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4. As políticas de juventude em Campinas

4.1 Das políticas atuais

Retomando a análise feita por Marília Sposito (2006), pode-se afirmar que a partir do final da década de oitenta do século passado, as gestões municipais passaram a adquirir reconhecida importância no processo de democratização da sociedade, o que fez com que essa esfera de poder governamental surgisse como campo privilegiado de análise para os estudos sobre políticas públicas. Nesta, as relações entre sociedade civil e Estado apareceriam de forma mais clara e ofereceriam focos importantes para a realização de pesquisas.

Em sintonia com este pensamento e detendo o olhar sob a cidade de Campinas, pode-se destacar um conjunto de políticas públicas voltadas para o atendimento de demandas do segmento juvenil, as quais foram oriundas da ação das três esferas de governo existentes no país, a federal, a estadual e a municipal.

Apesar de no país historicamente a criação de políticas voltadas para o atendimento do publico juvenil estarem centradas nas áreas da Educação e da Assistência Social, no caso do poder público municipal em questão essa conjugação não foi possível, uma vez que, conforme a respectiva lei orgânica, esta cidade estaria impossibilitada de atuar em outro nível de ensino que não fosse o básico, pois, nos dizeres da lei:

Art. 226 – O município só poderá atuar nos níveis mais elevados de educação quando a demanda de creches e pré-escolas e ensino fundamental estiver plena e satisfatoriamente atendida do ponto de vista qualitativo e quantitativo. (CAMPINAS, p. 46, 1998).

Assim, para o atendimento das demandas educacionais dos jovens campinenses restaria apenas a rede pública estadual e a privada. Devido à crença de que estas possuiriam atuação independente do governo municipal e ao fato da orientação do trabalho ter provindo do Guia da Juventude75 a questão da educação acabou ficando à margem da discussão realizada, restringindo-se apenas a modalidade formativa apresentada pelas políticas elegidas. Tais políticas se centraram na área da Assistência Social – com exceção do “Programa Jovem Trabalhador” – e possuíam como foco de atuação um público bem

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específico, que eram os jovens em situação de carência ou – como tem se convencionado apresentar na literatura – de vulnerabilidade social.

Para efeito de análise, nestas políticas seriam jovens os indivíduos cuja idade oscilasse entre os quinze e os vinte e quatro anos, isso porque, conforme argumenta Helena Abramo (2005), tal faixa etária se tornou consenso na abordagem demográfica e institucional brasileira76, pois é quando – segundo os respectivos estudos – os jovens têm vivenciado elementos considerados como de “transição para a vida adulta”, assim como têm mantido relações de dependência com a família de origem. Deste universo, seriam enquadrados como vulneráveis socialmente aqueles que não tivessem pleno acesso “(...) à

estrutura de oportunidades sociais, econômicas e culturais que provêem do Estado, do mercado e da sociedade (...)” (ABROMOVAY, 2002, p. 29) aos quais se relacionam.

Deve-se ressaltar que, conforme já assinalado por Krauskopf (2003), após os anos noventa o paradigma de juventude que emergiu e passou a influenciar as políticas públicas realizadas foi o que definia este agrupamento social como também possuidor de direitos. Foi isso que favoreceu a criação de políticas de juventude cujo centro fosse a participação dos sujeitos atendidos e seu reconhecimento como agentes importantes para o desenvolvimento social. Todavia, ainda se mantinha a concepção de cidadania restrita, na qual os jovens ainda não possuíam plena atuação no processo de planejamento e administração dos programas aos quais eram submetidos.

Além disso, as seqüelas dos paradigmas anteriormente utilizados na elaboração das políticas de juventude ainda se mantinham presentes e acabaram por influenciar a execução dos programas criados.

Considerando que uma das preocupações surgidas nos anos dois mil foi a relacionada com o desenvolvimento social dos países latino-americanos e que nestes a juventude se apresentava como um contingente muito expressivo, organismos e agências internacionais – dentre os quais estava o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Unesco77 – transformaram o grupo em questão como um dos setores prioritários para as

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Instituições como o IBGE e o IPEA são umas das que tem utilizado esse recorte, porém alertam para a necessidade de relativizar esse marco, uma vez que as histórias pessoais, condicionadas pelas diferenças e desigualdades sociais atuam de forma a produzir trajetórias diferentes para cada individuo. Sobre isso ver in: Retrato da juventude brasileira.

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A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – do inglês United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization – que desde sua fundação (em 16 de Novembro de 1945) atua com o objetivo de contribuir para a paz e segurança no mundo mediante atuações na área da educação, da ciência, da cultura e das comunicações. Possui como um de seus importantes trabalhos a realização de estudos e pesquisas voltadas para proteção dos patrimônios culturais e naturais, o desenvolvimento dos meios de comunicação e a redução do analfabetismo no mundo. Muitas das pesquisas realizadas por esta agência

ações políticas, ao mesmo tempo em que reforçaram a necessidade de um atendimento mais intenso aqueles que fossem mais carentes e pertencentes à famílias de mais baixa renda.

Lembrando que o atendimento voltado aos adolescentes e jovens das famílias mais pobres fora o realizado pela área da Assistência Social, é fácil entender porque a maioria das políticas analisadas – mesmo elas incorporando o trabalho como eixo de atuação – estavam inseridas nesta área. As políticas em questão são: “Programa Educacional Jovem Trabalhador”; “Programa Jovem•Com”; “Projeto Ação Jovem”; “Projeto Agente Jovem”; e o “Projeto Juventude Cidadã”. Todas tinham como traço comum o estabelecimento de uma relação entre formação educacional e inserção no mundo do trabalho, baseado na crença de que uma promoveria a obtenção da outra. A concepção de educação apresentada era a considerada como preparatória ou fomentadora de saberes necessários para a ocupação em postos de trabalhos que poderiam ser criados na localidade.

Assim, objetiva-se nesta parte do trabalho a apresentação das políticas e a análise de suas particularidades. As informações utilizadas como base foram as encontradas em sites governamentais, assim como documentos oficiais disponibilizados pelos gestores locais e também depoimentos dados pelos mesmos agentes em entrevistas gravadas. Optou-se, então, pela análise da ação de cada esfera de governo de forma separada, juntamente com a descrição dos programas referentes.

afetando o desenvolvimento econômico dos países latino-americanos e como a idéia correlacionada com esse desenvolvimento é a da perspectiva de futuro – a qual se considera de forma prioritária o público juvenil – surgiu como necessidade imprescindível a esses paises a promoção de situações que favorecessem o