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1 - Comemora-se ao longo de 1994 o oitavo centenário do nascimento de St� Clara de Assis, o qual deverá ter ocorrido por fins de 1 193 ou ilúcios de 1194. Este vulto antístite do franciscanismo viria a falecer em 11 de Agosto de 1253, com cerca de 60 anos de idade, recebendo a canonização em 1255. Trata-se duma personalidade da história da Igreja do maior significado, ontem como na actuali­ dade, cuja herança espiritual tem permanecido ao longo dos séculos como um sólido princípio multiplicador duma sábia fraternidade entre os homens, assente na caridade e na prática duma "santa pobreza".

Portugal tem vindo a comemorar um tanto discretamente esta efeméride, posto que não faltem pretextos para comemorações na história dos mendicantes menores. Lembremos, neste contexto, as Comemorações dos 500 anos da Fundação

do Convento de Jesus de Setúbal (1990) ('), ou, mais recentemente, a sessão evocati­

va do VIII Centenário do Nascimento de Santa Clara promovida pela Academia Por­ tuguesa de História (15.XII.1993), a reedição da obra de António Vasconcelos,

Dona Isabel de Aragão (A Rainha Santa), (Coimbra, Arquivo da Universidade,

1993), e a exposição comemorativa biblio-iconográfica sobre Santa Clara e as Cla­

rissas em Portugal promovida pelo Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, de

que se editou um precioso catálogo (').

As actuais casas portuguesas franciscanas, filhas ou herdeiras históricas dessa primeira fundação damianita em S. Damião de Assis, têm evocado de for­ ma discreta o centenário, procedendo à divulgação do acontecimento dentro das suas tarefas e actividades socio-escolares, assistenciais e, por vezes, chegando mesmo à divulgação de textos alusivos na imprensa regional.

A Diocese de Leiria-Fátima revela este mesmo comportamento (3).

2 - Santa Clara de Assis é a fundadora da 2� Ordem Franciscana. As suas seguidoras chamam-se clarissas, claristas ou mesmo damianitas, conforme reti­ ram a designação da primeira monja professa da Ordem ou do mosteiro onde es­ ta nasceu. A sua Regra institucional entroncava no "Privilégio da Pobreza" e na "Forma de Vida", que receberiam promulgação canónica pelo papa Inocêncio IV, em 1253. Em 1262, Urbano IV reformaria essa primeira Regra, considerada exces­ sivamente austera, passando a hav�r duas hipóteses de regulamentos para os mosteiros femininos franciscanos. As que se mantinham segundo o primitivo texto constitucional chamava-se também freiras capuchas (').

(1) As comemorações desta efeméride pautaram-se fundamentalmente pela promoçlo duma magna exposição relativa â história do Convento sadino e, ainda, por um colóquio. As Actas deste não foram publicadas at� ao momento presente.

Poderá consu1ta�, contudo, o extenso catálogo da exposição, embora policopiado. Neste evento tive a oportunidade de redigir para o catálogo da cxposiçAo a d�ção codicológica do manuscrito de Leiria, que ora retomo e desenvolvo. (2) Catálogo com pesquisa dcnt(fica de Francisco Lcile de Fana.

(3) Publicações regionais em que se destacam O Mtt!Sllgeiro e A Voz do Domingo.

UMA REGRA DE SANTA CLARA DE ASSIS

3 -Em Portugal, o primeiro cenóbio de "freiras pobres" formou-se em Entre os Rios, em 1257, sob o patrocínio de D. Châmoa Rodrigues, sendo poste­ riormente transferido para o Porto.

