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Miguel Amado Partner,

Government & Public Sector Consulting Leader

38 | Portugal: Desafios para 2021 | 2a edição

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Estado - Internamentos sociais, reflexos modernos de um problema antigo

que de facto, tenham impacto. E no caso dos internamentos sociais, também designados por internamentos inapropriados, o mesmo se aplica. Este ano, na sua 5a edição, com dados a 17 de março de 2021, houve um maior detalhe na análise das causas destes internamentos, o que permite uma análise mais fina das razões que levam pacientes a permanecerem internados depois de receberem alta hospitalar. São 21 causas que se distribuem por causas sociais, causas organizacionais associadas ao sistema de âmbito social, causas organizacionais associadas ao sistema integrado de saúde e outras causas de índole social.

A representatividade deste barómetro é comprovada pelo aumento da taxa de participação do número de estabelecimentos hospitalares, que este ano ascendeu a 96%, o que representou 86% em termos de números de camas disponíveis no SNS, e que representa também a consciência do tema por parte da gestão hospitalar, preocupada com a sua eficiência na resposta às necessidades dos seus doentes. A consciencialização trazida pelo BIS tem conduzido a alguns resultados com uma melhoria face à 4a edição, como ilustra o Índice de Inapropriação do Internamento à data de recolha dos dados, excluindo unidades

psiquiátricas, que desceu de 8,7% para 5,4%, mas que ainda representa nesta 5a edição um total de 853 internamentos inapropriados àquela data, com o número médio de dias desde a sua alta médica de 33,6 o que

representa também um decréscimo de 57% face à 4a edição. São 843 camas por dia que não estão disponíveis para doentes que precisam de receber cuidados de saúde em internamento. A distribuição geográfica deste fenómeno está alinhada com a distribuição de número de camas e não é surpresa que as regiões de Lisboa e Vale do Tejo e Norte sejam responsáveis por cerca de 75% destes internamentos sociais.

4,7%

8,7%

5,4% 15.675

5a Edição Total de Internamentos

853

Total de Internamentos Inapropriados

* Não inclui unidades psiquiátricas

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Estado - Internamentos sociais, reflexos modernos de um problema antigo

Quanto às causas atribuídas aos internamentos inapropriados, estas dividem-se entre causas organizacionais de âmbito social e causas

organizacionais de âmbito do sistema integrado de saúde, sendo que 77% dos internamentos são justificados pelo aguarda resposta para a admissão seja na Rede de Cuidados Continuados (57%), seja na Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (20%), sendo também de destacar a diminuição de internamentos sociais resultantes da incapacidade de resposta de familiar ou cuidador. Estes números vão ao encontro da ideia inicialmente expressa de que a solução tem de passar por um esforço conjunto do setor da saúde e do setor social.

A grande maioria dos internamentos sociais mantém-se, como nas edições anteriores, nos internamentos médicos com a maior fatia pertencente à medicina interna, embora com um decréscimo contínuo nos últimos anos. Numa ótica do paciente, há um equilíbrio grande relativamente ao género nesta edição, (49% são pacientes femininos, e 51% masculinos). Por faixa etária, 77% dos episódios dizem respeito a pacientes com mais de 65 anos. No entanto, se fizermos a distribuição por número de dias de internamento, existe um maior equilíbrio com 48% dos casos a situarem-se em pacientes com menos de 65 anos.

Estes números ajudam a perceber que muito ainda se pode fazer para continuar a melhorar a situação, até porque alguns fatores ligados à COVID-19 certamente têm impacto na realidade traçada nesta 5a edição, o que incentiva a que se continue a medir este fenómeno de forma mais contínua para se obter dados mais persistentes e acompanhar uma realidade que pode impedir a saúde de chegar a quem precisa. Urge utilizar a transição digital na saúde contemplada no PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) para se conseguir transformar esta monitorização em contínuo e assim colocar também pressão para a resolução de cada caso em particular, assim como investir numa maior articulação entre o setor médico e social através do digital e das reformas previstas no PRR.

