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3. Metodologia

3.3 Base de Dados

A fonte de dados desta pesquisa é a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Criada em 1975, trata-se de um registro administrativo com abrangência nacional e periodicidade anual que tem como finalidade informar as entidades governamentais sobre o mercado de trabalho formal brasileiro, permitindo seu monitoramento e caracterização, sendo um instrumento fundamental para o cumprimento de leis.

Cabe ressaltar que também seria possível calcular o RTI utilizando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua/IBGE)10. A vantagem dessa pesquisa é que ela engloba o mercado de trabalho informal. Porém, como se trata de uma pesquisa domiciliar, são mais frequentes os erros e as subdeclarações de informações relacionadas ao posto de trabalho. Outra desvantagem é que se trata de uma pesquisa amostral.

Já a RAIS investiga apenas o mercado formal de trabalho brasileiro, com uma cobertura de aproximadamente 97% do universo de estabelecimentos do território nacional. Assim, todos os vínculos empregatícios formais são investigados. Além disso, por se tratar de um registro administrativo, não se incorre no problema de subdeclaração de rendimentos, que é frequente em pesquisas domiciliares. Quanto ao fato de essa pesquisa não investigar a relação de trabalho informal, vale lembrar que para o caso da indústria de transformação — foco deste trabalho —, esse não é um problema tão grande, pois, no Brasil, apenas 7,55%11 dos trabalhados da indústria de transformação são informais. Assim, a perda de informação não é tão grande se comparada a outros setores, como serviços —onde 72,17%12 dos postos de trabalho são informais —, optando-se pelos dados da RAIS para a execução desta pesquisa.

Segundo o Ministério da Economia13, o tratamento estatístico das informações da RAIS permite a obtenção de dados em níveis mais desagregados em termos ocupacionais, geográficos e no que tange às classes de atividades econômicas. Dentre as informações coletadas na RAIS estão o tipo de vínculo empregatício, sexo do trabalhador, faixa etária, nível de instrução, rendimento, tamanho do estabelecimento (determinado pelo número de empregos), faixa de rendimento em salários-mínimos, entre outras. A geração das bases de dados se dá mediante o processo de análise de declarações originais dos estabelecimentos. Entre as desvantagens da RAIS pode-se mencionar eventuais omissões das declarações pelos estabelecimentos, declarações fora do prazo e erros de preenchimento.

10 De acordo com o IBGE, a PNAD Contínua acompanha as flutuações trimestrais e a evolução no curto, médio e longo prazo da força de trabalho, produzindo indicadores trimestrais sobre o mercado de trabalho e indicadores anuais sobre temas suplementares permanentes. Para mais informações acesse: <https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9173-pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-trimestral.html?=&t=o-que-e>.

11 Este dado foi extraído dos microdados da PNAD Contínua referente ao Quarto trimestre de 2018. No qual considerou-se informal, empregados no setor privado sem carteira assinada e trabalhadores por conta própria. 12 Com base nos microdados da PNAD Continua 4/2018, foi considerado pertencentes ao setor de serviços os seguintes códigos da CNAE domiciliar 2.0: 43, 45, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 55, 56, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 84, 85, 86, 87, 88, 90, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97. 13 Para mais informação acesse: <https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos>.

Para esta pesquisa, a principal variável utilizada é a ocupação do trabalhador, que obedece a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). A CBO reconhece, nomeia e codifica os títulos e descreve as características das ocupações do mercado de trabalho brasileiro. A estrutura básica da CBO foi criada em 1977, a partir do convênio com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), tendo como base a International Standard

Classification of Occupations (ISCO) de 1968. Com base na nova metodologia internacional publicada em 1988, a ISCO88, a CBO foi reformulada e sua nova versão foi publicada em agosto de 2002, entrando em vigor na RAIS de 2003. É essa comparabilidade entre a CBO2002 e a ISCO88 que permite que seja feita a classificação das ocupações brasileiras segundo o tipo de tarefa predominante (manual, abstrata ou rotineira).