A protecção da realeza e da alta-nobreza a este novo tipo de regra monásti­ ca feminina fez-se sentir igualmente na fundação do cenóbio de Lamego, através da agregação de diversas mulheres beguinas que viviam na cidade, e que sob a protecção da infanta D. Leonor Afonso e de seu pai, D. Afonso III, seria transferi­ do em 1258 para Santarém, cidade onde a corte régia estanciava muito frequente­ mente. Depois, surgiram mosteiros mais magnificentes como St• Clara de Coimbra (1288), protegido pela rainha Santa Isabel, St• Clara de Vila do Conde (1314; com regra urbanista), sob a protecção do poderoso bastardo régio Afonso Sanches. A multiplicação dos conventos de clarissas conheceu um período de franco apogeu desde os finais da Idade Média. Em 1490, fundou-se o Convento de Jesus de Setúbal e, em 1508, sob a protecção da rainha D. Leonor, fundar-se-ía o Mosteiro da Madre de Deus, em Lisboa (').

Na região de Leiria, o único caso de fundação moderna duma casa desta Ordem sucedeu no antigo concelho do Louriçal, sob o incentivo místico de Soror

Maria do Lado, levando à criação em Portugal da primeira casa do título de Cla­

rissas do Desagravo, sob o forte mecenatismo régio de D. Pedro I I e D. João V

(1690-1709) (6).

À data da extinção das Ordens religiosas em Portugal, em 1832/34, exis­ tiam no País oitenta e quatro conventos de clarissas (').

Hoje em dia, os mosteiros de clarissas do passado português continuam à

espera dos seus historiadores profissionais, notando-se na historiografia portu­

guesa um renovado interesse pela história monástica feminina (8).

4 -Existe na Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Leiria um pequeno

manuscrito com a Regra de Santa Clara, originário do cartório do Convento de Jesus de Setúbal.

(5) F. Féliz Lopes, op. cil .; J� Mattoso, .. 0 Enquadramento Social e Económico das Primeiras Fundações Franciscanas em Portugal•, in Coldquio Antonitmo - Na comt,IOmçilo do 75()! anivtrsdrio da morlt de St' Ant6nio dt Lisboa, Lisboa, Câmara Murudpal, 1982 p. 71.

(6) Manoel Monttiro, Histori4 da Fundaç4o do �ai ComJenfo do Lourial dt Rtligiosas Capuchas, E5craoos do Santfssimo Socramtnlo, t vida da vrntrarwl M11ria do Lado, sr111 primtifll lnslituülonl, t dt algumos Rl!ligiOYJs que falltctr6o no mtsmo Convtnlo com opi· nitio de virludt, Lisboa, Ofl de Francisco da Silva, 1750.

(7) Francisco Leite de Faria I "lntroduçlio .. , Santa Clara dt Assis tas Clarissas tm Portugal - VIII Onfendrio do Nasrim�nto de San/a Clm1193/4 - 1993/4, Lisbo.1 Instituto da Bibliote-ca NacioMI e do Livro, 1994, pp. 9, 21-23.

(8) Veja-se, entre outros Maria Alcgrta Marques, *'Evolução do monaquismo feminino até ao séc. XIII na região de Entre Douro e Tejo", A mulher na sociedade portuguts11. Visilo histórica e ptrspectivas actuais, Actas do Coldqu io, 20-22 de Março dt 1985, Voi. JI, Coimbr", 1986, pp. 231-283; Maria HeleM Coelho, O Mosteiro de Arouca do slculo X ao slculo Xlll, Arouca 2•

ed., C.M.A. e Real Irmandade da Rainha Santa Mafalda, 1988; Jo.Ao José Abreu de Sousa, O Convtnto dt Santa Clar11 do Funchal, Funchal. St.--crctaria Regional do Turismo, Cultura e Emigração, 1991; Margarida Nogueira e Rolando Gonçal­ ves, "'Regra e Comunidade: os poderes nas Constituiçôt.'S Gerais de 1641 para os mosteiros de Clarissas", ArqutologiD do Estado Comunicoçóe5, Vol. 2, Lisboa, História e Crítica 1988 pp. 969-994, Maria Teresa Osório de Melo, O Mosteiro BnJetk­

