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CAPÍTULO 3 AS MEDIDAS DE PROTEÇÃO À DEGRADAÇÃO DO TRABALHO

3.2 LEIS, PROJETOS E PLANOS PARA A ERRADICAÇÃO DO TRABALHO EM

3.3.1 Das ações Fiscais e Grupos Especiais de Fiscalização

A Portaria n.º 265, de 06 de junho de 2002 regulamentou os Grupos Especiais de Fiscalização Móvel, os quais são compostos por Auditores Fiscais do Trabalho e têm por finalidade o combate ao trabalho escravo, forçado e infantil e têm atuação em todo o território nacional (art. 1º).

Além da participação obrigatória dos Auditores Fiscais do Trabalho, os quais são funcionários públicos concursados, “a participação no Grupo é voluntária e a maior motivação dos integrantes é a crença na importância social do trabalho e a gratificação proveniente da capacidade de realizar um trabalho eficaz” (OIT, 2010, p. 25).

Nesse ponto, o estudo realizado pela OIT explica (2010, p. 25):

A motivação dos integrantes é essencial, porque o grupo enfrenta condições adversas, principalmente na fiscalização de locais mais isolados. O trabalho exige também grande capacidade de adaptação dos integrantes das equipes, devido à imprevisibilidade do que será encontrado em campo. Muitas vezes, as dificuldades são maiores do que previstas com base nas denúncias e as operações devem ser estendidas ou envolvem enfrentar longas distâncias.

O grupo especial é responsável por fiscalizar os locais quando há denúncias e ações de fiscalização baseadas em rastreamentos de setores e regiões específicas (OIT, 2010, p. 28) e elaborar um diagnóstico de sua respectiva região sobre questões relativas às formas degradantes de trabalho, encaminhando relatório à Coordenação Nacional, conforme dispõe o artigo 5º da Portaria 265 de 2002.

Segundo um estudo elaborado pela OIT (2010, p. 30-32), toda fiscalização é elaborada com cautela, e desde o momento em que a denúncia é feita, uma equipe próxima do local é acionada para que uma reunião seja marcada e as estratégias de ação estabelecidas, pois dependem principalmente de como ter acesso ao local.

Já no local, as seguintes medidas são tomadas OIT (2010, p. 31):

a) Coleta de provas: fotos, filmagens, verificação se há um bloco de notas onde informação sobre os trabalhadores foi escrita (como dívidas ilegais);

b) Entrevistas preliminares com os trabalhadores; c) Tentativa de identificação do(s) gato(s) e capatazes;

d) Apreensão de armas e prisão em flagrante de criminosos (quando for o caso);

e) Identificação (nominal) de todos os trabalhadores e dos eventuais ‘gatos’ e capatazes;

f) Identificação do(a) empregador(a): proprietário(a) do estabelecimento. Geralmente ele(a) não se encontra no local e algumas vezes o baixo nível de formalização de certas propriedades e atividades econômicas tornam a identificação difícil;

g) Contato com o(a) proprietário(a).

Por força do artigo 8ª da Portaria de nº 265 de 2002, o relatório deve ser elaborado contendo cópias dos autos de infração e notificações de débito lavrados, assim como de fotografias e respectivos negativos, filmes e outros documentos resultantes da ação, no prazo máximo de sete dias úteis contados da conclusão das ações.

Assim, havendo indício de crime, após a inspeção do Grupo, o Secretário de Inspeção do Trabalho enviará cópia do relatório ao Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Departamento de Polícia Federal, Delegacia Regional do Trabalho com circunscrição no Estado onde foi realizada a ação fiscal e ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (art. 8ª parágrafo único).

Certamente que a inspeção realizada pelos Auditores do Trabalho, em cumprimento a Portaria 265 do MTE, aumenta a efetividade das Políticas Públicas de combate ao trabalho em condições análogas à de escravo, e neste ponto, tem-se a proteção ao trabalho degradante ao promover a respectiva ação fiscal em face dos

infratores e com isso gerar multas e penalidades, como a inscrição do empregador no Cadastro previsto na Portaria de nº 2 datada de 12 de maio de 2011 do MTE, a conhecida lista suja.

As boas práticas de intervenção dos auditores-fiscais do trabalho não refletem apenas o cumprimento da lei, mas também aquelas práticas, muitas vezes criativas e inovadoras, que foram capazes de proporcionar soluções legais e técnicas que funcionam como incentivos positivos para que as empresas se mantenham em conformidade com a lei (OIT, 2010, p. 06).

As medidas oriundas do Ministério do Trabalho e Emprego também ajudam a inclusão social dos indivíduos encontrados em situações precárias de trabalho, o que reflete diretamente na confirmação do direito a cidadania dos mesmos.

Nessa esfera, visando proporcionar um amparo financeiro de imediato e temporário, os trabalhadores resgatados, através da ação do Ministério Público do Trabalho e Emprego, gozam do seguro desemprego, conforme Lei nº 10.608 de 20 de Dezembro de 2002, o que será abordado no item 3.3.3.