As edições da RAIS utilizadas nesta pesquisa são as dos anos de 2003, 2013 e 2018. A escolha do ano de 2003 se justifica por ser o ano em que entra em vigor a CBO2002. Adicionalmente, também se consideram as transformações econômicas da China nos últimos 30 anos, conhecidas como China shock. Essas transformações abrangeram não apenas o rápido crescimento econômico e a acumulação sustentada de capital, como também grandes mudanças na composição setorial da produção e uma crescente importância dos mercados e habilidades empresariais. Segundo Autor, Dorn e Hanson (2016), uma das causas do China

shock foi o crescimento inesperado das exportações chinesas, resultado da política industrial vigorosa para o desenvolvimento de mudanças econômicas, tecnológicas e institucionais no país, impactando o setor produtivo dos demais países. No período de 1990 a 2013 o setor manufatureiro respondeu, em média, por 88% das exportações chinesas de mercadorias, em comparação com 50% no Brasil, 46% na Indonésia e 20% na Rússia. Além das exportações chinesas, o Brasil também sofreu impacto das importações chinesas, uma vez que a China passou a ser o país que mais importa nossos produtos, sobretudo soja, petróleo e minério de ferro. O aumento da competitividade chinesa mudou a intensidade da competição por produtos dos demais países, levando a uma contração nas indústrias, particularmente naquelas sujeitas a uma maior exposição à importação. Muitas empresas faliram e as que sobreviveram tiveram reduções no emprego, sendo os trabalhadores de baixa qualificação os mais afetados. Para sobreviver, as empresas foram compelidas a ampliar seus investimentos em inovações de produto e processos. Nessas condições o mercado de trabalho é amplamente afetado, o que pode contribuir para a aceleração da polarização do emprego.

Já a escolha do ano de 2018 deve-se ao fato de ser o último ano com dados disponíveis no período de desenvolvimento desta pesquisa. Assim, a comparação dos anos

de 2003 e 2018 permite cotejar os resultados antes e após a emergência do China shock. No entanto, devido ao fato de o cenário econômico do Brasil em 2018 ser de recessão, foi analisado adicionalmente o ano de 2013, pré-crise econômica.

A indústria de transformação14 é o setor que mais investe em inovação, como aponta a Pesquisa de Inovação (PINTEC/ IBGE) de 2003 a 2017. O Gráfico 1, a seguir, mostra que as empresas da indústria de transformação são as que mais implementaram inovações em relação aos outros setores, com maior investimento entre os anos de 2006 e 2008, quando representaram cerca de 36% do total de empresas inovadoras. Embora o número de empresas que implementaram inovações na indústria de transformação tenha aumentado de 2003 para 2014, entre 2009 e 2017 a participação da indústria de transformação no total de empresas que investiram em inovações foi de queda, alcançando aproximadamente 29% entre 2015 e 2017 (período em que o número de empresas que investiram em inovação diminuiu em relação aos anos anteriores, possivelmente devido à crise econômica vivida no país). Em contrapartida, as empresas do setor de serviços são as únicas que mantêm uma trajetória ascendente na implementação de inovações de 2003 a 2017, no entanto, a lacuna em relação ao setor de indústria de transformação é ainda bastante discrepante. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI, 2016), dentre os 29 setores da indústria de transformação e extrativa, 48% possuem pelo uma das dez tecnologias digitais características da Indústria 4.0. Os subsetores da indústria de transformação são as que mais se destacam na utilização dessas tecnologias digitais são: Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e outros, com 61% das empresas; Máquinas, aparelhos e materiais elétricos (60%); Coque, derivados do petróleo e biocombustíveis (53%); Máquinas e equipamentos (53%); e Metalurgia (51%). Como o objetivo desta pesquisa é verificar a intensidade da polarização do emprego em razão dos avanços das tecnologias, restringiu-se a análise apenas à classe indústria de transformação da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) 2.0, por ser o