tino de 5anta MDritJ de Snuide, Coimbra cd. Minerva 1992; Rui Cunha Martim, Potrim6nio, P11rent� t Pothr-O Mosltiro

dt Stmide do seculo X li ao S«rtlo XV, Lousã, ed. Escher 1992; Maria do RosArio Barbosa "'Santtt Maria de Celas de Coim· bra"' e Hermlnia Vilar c Marirt )ofio Branco, "A Fundaçi'io do Mosteiro de Odivelas" e Joaquim Chorão "O Mosteiro de S. Bernardo de Portalegre. Contributo para a sua história", Actas - Congrt'S() lnternacionaf Sobrt San Bernardo t o Cist�r en GIIUciD t Portugal, Vol. I, Ourense, 1992, pp. 583-588, 589-602, 623-648 respectivamente. Nestes estudos encontrar-se-cf bibHografia mais abundante e parcelar sobre o tema.

UMA REGRA DE SANTA CLARA DE ASSIS

Trata-se da Regra de Santa Clara de Assis, manuscrito pergamináceo, ho­ mogéneo, escrito em boa letra humarustica italianizante (9), a uma coluna, com 28 fólios em 5 cadernos ( 1 2 - bínio (fls.I-IV, não escritos); 22, 32 e 42- quaternos (fls. 1 a 24); 52-bínio menos um (fls.26-28)).

Possui 21 linhas regradas a tinta e 20 linhas de escrita.

A "mise en page" pode observar-se no fl. 2 r2 como sendo: 1,5. 02. 10,1. 0,2. 3 (150mm) x 1,5. 0,1. 13,8. 0,1. 5 (205mm). Assim, a Unidade de Regramento (UR) situa-se nos 0,736 mm. Sem vestígios aparentes de regragem, sem reclamos ou assinaturas nos cadernos.

A paginação é feita segundo a regra de Gregory, Assim para o 12 caderno (Bínio) verifica-se a sucessão: plccllppiiicciVp. Para o 22 caderno (quaterno) en­ contramos: p1cc2pp3cc4pp5cc6pp7cc8p.

A ornamentação é diversificada levando-nos a inserir este manuscrito no corpo dos seus homónimos distribuídos por Coimbra e por Lisboa, onde se veri­ fica urna mesma intencionalidade. Lembre-se a Regra do Mosteiro da Madre de Deus, copiado sob as ordens de Fr. Diogo de Leiria, em 1523, ornamentado se­ gundo os cânones comuns na Leitura Nova portuguesa seguidos, por exemplo, nos Forais Novos. Revela-se mais rico, no contexto da iluminação e do próprio registo textual, o códice com a Regra de S� Clara de Coimbra (hoje no Cofre da Faculdade de Letras de Coimbra) ('"). No caso do manuscrito de Leiria, originário de Jesus de Setúbal, verifica-se uma maior contensão decorativa.

Encontramos ornamentação nos seguintes fólios:

foi. IVv2 : dourados e vermelho; com urna cruz central; motivos geométri­

cos e florais.

foi. 1 : Capitular "I" dourada; bordadura com motivos geométricos; brasão da OFM a ouro com 5 chagas de vermelho, na margem de pé de página.

Tem outras capitulares douradas nos fls. 2vQ ("A"), 3 ("S"); 4v2 ("A"); Sv2 ("E"), 9 ("D"), ll("A"), 12v2 ("S"), 14 ("A"), 15 ("A"), 19v2 ("H"), 27 ("E"), coinci­ dentes com os initia capitulorum da Regra ou da confirmação pontifícia e do testa­ mento espiritual.

Aparecem também letras capitulares não douradas, casos do fl. 7v2 ("A"), 10v2 ("A"), 16v2("0").

As caixas das capitulares são coloridas a vermelho em todos os fólios ilu­ minados excepto nos fls. 19v2, que é a sépia, fl. 5v2, que é a azul e vermelho.