Importante ainda esclarecer que o GEFM trabalha em conjunto com outras autoridades, somando competências para um resultado mais efetivo.

Art. 2º A atuação dos GEFM poderá ser desenvolvida em conjunto com representantes do Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado - GERTRAF, criado pelo Decreto nº 1.538, de 27 de junho de 1995, e por membros do Ministério Público Federal, do Ministério Público do Trabalho e do Departamento de Polícia Federal.

Com isso, é possível afirmar que os auditores fiscais trabalham reunindo provas, recolhendo a Carteira de Trabalho e Previdência Social, encaminhando o trabalhador para receber o seguro desemprego e autuando os locais que oferecem condições irregulares de trabalho ao mesmo tempo em que a Polícia Federal se compromete com a segurança do grupo.

Também, o Ministério Público atua em conjunto propondo ações imediatas com ou sem solicitação de medidas de urgência e firmando Termos de Ajuste de Conduta (TAC).

O TAC é apresentado pelo Procurador do Trabalho ao empregador, propondo que o mesmo pague uma indenização aos obreiros e se comprometa a regularizar a situação no ambiente trabalho e a efetuar o pagamento das verbas rescisórias para poder retornar as atividades da empresa. O termo constitui um

acordo formalizado com o Ministério Público, no qual é descrito as infrações encontradas, as formas de regularizar e as obrigações do empregador.

Por ser um acordo, o empregador pode se negar a assinar e neste caso, medidas judiciais serão acionadas.

Para melhor elucidação, a seguir serão demonstradas as etapas do plano de fiscalização, desde o planejamento até as medidas de punição do empregador.

Figura 12 - Plano de fiscalização do Grupo Móvel.

Fonte: As boas práticas da inspeção do trabalho no Brasil: A erradicação do trabalho análogo ao de escravo / Organização Internacional do Trabalho. Brasilia: OIT, 2010. p. 28. Disponível em:

http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/labour_inspection/pub/trabalho_escravo_in specao_279.pdf. Acesso em 01 nov. 2014.

A figura demonstra de uma forma organizada as fases da fiscalização do Grupo Móvel, desde o planejamento, montagem da equipe e operação até as medidas punitivas ao empregador e medidas de apoio ao trabalhador.

Após a Portaria nº 265 de 2002, em 15 de maio de 2009 foi editada a Instrução Normativa de nº 76, a qual relaciona os procedimentos para a fiscalização do trabalho rural.

Em seu artigo 11º, determina que:

havendo identificação de trabalho análogo ao de escravo em ação fiscal rotineira, o auditor fiscal do trabalho ou grupo/equipe especial de fiscalização comunicará imediatamente o fato à chefia da fiscalização, por qualquer meio, e adotará os procedimentos previstos nos arts. 19 a 22 desta Instrução.

O artigo 15 dispõe sobre as ações fiscais em reflorestamentos e carvoarias, determinando que o grupo ou equipe de fiscalização deverá ficar atento para a “ocorrência de possíveis fraudes que visem a encobrir a natureza da relação laboral.”

Na sequência, o artigo 18 menciona que havendo a “identificação de trabalhadores submetidos à condição de trabalho análoga à de escravo, deverão ser obedecidos os procedimentos previstos nos artigos 19 a 22.”

Como disposto, os artigos 19 ao 22 abordam de forma específica “as ações fiscais para o combate ao trabalho análogo ao de escravo”, quando encontrado na área rural.

O artigo 19 da Instrução Normativa expõe que as ações fiscais “serão coordenadas pela Secretaria de Inspeção do Trabalho, que poderá realizá-las diretamente, por intermédio das equipes do grupo especial de fiscalização móvel.”

O artigo 20 disciplina que havendo denúncia que relate a existência de trabalhadores reduzidos à condição análoga à de escravo e decidir pela realização de ação fiscal, esta deverá ser comunicada à Secretaria de Inspeção do Trabalho.

Ainda, as ações fiscais deverão contar com a participação de representante da Polícia Federal, ou da Policia Rodoviária Federal, ou da Policia Militar ou da Policia Civil, conforme disposto no artigo 21.

Nota-se uma ratificação do que já foi determinado pela Portaria de 2002, porém com uma indicação mais sucinta das ações fiscais.

Assim, pode-se entender que os grupos especiais de fiscalização móvel através de seus inspetores que atuam na realidade das condições de trabalho, promovem, de forma direta, o trabalho decente para todos. (OIT, 2010, p. 05).

3.3.2 Cadastro de empregadores (lista suja)

O MTE, através da Portaria Interministerial de nº 2 datada de 12 de maio de 2011, estabeleceu o Cadastro de Empregadores que tenham submetido trabalhadores a condições análogas à de escravo, originalmente instituído pelas Portarias n.ºs 1.234/2003 do MTE e 540/2004 do MTE.

A Portaria se refere a tão conhecida “lista suja”, responsável por restringir créditos e limitar as vendas de produtos originários de locais onde há trabalho análogo à de escravos.