14 Esse setor é formado por Fabricação de Produtos Alimentícios; Fabricação de Bebidas; Fabricação de Produtos do Fumo; Fabricação de Produtos Têxteis; Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios; Preparação de Couros e Fabricação de Artefatos de Couro, Artigos para Viagem e Calçados; Fabricação de Produtos de Madeira; Fabricação de Celulose, Papel e Produtos de Papel; Impressão e Reprodução de Gravações; Fabricação de Coque, de Produtos Derivados do Petróleo e de Biocombustíveis; Fabricação de Produtos Químicos; Fabricação de Produtos Farmoquímicos e Farmacêuticos; Fabricação de Produtos de Borracha e de Material Plástico; Fabricação de Produtos de Minerais Não-Metálicos; Metalurgia; Fabricação de Produtos de Metal, Exceto Máquinas e Equipamentos; Fabricação de Equipamentos de Informática, Produtos Eletrônicos e Ópticos; Fabricação de Máquinas, Aparelhos e Materiais Elétricos; Fabricação de Máquinas e Equipamentos; Fabricação de Veículos Automotores, Reboques e Carrocerias; Fabricação de Outros Equipamentos de Transporte, Exceto Veículos Automotores; Fabricação de Móveis; Fabricação de Produtos Diversos; Manutenção, Reparação de Instalação de Máquinas e Equipamentos.

setor que concentra os maiores investimentos em implementação de inovações e novos processos. Cabe ressaltar que no ano de 2003 ainda não estava vigente essa versão da CNAE, então para esse ano foi considerada a CNAE 95.

Gráfico 1 – Empresas que implementaram inovações, por grande setor da CNAE 2.0. Brasil, 2001-2003/2015-2017.

Fonte: Elaboração própria, com base no IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica 2003 e Pesquisa de Inovação Tecnológica 2005, 2008, 2011, 2014 e 2017.

O universo de análise abrangeu os trabalhadores com idade entre 16 e 65 anos — excluindo-se, portanto, os aprendizes e aposentados — e aqueles com jornada de trabalho entre 30 e 44 horas semanais. Tais exclusões representaram, respectivamente, perdas de 0,29% e 0,55% da amostra de 2003, 0,42% e 1,42% no ano de 2013, e, no ano de 2018, 0,68% e 2,09%.

Também foram excluídos os trabalhadores estatutários, avulsos, temporários, estagiários, contratados com prazo/tempo determinado e, no caso dos anos de 2013 e 2018, aqueles contratados por leis municipais e estaduais. Tais exclusões representaram 0,54%, 1,49% e 2,22%, respectivamente, das amostras de 2003, 2013 e 2018.

Foram ainda eliminados os vínculos empregatícios em empresas de natureza jurídica de órgãos públicos, serviços autônomos, cooperativas de consumo, serviço notarial-registral e pessoas físicas, os quais, em seu conjunto representavam 0,52% da amostra em 2003, 0,18% em 2013 e 0,10% em 2018. Como o enfoque desta pesquisa é no setor privado, excluíram-se as ocupações da administração pública, de defesa e códigos de ocupações

0,49 0,45 0,46 0,36 0,86 0,29 32,8 31,4 35,7 31,9 31,6 29,4 0,17 0,10 0,14 2,54 2,19 3,31 3,45 3,79 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00 2001-2003 2003-2005 2006-2008 2009-2011 2012-2014 2015-2017

errôneos. Cabe ressaltar que apesar de a administração pública empregar um grande número de trabalhadores no Brasil, no conjunto da RAIS, considerando apenas o setor da Indústria de Transformação, ela representa 1,82% (2003), 0,01% (2013) e 0,01% (2018) do total de vínculos. Por fim, os vínculos empregatícios com valores ignorados para faixa de remuneração em salários-mínimos, que perfaziam 0,50% das observações em 2003, 1,96% em 2013 e 2,73% em 2018, também foram eliminados.

Após as filtragens realizadas na base de dados, obteve-se uma amostra final de 7.204.643 observações no ano de 2003, 11.405.309 observações em 2013 e 8.722.812 observações em 2018. Na Tabela 1 é possível observar a distribuição dos vínculos empregatícios segundo sexo, faixa etária, cor ou etnia15, nível de escolaridade16, faixa de remuneração, região e tamanho da empresa17 em cada um dos anos estudados.

Após o tratamento da base de dados, cada um dos vínculos empregatícios foi classificado em categorias de tarefas a depender da ocupação da CBO2002, de acordo com o método apresentado na seção 3.2.

