973a. ________. “Distribuição da renda: resu- mo da evidência”. Dados. Rio de Janeiro,

n. 11, 1973b.

LLUCH, C. “Sobre medições de renda a partir dos Censos e das Contas Nacionais no Brasil”. Pesquisa e planejamento econômico.

Rio de Janeiro, n. 1, vol. 12, 1982. NEY, M. G.; HOFFMANN, R. “O efeito da posse da terra na renda dos agricultores por conta própria e empregadores”. Anais do XL Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural. Passo Fundo, 2002.

RAMOS, L.; VIEIRA, M. “Determinantes da desigualdade de rendimentos no Brasil nos anos 90: discriminação, segmentação e heterogeneidade dos trabalhadores”. In:

R. Henriques (org.), Desigualdade e pobreza no Brasil. Rio de Janeiro, Ipea, 2000.

SABBATO, A. “A computação revela os donos da terra”. Dados e Idéias. Rio de

Documentos relacionados