Se ainda dúvidas houvesse do benefício ao cidadão e aos doentes, se todos os dias de 2021 fossem como o dia 17 de março, o custo associado extrapolado para um ano seria de cerca de 100 milhões, um argumento de peso para um investimento nesta área. E de facto Portugal está num momento único para operar mudanças em todos os setores, mas sobretudo no da Saúde, onde estão previstos cerca de 1.383 milhões de Euros, de onde se destacam investimentos na rede de cuidados

continuados e rede nacional de cuidados paliativos que, por falta de resposta, ainda são a maior causa dos internamentos sociais, assim como cerca de 88 milhões de euros para a conclusão da reforma da saúde mental e implementação da estratégia para as demências. Sendo que o custo associado a internamentos sociais relativo a unidades psiquiátricas ainda ascende a 2,5 milhões por ano (extrapolação com base nos dados de 17 de março de 2021). Já na referida transição digital da saúde estão

5a Edição (Dados de 17/03/2021)

57%

20%

6%

3%

2%

Aguarda resposta para admissão na Rede de Cuidados Continuados (RNCCI)

Aguarda resposta para admissão na Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI) Aguarda resposta para admissão na Rede de Cuidados Paliativos Outras causas de índole organizacional/sistema

Incapacidade de resposta de familiar ou cuidador

Quanto às causas atribuídas aos internamentos inapropriados, estas dividem-se entre causas organizacionais de âmbito social e causas

organizacionais de âmbito do sistema integrado de saúde, sendo que 77% dos internamentos são justificados pelo aguarda resposta para a admissão seja na Rede de Cuidados Continuados (57%), seja na Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (20%), sendo também de destacar a diminuição de internamentos sociais resultantes da incapacidade de resposta de familiar ou cuidador. Estes números vão ao encontro da ideia inicialmente expressa de que a solução tem de passar por um esforço conjunto do setor da saúde e do setor social.

A grande maioria dos internamentos sociais mantém-se, como nas edições anteriores, nos internamentos médicos com a maior fatia pertencente à medicina interna, embora com um decréscimo contínuo nos últimos anos. Numa ótica do paciente, há um equilíbrio grande relativamente ao género nesta edição, (49% são pacientes femininos, e 51% masculinos). Por faixa etária, 77% dos episódios dizem respeito a pacientes com mais de 65 anos. No entanto, se fizermos a distribuição por número de dias de internamento, existe um maior equilíbrio com 48% dos casos a situarem-se em pacientes com menos de 65 anos.

Estes números ajudam a perceber que muito ainda se pode fazer para continuar a melhorar a situação, até porque alguns fatores ligados à COVID-19 certamente têm impacto na realidade traçada nesta 5a edição, o que incentiva a que se continue a medir este fenómeno de forma mais contínua para se obter dados mais persistentes e acompanhar uma realidade que pode impedir a saúde de chegar a quem precisa. Urge utilizar a transição digital na saúde contemplada no PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) para se conseguir transformar esta monitorização em contínuo e assim colocar também pressão para a resolução de cada caso em particular, assim como investir numa maior articulação entre o setor médico e social através do digital e das reformas previstas no PRR.

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Estado - Internamentos sociais, reflexos modernos de um problema antigo

Se ainda dúvidas houvesse do benefício ao cidadão e aos doentes, se todos os dias de 2021 fossem como o dia 17 de março, o custo associado extrapolado para um ano seria de cerca de 100 milhões, um argumento de peso para um investimento nesta área. E de facto Portugal está num momento único para operar mudanças em todos os setores, mas sobretudo no da Saúde, onde estão previstos cerca de 1.383 milhões de Euros, de onde se destacam investimentos na rede de cuidados

continuados e rede nacional de cuidados paliativos que, por falta de resposta, ainda são a maior causa dos internamentos sociais, assim como cerca de 88 milhões de euros para a conclusão da reforma da saúde mental e implementação da estratégia para as demências. Sendo que o custo associado a internamentos sociais relativo a unidades psiquiátricas ainda ascende a 2,5 milhões por ano (extrapolação com base nos dados de 17 de março de 2021). Já na referida transição digital da saúde estão previstos cerca de 300 milhões, onde se inclui a melhoria da rede de dados e os registos nacionais que irão permitir uma monitorização do correto comportamento do sistema de saúde Português. Fica a faltar a ligação com o setor social, que também tem investimentos financiados pelo PRR, essencial para enfrentar os desafios da saúde e bem-estar do século XXI. E como é um problema de todos, só com todos poderá ser resolvido.

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