As bordaduras iluminadas surgem nos fls. 1Vv2, 1, 2v2, 3, 4v2, SvQ, 7v2, 9 (margem üo pé de página decorada com motivo particularmente original), 10 v2, 11, 12v2, 14, 15, 16v2• Neste aparece uma tarja com a inscrição em filactério ("XPI [CHRISTI] SPONSA DICERIS VIDE NEQID INDIGNV[M] EI DESPONSATA ES­ SE VIDERIS ADMITIAS : HEC. HIERONIMUS PATER NOSTER") de valor niti­ damente espiritual e próprio dum mosteiro feminino.

A encadernação é simples, setecentista, com lombada dourada.

Revelam-(9) Letra idêntica â da "'escola .... da Leltura Nova, onde subsistem elementos goticiz.antes. Como se sabe, as grafias humanís­ ticas não evitaram essa herança gráfica, posto que procurassem na pureza da grafia caroliM o padrão homogeneizador. (lO) Ver reprodução e descrição em Santa Clara e as Clarissas em Portugal ... , pp. 8/9,39-41.

UMA REGRA DE SANTA CLARA DE ASSIS

-se alguns vestígios da primitiva encadernação nos fls. Ir2/Iv2 e 29r2/29vº. Tem 210x155mm, por 17mm de lombada na qual surgem 5 nervuras.

Pelo tipo de letra (humanística italiana posto que com alguns elementos goticizantes) deve datar-se este manuscrito de finais do século XV ou de inícios da centúria seguinte. Sabendo que era pertença do cartório de Jesus de Setúbal é de admitir tratar-se dum exemplar da Regra para ali copiada, em português, próximo da época da fundação (ca.1490I1500)

Quanto ao texto, com autoria de Santa Clara de Assis, este é constituído pe­ la Regra e Testamento.

No incipit (fl.1) lê-se: "INoçençio bispo Seruo dos I seruos de deus, Aas muito amadas em ihesu Christo filhas I clara abadessa e aas oultras irmãas do musteiro I de sam damiam de assis sa/ude e apostolical bençam. Soo I a see apostolical aos bons e san/tos deseios consentimento dar, e as onelstas petições e prezes dos demandantes I fauor benino outorgar."

No Explicit (fi. 28): "Sede sempre amadas de deus I e de uossas almas e sede sempre soliçitas I em guardar aquelas cousas que ao Senhor I prometestes, O se­ nhõr seia sempre conluosquo e apraza uos serdes sempre com I Christo Amen: ­

Laus deo: I Pax viuis: I Requies defuntis."

Entre os anteriores possuidores, encontramos um pertence na folha de guarda da encadernação, em papel, com o seguinte texto: "Pertençe á Madre Ab­ badessa. I Esta regra, hé a que Ci I imtrega ao padre Heitor I no fim do triano de 2 de Julho 1832"; no fi. IV, em pergaminho, lê-se em letra oitocentista: "Do Cartorio das Madres Abbadessas."

O conteúdo do manuscrito subdivide-se em quatro momentos textuais: a - Bula de Inocêncio IV, em 9 de Agosto de 1253, Assis, dirigida à aba­ dessa e irmãs pobres de S. Damião de Assis, pela qual se confirmava e aceitava a Regra e Estatutos estabelecidos por Clara de Assis, com doze capítulos, em acor­ do com a orientação legada por S. Francisco, conforme tinha sido já estabelecido pelo bispo ostiense e veletrense, D. Reinaldo, em carta de aprovação de 16 de Se­ tembro de 1252, em Perusa (fls. 1 a 18).

b - Bula de Inocêncio IV, sem data, para que as freiras pobres de S. Da­ mião de Assis não fossem constrangidas a receber bens (fls. 18 a 19v2).

c - Testamento espiritual de Clara de Assis (fls.19v2 a 27).

d - Bênção espiritual de Clara de Assis às suas irmãs religiosas (fls. 27 a 28).

