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Debatendo o urbano e o processo de urbanização pelo turismo

2. TURISMO E URBANIZAÇÃO

2.4 Debatendo o urbano e o processo de urbanização pelo turismo

O espaço urbano passa por um processo permanente de fragmentação relacionado a usos diferentes e diferentes formas e conteúdo social, associados ao dinamismo espacial e temporal. Santos (1988) refere-se a este processo de metamorfose do espaço afirmando que a interação entre fluxos e fixos é resultado da ação de vários agentes produtores do espaço e da organização espacial.

Os dois aspectos estabelecidos para compreensão do espaço são a relação homem- meio11 e a dimensão da organização espacial da sociedade (MOREIRA, 2001). Então, da interação sociedade-natureza resultam relações que implicam na construção do espaço e suas diferenciadas formas e significados específicos de cada grupo, em tempos distintos.

Os espaços urbanos são constructos das intencionalidades dos grupos sociais dominantes. E, na condição de receptáculo e fomentador, vivenciam um processo contínuo de redefinição. Sobre a construção do urbano, para Lefèbvre (2001, p.47) “se há uma produção da cidade, e das relações sociais na cidade, é uma produção e reprodução de seres humanos por seres humanos, mais que uma produção de objetos”. Isto a partir de e para o modo de produção e das relações capitalistas.

Para Lefèbvre (2004), o urbano constitui-se um ente sociológico, pois se materializa através das relações sociais. Estas interagem com as estruturas morfológicas, e configuram a relação dialética entre formas e conteúdos. A urbanização seria, portanto, o processo de difusão do urbano no espaço (LIMONAD, 1999).

A conceituação de urbanização apresenta vertentes variadas. Para Fonseca e Costa (2004, p.26), é “o processo de concentração da população, considerando-se tanto o aumento do número de cidades em uma região ou país, quanto o tamanho que cada centro urbano apresenta”.

Gottdiener (1993, p. 15) tece sua crítica a respeito da parca evolução conceitual da temática, afirmando que “a urbanização envolve a concentração de pessoas dentro de áreas limitadas e que existem diferenças entre o ‘modo urbano de vida’ e sua contrapartida ‘suburbana’ ou ‘rural’.

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É uma relação dialética na medida em que o homem faz parte da natureza e, na condição de ser natural e social, produz o meio e por ele é produzido. Segundo Marx (1968, p. 111), “a universalidade do homem aparece na prática justamente na universalidade que faz da natureza seu corpo inorgânico [...] pois o homem é uma parte da natureza”.

É bastante diversificada a conceituação de desenvolvimento urbano, tanto segundo o ramo da ciência que o estuda, como dentro de uma mesma ciência a variação é significativa. Os dois principais elementos do desenvolvimento urbano são o crescimento urbano e a urbanização.

O crescimento urbano configura-se como um processo espacial e demográfico, evidenciando a importância crescente das cidades como locais de concentração da população numa economia ou sociedade particular.

Enquanto isso, a urbanização é um processo social e não meramente espacial, que se refere às mudanças nas relações comportamentais e sociais que ocorrem na sociedade, como resultado de pessoas morando em cidades. Assim, a urbanização caracteriza-se pelas mudanças complexas do estilo de vida, que decorrem do impacto das cidades sobre a sociedade.

A urbanização do Brasil foi, em sua fase inicial, social e territorialmente seletiva, e, então, vive-se a fase atual de urbanização da sociedade e do espaço. A atual fase do processo de urbanização caracterizado pela macrourbanização e metropolização, tendo como fatos evidentes o turbilhão demográfico e a terceirização (SANTOS, 2009).

No final da década de 1960, os planos urbanísticos no Brasil eram estimulados pelas idéias de reconstrução no período pós-guerra, em especial dos países europeus. Bem como pela efervescência no plano governamental da necessidade de planejamento urbano e intervenção estatal, devido ao processo de rápida urbanização pelo qual passava o país (DEAK, 1999).

O processo de urbanização do país, como em tantos outros no mundo, foi marcado pela pobreza, pois a modernização do campo expulsa a população pobre, que vive cada vez mais nos espaços urbanos. O setor industrial, por sua vez, desenvolve-se sem um aumento expressivo nos números de empregos gerados. E o setor terciário tem se caracterizado pela associação entre formas primitivas e modernas de trabalho com baixa remuneração e nenhuma garantia de permanência na ocupação (SANTOS, 2001).

O deslocamento, para as cidades, dos trabalhadores desprovidos de seus meios de subsistência marca o processo de crescimento das cidades e aglomerações urbanas. Implicaram em transformações além de quantitativas, qualitativas em profundidade da economia e da realidade do país. Assalariamento, urbanização e industrialização não estão apenas interligados, são partes do mesmo processo (DEAK, 1999).

A atual fase de urbanização brasileira é “marcada pela velocidade e pela técnica, em que as categorias espaço e tempo, agora fundidas, produzem novos nexos” (RODRIGUES, 2001, p.124).

E neste contexto, as cidades são palco de conflitos de interesses e necessidades tão diversificadas. As intervenções para valorização do espaço urbano refletem e acentuam as contradições da morfologia social, à medida que criam espaços elitizados contíguos a espaços extremamente segregados. Para Santos (1994 apud RODRIGUES, 2001, p. 124), “a cidade, sobretudo a grande cidade, é o fenômeno mais representativo desta união [tempo-espaço]”.

A diversificação das atividades produtivas influencia o processo de produção espacial das cidades. No caso das novas atividades relacionadas ao entretenimento, ao turismo e ao lazer, elas marcam de uma maneira bastante peculiar o processo de produção dos espaços, um outro processo de urbanização diferente daquele advindo da industrialização.

A atividade turística, enquanto fenômeno marcado por profundas relações sociais, é essencialmente urbanizadora, por isso, mesmo que não ocorra em ambientes citadinos, causa alterações nos padrões de organização espacial, urbanizando-os.

A respeito da distribuição dos equipamentos de apoio ao turismo no município de Ipojuca, o anexo 3 evidencia a grande concentração dos mesmos no pólo turístico do município, especialmente no trecho Porto-Maracaípe. Esta concentração marcou profundas alterações tanto na paisagem, quanto na dinâmica socioespacial do trabalho naquele lugar.

Na medida em que o solo urbano é apropriado pelo capital como mercadoria, para a sustentação de atividades ligadas ao lazer e à recreação, o turismo é rotulado como um vetor para o desenvolvimento urbano e avanços sociais, a partir de interesses econômicos e decisões políticas (CARLOS, 1996).

É nesta perspectiva de profundas transformações nas relações socioespaciais que ocorrem, como consequência, as significativas alterações na dinâmica do trabalho relacionadas a este novo contexto. O que se reflete, principalmente, na diversificação de formas e postos de trabalho, ainda que não possibilitem apenas a inserção do trabalhador no mercado, e não sua inclusão social, como apregoado nos discursos de desenvolvimento a partir da atividade.