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6 REPRESENTAÇÕES A RESPEITO DA TV UNIVERSITÁRIA DA UFU

6.1 Dos dirigentes e produtores de conteúdo da RTU/TVU

6.1.2 Das contribuições da TVU para a comunidade universitária

Novamente a tese de Priolli e Peixoto (2004) encontra ressonância em nosso trabalho quando – na percepção dos entrevistados A1 e A2 –, constatamos a indefinição nos propósitos da emissora em razão da falta de percepção acerca das contribuições efetivas da mesma à comunidade universitária.

A Universidade não absorveu a TV Universitária como deveria ter feito no passado quando foi implantada. Apesar do projeto de educação a distância [que deu origem à emissora] não houve a sensibilização por parte da comunidade universitária [sobre a importância] de se utilizar deste veículo para levar [difundir/divulgar] seu ensino. Não se criou nenhuma nova metodologia. Às vezes pode ter sido um erro por parte da administração da emissora de ter visto essa emissora como um veículo de comunicação social e não como um veículo de comunicação e educação.

Para A2,

[...] a grande contribuição da TVU é dar visibilidade à Universidade. É o que nós queremos.

Entretanto temos percepções que revelam que a TVU tem proporcionado significativas contribuições, como relata a resposta do entrevistado A3.

O primeiro foi [...] o Repórter UFU, que através de reportagens e entrevistas, in loco, nos departamentos, nas unidades acadêmicas, possibilitava a divulgação das pesquisas e dos trabalhos acadêmicos que eram produzidos. Então era um programa que acabou contemplando a comunidade universitária, mas possibilitando, também, que a comunidade externa pudesse ter conhecimento sobre o que aqui se produzia. E o outro aspecto, o segundo momento, que é o momento da reflexão, da formação da opinião pública, era possibilitar, através de um programa [...] o “Acontece o Seguinte”. Esse, era um programa de entrevistas e debates, que era apresentado 3 vezes por semana e que possibilitava a abordagem de temas de grande relevância para a comunidade interna e também, sobretudo, para a comunidade externa. E, com isso, esse programa dava a chance para as cabeças pensantes pudessem manifestar e pudessem contribuir para a formação da opinião pública. Foi aí que muitos professores, inclusive a partir deste trabalho, acabaram sendo bastante requisitados por outros órgãos de imprensa o que denota claramente que essas pessoas elas estavam no anonimato. E a partir do momento que você deu direito à voz e à expressão, essas pessoas acabaram deixando uma impressão altamente positiva e, pela credibilidade das posturas e das opiniões críticas, essas pessoas passaram sistematicamente a fazer parte da mídia da cidade.

Embora seja uma questão a ser discutida no próximo item que trata das dificuldades enfrentas pela TVU, cabe ressaltar, entretanto, que o programa “Repórter UFU” – citado pelo entrevistado A3 –, iniciado em 26 de julho de 1999, um programa jornalístico diário de divulgação científica que exibia o quadro “a pesquisa na UFU” foi tirado do ar em março de 2001, segundo uma das idealizadoras, “por falta de recursos financeiros e estruturais” (UFU, 2008b, p. 24). Tal fato evidencia as contradições apresentadas anteriormente, haja vista que, à época, o único programa destinado exclusivamente à divulgação científica – cujas experiências foram relatas em conferência mundial e congresso nacional, realizados pela Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC) – deixa de ser produzido e veiculado por falta de recursos em uma emissora vinculada a uma universidade federal, cujos objetivos e atribuições estatutárias preveem, dentre outros aspectos, “produzir, sistematizar e transmitir conhecimentos” (UFU, 1999, p. 10) como previsto no artigo 5 de seu estatuto, o que se realizará, de acordo com o artigo 6 do mesmo documento, “desenvolvendo e difundindo, por meio do ensino, da pesquisa e da extensão, todas as formas de conhecimento teórico e prático, em suas múltiplas áreas” – ainda que a TV pertença, formalmente, à fundação RTU, de direito privado, com suas restrições econômico-financeiras discutidas anteriormente (UFU, 1999).

O entrevistado A4 enumera, por sua vez, três contribuições mais significativas da TVU à comunidade Universitária.