5 - Este manuscrito da Regra de Santa Clara de Assis, em português, re­ mete para textos ducentistas, originariamente em latim, de teor estatutário, no que respeita à organízação constitucional da vida claustral das freiras pobres cla­ rissas, e da projecção ética ou moral, no que interessa aos padrões de vida virtuo­ sa recomendados numa Ordem religiosa mendicante cujos votos fundamentais eram a pobreza (a preclara "santa pobreza"), a castidade e a obediência.

O próprio manuscrito testemunha, através duma técnica de ilustração pau­ tada pela sobriedade no uso das cores (sépia, vermelho, - para iniciais e

come-UMA REGRA DE SANf A CLARA DE ASSIS ços de capítulos da Regra ou intitulação das bulas de Inocêncio IV, do Testamen­ to e da Bênção de Clara de Assis - fugazmente o azul, além dalgumas letras ca­ pitulares douradas - ), pela clareza e simplicidade da empaginação, pelos temas ilustrativos de cariz geométrico ou florais das tarjas, revelando uma opção vo­ luntária pela virtude da paupertas tão significativa para os religiosos menores e que, deste modo, se aplicava igualmente nos seus scriptoria conventuais. Revela­ -se, assim, uma atitude para com o texto escrito de valor simbólico, como o era a Regra damianita, específica duma época em que a beleza decorativa não pressu­ punha exuberância de iluminação.

A única excepção, quanto á temática decorativa, consiste na iluminura do fl. IV vQ, onde se apresenta ao leitor uma página rica em efeitos policromáticos, conjugando bem a coloração natural do pergaminho com o ocre e o dourado. A vivacidade resultante atrai, e quase cativa, o leitor, remetendo-o de imediato pa­ ra o universo rnistico da morte e ressurreição de Jesus Cristo. A cruz, centralizan­ te, alta, erigida sobre um Golgotá decorado labiríntica e geometricamente, com duas caveiras e respectivas tíbias em cada canto inferior, - fenómeno tão ao gosto das sensibilidades religiosas tardo-medievas - tem extremidades penta­ gonais. Na cabeceira, um filactério apresenta a inscrição "INR!."

Entre os restantes fólios, afirmam-se como mais originais o fl. 1, com o bra­ são da Ordem franciscana no centro da margem de rodapé, com o campo decorado a folha de ouro, e o fl. 9, com tarja de motivos exclusivamente geométricos e uma margem de rodapé preenchida por iluminura com ornato de inspiração mudéjar.

Do ponto de vista interno, trata-se duma Regra damianita, que foi a adop­ tada no Convento de Jesus de Setúbal, fundado em 1490, de Clarissas da Primei­ ra Regra ou Capuchas.

Na folha de guarda inicial, em papel, existe um registo que refere que o

manuscrito: "Pertençe á Madre Abbadessa I Esta regra, hé a que Ci I imtrega ao

padre Heitor I no fim do triano 2 de Julho 1832". Em letra igualmente oitocentis­

ta, mas lavrada por mão diferente em folha preliminar de pergaminho (fl.IV), lê­

-se: "Do Cartorio das Madres Abbadessas."

Estes elementos provam o carácter usual do manuscrito da Regra clarista pelas abadessas do Mosteiro de Jesus de Setúbal. Tratar-se-á dum hábito religio­ so-cultural comum em Jesus de Setúbal como, decerto, noutras casas irmãs. Não espanta sequer que existisse um cartório adstrito à madre abadessa onde se guar­ daria a Regra preciosa de Santa Clara de Assis, como outros manuscritos de im­ portância para a vida e a identidade monásticas. De facto, como se poderá observar pela própria leitura da Regra era às madres abadessas e ao conselho das "irmãs discretas" que competia a aplicação e a vigilância das normas estabeleci­ das na Regra da pobreza das clarissas.

Ao fim de cada abaciado trienal, o livro era depositado, ao que deixa pre­ sumir um dos pertences citados, nas mãos dum clérigo, certamente o capelão conventual ou o próprio provincial franciscano ou um seu vigário delegado. Por

1832, esse ministro chamava-se Pe. Heitor, personagem sobre quem nada pode­

mos adiantar de momento.