15 Na base da RAIS 2003 não há a variável cor/etnia.

16 Os dados sobre escolaridade disponibilizados na RAIS são bastante desagregados, então, para facilitar a análise, agregaram-se as categorias Analfabeto, Até 5º Iniciais, 5º completo do fundamental e 6º a 9º do fundamental em Analfabeto ou fundamental incompleto; Fundamental Completo e Médio Incompleto em Fundamental completo; Médio Completo e Superior Incompleto em Médio Completo; e Superior Completo, Mestrado e Doutorado em Superior. Cabe ressaltar que neste último caso a decisão de agregar o Mestrado e o Doutorado ao nível Superior é devida ao fato de os dados da RAIS para essas categorias não serem confiáveis, devido a erros de preenchimento por parte das empresas.

17 Existem diferentes formas de classificação das empresas segundo o porte. A classificação adotada neste trabalho foi definida pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2006) levando em consideração o número de empregados.

Tabela 1 – Distribuição dos vínculos empregatícios na indústria de transformação, segundo sexo, faixa etária, cor/etnia, escolaridade, faixa de remuneração, região e tamanho da

empresa. Brasil, 2003, 2013 e 2018.

Variáveis Frequência absoluta Distribuição (%)

2003 2013 2018 2003 2013 2018 Sexo Feminino 2.001.889 3.508.843 2.586.236 27,79 30,76 29,65 Masculino 5.202.754 7.896.466 6.136.576 72,21 69,24 70,35 Idade 16 a 19 anos 398.481 612.313 234.727 5,53 5,37 2,69 20 a 29 anos 3.005.126 4.292.691 2.720.198 41,71 37,64 31,18 30 a 39 anos 2.138.249 3.498.674 2.927.721 29,68 30,68 33,56 40 a 49 anos 1.220.847 1.984.266 1.815.402 16,95 17,40 20,81 50 a 65 anos 441.940 1.017.365 1.024.764 6,13 8,92 11,75 Cor/Etnia Preta/Parda - 3.705.812 3.072.524 - 32,49 35,22 Branco - 6.792.679 4.739.285 - 59,56 54,33 Amarelo - 80.079 52.249 - 0,70 0,60 Indígena - 22.164 14.766 - 0,19 0,17 Não Identificado - 804.575 843.988 - 7,05 9,68 Escolaridade Analfabetos ou fund. Incompleto 2.578.349 2.048.841 1.184.787 35,79 17,96 13,58 Fundamental completo 2.279.838 2.756.425 1.662.711 31,64 24,17 19,06 Médio completo 1.971.478 5.768.997 4.944.632 27,36 50,58 56,69 Superior completo 374.978 831.046 930.682 5,20 7,29 10,67 Faixas de remuneração 0,5 a 1 SM 243.957 542.770 282.699 3,39 4,76 3,24 1,01 a 2 SM 2.969.892 6.148.833 4.761.182 41,22 53,91 54,58 2,01 a 5 SM 2.702.303 3.556.084 2.852.552 37,51 31,18 32,70 5,01 a 10 SM 801.245 772.281 571.184 11,12 6,77 6,55 ≥ 10,01 SM 487.246 385.341 255.195 6,76 3,38 2,93 Região Norte 251.808 405.558 290.061 3,50 3,56 3,33 Nordeste 908.607 1.471.872 1.146.510 12,61 12,91 13,14 Sudeste 3.651.228 5.662.662 4.201.918 50,68 49,65 48,17 Sul 2.014.161 3.104.094 2.482.284 27,96 27,22 28,46 Centro-Oeste 378.839 761.123 602.039 5,26 6,67 6,90 Tamanho da empresa Microempresa 1.715.628 2.354.285 1.968.369 23,81 20,64 22,56 Pequena empresa 1.871.189 2.866.898 2.124.322 25,97 25,14 24,35 Média empresa 1.901.858 2.849.780 2.153.712 26,40 24,99 24,69 Grande empresa 1.715.968 3.334.346 2.476.409 23,82 29,24 28,39

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