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Das capacidades cognitivas à demência

2.1. Contextualização do fenómeno do envelhecimento: Aspectos físicos, psicológicos e sociais do

2.1.1. Das capacidades cognitivas à demência

Para terminar esta secção, importa para nós reflectir sobre as capacidades cognitivas e sobre a demência. Não poderíamos deixar de fora esta pequena secção porque esta área foi alvo de reflexão da nossa parte ao longo do estágio, pois as alterações nesta área têm implicação em vários âmbitos da vida do/a idoso/a.

Como referimos, o processo do envelhecimento é heterogéneo e relaciona-se com diversos factores que se influenciam mutuamente. Quando referimos as capacidades cognitivas, trata-se da atenção que é a capacidade para captar os estímulos da realidade recebidos, da memória/aprendizagem que é o “registo e retenção da informação” e a inteligência que é a “capacidade de reflectir e relacionar ideias e de resolver problemas novos” (Simões, 2006:53). Segundo algumas investigações, certas pessoas idosas “apresentam declínios relacionados com a idade, outros não registam tais declínios e ainda outros só evidenciam decréscimos na atenção, em determinados contextos” (Rogers, 2000:67-68 cit. idem:56), já no caso da memória e da aprendizagem a que está subjacente a atenção, vários estudos (caso do estudo de Berlim) apontam que há um declínio na aquisição de novas competências e captação de informações nesta fase da vida, contudo a população idosa não está excluída da

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aprendizagem, mesmo levando mais tempo a fazê-lo. No caso especifico da memória, dado à sua multidimensionalidade não se pode dizer que simplesmente apresenta declínios, pois depende do tipo de memória que a nos reportamos. Vejamos, por exemplo, o caso da memória operatória que “implica um processo mais activo do que simples retenção de números de telefone (…) a sua tarefa seria dupla: a de memorizar informação e (…) a de a transformar”, assim sendo no processo de memorização da informação não existem resultados substanciais de perda mas no caso da transformação os declínios já são significativos (idem: 59). Percebe-se que existe uma alteração na chamada memória a longo termo, ou seja, o/a idosa/a tem dificuldades em recordar-se de factos que se sucederam há dias, horas ou meses. Nota-se que as pessoas nesta fase de vida possuem dificuldades em “encontrar o material retido (…)” que está, “eventualmente, «na ponta da língua»”(idem:61). Por outro lado, temos a memória remota que consiste em recordar factos da adolescência, juventude e idade adulta, e na qual não se verificam alterações significativas (idem:62-63). Quanto à inteligência, tal como a memória, a sua análise não é linear pois resulta igualmente do tipo de inteligência a que nos referimos. Por exemplo, o estudo de Seattle (Simões, 2006) que examina várias dimensões da inteligência em indivíduos entre os 25 e os 88 anos, diz que a partir dos 60 anos existem declínios mas não muito significativos, pois as dimensões afectadas variam de indivíduo para indivíduo. No estudo de Berlim (Simões, 2006), há similarmente alguns resultados importantes, na medida em que existe tendência “para a diminuição da performance intelectual, à medida que se avança em idade (…)” relevando que “aqui, o declínio é mais acentuado numas aptidões do que noutras” (idem:66). Simões na sua análise concluiu que outras pesquisas caminham para um declínio geral no conjunto das faculdades intelectuais.

Apesar de algumas perdas cognitivas, existe potencial a ser explorado e que pode ser preservado. Contudo, as aptidões cognitivas – atenção, memória/aprendizagem, inteligência - estão interligadas com as capacidades sensoriais, isto é, para o funcionamento da aprendizagem e excelente funcionamento da memória “é fundamental que os processos sensoriais, nomeadamente a visão e a audição, se encontrem em bom estado de funcionamento” (idem:69), ora esta questão na terceira idade ganha mais sentido, pelas mudanças que aqui acontecem, como perda de algumas capacidades visuais e auditivas. Por isso, a importância no aproveitamento dos avanços da medicina, assim como a adequação dos meios e dos comportamentos por parte das pessoas que trabalham com idosos/as, como falar pausadamente, de frente, num tom mais alto do que o habitual e usar objectos adequados ao seu tacto e visionamento.

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Por outro lado, temos a questão da demência, identicamente frequente na terceira idade e não menos importante de expor aqui. Nas palavras de Kastenbaum (cit. Zimermam 2000: 101), a demência “é um desgaste natural que vai ocorrendo no ser humano, iniciando-se por volta dos 50 anos e acentuando-se a partir dos 65” contudo, com a evolução tecnológica, segundo a autora, o desgaste começa depois do intervalo apresentado por Kastenbaum. Os primeiros sinais passam pelas modificações de raciocínio, levando a que ao longo do tempo tenha dificuldades em formular o seu pensamento lógico. As doenças principais provenientes da demência são a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson, estas resultam “de um processo degenerativo cerebral, levando à morte neuronal” (idem: 101) conduzindo a alterações na personalidade e no comportamento. Na doença de Alzheimer, esquece-se primeiro o que se aprendeu por último recordando-se de momentos da infância e acontecimentos importantes. Contudo, com o avançar da doença, a pessoa pode esquecer de acontecimentos mais antigos e mesmo das pessoas mais próximas (Manual de Boas práticas, 2005:83). As relações não são fáceis dadas as alterações na memória de curto prazo por isso, a necessidade de “sermos pacientes, dar-lhes tempo para realizar as tarefas e fazer-lhes sentir que continuam a ter valor. A comunicação com os residentes deve ser clara e simples, mas sem os infantilizar nem diminuir a sua dignidade” (idem: 85). Zimermam pela experiência nestes casos, diz que as pessoas com demência podem sentir-se confortáveis, fazendo-se notar “uma diferença positiva e uma maior tranquilidade”, aconselhando os técnicos a realizar exercícios e actividades para este tipo de pessoas.