O manuscrito em análise foi incorporado na Biblioteca Erudita de Leiria (hoje Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Leiria), em 1916, sendo oriundo

UMA REGRA DE SANTA CLARA DE ASSIS

dos fundos da Livraria da Mitra de Leiria. Nesta data, de facto, Júlio Dantas refe­ re-se à incorporação deste códice no arquivo leiriense, indicando encontrar-se nuin conjunto de cerca de 2500 volumes de livros, entre impressos, a maioria, e manuscritos, em pequeno número. Diz o referido autor: "( ... ) alguns manuscritos, entre eles um códice membranáceo, iluminado, contendo a regra do mosteiro de Jesus de Setúbal (século XVI)." Segundo refere este autor, a incorporação esteve a cargo de Tito Benevenuto de Lima Sousa Larcher, fundador da Biblioteca Erudita de Leiria e seu primeiro bibliotecário-arquivista.

Na mesma incorporação, baixaram àquele Arquivo fundos documentais do Seminário de Leiria (2000 volumes impresssos), a livraria da Casa Congregacio­ nista Franciscana da Portela de Leiria (2000 volumes de obras impressas e uma co­ lecção numismática de moedas romanas de prata e cobre, e portuguesas posteriores ao século XV), livros e papéis do Colégio de S. Bernardino de Peniche, parte do cartório do Hospital das Caldas da Rainha, além de inúmera documenta­ ção avulsa do arquivo da Mitra de Leiria. Entre estes, cremos, encontrava-se um pequeno núcleo de cerca de meia centena de diplomas dos séculos XV (cópias) a XIX, em grande parte régios autógrafos, oriundo do Mosteiro de Jesus de Setúbal.

De momento, desconhecem-se as razões que explicam a presença de manus­ critos do mosteiro sadino nos fundos da antiga Mitra de Leiria. Sabemos que esta se extinguiu em 1882, só sendo restaurada em 1918, pelo que se poderia aventar a hipótese de que tivessem sido deixados aqui antes daquela primeira data (").

Saul Ant6nio Gomes

(11) Diário do Govérno, Decreto n° 2250-1, de 3 de Agosto de 1916 (Suplemento, n� 154 - I série), Arquivo Distriti'tl de Leiria - Fundo Monástico - Convento dt jesus dt Stt!Íbo/, Pasta 19-1/11, doe5. Mo numerados. Júlio Dantils, "O segundo ciclo de incorporações", Annis das Bibiotecus e Arquivos de Portugal, Coimbra, julho di! 1916, VoL II, na 8, pp. 119-132;

UMA REGRA DE SANrA CLARA DE ASSIS APÊNDICE DOCUMENTAL

6 -Regras seguidas na transcrição do manuscrito.

1 -Transcrição do documento em linha contínua, separando os fólios

por traços oblíquos (/ /) e anotando, de seguida, o número do fólio entre parên­

teses rectos.

2 -Respeito pela ortografia do texto original, mantendo maiúsculas e mi­

núsculas, pontuação original, etc., mas separando as palavras indevidamente unidas no original e reunindo as sílabas ou letras duma mesma palavra que se encontrassem separadas.

3 -Desenvolvimento das abreviaturas, sem as assinalar, mas mantendo a forma dos numerais.

4 -Colocação entre parênteses rectos de tudo o que tenha sido interpreta­ do ou acrescentado ao texto original, e da palavra [sic] a seguir a erros ou lapsos do texto original.

5 - Colocou-se entre <> palavras ou letras sobrescritas ou entrelinhadas.

6 -Remete-se para nota de rodapé todas as indicações que ajudem à lei­

tura do documento.

7 -As rúbricas do original vão em caracteres itálicos.

UMA REGRA DE SANTA CLARA DE ASSIS

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