[...] a TV Universitária, basicamente, prestou três grandes serviços [...]. Um foi abrir o espaço para a comunidade universitária, especificamente, para que ela pudesse divulgar o seu trabalho. Seu trabalho científico, seu trabalho cultural, tudo aquilo que a Universidade produzia pode ser levado a público através dos canais da Fundação Rádio e TV Educativa de Uberlândia, inclusive pela TV Universitária. Essa foi uma das contribuições. A outra contribuição [foi] a criação de um jornalismo informativo que visasse não só a comunidade universitária, mas também ela, e toda a comunidade local, só que com um enfoque bem diferente e que eu acho importantíssimo nas TVs Educativas. [...] Então eu costumava muito nas reuniões colocar para o pessoal sempre o seguinte: olha gente, não só pelas nossas condições, que são precárias, mas se houver uma rebelião e fugir um monte de presos, do [presídio] Jaci de Assis, deixem que as outras emissoras cubram o fato. Elas vão estar lá em trinta segundos. Deixem que façam. Nós não vamos concorrer com eles nesse ponto. Nós não temos condições. Eles vão cobrir o fato, eles se interessam pelo fato, eles dão o fato e amanhã não existe mais esse problema. Nós não. Amanhã nós vamos fazer o que? Nós vamos trazer o pessoal da assistência social da UFU, o diretor do Presídio, gente ligada ao poder público, e vamos discutir o sistema prisional brasileiro. [...] O fato não se preocupe com ele. Deixe que as outras emissoras anunciem com exclusividade como elas gostam de colocar e etc. A gente vai explorar o conteúdo de cada fato, com tranquilidade, posteriormente. Porque nós temos que cobrir uma lacuna que as outras emissoras não fazem.

Apresentado uma percepção análoga à do entrevistado A3, ou seja, vinculando a contribuição da TV às contribuições dos programas da grade da emissora nos respectivos períodos de atuação, A6, aponta as contribuições realizadas e, ao mesmo tempo, cita as dificuldades de recursos como fator limitante das ações.

primeiro ela fez uma reformulação na programação e tornou essa programação mais voltada para o público universitário. Criamos [...] um programa chamado TVU no Campus, que divulgava as ações da UFU [...]. Isso não impediu que outros programas como TVU Debate, TVU Notícia, veiculassem também. No primeiro caso, do TVU Debate, foram debatidas várias questões pertinentes à Universidade, à cidade e mesmo com relação a temas nacionais. TVU Notícia noticiava muita coisa das próprias ações da Universidade e o TVU no Campus nem se fala. Era voltado para as ações da Universidade. Então eu acho que isso foi uma contribuição. É claro que foi uma contribuição ainda que modesta, porque a permanente falta de recursos, esse é um problema seriíssimo, fez com que nos limitássemos a esses três programas no âmbito da TV. A TV Participou de outras ações, de menor destaque, eu diria, mas eu destacaria essas três iniciativas que constituíram, na verdade [...], constituíram uma mudança significativa na postura que a Universidade tinha até o ano 2000.

Entretanto, nos deparamos com leituras que indicam que a TVU não tem contribuído de forma significativa para com a comunidade universitária como evidenciado na resposta de B2.

No período que eu fiquei lá acho que muito pouco. Não atendia às demandas da instituição, não tinha uma relação próxima com a instituição, era bem fechado, não tinha um trabalho intenso, no período em que eu vivi. Não existia uma relação íntima da comunidade universitária com a TV. Exemplo dessa relação, que eu senti, o período todo, seria a integração realmente dos cursos com a TV na divulgação do que acontecia dentro da Universidade até para mostrar para a comunidade universitária o que estava acontecendo dentro da instituição. Isso aconteceu, mas acho que muito pouco em relação à possibilidade que a TV teria. Aconteceu através de alguns programas e de debates. Isso tudo aconteceu, mas bem menos do que eu senti que poderia acontecer. Então, resumidamente, a contribuição da TV no período foi muito pouca.

Da mesma forma, o entrevistado B3 enfatiza que – citando a descontinuidade das ações – não houve contribuições.

Apresar de em alguns momentos haver essa intencionalidade de fazer essa ponte com a comunidade, eu percebo que a TV Universitária não cumpriu o seu papel porque não houve continuidade das ações. Nunca houve discussão dos projetos, continuidade mesmo, análise do que é feito no ar. Eu percebo que há programas que há mais de 10 anos estão no ar sem uma reformulação. Televisão é um veículo extremamente dinâmico e ele exige mudanças contínuas, o tempo todo,

exige uma equipe altamente especializada e eu percebo que a TV Universitária paralisou. Em vários momentos houve a intenção de cumprir esse papel, de divulgar o que se faz aqui dentro, esse saber universitário, mas não percebo que ela deu contribuição, não. Justamente por não ter continuidade e nem ter reformulação porque TV muda o tempo todo. Ainda mais agora na época do jornalismo on line, da internet, a TV precisa acompanhar essa linguagem. E eu percebo que ela estagnou, parou. Não houve contribuição.