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A Dança do Ventre e o lenço como gatilho para o contato com a feminilidade e

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE E DISCUSSÃO

6.2.2 A Dança do Ventre e o lenço como gatilho para o contato com a feminilidade e

Marli e Carla relataram que a partir da vivência com dança do ventre, iniciaram um contato mais profundo e saudável com a sua feminilidade e sensualidade. Marli tinha dificuldade em lidar com elogios masculinos, com sua feminilidade e sensualidade, ficando muitas vezes zangada com os elogios recebidos, não se via como uma mulher feminina. Até o momento desta pesquisa, ela já se sentia mais aberta, mais feminina em mais tranquila em relação ao seu corpo. Carla também tinha dificuldades em se sentir

feminina e sensual, principalmente por não aceitar o seu peso do momento. Hoje, sente que ainda tem dificuldade com o peso, mas percebe que melhorou bastante, se aceitando mais e gostando de outras partes do seu corpo que antes nem tinha consciência que existiam.

Eu sinto que a dança do ventre, independente se a mulher é mastectomizada ou não, te conecta com o lado da sensualidade do seu corpo porque os movimentos são redondos[...] (Marli).

[...] Então assim, tô nesse momento experimentando meu corpo e tô tentando relaxar, sabe? A dança me colocou em contato intenso com meu corpo, com a minha sensualidade e feminilidade, me deu mais leveza e eu ainda estou observando isso, tô percebendo ainda...[...] (Marli).

[...]Eu me sinto mais consciente do meu corpo e das minhas qualidades femininas e fico mais tranquila quanto a isso (Marli).

[...]trabalhar com a feminilidade, isso resgata! (Carla).

[...]A dança me ajudou a entrar um contato com essas partes esquecidas, e olhar mais para minha feminilidade (Carla).

Observamos também o lenço como acessório que estimulou o pensar em possibilidades, na beleza, na feminilidade, favorecendo novas formas de existir para Carla e Marli e facilitando o processo da vivência, principalmente para Carla, que a partir da vivência, incorporou lenços a sua vestimenta além de usar mais vestidos, mostrando assim uma mudança de padrão:

[...]foi acolhedor a sua disponibilidade em trazer isso. E depois eu nunca pensei nisso, ‘ah vou levar um lenço!’. Apesar de você assistir, saber que tem uma indumentária pra dança, não é uma coisa que eu teria imaginado...[...] Mas o fato de você chegar lá e você já convidar pra colocar o lenço, ter todas aquelas possibilidades, cada uma escolheu seu lenço... isso tudo vai fazendo o clima.... (Carla).

Acho que os lenços deram um clima muito legal porque ele sensualiza, deixa tudo mais colorido, bonito e alegre, além de te cobrir um pouco (risos)...porque o lenço fica na cintura, então é como se ele escondesse um pouco as imperfeições do quadril ou mesmo do corpo como um todo. Ele dá uma cara diferente para o visual e, mesmo sendo gorda, você acaba se sentindo mais bonita e especial. (Carla).

E pensando bem, nisso que você perguntou, não sei se foi um ato inconsciente, mas daquela vivência para cá, eu tenho muito mais lenços! E lenços grandes que eu gosto de comprar. Porque ao mesmo tempo que o lenço esconde

algumas coisas que você não quer mostrar, ele traz sensualidade e feminilidade para o visual. Eu não ponho na cintura, uso ele de outras formas...[...] (Carla). Eu já gostava muito de vestido e saia... mas, pensando bem, daquele tempo pra hoje, tenho usado muito mais do antes! Acho que aquele trabalho me ajudou muito a ver a minha sensualidade no meu corpo todo e não só no seio. Percebo que comecei a me vestir e me sentir mais feminina e sensual, mas pra mim é mais claro ainda o fato de ter adotado os lenços, isso foi gritante! (risos) (Carla).

[...] É aquela coisa lúdica, o que é muito importante nesse momento, porque realmente, a mulher que passa pela mastectomia fica insegura quanto a sua feminilidade, não tem jeito! (Marli).

Eu acho que o lenço fez muita diferença. Acho que valeu muito a pena porque eu sou mesmo ligada ao que é belo, à estética. E o lenço traz essa beleza, faz a gente se sentir mulher e bonita! Dá um certo empoderamento, sabe? (Marli).

Podemos perceber que Marli e Carla conseguiram resgatar a sua feminilidade e sensualidade a partir da vivência com a dança do ventre. Isso converge com o estudo de Abrão e Pedrão (2005), que concluíramem seu estudo sobre as contribuições da dança do ventre, que a maioria das mulheres relatou alegria, relaxamento e bem-estar na prática da dança do ventre, e, no plano emocional, a dança transformou as emoções, dando à mulher mais feminilidade, beleza, suavidade, mais confiança e segurança. Todas essas sensações também foram relatadas por Marli e Carla.

Moraes (1996) observou que, com a dança do ventre, as mulheres se sentiram mais belas, femininas e com a autoestima mais elevada. Percebemos nesse ponto que Carla e Marli tiveram um aumento também na autoestisma, se achando mais belas e femininas, porém percebemos que elas estão ainda no processo de se observarem. Isso, talvez porque a essas pesquisas referidas falam do resultado da intervenção a curto prazo, enquanto que esta pesquisa refere-se ao processo das participantes a longo prazo.

Em relação a autoestima, Cardella (1994) aponta que envolve a aceitação integral do próprio ser, o que não significa a incapacidade de reconhecer-se limitado. Ao contrário, é a capacidade de ver-se, ouvir-se, compreender-se, respeitar-se e de ter comportamentos autênticos e respeitosos também com outras pessoas. Envolve, do mesmo modo, a confirmação de si próprio. “Confirmar a si mesmo é reconhecer a própria existência, validar-se como um ser humano único, considerar as próprias potencialidades e compreender as limitações” (p.23).

Saffe (1997), Penna (1993), Ferreira (1993), Bencardini (2009), Menédez (2007) e Colombo e Martiello (2014) também o observaram a dança do ventre como forma de contato com a feminilidade, beleza, suavidade, autoestima, que propicia mais segurança, confiança e leveza para as participantes.

Esses estudos também confirmaram nossos estudos com a vivência com dança do ventre, que mostra a dança como uma forma de contato com a feminilidade e sensualidade (SILVA, 2011). Porém, nesta pesquisa de acompanhamento, podemos perceber que além desse contato profundo, a dança reverberou nas participantes em longo prazo, mostrando mudança na forma de se ver e também de agir.

Em relação ao lenço como facilitador no processo de contato com a feminilidade, não foi encontrado nenhum estudo que falasse a esse respeito. Em nosso estudo anterior (SILVA, 2011) também não foi relatado nada em relação ao lenço. Porém neste estudo observamos, a partir da pergunta feita, que ele teve papel importante dentro da vivência para ambas as participantes, o que sugere aprofundamento em pesquisas posteriores.

6.2.3 A música e o movimento como meio de contato com o corpo e fonte de prazer